segunda-feira, 16 de maio de 2011

Armados e amados

"Amados, amemos uns aos outros, pois o amor procede de Deus... No amor não há medo; ao contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor. Nós amamos porque ele nos amou primeiro." (1 João 4: 7, 18 e 19)

O escuro esconderijo brilhava com os clarões das explosões. O insuportável zumbido de projéteis assustava o pobre soldado defensor de bandeira própria. Bom talvez fosse o tempo em que as armas não existiam, ou pelo menos que nossos soldado não as via. Sair daquele desconfortável bunker o mataria, e ficar convocaria as sombras da agonia para um eterno jogo de cartas. Pôquer, buraco ou truco? Não faz diferença! Jogar contra a agonia sem apostar a própria vida é perder sempre.

Em guerra, todos são amados, todos estão armados. Amados por Deus, mas defensores cada um de sua pátria. Seis bilhões de pátrias em estado belicoso. O medo estremece as pernas, força os dedos e dispara os gatilhos. O soldado agoniado luta contra o medo, contra a vida, contra Deus e contra os homens. Olhos fechados, esconderijo apertado, vida sem vida. Só o amor finda a guerra, só a guerra esconde o amor. Quisera Deus que esse soldado amasse para diminuir ao menos uma arma neste mundo!

Infelizmente, nosso soldado já fora baleado. Uma vez, quando amou, mal se desarmara e uma bala atravessou-lhe o ombro, perto do peito, centímetros do coração. Sair novamente? Arriscar de novo? Melhor perder no jogo de cartas! Que amor triste é esse?! Enquanto participa da guerra, o soldado tem certeza da possibilidade da vida. O problema de ter certeza de uma possibilidade, é que possibilidade é sempre em potência, e pode ser que nunca chegue. Certeza de possibilidades é ilusão! Para que ser traído novamente pelo amor? Para que ter certeza da morte se posso me iludir com a vida? Soldado bom soldado mantém-se em guerra e se afugenta em desagradáveis guaridas.

Em meio aos clarões, um vulto de vestido, desarmado e sem colete, passeia entre o abismo de fogo. Que linda moça! Que belos olhos! Dançante cabelo liso! Amor à primeira vista. Amor sem chance de segunda vista. Apaixonado e embebedado de amor, não teve chance de admirar aquela beleza por mais que alguns segundos. Logo angustiou-se por ver a bela mulher cair em terra. Amou, desarmou, morreu. A angústia tomou conta do coração soldado, limpou a sombra da agonia dos olhos e trouxe um fio de esperança: "Como minha amada morre? Não pode ser assim! Não posso viver sem amar! Que angústia é esta a que me bate?!". Um lampejo de eternidade, mil anos em um segundo. O angustiado move as pernas e afrouxa os braços.

Apressadamente e tomado de vida largou sua arma, abriu o colete, estufou o peito, esticou os joelhos e correu em direção à sua amada. Leve, vivo, solto! Experimentou a paz e a liberdade, deixou de lado o jogo da agonia, deixou ser movido pela angústia e, de coração transbordando, caiu com os braços sobre o corpo da moça. Fora baleado. Sangrando com dificuldade de respirar, pode fixar por uma vida inteira os olhos de seu amor. Pode se apaixonar, pode amar, pode morrer. Respirou o último fôlego da amada e, baleado, caiu também no chão. O amado que amou o outro perdeu o medo. Antes, os dois foram amados, mas, por causa da liberdade do amor, deixaram de amar e armaram-se. Medo... Mas o amor voltou! Ressuscitou no meio da guerra, brilhou os olhos e trouxe uma vida para a eternidade...

Amar a todos nos mata, leva-nos para a cruz... Mas em três dias ressuscitamos... Amar nos traz à vida eterna! Não que seja fácil, não que eu o faça, não que se assim não fizermos seremos culpados, julgados, condenados e castigados... Mas levemos aos extremos para sempre refletir sobre nossas relações e... Amemos uns aos outros....



Gratis i Kristus

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Discussões inúteis!

"Timóteo, meu verdadeiro filho na fé: Graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, o nosso Senhor. Partindo eu para a Macedônia, roguei-lhe que permanecesse em Éfeso para ordenar a certas pessoas que não mais ensinem doutrinas falsas, e que deixem de dar atenção a mitos e genealogias intermináveis, que causam controvérsias em vez de promoverem a obra de Deus, que é pela fé. O objetivo desta instrução é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera. Alguns se desviaram dessas coisas, voltando-se para discussões inúteis, querendo ser mestres da lei, quando não compreendem nem o que dizem nem as coisas acerca das quais fazem afirmações tão categóricas. Sabemos que a Lei é boa, se alguém a usa de maneira adequada." (1Timóteo 1: 2 - 8)

Tenho tido problemas com discussões inúteis. Inúteis não num sentido daquelas coisas que nada tem de valor mas tudo transformam com seus significados. São inúteis porque de nada vem e a nada vão. Inúteis são as respostas que não tiveram um caminho percorrido conscientemente e que também não percorrem o caminho do argumento diferente. Mestres da lei são inúteis. Eu, quando mestre da lei, sou este tipo de inútil. Uma discussão que parte de um problema e requer soluções "fast-food" (palavras quase que prontas, tradicionais ou retiradas de algum texto comum sempre lido do mesmo jeito), as quais quando divergentes são paralelas e nunca entenderão uma a outra, não é diálogo, é inutilidade! Tenho tido problema com discussões inúteis.

Antes discutia inutilmente, mas agora aprendi um novo caminho: mostrar o caminho, não o ponto de chegada. Que belo é o caminho! Pena que depois de apresentado, os outros tem a opção de tomá-lo ou não. Mais uma vez, tornei-me refém dos livres. Para que haja diálogo, eu preciso estar disposto a trilhar o caminho do outro e o outro o meu. O objetivo de um diálogo é que transbordemos do amor que procede de um coração puro, e não as intermináveis mitologias e genealogias. Sinto falta da falta de mestres da lei... Se ela é boa, que seja utilizada de maneira adequada, não em discussões inúteis! Caminhe os caminhos, descubra pontos finais, mas não prenda-se a respostas paralelas, indispostas e categóricas. Fujamos da inutilidade!


Gratis i Kristus

terça-feira, 3 de maio de 2011

Dia de um recepcionista de um Hospital

Dia 3 de maio de 2011, terça-feira
Mais um dia de trabalho...

Hoje como um dia qualquer levantei e fui para o trabalho. Peguei um busão lotado, ouvi Rush, Red Hot, Chambao, Ole Funk, Falcão, Zeca Pagodinho e Pavarotti. Como já sabes, gosto de diversificar meu vocabulário musical. Vi um cartaz muito interessante de um Banco holandês que tem sede nos EUA e tem grande clientela na argentina. Cheguei atrasado. Trânsito dos infernos...

Sentei em minha cadeira, ajeitei o microfone, estiquei os braços em direção ao teclado do PC e respirei fundo: "Vamos lá!". Primeiro nome a ser chamado à recepção (um Hospital vive cheio, então todos da fila já estavam nervosos): "Senhor Lars Von Füks... (um minuto de estranhamento com o nome) Senhor Lars Von Füks". Nome chique esse né?! Então ouvi um "Bom dia" grave e bem dito. Tirei os olhos do papel com o nome do paciente e me espantei à minha frente um negão 4x4 careca de barba cheia e vestido com uma bata branca. "Von Füks?" - perguntei - com estranhamento e sobrancelhas cerradas, o afrodescendente (que pelo nome não era bem afrodescendente) balançou a cabeça sem cabelos positivamente.

"Estranho não?" - pensei - "Deve ser a miscigenação... É, deve ser a miscigenação". Pois bem, você não vai acreditar, não mesmo! Foi assustador! O próximo nome: "Por favor, Senhor Abdulah Mohammad, Senhor Abdulah Mohammad"... Calmamente guardei o papel na gaveta, fechei a gaveta, levantei a cabeça e os olhos, e... ERA JAPONÊS!!! COMO ISSO??? UM JAPONÊS!!! ABDULAH MOHAMMAD?! JAPONÊS!!! "Deve ser a globalização, deve ser... Só pode!". Curioso perguntei: "O senhor é descendente de árabe?", respondeu: "Não, eu sou chinês". CHINÊS!!! O ABDULAH ERA CHINÊS!!! Meus olhos e ouvidos estão muito mal treinados! Você me entende? Compreende o que se passou?

Bom, eu compreendi. Não é a globalização e nem a miscigenação. É o preconceito!

Até próximas conversas querido diário,

João Maria de Carvalho
(Recepcionista de um Hospital)


Gratis i Kristus

domingo, 1 de maio de 2011

Preguiçosos e Excessivos

Em um mundo de dois continentes e um só mar, existiam dois povos de uma população só. No Continente-Oeste estavam os Preguiçosos e no Continente-Leste os Excessivos. O problema de chamar um lado de Leste e outro de Oeste é que no espaço não existem pontos cardeais... Mas este é um outro problema, que ficará à cargo de algum outro texto em que eu me preste a tratar de geografia-astronômicológica. O que importa é que o povo do lado Oeste nunca ia para a outra terra porque era demasiadamente trabalhoso, assim como, por outro lado (literalmente), o povo do Leste nunca parava no Oeste, pois quando se prestava a atravessar de um lado para outro não se contentava com paradas e, excessivamente andando, voltava ao ponto de partida. Um lado sempre parado e outro andando demais.

O povo do Oeste era muito lento, não via o mundo girar. Cresceram todos juntos e amontuados; explorar terras exige que o espírito sopre todo-santo-dia, e soprar sempre requer o fôlego que a preguiça não tem: o fôlego de vida. Neste Continente ninguém morria, pois a vida não é digna de descanso, apenas os preguiçosos podem parar. A falta da vida trabalhando e pedindo descanso impedia que os seres crescessem. Quem é preguiçoso não cresce. Os preguiçosos eram pequenos e com grandiosa nobreza; não no sentido de virtude, mas de cargos e títulos mesmo. Todos eram nobres, nenhum era vivo. A preguiça não é digna de morte, pois em momento algum deixou que crescesse a vida.

Por outro lado (mais uma vez literalmente), o povo do Leste era muito rápido! Por esta razão também não via o mundo girar! Os excessivos corriam, corriam, corriam... Corriam tanto, que todo movimento parecia inércia. Explosões para lá, transformações para cá, notícias ao norte, negócios ao sul... Excessivamente exagerados! Excessivos são o oposto dos preguiçosos: espalham-se pela terra com tamanha velocidade, que acham que descobriram tudo, creem que não existem mais mistérios e que o fim do mundo encontra-se no furo de seus abdômens. Ninguém se vê deste lado do mundo. Também ninguém morre, pois quando não se percebe a vida passar, também não se vê a morte chegar. Os excessivos roubam de si mesmos as Sensações. Não perceber a vida impede que os excessivos amadureçam. Imaturos e grandiosamente informados. Todos sabiam o que se passava, mas nenhum experimentava as experiências... A excessividade não reconhece a vida, pois em momento algum permite que ela se apresente de verdade.

Excessivos e preguiçosos, dois povos de um mesmo mundo. Dois imortais, dois não-eternos. Os preguiçosos não crescem, os excessivos não amadurecem. O mundo de nenhum deles gira, a vida não vive e os opostos, mesmo sem se encontrarem, rumam para a mesma verdade: para que a vida valha a pena, não moremos em continentes, lancemo-nos ao mar...


Dedicado à Luciana Hitomi, que com poucas palavras me ensinou que "os preguiçosos nunca crescem".
Obrigado.


Gratis i Kristus