segunda-feira, 16 de abril de 2012

Um conto simples

Um casal apaixonado que foge da chuva em direção à uma casa no interior e, com risos e carícias, se dividem em dois corpos completamente diferentes que se amam e se tocam enquanto brincam de amar no tapete do chão próximo à lareira... Um jovem estudante que vorazmente acaba de ler um livro e caça dele uma santíssima ideia com o propósito de passá-la a alguém... Amigas que se encontram e dão o abraço mais forte que o mundo já viu num silêncio que quebra as palavras trocadas à distância há três anos... Um fiel que canta uma música que expressa sua experiência de Fé... Uma família que se reúne aos domingos para comer o prato feito com todo carinho pela vó e temperado pelas risadas e piadas dos sobrinhos, netos, tios, primos, pais, namorados e namoradas...

Existem experiências que não cabem em palavras. Existe um conto que vai além deste que contei. Um conto muito maior, um conto muito mais simples. Existem dois textos aqui escritos: o das letras e o das vidas. Pois leiam o das vidas. Para tal feito, não precisam entrar em meu blog, mas basta o silêncio, o amor e a paixão pelo dia-a-dia...

Sou um apaixonado! Vivo apaixonado! Cada dia me encanto e perco o sono sonhando com minhas paixões...

Amo.


Gratis i Kristus

segunda-feira, 9 de abril de 2012

E se a Eternidade for uma Bailarina?

Eclesiastes 3: 9 - 13 "O que ganha o trabalhador com todo o seu esforço? Tenho visto o fardo que Deus impôs aos homens. Ele fez tudo apropriado ao seu tempo. Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade; mesmo assim ele não consegue compreender inteiramente o que Deus fez. Descobri que não há nada melhor para o homem do que ser feliz e praticar o bem enquanto vive. Descobri também que poder comer, beber e ser recompensado pelo seu trabalho é um presente de Deus."

Não sei dançar. Peça um poema, uma música tocada no violão, um livro, um bom chute num jogo de futebol, aprender uma nova língua, um desenho, um gesto de amor ou um beijo, mas não me convide para uma dança. Tenho pés leves para jogar bola, mas tábuas secas para a dança. Mas, e se a eternidade for uma bailarina? Como acompanhá-la? Como conhecê-la? Como experimentá-la? Como vivê-la? Como amá-la?

De que adianta o esforço de meu trabalho para pensar a eternidade? De que adianta todo o trabalho debaixo do sol se não compreendo o Deus que se fez carne e mostrou seu rosto? De que vale me esforçar para compreender? De nada! Tenho corrido atrás do vento. Enquanto desenho e esquadrinho a bela moça que salta, não a vi num leve rodopeio que culminou em seu gracejo de desviar o rosto do público e mirar a leve e delicada mão suspensa... Não sei dançar. A Eternidade me escapa.

 Falo, discurso, escrevo. A Eternidade... A Bela Eternidade... A Bela Bailarina... Perdi novamente todas as minhas letras, sumiram os papéis, joguei fora tinta a toa. De que vale tanto esforço? Não entendo! Desejo e anseio pela Eternidade, porém, Deus me impôs o fardo do trabalho finito de todos os dias. Trabalho insuficiente, trabalho inútil. A Bailarina continua sua dança e eu perco meu compasso... Já não esquadrinho tão bem a Fé que achei que tinha.

Não entendo porque falo demais. Não me rendo porque danço de menos. Ah, se eu soubesse dançar! Saberia da Bailarina seus sonhos, viveria a Eternidade! Mas não, continuo a esperar o dia que completarei meu quadro, pintarei meu texto. Chega! Deixo de lado os papéis, abandono o discurso! Descobri que a Eternidade dança agora, a música não parou de tocar e milhares de notas com infinitos passos doces e excitantes brilham à minha frente... A música não se deixa esquadrinhar, a Bailarina não permite ser congelada. Se é feliz e faz o bem quando ouve-se e admira a dança hoje...

Sou vivo. Posso comer, beber e trabalhar. Sou agraciado por Deus! Ouço a orquestra e vislumbro a Beleza! Não mereço tamanho presente! Não sei dançar... Mas admiro tão bela dança! Não posso ser o par... Mas sou um espectador apaixonado! Se a distância entre minha finitude e a Bela Eternidade for uma dança, me calo e deixo que a música toque, admiro a Bailarina e sonho um dia aprender a dançar...

Ah, Bela Bailarina... Quem dera soubesse dançar hoje! Seria Eterno, iria para além das letras e dos papéis. Teria tua companhia, experimentaria Deus face a face... Quem dera! Mas, enquanto não sei, que maravilhoso é poder sentir teus encantos, cair em teus cantos e me deixar levar pela melodia... É um presente de Deus! Sou feliz e faço o bem enquanto vivo. Que bela dança! Que lindo som! Bela Bailarina... Um dia aprenderei a dançar...

E se a Eternidade for uma Bailarina?

Sou o mais apaixonado e amante dos admiradores! Falta-me aprender a dançar...


Gratis i Kristus

terça-feira, 3 de abril de 2012

A vida é um jogo de pôquer.

Passei a ver meu dia-a-dia como um jogo de cartas. Somos todos homens e mulheres sentados em uma mesa circular com os olhos fixos uns nos outros. As luzes do salão são fracas, a mesa é carpetada de verde e o crupiê tem em seu crachá dourado gravado seu nome e sobrenome: "Sr. Acaso Necessário". As cartas são embaralhadas, distribuídas e organizadas na mesa. Cada homem e cada mulher deve ter coragem para observar atentamente as suas "armas" e, ao mesmo tempo, as que possibilitam e dão o tom do jogo. A vida é um jogo de pôquer de apostas altíssimas...

Dependemos uns dos outros e, por alguma razão, estamos uns contra os outros. Por isso, fazemos corporações, negociamos apostas, falamos durante toda a partida, jogamos "um verde", piscamos, flertamos, mandamos beijos, trememos as mãos, cochilamos, nos defendemos e atacamos. Uma piscada a mais e ruímos, mesmo que municiados com boas cartas na mão. A vida é um jogo de pôquer de apostas altíssimas e conversas futilmente vitais...

Para nos mantermos alertas e jogando, precisamos de água, álcool, comida e uma bela companheira bem vestida em pé ao nosso lado ou um musculoso acompanhante que mantenha a mão no ombro da jogadora para satisfazer os prazeres e distrair os adversários. Todo o tempo o jogo é tenso, toda tensão nos põe um instante mais próximos do fim da partida. O incansável crupiê constantemente reembaralha, redistribui e reorganiza as cartas. Os hábeis e os imbecis jogam pela vida e armam instrumentos que permitam estar um passo a frente dos outros. As corporações e os negócios passam a ser regrados pelos jogadores. Uns falam com outros, armam-se para aumentar as apostas e vencer os demais. A vida é um jogo de pôquer de apostas altíssimas e conversas futilmente vitais que regem e determinam o tempo dos jogadores no próprio jogo...

Para provar que um pode ajudar o outro, os jogadores pedem que os adversários dêem suas palavras. Pois bem, basta que um blefe para que todos caiam. Se esperarmos dos homens que se provem por argumentos, a primeira cartada de um mentiroso levará embora todas as nossas apostas. No desespero, os homens confiam na boca dos outros, entregam-se às mentiras e à superstição. A vida é um jogo de pôquer de apostas altíssimas e conversas futilmente vitais que regem e determinam o tempo dos jogadores no próprio jogo de acordo com os critérios que utilizam para confiar em suas conversas...

Se o jogador esperar do crupiê uma boa organização das cartas, correrá riscos demais e sucumbirá. Porém, por outro lado, as jogadas só são realizadas de acordo com as possibilidades entregues pelo crupiê; não há um milagre no carteado. As chances só aumentam quando os jogadores conversam uns com os outros. Entretanto, se houver um mentiroso, os honestos caem. Se as conversas dependerem da fala e dos argumentos, os ardilosos garantem a queda do "Reino dos Céus". Agora, se os jogadores estabelecem como critério para as conversas a carne do adversário, encurta-se o espaço da mentira. A carne não guarda segredos, expõe feridas. Os jogadores que desacreditam das palavras e tem Fé na carne e nos encarnados, nunca ganharão as apostas, nunca desbancarão o jogo. Porém, também nunca sairão da partida antes de seu tempo...

A vida é um jogo de pôquer. Qual será nosso critério para jogarmos? Meu dia-a-dia é um jogo de pôquer. Meu critério e experimentar de tua vida, não mentir quanto à minha e desistir de ganhar o mundo, preferindo não perder minha alma.



Gratis i Kristus

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Silêncio! Deus é.

Provérbios 25: 2 - "A glória de Deus é ocultar certas coisas; tentar descobri-las é a glória dos reis."

Lewis Carroll é o autor de Alice no País das Maravilhas e Alice no País do Espelho. Mas, na verdade, esse não era seu nome. Lewis Carroll chamava-se realmente Charles Lutwidge Dodgson. Charles criou um pseudônimo: Lewis. Pseudônimo é mais ou menos um nome que, na verdade, não é nome, pois não remete à uma pessoa, mas à uma pessoa que uma pessoa inventou.

Em seu segundo livro, Charles, ou Lewis, não sei, conta uma estória em que Alice encontra-se com Humpty Dumpty; uma personagem que dá para as palavras o significado que ele quiser. Em certo momento da conversa, Humpty Dumpty utiliza a palavra "glória", num contexto que nada teria a ver com seu significado. Alice fica curiosa e pergunta à Humpty o que ele queria dizer com "glória", e ele responde que para ele significava um "argumento irretorquível". Mas teria ele o direito de fazer isso? Como poderia dizer algo que não era o mesmo para as pessoas? Assim perguntava Alice. Em resposta, a outra personagem diz: "A questão não é essa! A questão é quem é que manda aqui. Só isso." - seriam as palavras nos falantes, ou os falantes nas palavras? Quem é que manda? Isso, Humpty disse sobre glória. E o que ele diria sobre Deus?

Escolhemos um nome para Deus: Deus. Porém, esse nome era grande demais; precisávamos especificar mais coisas sobre Deus. Demos, então, novos nomes para Deus: protetor, amoroso, misericordioso, bom, justo, eterno, Insondável, inefável, santo, digno, Senhor, salvador, rocha, rei, libertador... E quantos atributos seremos capazes de a Ele empregar. "Atributos", os nomes de Deus. Construímos para Deus um castelo de pseudônimos, assim como o de Charles: nomes que não são Deus, não definem nem limitam e nem estão ligados ao próprio Deus, mas, de alguma forma, estão ligados à Deus. A glória de Deus foi esconder, a nossa, dos "reis", é descobrir...

Mas, assim como Humpty Dumpty faz com as palavras, que significados damos aos nomes que atribuímos à Deus? O que fazemos com essas palavras? São elas que "mandam" em nossas conversas e nossas orações, ou somos nós que utilizamos delas para falar o que experimentamos de Deus? Ao que me parece, algumas dessas palavras ganharam vida, deixaram de ser pseudônimos e tornaram-se seres com vida própria. Algumas palavras abandonaram as letras e se tornaram, para nós, literais, reais. Os dragões, as fadas e as princesas saíram dos contos para viver em nossa pseudorealidade de reis - nossa pseudorealidade "real".

Atribuímos à Deus, por exemplo, "Senhor", uma palavra que significaria nossa experiência de Fé da presença e liderança divina em nossa vida. Porém,  ela ganhou vida própria e tornou-se um dragão, fez-se um conceito: Senhor passou a ser uma entidade (ir)real que controla e domina tudo. Deus tornou-se déspota e nossa experiência viva foi transformada em lei - palavras com vida própria. Deus passou a ter o controle de tudo. Se alguém morre, está no controle de Deus. Se alguém vive, foi graças à Deus! Se uma pessoa nem morre nem vive... Deve ser diabólico...

A palavra quando ganhou vida nos aprisionou em seu mundo real. Nos tornamos reis descobridores destronados e desistentes. Nada mais descobrimos, nada de real temos. Uma Majestade nada majestosa. Precisamos, para nos libertar, abandonar a lei da palavra e buscar uma nova experiência de Fé, uma nova significação.  (Re)Descobrimos a Graça. Maravilhosa Graça! Nos soltamos, relaxamos e determinamos os novos passos... Determinamos? Sim, elegemos um novo nome, um novo atributo, uma nova cadeia, um novo monstro que saiu dos livros e ganhou vida própria. Charles realmente se tornou Lewis...

Nós, reis que fazem de seus sonhos reais, encaixotamos novamente Deus. Decidimos que, de agora em diante, Deus não controla mais nada. Pois bem, toda e qualquer experiência de Fé que fugir do "controle" da Graça, deve ser rejeitada e enclausurada, pois vai contra nosso  último atributo eleito. Quais serão os argumentos que os defenderão? Que significado daremos para as palavras? O que faremos com "glória"? E com "Deus"? Em Humpty Dumpty está, talvez, a nossa salvação: "A questão é quem é que manda aqui. Só isso."

Pode ser que numa mesma situação, num mesmo dia, envolvendo as mesmas vidas, Deus esteja no controle e não. Pode ser que num mesmo momento, Deus seja gracioso e não. Pode ser que numa noite escura, eu durma em paz ou não. As experiências da vida não são feitas com argumentos, são feitas de vida. As experiências de Fé não são feitas de palavras, mas de Deus. Quem disse que Ele cabe em meu vocabulário? Quem disse que há um nome que o defina? Quem disse que um pseudônimo é suficiente? Um atributo? Não! Deus se experimenta e se faz na Vida. Sabe o que acontece? Deus se encarna...

O nome não é Jesus, é Messias. Aliás, não é Messias, é Cristo. Desculpe-me, é Filho de Deus. Não, Filho do Homem... Não! É Vida! É Deus que se faz vivo, se faz presente, se expressa e manifesta de modos indescritíveis, incompreensíveis, invisíveis, inaudíveis, milagrosos. É o Deus que não se sonha, se encarna. Os reis descobridores o descobrem enquanto reis, enquanto vivos, enquanto reais. Deus esconde, Deus oculta. É eterno. Da eternidade não se fala. De Deus não se fala. O nome nem deve ser escrito! Porque Deus é o Princípio, é o Fim, Alfa, Ômega, Verbo, Amor, Espírito, Liberdade... Deus é! Deus somente é...

Não vale a palavra certa, o nome certo ou a doutrina certa. A Vida é única, a experiência de Fé é silenciosa, experimentada. Quem é capaz de desvendar e compreender Deus? Quem diz do mistério? Quem crê ser capaz de esgotar o oculto? Silêncio! Silêncio! Silêncio! Ouço barulho demais, ouço nomes demais.

Deus é.

Deus.

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Gratis i Kristus