sábado, 28 de fevereiro de 2009

O realejo

Tirar a sorte num papel. Ler teu futuro em pequenas frases feitas e chavões intrigantes e instigantes retirados de uma pequena gaveta de madeira por um papagaio ou macaquinho enquanto um homem de chapéu com barba rala ou bigodão gira uma manivela. Uma música toca e acompanha a cena ao fundo. O realejo. Um pequeno órgão popular cujo fole e teclado são movidos por aquela manivela. A marca das antigas feiras e quermesses e hoje de vez em quando em cidades do interior, velhos parques ou na Praça da Sé.
O realejo foi por muito tempo uma brincadeirinha para ver o futuro e tirar a sorte em um pedaço de papel. Demonizado e escrachado pela igreja cristã (principalmente evangélica) por se tratar de adivinhação e, posteriormente, ridicularizado e tido como uma brincadeira tola e infantil, se não imbecil, que não tinha sentido, valor e ainda considerada pagã. Como um pequeno pedaço de papel tirado aleatoriamente pode ler meu futuro?
De uns tempos pra cá, comecei a acreditar no poder adivinhatório do realejo. Uma cultura pagã. Uma prática que fora considerada por muito tempo do demônio como vidência cigana. Mas hoje, depois de anos de igreja e anos ouvindo testemunhos e presenciando certas situações, começou a fazer muito sentido.
A igreja me ensinou muito sobre realejo, descobri que poderia tirar a sorte e desvendar o que o Todo Poderoso tinha para mim em uma pequena frase de um pedaço de papel. Para onde eu iria? O que deveria fazer? Problemas no meu caminho? Encruzilhadas? Simples, eu tinha um realejo. Sentava em algum lugar, fosse no quarto, sala, acampamento, cama, sofá ou pedra, e apanhava um livro preto, abria em alguma página e lia a primeira coisa que meus olhos batessem. Era a palavra que guiaria meu caminho dali pra frente.
"A primeira sorte caiu para José, filho de Asafe, com seus parentes eram doze, a segunda para Gedalias com seus filhos e parentes, que ao todo eram doze..."
Ah! Agora está tudo explicado! Já sei por onde hei de andar, minhas dúvidas sobre meu futuro e o que devo fazer estão esclarecidas depois desse belo texto do livro preto. Quem dera.
Tanto rimos e achamos ridículo quem crê em realejo, horóscopo, oráculo, vidente, cartomante e coisas do tipo, mas sem pensar, tratamos a Deus da mesma forma. Lemos a bíblia dessa maneira. Abrimos e, no que cair, é a palavra de Deus para a minha vida dali pra frente, até no dia que abrir no texto que diz que caso teu olho te faça pecar o arranque fora e caso teus pés te guiarem no caminho mal, também os arranque, e ter que arrancar um olho e os pés. Se Deus quisesse falar conosco através de textos isolados e aleatórios espalhados dentro de um livro que conta histórias da vida de pessoas que revelam o amor de Deus, não precisaria da vida dessas pessoas nem do exemplo delas. Não seria necessária a nossa relação com o outro e nem alguém apto a pregar, era só simplesmente todo dia abrir nossa caixinha preta e retirar nosso papelzinho do dia. O simples realejo cristão.
A bíblia não é um horóscopo ou realejo pronto a nos dar alguma mensagem instantânea para resolver nossas questões, ela é um livro que conta histórias e mostra uma pequena faceta do amor de Deus para com seus pequeninos. Decisões, uma palavra de conforto e cura, vem de alguém, do outro, de um mensageiro de Deus, do próximo.
Não creio em realejo, claro. Mas por muito tempo, foi essa a relação que tive com Deus através de minha bíblia, e que muitas vezes temos sem pensar. O que quero deixar, é que devemos tratar nossa relação com Deus de outra maneira e saber que a bíblia por inteiro, e suas partes dentro de seu contexto, querem nos ajudar a saber para que lado ir e que decisões tomar. Quanto ao como leio e vejo a bíblia, comentarei em outro texto. Por hora, queria apenas atentar e mostrar o fato de que não devemos achar que Deus quer falar conosco através de um pequeno texto aleatório da bíblia, Ele tem e quer se relacionar com os seus de maneira muito mais maravilhosa, intima e profunda.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Música - Devoto a você

Resolvi adotar uma nova religião
Um novo dogma, uma nova canção
Ainda sou cristão, ainda sou o mesmo
Essa nova adesão só me deixou um segredo

E eu como um louco me dou por tão pouco
E logo me envolvo em você

Escrito em uma das cartas
Do evangelho do amor: "A distância não mata"
Me derramo rezo faço até oração
Sou devoto a você a seu coração
Meu amor

Deus que me perdoe, Deus que me dê a mão
Você é a nova deusa do meu velho coração
Dona de tudo, dona do mundo
O mundo gira em um segundo e eu assim
Como um louco me dou por tão pouco

E logo me envolvo em você
Escrito em uma das cartas

Do evangelho do amor: "A distância não mata"
Me derramo rezo faço até oração
Sou devoto a você a seu coração
Meu amor

Como queria estar bem perto
Do meu amor da minha paixão
Mas a distancia me impede
Me da medo aperta meu coração

Mas como sou louco me dou por tão pouco
E logo me envolvo em você

Escrito em uma das cartas
Do evangelho do amor: "A distância não mata"
Me derramo rezo faço até oração
Sou devoto a você a seu coração...

O pequeno caçador de conchas

Andando pela praia com um baldinho na mão, um menino com os olhos atentos e fixos , vasculha a areia. O pequeno caçador de conchas. Almejava capturar muitas, e que todas fosse as mais belas do mar.
Mas, no decorrer da aventura, o pequeno caçador de conchas encontrou dificuldades; a princípio, quase não achava conchas, e os pedaços que pareciam conchas soterradas, eram apenas pedaços.
Após percorrer um longo trecho da praia, encontrou o que chamou de "El Conchado", o paraíso das conchas. Centenas espalhadas beira-mar. Nosso pequeno caçador de conchas ficou encantado. Freneticamente foi enchendo seu baldinho tomado de entusiasmo pondo uma concha atrás da outra. Lembrou-se então que queria muitas, mas as mas belas do mar. Esvaziou o balde e recomeçou a caçada.
Avistou então ela, mergulhada na areia, destacada pelo sol. Branca, bela, grande, esculpida com delicadeza. Perfeita. Com certeza a mais bela do mar. Ficou admirando de cima o tesouro descoberto. Que magnífica, que relíquia, que maravilha!
Caindo em si e retomando o foco, esticou o braço para apanhá-la. Nisso as águas cobriram-lhe os pés, moveram a areia e, ao retornarem à imensidão azul, levaram consigo o tesouro, a concha mais bela do mar.
Decepcionado, o pequeno caçador de conchas passou o resto da tarde enchendo seu baldinho. Mas, infelizmente, com as segundas conchas mais belas. Sabia que nunca mais teria chance de capturar aquela.O pequeno caçador de conchas nunca mais apanharia seu grande tesouro. Perdera a mais bela concha do mar. O pequeno caçador de conchas deixou se encantar, mas perdeu a oportunidade de apanhar a mais bela concha do mar.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O conto dos homidas

Os homidas queriam ouro. Os homidas queriam e acumulavam cada vez mais ouro. Os homidas queriam tanto ouro que o ouro acabou. Os homidas queriam tanto ouro que criaram um novo ouro, e tudo o que tocavam, virava ouro. Tudo o que os homidas tocavam, virava ouro. Os homidas queriam ouro. Os homidas queriam tanto ouro que tudo o que tocavam virava ouro. Os homidas nunca mais puderam comer uma maçã ou beber um bom vinho, porque tudo o que os homidas tocavam, virava ouro. Nunca mais os homidas puderam encostar numa árvore ou nadar no mar, porque tudo o que os homidas tocavam, virava ouro. Nunca mais os homidas puderam plantar, criar gado ou ter um cachorro, porque tudo o que os homidas tocavam, virava ouro. Os homidas nunca mais puderam ter filhos ou amar uma mulher, porque tudo o que os homidas tocavam, virava ouro. Os homidas perderam toda a beleza e arrancaram toda a vida do mundo, porque tudo o que os homidas tocavam, virava ouro. Tudo se tornara ouro. Mas mesmo assim, os homidas queriam ouro.

Tempus Fugiti

Tempus Fugiti; uma definição literária filosófica que reflete sobre a fugacidade da vida. A maioria das pessoas que lêem e pensam em tal afirmação, chega a conclusão de que devemos fazer de tudo e explorar ao máximo o que for capaz de nos proporcionar prazer.
Tempus Fugiti; uma definição literária filosófica que reflete sobre a fugacidade da vida. Ao ler e pensar em tal afirmação, chego a conclusão de que devo fazer o que puder e explorar ao máximo tudo o que for capaz de fazer de bom para mim e para outro, marcando para sempre a história; seja da minha vida, da de outro; do mundo; de alguém. Seja numa foto, num livro, numa música, frase ou estória. A vida é muito curta, e quero que mesmo depois de findada, se estenda gerando vida em vidas.
Tempus Fugiti, uma definição literária filosófica que reflete sobre até quando se estenderá nossa vida.

Quase paraíso

Debaixo da Lua na frente de uma piscina sentado num sofá com um caderno, silêncio e uma caneta na mão, penso. A calmaria de uma noite quente me traz paz.Quase me sinto no paraíso se não fosse algo que não se solta de minha mente, e me prende à terra: você.
Tudo perde um pouco do brilho, o silêncio não é tão quieto, a água não tão refrescante, a Lua não tão grande e o céu não tão azul. Minha paz é impaciente, minha verdade mente, meu chão está no teto e eu me sinto vazio e incompleto. Descubro que o paraíso não é nada sem você.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Música - Você e eu

Você e eu ... Tampa e panela
Você e eu ... Pedal bicicleta
Você e eu ... Queijo goiabada
Você e eu ... A batida e a levada
Você e eu ... Torcida e alegria
Você e eu ... Letra e Poesia

Dois caminhos unidos juntos dão volta no mundo
Dois pedaços do céu, duas metades em tudo
Que se completam, mente e coração
Não se separam, não se dispersam
Do mesmo lado, de peito aberto, eu quero te dizer...

Você e eu ... O desejo e a vontade
Você e eu ... O suspiro e a saudade
Você e eu ... A paixão e a dor
Você e eu ... A paciência e o Amor
Você e eu ... Voz e violão
Você e eu ... Um só coração

Dois caminhos unidos juntos dão volta no mundo
Dois pedaços do céu, duas metades em tudo
Que se completam, mente e coração
Não se separam, não se dispersam
Do mesmo lado, de peito aberto, eu quero te dizer...
Eu amo você!

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Música - Beleza mais bela

Um rei sem castelo
Carpinteiro sem martelo
Um gato atrás de um muro
Cavaleiro sem espada nem escudo

Andarilho buscando um caminho
Alguém procurando um destino
Poesia esquecida e largada
Esperando ser cantada

Sou eu assim, querendo você perto de mim
Mas onde está? Em qual país? Em qual lugar?

Onde está a Beleza mais Bela?Onde está você?
Eu procuro a gradiosa pérola
Eu procuro você

Noite querendo estrelas
Mastro almejando bandeiras
Retrato que não mostra o rosto
Mês oito que não é agosto

Sol que não nasce já faz um tempo
Chama que esquente meu frio sentimento
Olhar que me traga alegria
Vontade de ser poesia

Sou eu assim, querendo você perto de mim
Mas onde está? Em qual país? Em qual lugar?

Onde está a Beleza mais Bela?Onde está você?
Eu procuro a gradiosa pérolaEu procuro você

Imaginacão

Uma pedra sempre é uma pedra, nunca um tesouro ou um cristal que libera poderes.
Um galho torto sempre é um galho torto. Nunca uma espada de um pirata que busca um tesouro magnífico ou de um cavaleiro que precisa em sua jornada para a salvação de seu reino dos antigos cristais do mago do Monte Alto.
Uma rede presa em duas colunas em uma varanda é se,presa rede presa em duas colunas em uma varanda. Nunca navio de um pirata que com sua espada na mão, busca um tesouro magnífico, ou um cavalo marrom do cavaleiro que com sua espada embainhada, precisa em sua jornada para a salvação de seu reino, dos antigos cristais do mago do Monte Alto.
Um gramado verde é sempre um gramado verde. Nunca um mar bravio que carrega o navio de um pirada que com sua espada na mão, busca um tesouro magnífico, ou a estrada por onde corre montado em seu cavalo marrom, um cavaleiro com a espada embainhada que precisa em sua jornada para a salvação de seu reino, dos antigos cristais do mago do Monte Alto.
A infância é sempre a infância. Nunca o momento da vida onde somos piratas ou cavaleiros que vivem sonhos, buscam fantasias, magia, emoções e simples felicidade.
A vida é sempre a vida. Nunca um brilho momentâneo cheio de sorriso e prazer. Um período em que passamos atravessando tormentas, lutando com gigantes, derrotando dragões, festejando banquetes, encantando princesas e experimentando o amor.
Para a vida seja boa e possamos aproveitá-la por inteiro não é necessário termos muito. Apenas precisamos enxergar seus momentos com outros olhos.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Teodúvidas

Como é possível entrar em crise?
Não me imagino duvidando da existência de Deus,
Da pureza no homem ou de quem viveu e por mim morreu (Jesus, para o ateu).
Não entendo como olhar para o céu e encontrar apenas corpos celestes.
Como notar as cores de uma borboleta e enxergar apenas reflexos de luz,
Dizer que o verde, amarelo e azul não são nada,
Apenas impressão, ausência de escuridão.
Como imaginar que estou aqui para morrer.
Como sentir amor, ódio, alegria, emoção e fazê-las serem simples "reação".
Então para que viver? Se tudo na vida é fim!
Porque se preocupar com um filho, com o mundo, com uma flor?
Porque ler, estudar, fazer amor? Nada vai perdurar.
Porque respiras? Porque insistes em continuar a vida?
Desista! Desista! Desista!
Sabes porque não fazes isto?
Acreditas em algo, tens esperança.
Crês que talvez a vida não seja um fim em si mesma.
Sabes que no céu encontramos beleza,
Que as cores são sinal de vida,
Que a morte não é um adeus.
Admitas, lá no fundo, crês e tens esperança em Deus.

Sonho de uma manhã

Quarto escuro. Leves feiches de luz atravessam os vãos da persiana fechada. O som vai e vem.
Da porta entreaberta, como se me chamasse, uma leve e doce sensação de paz é acompanhada e trazida por um suave aroma que arranca-me um sorriso. Hmmm ... a combinação perfeita; o cheiro de café e o macio perfume de minha mulher. Como é bom acordar... mas só daqui uns 15 minutos quem sabe... aí sim vou levantar.
Mesmo assim; como é bom acordar.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Notar...

Notar, uma rara habilidade encontrada em poucos homens. Observar o movimento, sentir o vento, perceber o ondular das águas, os sons do ambiente, as demonstrações de afeto. Admirar a beleza a sua volta, os traços, laços e pedaços de inspiração e as facetas turvas de um amor vindo de alguém para outro alguém.

Notar a singularidade do desenho das coisas, da pintura das aves, dos aromas das flores. As cores, os ares, as notas, melodias, harmonias e sons. A majestade da vida. A prova da existência de algo perfeitamente perfeito. Algo diferente. Algo maravilhoso. Algo bom.

O mar azul de ondas leves tocando delicadamente a areia branca, que se movimenta acompanhando a dança esboçada pelo vento, que sopra contra duas pessoas que caminham em paz e desfrutam o ritmo melódico do estourar das águas.

Ele e ela. Eu e você. Quem quer que seja. Em algum lugar, em algum momento, em algum dia. O perfeito existe, há de se notar. Imaginar a leveza da mão que desenhou teu rosto, o trabalho fino e o doce sorriso arrancado após o autor apreciar sua obra, e repetido várias e várias vezes toda vez que alguém te vê.

Demoramos a notar que há beleza e perfeição a nossa volta. Mas ao te ver, não tem como não notar.

Tempos Exato

Dias, números, datas, horas marcadas;
Pontos e retas cruciais de uma vida vazia.
Um mundo seco, parado, gélido e árido
Que transforma a matéria em matemática.
A soma de conclusões infundadas que pensam ser exatas.
As histórias e bibliografias são transpassadas para fórmulas de monotonia.
Se multiplicam em ações e pensamentos céticos, médicos.
Robotizam o sentimento e estancam emoções estas reações.
Já não mais misticismo, beleza, amor e encanto.
Já não mais vida. Apenas automático e exato.
E assim passamos nosso tempo,
Dias, números, datas, horas marcadas;
Pontos cruciais de uma vida vazia...

Livre pensamento (continuação do texto 2 do Blog)

Toda criança e adolescente passa por transformações e cria sua identidade baseada nas questões que levanta e nas respostas que obtêm para tais. Os temidos “porquês” são as perguntas que inclinarão a criança a ser um humano reflexivo pensador ou um cumpridor de metas repetidor de respostas feitas.
Porque estou aqui? Quem sou eu? Porque sou eu? Porque tenho que comer verduras? Porque McDonalds faz mal? Se faz mal porque meus pais me levaram a infância toda para lá? Porque não posso usar sempre o computador? Porque meu pai/mãe pode?
Durante a infância em sua maioria, as crianças recebem respostas do tipo: “porque sim”, “porque não”, “não se pode fazer esse tipo de pergunta”, “você não entende ainda” ou “pare de perguntar ‘por quê’”; isso quando não vem o celebre “porque eu disse.” Qual o relacionamento que a criança terá com suas perguntas e confabulações? O que ela achará e pensará sobre o pensar? O que significará ser reflexivo para ela?
Quando chegar a adolescência, por ter passado a infância inteira sem respostas, as procurará por si mesma, e o resultado disso poderá ser bem desastroso. Provavelmente o adolescente encontrará dificuldades em se relacionar com os mentirosos e omissos que esconderam dele a verdade e as soluções que sempre procurou. Provavelmente há de encontrar o tesouro que buscava com amigos mais velhos, parceiros de classe, companheiros da internet, televisão, vídeo game, revistas e até drogas, se levarmos aos extremos os questionamentos da criança.
O ensino básico deve investir e explorar ao máximo a reflexão e a lógica infantil, buscar incentivar o livre pensamento e tratar com respeito e cuidado os debates com as crianças. Mas de maneira alguma tais conselhos podem ser seguidos com o intuito de “adultizar” a criança, tratá-la como gente grande, ela deve ser vista como criança, como inocente em busca do conhecimento, e por isso receberá respostas mais simples e as vezes até mais perguntas, para que ela por si só esteja disposta a descobrir os mundos em que tenta pisar e simultaneamente estar preparada a sempre mudar seu pensamento, nunca estipular os valores absolutos certos e imutáveis, estar em constante mutação.
Com o atual sistema de ensino, criamos grandes massas de robôs que aderem verdades absolutas, entram sistematicamente em crises sem saber lidar com estas, vivem travados e muitas vezes frívolos quanto a vida sem o mínimo interesse de refletir, as vezes com medo de fazer isto, e não cumprindo com seu dever humano e cívico de dirigir e trabalhar para que haja uma sociedade mais justa e real.
Dizemos que o futuro do país, da sociedade, do mundo, da humanidade, são as crianças, mas não as tratamos como o tal e muito menos as educamos para tal finalidade. Por isso a tecnologia, as cidades, os automóveis e até a população, cresce e se desenvolve em velocidades absurdas, mas a sociedade e a humanidade não. Emperramos sempre nos mesmos erros, problemas e falhas, e ao invés de corrigirmos nossos erros com o intuito de melhorarmos o futuro que pertence aos nossos filhos, não transformamos e revolucionamos as relações educacionais.No livro que se tornou filme “A Bússola de Ouro”, as crianças se relacionam com suas almas e as questionam, por isso estão em constante mutação e conseguem um livre-arbítrio de atitudes e pensamentos. Já os adultos domesticam suas almas e não há discussão interna, sua alma sempre faz o que eles mandam e assim tornam-se presos a regras e conceitos previamente estabelecidos. Esse sem dúvida é um reflexo real do que de fato acontece com nossas vidas. Isso mostra figurativamente como conseguimos criar um coração sólido, mecanizado e fechado para novos conceitos e a sem a capacidade de admitir erros e voltar atrás para reestruturar os ideais anteriormente tidos como absolutos, desencadeando daí intrigas que se tornam desavenças, rupturas, destruições, guerras, fome, tristezas, dores, indiferença, fanatismos e soldados.
Nasci e vivo em um lar cristão. Fui criado dentro de uma igreja e suas ideologias. Convivi, aprendi e segui uma religião com seus ensinamentos e dogmas. Ao ser confrontado na escola por professores e colegas de sala com uma educação tida como laica e divergente do ensino "perfeito e correto" do pequeno globo de vidro religioso que vivia, ficava revoltado, intrigado e as vezes até ofendido (sabe-se lá por qual razão).
O assunto que mais cutucava e sempre gerou discussão dentro de minhas salas de aula foi sem dúvida nenhuma a grande questão do surgimento das coisas.
Em busca de respostas que batessem e condizessem com as coisas que estavam escritas dentro de um livro preto e ilustradas nas figuras da "tia", que ficava numa salinha aos domingos contando uma histórinha com um flanelógrafo verde, as quais eram 7 círculos diferentes contendo imagens de pássaros, céu e água, terra e grama, animais, escuridão e luz, peixes e também as imagens de um homem e uma mulher, estudava e lia cosias sobre uma teoria chamada Criacionismo. Eu era o único da sala que levantava a mão enquanto os outros olhavam com estranheza e as vezes desgosto para o braço estendido quando o professor fazia a célebre pergunta: "quem acredita que Deus criou o Universo e não na Evolução?". Tinha como verdade absoluta e imutável, e me orgulhava disso pois perpetuava e debatia com lógica e excelentes argumentos o que comprovava a fé cristã. Pura imaturidade.
Cresci, estudei, abri meus horizontes, terminei o colégio, ingressei em uma faculdade.
Em Janeiro, num acampamento cristão, que amo e sempre vou, me senti em minha sala de aula só que ao contrário. Um preletor enquanto falava fez a célebre pergunta, só que ao contrário: "Quem aqui acredita na Evolução?". Dessa vez o intuito não era provar nada a ninguém nem muito menos perpetuar a comprovação de alguma coisa, foi uma reação automática e espontânea; eu levantei minha mão. O único de um salão que inteiro que levantou a mão. Uma pessoa mais velha rapidamente olhou assustada e horrorizada para mim como se não acreditasse no que via e ao mesmo tempo pedisse para que abaixasse imediatamente aquele braço, o fiz no mesmo instante.
Ao pensar e refletir sobre essa cena e situação percebi que vivi toda a minha vida numa religião fechada com uma cabeça dura e pequena. Quando mais novo e imaturo, defendia uma teoria não por ser mais inteligente, lógica e sensata, mas simplesmente para comprovar e me sentir seguro na fé que defendia. Não tinha percebido ainda que não era o explicar como as coisas surgiram a partir da lógica de um livro antigo que provaria que o Deus que eu prego e creio existe.
Não vou entrar no mérito dessa discussão, pelo menos agora não, mas no que tange à fragilidade religiosa em depender de comprovar que um texto figurado de milhares de anos, isso sim é de meu interesse.
Mudar minha teoria de como surgiram as coisas e como o mundo foi formado não interfere em nada a minha fé e nem define se sou mais ou menos cristão que outro. O cristianismo não está baseado no criacionismo e muito menos é alicerçado em um tratado científico, que chamamos de Bíblia, e que tem como intuito explicar todas as coisas e campos da vida na terra. O cristianismo é estruturado em cima da vida de um homem que viveu e morreu por amor a outros e apoiado em um livro que conta histórias de amor mostra fecetas de um Pai amoroso que ama seus filhos.
Deus é grande demais para estar contido em metáforas mitológicas da Antiguidade e poderoso o suficiente para criar um mundo baseado numa lógica sensata e construtiva. Ou você não crê nisso?

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Antiquado

Pensativo, reflexivo, não original.
Não obstante, me faltam argumentos pra defender-me de quem sou,
Do que escrevo e do romanticismo que prevalece em mim.
Nasci no tempo errado, com séculos de atraso, mas visionário.
Misturo o que há de moderno com o que era no passado.
Romantico-modernista ou melodramático-antiquado.
Só sei que se não houver quem trate do que trato,
Não haverá mais padrão, rimas e harmonia.
Teremos que conviver com poesia do pancadão,
Letras de Falcão e músicas de Chimbinha.
É necessário que haja um romanticista, um encantado.
Se ninguém se dispõe a este papel,
É com prazer que represento este trabalho.
Romântico, amante, poeta feliz, otário.
Um antiquado.

Com um toque teu...

Pulsos elétricos passam pelo meu corpo,
Transmitidos por neurônios,
Atingem uma região de meu cérebro,
Que em resposta organizará a liberacao de hormônios,
Que em sua funcao ensanguinam meu rosto.
Como é horrível pensar assim!
Imagine se fosse isso que acontecesse a mim
Toda vez que me tocas.
Em verdade, em verdade te digo;
Uma onda atravessa meus bracos,
Atinge o peito,
Trava-me como laco,
Sinto-me amarrado, a respiracao para.
Um arrepio.
O coracao dispara.
E entao um calor, que em amor se converteu,
Tudo isso com um simples toque teu...

"Ensino Básico"

“Art. 205 A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”

Subentende-se por ensino básico um conjunto de informações de variadas disciplinas, e nós, brasileiros, levamos muito a sério o que se refere ao básico. Seguimos ao “pé da letra” e rigidamente este tipo de ensino (bem básico).
Na verdade, ensino básico não são informações específicas e exatas como fórmulas físico-químicas, cálculos matemáticos, nomenclaturas biológicas, datas históricas ou determinações geográficas, pois elas por si só servem para fazer uma prova, prestar um vestibular, avaliar a capacidade de memória do aluno. Dever-se-ia ter por ensino básico a idéia previamente analisada e, inclusive, determinada por ordem de importância na Constituição da República Federativa do Brasil: um ensino que visa “... ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
O desenvolvimento de uma pessoa está diretamente atrelado ao desenvolvimento de sua cidadania. Cidadão é toda pessoa humana, considerada a partir de suas características particulares, que goza dos direitos e deveres civis e políticos de um Estado. Então, o primeiro passo para alcançar o “status” cidadão é ser um “ser humano”. Passar a matéria bruta de uma disciplina para um receptor qualquer não forma uma pessoa, e sim um projeto de enciclopédia que não necessariamente assimilará ou armazenará o conteúdo transmitido.
Produzimos e mantemos esse padrão e ideologia de ensino por dar mais importância e levar mais em conta (praticamente só dar atenção) a segunda parte do artigo da Constituição: “... e sua qualificação para o trabalho”. Aqui não queremos debater e refletir o porquê de termos esse tipo de pensamento e preferência, mas para não deixar vaga a apresentação desse comentário, deve-se levar em conta que vivemos dentro de uma sociedade de política financeira, em que tudo se reflete em trocas de valores e capital, o que estabelece as relações de importância e função social. Então buscamos ver nossos filhos em uma situação melhor do que a nossa e fazemos de tudo para que eles tragam importância a família, façam seus nomes e sejam reconhecidos como “importantes” dentro da sociedade. Tentamos prepará-los então para o mercado de trabalho. Mas no meio do caminho para este mercado há um vestibular, e ainda há um vestibular no meio do caminho para este mercado. Daí a idéia de enfiar um monte de informações na cabeça dos alunos (eles têm que passar no vestibular e estar prontos para trabalhar).
O ensino básico não pode em hipótese nenhuma visar como objetivo transmitir técnicas para uma prova ou para desempenhar um ofício, essa formação vai da creche até o ensino médio. A função de desenvolver a habilidade específica e/ou qualificada para o desempenho de uma profissão é exclusivo do ensino superior. Tanto isso é verdade que a pergunta que todo aluno de ensino básico que gostaria de entrar e exercer uma profissão relacionada à área de humanidades é: “Porque eu tenho que saber química se o que vou fazer da minha vida isso nunca me será necessário?”. E o mesmo com um aluno de exatas ou biológicas: ”Porque estudo história e geografia?”. O que faz muito sentido se levarmos em conta a lógica do ofício (ensinar para ser empregado), mas não faz nenhum se o ensino tiver de fato a função que lhe cabe, formar um ser humano.
Ensinamos física, química, matemática, geografia, história e biologia (não contei português pois é nossa língua oficial, conseqüentemente, todos devemos conhecê-la) para formarmos humanos completos com acesso a informação e conhecimentos variados que compreendem o mínimo de todos os assuntos e utilizá-los para a sua função de cidadão. Se fosse para se ensinar as especificidades das disciplinas, abrindo caminho para o mercado de trabalho, não seria necessária a existência de uma universidade, e se o ensino visasse apenas uma prova de vestibular, não seria necessária a existência de uma escola e um colégio, já que decorar fórmulas, datas, nomes e regras qualquer um pode fazer sentado na frente de um computador com uma enciclopédia, assistindo os programas avançados de canais educativos da televisão ou ainda lendo os livros didáticos.
A função da educação é formar pessoas que se tornarão cidadãos e parte ativa da sociedade e, ao mesmo tempo, abrindo os horizontes de conhecimento e utilizar estes para suas futuras funções sociais.
Abrindo uma janela para um breve comentário, digo que cidadão ativo e importante para a sociedade não é uma pessoa economicamente ativa (PEA) e sim uma pessoa socialmente ativa (PSA). A diferença é que esta não só cumpre com suas obrigações econômicas, mas considera seus deveres civis e sua colaboração com a sociedade. Não apenas gerando renda para o Estado, mas também colaborando com ele para o desenvolvimento da sociedade brasileira e enfraquecimento da discrepância das desigualdades sociais.
Criamos um ensino básico deficitário, e como está na constituição, este será promovido com a colaboração entre Estado e sociedade, portanto a mudança de conceitos e reestruturação do ensino também é de nossa responsabilidade civil. Nas palavras de Maquiavel em seu livro “O Príncipe”: “... Ocorre aqui como no caso do tuberculoso, segundo os médicos: no princípio é fácil a cura e difícil o diagnóstico, mas com o decorrer do tempo, se a enfermidade não foi conhecida nem tratada, torna-se fácil o diagnóstico e difícil a cura.”. E nós tossimos sangue há muito tempo.

Devaneios... apenas devaneios...

Como primeira postagem (se é que alguém vai ler), explicarei a funcao do blog:

"Devaneios... apenas devaneios..." será um blog tardio com o intuito de jogar todos os meus pensamentos, filosofias, sentimentos, sonhos, idéias, músicas, textos... resumindo: devaneios.
Se você está lendo isto, provavelmente é um dos primeiros (e provavelmente também um dos últimos) a ler este blog. Espero que goste (difícil né?!).
Quem vos escreve é um jovem universitário calouro sonhador, que sonha com um mundo melhor, utopias inalcansáveis e que acredita tem potencial para as torná-los quase reais. Tem consciência sabe que jamais transformará, revolucionará e mudará o Mundo de todos, mas sabe que pode melhorar e cuidar de seu mundo; sua relacao com quem está próximo, as coisas que o rodeiam e as vidas que passam por ele.
Em meio a seus sonhos, precisa aliviar e compartilhar seus pensamentos, mesmo que seja para uma tela de um computador e para uma página gratuita na grande rede chamada "internet" que sabe-se lá se alguém os lerá.
Um abraco a quem lê e até a próxima postagem, que prometo ser mais descente.