tag:blogger.com,1999:blog-25712323224674457222024-03-09T00:06:16.190-08:00Devaneios... apenas devaneios...Bruno Reikdalhttp://www.blogger.com/profile/17581018416520528047noreply@blogger.comBlogger227125tag:blogger.com,1999:blog-2571232322467445722.post-31068015242908280672013-10-24T09:44:00.004-07:002013-10-24T09:44:51.711-07:00TatuagemFarei três tatuagens no fim desse ano. Todas elas representam experiências que vivi e, claro, serão motivo de charme, vaidade e cuidado para mim. São adereços supérfluos e permanentes...<br />
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Com amigos sabendo que farei uma tattoo, recebi uma imagem sensacional exibindo o Charlie Sheen e mais ou menos essa inscrição:<br />
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"Me perguntam porque não tenho tatuagem. Pergunto, então, se você colocaria um adesivo numa Ferrari."<br />
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Claro que ri da sacada do gênio que escreveu isso. Num primeiro momento, porque, no seguinte, tive que parar e pensar: "Como é que é?"<br />
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O que está posto na imagem é a regra: "se teu corpo é tão bom quanto uma Ferrari, não coloque um adesivo". Entende a medida? A Ferrari! Ela é o crivo par a qualidade do teu corpo. Na minha enorme cabeça, a resposta mínima e decente deveria ser: "se a Ferrari for tão importante quanto é meu corpo, poria sim um adesivo, mas como não é..." Infelizmente, é difícil fazer essa conta, porque de tão viciados em preços de coisas, não conseguimos imaginar que nosso corpo seja "tão bom quanto uma Ferrari".<br />
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É muito estranho: ou pensamos que Charlie Sheen é um arrogante por se comparar a uma Ferrari e não por isso não põe um adesivo em si, ou que somos muito mais arrogantes ao acharmos que somos mais importantes do que uma Ferrari e, exatamente por isso, dignos de termos uma marca e ela não. O problema em tudo isso não é a arrogância ou qual a melhor escolha, mas porque temos de fazer essa escolha. Melhor: porque eu tenho que me comparar a uma Ferrari?<br />
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Nunca vi Ferrari comendo. Nunca vi Ferrari desenhando. Nunca vi Ferrari rindo... Já vi Ferrari correndo (nos filmes). Nunca vi Ferrari escrevendo textos, ensinando a jogar bola, brincando com criança, tocando violão, cantando, compondo músicas, dando um beijo, amando, "praticando amor", tomando sol ou pensando se faria ou não uma tatuagem... Será que sou tão bom quanto uma? Pergunta ridícula e sem sentido...<br />
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Nunca vi Ferrari sendo religiosa, cumprindo deveres morais, participando de política. Já vi carregando "gente importante" para lá e para cá, mas, além disso... Nada. Infelizmente, de novo, é difícil conceber a preferência pelo nosso corpo ao invés da Ferrari. Porque a Ferrari custa um preço, nosso corpo não.<br />
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Na Fé, por exemplo, porque é tão difícil aceitar uma relação que seja graciosa, "de graça", pois tem que ter um "preço". O corpo dado não custa nada, mas 30 moedas de prata podem resolver alguns problemas...<br />
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Nessas horas eu entendo como é "inconcebível" a possibilidade de vida eterna: ela não tem preço, não tem começo e nem fim. Não está limitada a um número, por maior que ele seja. Por isso não se cobra por ela (não tem moeda que pague). Por isso ela é rejeitada... Melhor é a outra vida, aquela que custa, que é danosa e infinitamente delimitada: uns podem ter e outros não. Ela não faz nada além de morrer, mas isso só alguns conseguem... Tipo uma Ferrari.<br />
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<i>Gratis i Kristus</i>Bruno Reikdalhttp://www.blogger.com/profile/17581018416520528047noreply@blogger.com13tag:blogger.com,1999:blog-2571232322467445722.post-27916113423018801402013-08-12T12:33:00.002-07:002013-08-12T12:50:55.385-07:00Consolo e EsperançaQuando olhamos para a vida e dizemos "nem tudo foi ruim", encontramos consolo. Pelo menos é o que Richard Rorty propôs num debate sobre "consolação". Já quando olhamos para o futuro e desejamos algo diferente, melhor do que aquilo que vivemos, experimentamos esperança. O projeto para amanhã que independe do frio na barriga ou do coçar do coração, do sorriso no rosto ou de uma boa lembrança, chama-se esperança.<br />
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Para os dias de tempestade, o consolo é um bom abrigo. Para todos os dias, a esperança tem que ser o ar que respiramos. Consolo é uma possibilidade para suportarmos as dores, as perdas, os dias maus. Já esperança não é possibilidade, mas um dever. Devemos ser esperançosos sempre, podemos nos consolar quando preciso. Diferente do consolo, esperança não é nosso abrigo, mas a coragem que nos obriga a sair da caverna depois que o perigo passa. Redundantemente, ela tem que ser um dever. Diferente de uma sensação de paz e segurança, esperança é o se lançar para o desconhecido, o inseguro, o incerto, o escuro, um projeto.<br />
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O que seria amar senão se lançar no perigoso, jogar-se contra os leões confiando que eles não te atacarão, entregar-se nas mãos de um carrasco sem resistência na esperança de que ele não baixe o machado em nossa cabeça - apesar de poder fazê-lo? Amar não é entregar-se por inteiro, sem desconfiança e sem o medo de ser usado pela moça mais linda da face da terra? Ama quem se deita nos braços de alguém confiando que esses braços trarão carinho... Se temos esperança, é porque amamos, confiamos em algo ou alguém e sem certeza de que seremos acolhidos, acariciados, cuidados...<br />
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Soren Kierkegaard já escreveu: "Mas o amor, que é maior que a fé e que a esperança, se encarrega de construir a esperança". Só sabe viver a esperança quem sabe amar. Só vive a esperança aquele que ama. Amantes são esperançosos, se lançam para o desconhecido, sonham com o futuro, o pôr-do-sol e o nascer de outro dia (ao mesmo tempo). Tem que amar muito a vida para não se acostumar com casas, com luxo, com proteção constante. É esperança. "Amanhã será maior", "amanhã será melhor"! Por isso não ficarei aqui, escondido. Por isso nos lançamos nos braços uns dos outros. Por isso arriscamos abrir mão de tudo por amor, pelo amanhã de quem amamos.<br />
<br />
E quando os dias são de tempestade, tristes, em que não temos força, encontramos aquele colo com pernas cruzadas no sofá que nos convida a reclinar a cabeça. Encontramos mãos que se entrelaçam por entre os fios de nossos cabelos costurando lembranças boas, fazendo um cobertor que nos aquece dizendo: "nem tudo é ruim, nem tudo é tão mau, olhe para o lado, olhe para mim". Encontramos consolo...<br />
<br />
Mas, para além desse dia, para todos os dias de todos os amantes esperançosos, é o dever da esperança, a Lei do amor, que projeta, empurra, movimenta, ensina, traz novos ares, apresenta mudança, transforma o mundo. É a esperança que molda o desejo dos amantes para não viverem somente para si mesmos, mas para todos, para o amanhã, para os filhos que nunca viram e que talvez nunca virão. Só quem ama tem esperança. Só quem tem esperança sabe o que é se entregar para a incerteza do amanhã, para o nada, para um projeto que tem tudo para dar errado.<br />
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Como escreveu Slavoj Zizek ao ler as cartas de Paulo (e aqui termino): "Por essa razão o cristianismo é a antisabedoria: a sabedoria nos diz que o esforço é em vão, que tudo termina em caos, enquanto o cristianismo insiste insanamente no impossível. É óbvio que o amor, sobretudo na forma cristã, não é sábio". Somos loucos porque amamos, não somos sábios porque apostamos no amanhã antes mesmo que ele chegue. Temos esperança...<br />
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<i>Gratis i Kristus</i><br />
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<i><br /></i>Bruno Reikdalhttp://www.blogger.com/profile/17581018416520528047noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2571232322467445722.post-15649776441283600122013-07-25T19:39:00.001-07:002013-07-25T19:39:54.230-07:00EcoteologiaTenho ministrado aulas de Ecoteologia num Seminário. Confesso: nunca fui muito interessado pelos discursos ecológicos, sustentáveis, ecochatos, verdes ou sei lá mais o que. Entretanto, tive que me interessar e, consequentemente, me apaixonei. Do mesmo modo que aquele clichê de filmes <i>teen </i>em que as personagens principais, um menino antipático e uma adolescente toda "certinha", brigam o filme todo e, no fim, revelam aquilo que todos sabíamos desde o começo - que eles se amavam e eram perfeitos um para o outro - eu e a Ecoteologia nos relacionamos.<br />
<br />
O que me incomodava nas propostas Ecológicas era, além de sua falta de consistência prática (cotidiana), a insistência em "materiais reciclados" e consumo "sustentável". Traduzindo: recicle aquilo que você produz e compre produtos determinados "x" que ajudam a Natureza. Ah é! Tem esse outro detalhe que me incomoda: a Natureza - uma entidade sem rosto, sem forma e vazia, mas que engloba tudo, inclusive nós, apesar de nos tratarmos como separados dela. Uma querida amiga me mostrou uma propaganda que explica o que estou querendo dizer: "Respeite a Natureza, mas não há garantias de que ela respeitará de volta". Os problemas:<br />
<br />
- existem dois sujeitos se relacionando: você (que precisa respeitar a Natureza) e a outra entidade separada de você (a própria Natureza).<br />
- Respeite-a porque você, humano, tosco, pequeno, inútil, parte ínfima de um planeta que já existiu milhões de anos sem você, é "maior" do que ela - tem o poder de "respeitá-la".<br />
- Você é de antemão culpado pela falta de respeito com a Natureza. Ou seja: ela estava bem, até você aparecer...<br />
<br />
Por essas e outras, Ecoteologia não me agradava. Entretanto, no meio do caminho havia uma pedra, e foi exatamente nesse clichê que tropecei: encontrei a pedra que ficava no meu sapato quando se falava em ecologia! "Consuma produtos sustentáveis [...] Recicle!". Qual o problema de reciclar? Nenhum. O problema é o porque você necessita reciclar: porque você consome. O que deveríamos fazer? Reciclar? Sim, mas depois de pararmos de consumir! E o que fazemos para solucionar o problema? Não! Não pare de consumir; apenas consuma direito...<br />
<br />
E aqui entrava a questão: a destruição do que apelidamos de Natureza não é catastrófica por causa do homem (ou de você), mas pelo consumo. Biologicamente, todos consumimos todos. Se é vivo, consome. A diferença é que desenvolvemos a habilidade de consumir "ilimitadamente", ou melhor, crer que podemos consumir ilimitadamente e, pior, que é possível haver alguma cosia ilimitada. Quando uma praga de gafanhotos "consome ilimitadamente" uma plantação, ou a praga consegue mudar de lugar, ou morre. Nós fazemos o mesmo, com a diferença de que desenvolvemos maiores habilidades de sorte de adaptações (ou seja, conseguimos aumentar a sobrevida da espécie, mesmo consumindo todos os recursos de uma região). Se acaba alguma coisa aqui, em algumas horas estamos num local absurdamente diferente. Se acabam os recursos de um jacará no Pantanal, levariam anos e anos para sua espécie encontrar outro local (se tivesse muita sorte).<br />
<br />
Além disso, consumimos porque desenvolvemos uma lógica sensacional de dívida e pagamento: você só consegue as coisas que precisa para viver mediante pagamento e só paga se estiver consumindo seu trabalho ou o trabalho de outro. Na prática, nascemos devendo, pois os recursos estão "dados", você só precisa pagar por eles... Por isso você trabalha!<br />
<br />
Nessas horas eu me lembro de um texto sensacional de Paulo em Romanos 13:<br />
<br />
"Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns pelos outros, pois aquele que ama seu próximo tem cumprido a Lei. Pois estes mandamentos: "Não adulterarás", "Não matarás", "Não furtarás", "Não cobiçarás", e qualquer outro mandamento, todos se resumem neste preceito: "Ame o seu próximo como a si mesmo". O amor não pratica o mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento da Lei. Façam isso, compreendendo o tempo em que vivemos. Chegou a hora de vocês despertarem do sono, porque agora a nossa salvação está mais próxima do que quando cremos."<br />
<br />
A possibilidade de rompermos com a lógica capitalista, ou de consumo, é o exemplo cristão: nos anularmos para apagar uma dívida. Cristo não veio pagar a conta do pecado. O preço pago é aquele que é "impagável": o de graça, Graça! Cristo se sacrifica por nada, para ele excede antes mesmo de haver dívidas, pagamento. Nós não consumimos Cristo, nós aceitamos o próprio Cristo, seu sacrifício, sua anulação. Nesse caso, não há processo a ser consumido, e a única dívida que temos é de "amor uns pelos outros". Não há nada a dever, a não ser agir sem cobrar (amar). Nós não praticamos o mal contra o próximo, apenas amamos e, assim, cumprimos qualquer Lei.<br />
<br />
O interessante é que além de Paulo atentar para essa dívida que não existe (a não ser o amor - que não é dívida, mas vida a ser vivida, não consumida), nos convida a amarmos compreendendo o tempo em que vivemos. O tempo que vivemos é de catástrofe (como todos os tempos). E, no nosso caso, é uma catástrofe global, generalizada e provavelmente falta. Não vivermos talvez sequelas, mas, literalmente, o fim. Paulo também prevê fim e, por isso, pede para que compreendamos o tempo em que vivemos. O tempo que vivemos é tempo insustentável. Compreendê-lo é romper com o consumo, descumprir com as dívidas a serem pagas.<br />
<br />
Já é hora de despertarmos! Não é a proposta de consumo sustentável ou reciclagem o problema. O problema é a produção e o porque consumimos! Consumimos porque produzimos e precisamos vender a produção para pagar as nossas dívidas e poder continuar a ser um consumidor... Estamos viciados! Precisamos aprender a amar, a nos anular, a não exigirmos as dívidas e impedirmos a continuação da produção. Não precisamos mais produzir, atingimos um ponto em que TODOS podemos parar. A saída não é reciclagem sozinha, mas reciclar aquilo que já produzimos. A continuidade de produção e consumo não darão conta de se manter, de nos manter. O único consumo sustentável é a não-produção, o não-consumo. Não precisamos mais gerar riqueza, precisamos distribuí-la. Aliás, riqueza não são bens-de-consumo, mas Vida...<br />
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<i>Gratis i Kristus</i><br />
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<i><br /></i>Bruno Reikdalhttp://www.blogger.com/profile/17581018416520528047noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2571232322467445722.post-77785492696449080462013-06-17T10:49:00.000-07:002013-06-17T10:50:16.948-07:00De geração em geração...Aprendi com Jung Mo Sung em uma palestra em memória do padre José Comblin, que o tempo bíblico não é linear, nem evolutivo, nem circular, cíclico ou depressivo. O tempo bíblico é geracional: de geração em geração. O mesmo Deus dos pais é o Deus dos filhos e dos filhos de seus filhos. Porém, os pais são diferentes dos filhos e dos filhos de seus filhos...<br />
<br />
Cada geração constrói sua missão, tem seu propósito, desenvolve um plano diferente. Não necessariamente os filhos continuam ou devem manter o trabalho dos pais. Cada geração tem seu trabalho e marca seu trabalho. Aí está a liberdade: cada geração constrói um novo destino.<br />
<br />
A geração de ancestrais constrói um destino e predestina a geração de seus filhos. Contudo, e como disse Rubem Alves, "Deus está no 'contudo'", os filhos não precisam necessariamente continuar a predestinar seus filhos do mesmo modo que seus pais fizeram. Olhando para trás, os filhos percebem o que deveria ter acontecido (se não tivéssemos aceitado isso, nosso destino seria diferente) e, nesse processo, alteram seu modo de viver, não precisam manter a maneira de viver de seus pais, reconstroem seus propósitos construindo um destino diferente para seus sucessores.<br />
<br />
Não construímos destinos para nós, construímos para nossos filhos. Cada geração altera o destino da próxima, na medida em que entende e aceita o que recebeu de seus pais e a altera de acordo com as necessidades e os novos propósitos criados. Predestinamos casas, governos, crenças, ciência, cidades, ambientes, alegrias e tristezas. Essa é a responsabilidade de cada geração: destinar a próxima...<br />
<br />
A geração anterior à minha me predestinou uma Democracia, destruiu uma ditadura. A minha geração poderia manter o movimento, promover a manutenção dessa Democracia, não desenvolver seu próprio trabalho - se fosse necessário. Contudo, e "Deus está no 'contudo'", minha geração não promoverá a a manutenção das propostas de fim de Ditadura, pretende construir e encontrar seu próprio Caminho, sua missão, seus propósitos. O Espírito sopra e se renova, inspira os santos de uma comunidade que, mesmo distantes, estão com o mesmo ar, com o mesmo vigor, com os mesmos sonhos. O Espírito soprou diferente em minha geração, está propondo um reavivamento, uma ressurreição de vidas que pareciam mortas há 3 dias...<br />
<br />
Não conhecemos ainda nossa missão, não conhecemos todos os problemas, não conhecemos as consequências do que fazemos. Se conhecêssemos, estaríamos livres para agir tranquilamente. Contudo, não é o conhecimento que nos move, é a crença, a Fé; mesmo sem conhecermos tudo, agimos porque cremos que é bom. O Espírito está soprando... Somos livres para agir no escuro, sem saber exatamente o que estamos fazendo, mas crendo com todo o coração que valerá a pena...<br />
<br />
Que Deus nos abençoe, que Deus abençoe os propósitos e os trabalhos da minha geração... Pois de geração em geração, Ele permanece fiel, o mesmo e Emanuel (Deus presente)...<br />
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<i>Gratis i Kristus</i><br />
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<i><br /></i>Bruno Reikdalhttp://www.blogger.com/profile/17581018416520528047noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2571232322467445722.post-12374342359021841422013-06-03T21:46:00.003-07:002013-06-04T07:04:32.836-07:00A arca<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
Passava a chuva, aparecia o
arco-íris e minha avó perguntava: para mim e para minha irmã: “vocês sabem porque é que existe o arco-íris,
crianças?”. Fazia parte das férias na viagem para a casinha em Atibaia. Lembro
de ter respondido algumas vezes essa pergunta, lembro de ter ouvido ela contar a mesma estória como se fosse uma grandissíssima boa nova.
Minha vó nos dizia: ”o arco-íris foi feito por Deus para nos lembrarmos de sua
aliança” – e em seguida meu avô concordava com a cabeça (que não é pequena...)
e cantava algum hino de igreja.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Tive uma boa infância. Ouvi
repetições que sussurravam novidades, mesmo eu sabendo o começo, meio e fim das
estórias. Sabia que minha vó se referia à chuva como se fosse aquele dilúvio
que inundava a Terra e ao arco-íris como a promessa esperançosa de que jamais
haveria o desejo divino de destruição da humanidade. Hoje sei responder que
arco-íris é um acidente de gotículas de água que, funcionando como prismas,
refletem diferentes cores que desenham um caminho colorido que leva
coisa alguma à lugar nenhum e se sustenta no ar. Hoje sei da possibilidade de
participar do fim da humanidade, da destruição do planeta. Hoje poderia
responder minha vó de outro jeito. Hoje poderia dizer como surge o efeito
arco-íris e que a aliança parece estar um tanto cortada. Poderia, só que não...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
<br /></div>
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A pergunta da minha avó era
muito mais profunda. A pergunta da minha avó tinha a ver com a esperança eterna
que não costuma falhar: a Fé. Minha vó não queria saber do arco-íris, minha vó
queria saber se eu manteria um sonho vivo, se eu e minha irmã seríamos a
resposta que o mundo procurava, se nós manteríamos a esperança acesa. Minha vó
repetia o Gladiador: “O que é Roma? Roma era um sonho, tão delicado que só de
sussurrar seu nome, poderia desaparecer”.<o:p></o:p></div>
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<br /></div>
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Da estória e das perguntas
contadas pela minha avó, guardei uma parte estranha que sempre me
encantava. Tinha uma arca cheia de
bichos atolada no cume de um monte. A chuva tinha parado, as águas estavam
baixando, mas não tinha como se saber se já havia terra firme e habitável para
se recomeçar a vida. Para resolver o problema, o tal do velhinho chamado Noé resolveu
soltar pássaros regularmente para encontrar segurança e se libertar do
cativeiro que a antiga protetora de sua vida se tornara. A arca, sendo a
guardiã e a possibilidade de salvação da humanidade, com o fim da tempestade, havia
se transformado numa prisão...<o:p></o:p></div>
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<br /></div>
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Primeiro Noé soltou um corvo, mas o bichinho rondou a
arca, deu voltas em torno da prisão e retornou sem trazer nem um pingo de
esperança. Agoniado e ansioso por liberdade, soltou, então, uma pomba. Ela saiu
pela manhã apressada em sua missão, mas, ao anoitecer, retornou de bico vazio e
olhos entristecidos. Noé, com as íris dos olhos marejadas, esperou mais uns
dias e novamente soltou a pomba valente. Mais uma vez a mensageira desapareceu
ao horizonte e, no fim de tarde, retornou apressada rasgando o céu alaranjado
pelo Sol poente com um graveto de esperança no bico. Por fim, passados uns
dias, Noé soltou mais uma vez a mensageira, mas, dessa vez, ela não retornou
mais para a prisão. A mensagem estava dada.<o:p></o:p></div>
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<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="text-align: justify;">
Por vezes nossas arcas
salvadoras que vencem tempestades param em cumes de montes e perdem sua função
libertadora. Nossas arcas, assim, se tornam prisões. Alguns se apegam demais ao
cativeiro e, quando soltos para serem mensageiros, apenas rondam a prisão,
fazem uma análise panorâmica de tudo, mas não trazem esperança e novidade
nenhuma. Em outras vezes, a missão de trazer alguma boa nova que nos tire de
dentro da arca é acolhida com muita paixão por uma pomba, mas ela retorna para
a casa-morta com o silêncio dos cemitérios. Lindo, porém, é quando a mensageira encontra a liberdade,
descobre vida fora da arca, segurança além dos muros da prisão, mas, não se contenta
em se estabelecer num galho novo, retornando para a casa morta e avisando a
todos que há um novo mundo surgindo, ainda há esperança.<o:p></o:p></div>
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<br /></div>
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A maturidade definitiva dessa
experiência é quando a mensagem deixada é a mensagem do silêncio do nascer do
Sol. Quando não precisa se perguntar onde está a pomba ou se há um lugar melhor
do que a arca. Todos já sabemos: estamos livres! O silêncio da pomba gritava liberdade,
salvação e segurança...<o:p></o:p></div>
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<br /></div>
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Se encontramos um sinal de
esperança, precisamos retornar à arca para avisar os outros. Além disso, pode
ser que a mensagem mais profunda e libertadora seja o silêncio do nascer do
Sol, quando tudo ainda está parado, acordando e o brilho do senhor do dia nos
obriga à contemplação. Desaparecer calado no horizonte pode ser a sutil
mensagem de salvação. Daí vem a pergunta da minha avó: “vocês sabem porque
existe arco-íris, crianças?”. Sim, vó! Para nos lembrar de que existe um sonho
de esperança, uma aliança de Fé entre nós e Deus de que haverá terra seca num
futuro, que deixaremos a arca para vivermos e desfrutarmos do mundo lindo de
liberdade construído como casa-viva para nós...<o:p></o:p></div>
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<i>Gratis i Kristus<o:p></o:p></i><br />
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Bruno Reikdalhttp://www.blogger.com/profile/17581018416520528047noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2571232322467445722.post-22601733693758082092013-04-15T08:55:00.002-07:002013-04-15T09:06:24.353-07:00Das formigas e das cigarrasEu tenho uma avó que me contava uma estória sobre as formigas e uma cigarra. Eu lembro de gostar de ouvir a estória porque adoro ouvir estórias, mas sempre fiquei triste com essa estória... Sempre a achei injusta. Não vou contar com detalhes, mas, resumindo, era uma cigarra que cantava ao invés de guardar comida para o inverno enquanto que as formigas o faziam. Quando o inverno chega, a cigarra vai até o formigueiro, mas as formigas a deixam do lado de fora e dizem "quem mandou ficar cantando ao invés de 'trabalhar'?". No fim, a cigarra morre e a vida continua...<br />
<br />
Essa estória sempre me entristeceu porque eu adoro cigarras. Passei a segunda metade da minha infância numa cidade pequena de interior que tinha verões bons e, com eles, muita cantoria de cigarras - e cigarras também! Adorava ouvir aquela gritaria no fim de tarde junto com um calor delicioso que me animava e conduzia minhas peladas de "fut" com ou sem amigos. As vezes chutava na parede como se fosse o gol, deixava a bola rebater e vir na minha direção e, de atacante, imediatamente me tornava o goleiro adversário que fazia defesas brilhantes! Nesse tempo eu não tinha medo de cair...<br />
<br />
A torcida de cigarras vibrava! O juiz até apitava o inicio e fim de partida.<br />
<br />
Quando a estação começava a virar, lembro da cantoria das cigarras ser mais forte, parecer mais grave - um tanto desesperada, talvez. Mas, isso não me entristecia; as bichinhas continuavam a me alegrar. Nos dias que viriam, eu me meus amigos de colégio corríamos depois da aula até as árvores que tinham por perto para caçar "cascas de cigarra". Elas morrem e deixam a armadura de um mês de batalhas à mostra para os arqueólogos juvenis. Levava aqueles corpos para casa, brincava com eles, dissecava sua estrutura, ficava impressionado com aquelas pequenas "garras". O inverno chegava e eu lembrava que elas morriam. Isso também não me entristecia, porque no verão seguinte não teria perigo de elas não aparecerem.<br />
<br />
A estória era muito injusta! As formigas, sem vergonha, nunca cantaram comigo e, se eu tentasse me relacionar com elas, seria picado. Pior! Elas roubavam minha despensa e comiam meus chocolates e balas que escondia para minha irmã não roubar de mim na eterna disputa de nossas máfias ou inteligências governamentais - eu era meio KGB e ela meio CIA.<br />
<br />
Agora, falando menos infantil e mais "sério", tem algo mais profundo que me incomoda na estória: ela serve para ensinar que na Natureza é natural que aquele que trabalha vence e o que não, morre. Ela serve para dizer que é "por isso que as formigas vivem muito e as cigarras pouco". Logo, com os humanos deve funcionar do mesmo jeito, pois é uma lei "Natural" ou "Universal". O que acontece, na verdade, é o contrário: humanizamos as formigas e as cigarras para justificar uma lei moral que inventamos para nós mesmos e para nossos filhos - talvez para a preservação deles: aquele que for mais malandro ganha. Ou então, quando alguém estiver feliz com a vida e deixar alguma sobra, tome-a o quanto antes e guarde. Azar o dele; quem mandou?<br />
<br />
Deixem-me contar uma coisa: as cigarras podem viver até 20 anos, sabia? Depois de adultas e de se reproduzir, vivem uns 50 dias ou mais, mas, contando toda sua vida, podem chegar a 20 anos. Sabe quanto dura essa formiguinha que vai até tua cozinha e acaba com tuas coisas? 3 a 10 semanas. Na estória, é a mesma cigarra e a mesma formiga que se encontram no verão e no inverno, mas poderia ser qualquer outra coisa: dois meninos - um rico e um pobre -, uma zebra e um leão, um bule e uma xícara, uma bola e uma estaca. Mas, nenhuma dessas coisas se encontra para conversar, nem são as mesmas. A formiga da estória deveria ser outra, que nem sabe quem é cigarra. E a cigarra, já deveria ter morrido, pois já teria cumprido seu ciclo de vida.<br />
<br />
Aliás, ciclo de vida: viver da maneira que tua espécie encontrou para viver. Cigarras trabalham cantando, formigas roubando despensas. E o que dizemos? Cigarras não trabalham, formigas sabem se "preparar para a vida". O que ensinamos para nossas crianças? É da Natureza saber roubar e trabalhar dessa maneira enquanto outro deixar espaço para você. "Seja mais esperto". O que ensinamos? O valor da vida é fazer o que for preciso para acumular mais...<br />
<br />
Mas, quando uma formiga entra na tua casa, imediatamente você a mata. Vai roubar a minha, safada? Vai roubar da cigarra! Cigarras vivem mais do que formigas se compararmos o tempo de vida de cada uma; a estória estaria furada. Mas, ninguém vive mais ou menos, vivem de acordo com suas adaptações. Se há uma "lei" a ser tirada é: não existe regra, escolha uma quando possível e a siga. Porém, não se justifique pela Natureza para querer roubar dizendo que está se "precavendo para o inverno". Se tem uma coisa que aprendi assistindo "The Game of Thrones" é que em nome de se precaver do Inverno que está chegando as pessoas fazem muitas coisas - e coisas extremamente perigosas...<br />
<br />
Odeio formigas, adoro as cigarras...<br />
<br />
Entendo que quando a Bíblia diz para o preguiçoso aprender com a formiga, foi para aprender que é possível carregar um peso maior do que seu corpo - não que é para deixar de cantar e começar a roubar! Assim como quando vejo Jesus dando uma bronca em Marta é: tem uma cigarra aqui cantando e você está preocupada com o trabalho das formigas? Calma, aprecie todos os trabalhos! Saiba viver...<br />
<br />
Para mim, isso é como o caso do político: queremos matá-los, mas, ao mesmo tempo, queremos ser como eles: trabalhar pouco, ganhar muito, viver de férias.<br />
<br />
No fundo, se tem algo de Natural, esse algo é viver - não tem opção quanto a isso. Amo as cigarras! Tenho saudade daquela vida de caçar suas armaduras, de ouvir sua cantoria, de tê-las como minha torcida. Não as tenho mais. Porém, hoje tenho outras cigarras, ouço outras cantorias, tenho outras torcidas, sou contente, carrego pesos maiores do que eu como fazem as formigas, mas, além disso, canto e sou cigarra para outras crianças que jogam bola no quintal em verões de cidades de interior...<br />
<br />
Chorei de saudade escrevendo este texto.<br />
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<i>Gratis i Kristus</i>Bruno Reikdalhttp://www.blogger.com/profile/17581018416520528047noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-2571232322467445722.post-31997984466119849482013-04-02T11:12:00.004-07:002013-04-02T11:12:39.928-07:00Espiritualidade<br />
<div class="MsoNormal">
É o ar, é o vento. Disse Jesus que o Espírito sopra onde
quer, ninguém pode mandá-lo para lá ou para cá; apenas sopra. Perguntar “o que
é espiritualidade?” é um exercício sem sentido – é uma palavra sem boca, sem
pé, sem rosto, sem destino, sem determinação –; o significado se dá apenas na
experiência com o Espírito, quando ele se revela, se manifesta. Aquilo que se
refere ao Espírito se refere apenas enquanto ele sopra, enquanto se nota que o
vento sopra.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Quando falamos de “espiritualidade”, talvez por não a
“vermos”, imaginamos algo que está dentro de alguém, partindo de alguém, uma
experiência individual, confinada em uma ou outra pessoa que são sensíveis ao
espírito, a algo místico. Porém, vento não sopra trancafiado dentro de uma
casa, fechado num pote, escravo de uma pessoa, dentro de um só coração.
Espírito é vento, sopra onde quer, passa entre as casas, corre as ruas, faz
bandeiras balançarem, refresca muitos ao mesmo tempo, não só um.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Comunidades se reúnem e desfrutam do mesmo ar, partilham o
mesmo vento. Desconhecidos que se encontram trazem consigo novos ares. O
movimento de corpos agita o ar. Creio que espiritualidade não esteja lá ou
aqui, mas entre relações. Relações não tem lugar, tem experiências. A
experiência com o Espírito não é propriedade do pai, da mãe, da criança, do
pastor, do arquiteto, do músico, do ancião, do jovem ou de alguém, mas da
Igreja, ou seja, do que acontece entre os membros, entre pessoas, entre casas,
entre corações.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O pertencimento à Igreja não é o confinamento do Espírito em
quatro paredes – pois então o vento não sopraria, seria tudo, menos Espírito.
Relações que são tocadas pelo mesmo Espírito são Igreja, não as paredes aonde
nos encontramos. Para que nosso vento não morra, para que o Espírito não deixe
de soprar, não podemos nos fechar em quatro paredes, porém, não podemos também
parar de nos encontrarmos. Precisamos de um encontro, de um lugar/momento que
propicie relações. Precisamos ser Igreja, participar da Igreja. Espiritualidade
é a experiência viva da Igreja de Jesus Cristo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
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A série de metáforas e silêncios, cantos e celebrações,
descrições das experiências vividas e testemunhos, choro e luto, podem ser
expressões da espiritualidade, podem ser filhas de relações que trazem
esperança, renovo, nova vida, a Fé. Como disse João, se pregam o Jesus
ressurreto que vive em nós – está entre nós –, são do Espírito de Cristo,
apresentam a eternidade. É a experiência de Cristo em nossas relações que nos
consola e reanima, traz um novo ar, um sopro, um vento que movimenta e refresca
a esperança que podemos chamar de espiritualidade: aquilo que é experimentado
do Espírito...<o:p></o:p></div>
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<i>Gratis i Kristus</i></div>
Bruno Reikdalhttp://www.blogger.com/profile/17581018416520528047noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2571232322467445722.post-549450738702648952013-03-26T18:06:00.001-07:002013-03-26T18:06:18.223-07:00Farisaísmo às avessas!Êxodo 20: 7 "Não tomarás o nome do Senhor em vão..."<br />
<br />
Os fariseus eram estudiosos da Lei e dos Profetas que se incumbiam das interpretações dos textos e preservação das tradições. Jesus se opunha ao "espírito" do farisaísmo - não aos fariseus, pois com eles conversava e, inclusive, sempre estavam ao redor do Mestre -, pois sua postura oprimia o povo, separava os doutores que detinham a verdade dos "do povo" que não sabiam ler. As duas características criticadas por Jesus, a responsabilidade pela correta interpretação e a preservação das tradições, hoje não se encontram coladas uma na outra...<br />
<br />
Não existem mais fariseus, mas o "espírito" do farisaísmo ainda pode ser reconhecido. Suas metades se separaram e ganharam vida própria: temos doutores da lei de um lado e protetores da sagrada doutrina de outro. Os opositores gastam energias em eternas querelas sobre predestinação, onipotência ou o sexo dos anjos - um não fala com o outro. Enquanto os doutores da lei estudam e determinam os bons métodos de leitura bíblica e as verdades que devem ser seguidas, os guardiões da tradição repetem ritos e decidem as verdadeiras atitudes que salvam o fiel. Jesus conta parábolas e experimenta das dores de quem é analfabeto ou não-praticante da verdadeira doutrina.<br />
<br />
Doutores e tradicionais, apesar do "espírito" do farisaísmo, não se bicam. Uns se acham melhores por serem mais inteligentes, outros por serem mais santos. No fim, os dois são pó e passam fome, assim como os que nem caminham para um lado e nem para o outro, os que são acusados tanto por uns quanto por outros. Quando Jesus era inquirido sobre a verdadeira doutrina ou sobre a verdadeira interpretação das Escrituras, não respondia nem uma e nem outra, apenas olhava para aquilo que estava a sua volta, escrevia no chão ou mudava completamente de assunto, pois o mais importante era a Vida e a Vida Verdadeira.<br />
<br />
Se falar sobre a Bíblia dividisse as pessoas, Jesus falava sobre filmes. Se acusar alguém de morte por causa da doutrina dividia pessoas, Jesus falava sobre o preço do pão. Se crer num Reino dos Céus fazia com que se esquecesse dos moradores da terra, Jesus falava sobre a dor de se pagar impostos. Se discutir teologia nos desperta o desejo de morte, melhor mudarmos a conversa, abrirmos mão do som articulado mais bonito em nome de Deus, quer dizer, em nome do nome que não se pronuncia - silêncio!<br />
<br />
Creio que Jesus tenha levado muito a sério o mandamento que começou esse texto - "Não tomarás o nome do Senhor em vão". Jesus não se gastava em nome de Deus ou pelo nome de Deus; ele era a presença de Deus. Independentemente de seu discurso, sua justificativa, era Deus presente. A abordagem de Jesus nunca foi para explicar o sistema lógico das boas sentenças sobre Deus ou os ritos corretos que devem ser seguidos para que se seja salvo, ele preferia conversar sobre o tempo, sobre o dia e, para aqueles que eram próximos, íntimos ou os que se abriam para conversas sobre "verdades", se permitia falar do nome de Deus.<br />
<br />
Falar o nome de Deus em vão não é pronunciar uma falsidade sobre Deus - o som sobre qualquer coisa é falso. Falar o nome de Deus em vão é deixá-lo soar em oportunidades que "matam". Quando falar sobre Deus causa destruição, prefere-se o silêncio! O nome de Deus não se pronuncia, se vive... Tomá-lo com o espírito do farisaísmo - seja lá em qual de suas duas faces - de modo que oprimimos, guerreamos, abrimos espaço para o ódio, a falta de diálogo e incompreensão, é tomá-lo em vão...<br />
<br />
Teologia ou doutrina não salvam ninguém, não convertem ninguém, não transformam água em vinho. Quem faz essas coisas é Cristo. Cristo não entra sem pedir, ele bate à porta. Cristo não se restringe às verdades, ele as atravessa e vai rumo àquilo que é eterno: trânsito, preço do frango, boas músicas, filmes, futebol, política, elogio ao belo, boas piadas... Àquilo que realmente acontece, nos faz sentir, nos faz viver. Salvação é do cotidiano, Deus participa é do cotidiano. Querer tirá-lo do mundo é tomar seu nome em vão. Em nome de Deus mudamos nossas conversas, não pronunciamos seu nome. O espírito do farisaísmo o põe em todo canto, mas não o vive, o repete, mas não se transforma. Silêncio! Se formos falar de Deus, que seja para trazer salvação aos povos, liberdade aos oprimidos. Vivamos mais, falemos menos...<br />
<br />
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<i>Gratis i Kristus</i>Bruno Reikdalhttp://www.blogger.com/profile/17581018416520528047noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2571232322467445722.post-59536760505904073142013-03-18T13:14:00.000-07:002013-03-18T13:14:43.553-07:00Fé que nos moveTenho escrito pouco, trabalhado um tanto, lido muito. Minhas leituras recentes tem sido sobre a "conquista" da América Latina pelos portugueses e espanhóis. Não tenho me preocupado em entender a "história" da conquista ou "o que aconteceu nesse processo". Minha atenção está voltada par ao seguinte: as estruturas de Fé que sustentaram a vinda colonizadora dos cristãos europeus para cá. Uma série de discursos teológicos justificou a escravidão e, mais do que isso, a Fé que rondava o coração de uma série de pessoas efetivava a escravidão.<br />
<br />
A confiança de que índios não eram humanos - chegando, inclusive, a se afirmar em tratados teológicos e em diretrizes do direito canônico que eles não passavam de "animais que falavam" - era enraizada, movia as ações cotidianas de encomendeiros, fazendeiros, bandeirantes, catequistas, padres e nobres. A Fé que Deus era o responsável por essa "animalidade indígena" não era mero discurso, era prática das crenças. O que me intriga é exatamente isso: a Fé é o que move as pessoas. O ponto não é uma disputa entre o "Mercado" e a Fé, a Razão e a Fé, o dinheiro e a Fé, a religião e a Fé, o dogma e a Fé ou a Fé falsa e a Fé verdadeira. A questão é que a Fé que comanda os dias foi orientada para a destruição da vida de outros e, com isso, justificada por discursos e leis.<br />
<br />
O que comandou a conquista e a tirania com os índios? A Fé. O que levou, em sentido oposto, uma série de padres e nobres a se levantarem contra essa tirania? A Fé. A Fé que cria que um pedaço de pedra dourada escondida debaixo de terra vale mais do que a vida de uma pessoa liderou a conquista. A Fé de que um índio é tão pessoa quanto um europeu, despertou movimentos de libertação. O que me intriga é que é a Fé que ordena o cotidiano.<br />
<br />
É a crença que temos no que "é o ser humano", "o que é valoroso", "quem é o divino", "o que é mais importante na vida" e etc, que serve de apoio para nossas decisões. Se cremos em metais, serão eles nossos deuses. Se cremos em um povo, será ele nosso deus. Se cremos em Cristo, será Ele nosso Deus. Dizemos que no tempo das conquistas o Estado era Teocrático porque era comandado pela "Fé". Digo que nosso Estado é Teocrático porque também é comandado pela "Fé". Antes a Fé era numa Instituição religiosa, agora é a Fé num Sistema comandado por uma "mão invisível".<br />
<br />
Nos tempos de Cristo existia um Império. Seu povo cria que surgiria um imperador mais poderoso do que César: o Messias - que viria para implantar o Reino dos Céus. Esperava-se que dos Céus viesse um poderoso exército para dominar aquilo que fora dominado pelo Império Romano. Cria-se na força, cria-se na Lei. A Fé se voltava para articulações políticas sustentadas por Deus fortes o suficiente para tirar inimigos do poder. A Lei e a Política eram mais importantes do que o resto. Ter um cargo era fundamental, ter o Messias que entregasse ao povo os cargos de poder, seria a salvação.<br />
<br />
Jesus ao invés de nascer na Fé em reis, nasceu na Fé de pastores e magos. Ao invés de nascer na Fé de palácios, nasceu na Fé de pessoas - e pessoas excluídas, desacreditadas. Ao invés de nascer na Fé de conquista de reinos, nasceu na Fé de construção do Reino. Ao invés de nascer na Fé de tornar inimigos escravos, nasceu na Fé de amar inimigos a ponto de libertá-los. Ao invés de nascer na Fé de matar o outro, nasceu na Fé de morrer por alguém. Ao invés da Fé nas moedas, teve Fé em pessoas...<br />
<br />
Fé temos, a questão é para onde a direcionamos, para onde a orientamos. A Fé não é justificativa para algo, é a motivação. Os discursos tentam justificar nossas ações, mas é a Fé que nos move. Por isso, o encanto da conversão não é aprender uma nova pregação, mas reorientar, redirecionar, converter nossa Fé para algo que seja Eterno...<br />
<br />
<br />
<br />
<i>Gratis i Kristus</i>Bruno Reikdalhttp://www.blogger.com/profile/17581018416520528047noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2571232322467445722.post-52438019575590039712013-02-21T16:09:00.000-08:002013-02-21T16:21:39.795-08:00Religiosidade Política<br />
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Sempre escrevo sobre Fé, religião e espiritualidade. Hoje postarei
comentários de religiosos que partilham de sua religiosidade em todas as
esferas de sua vida: muçulmanos.</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br />
A emissora de televisão "Al Jazeera" (que foi a emissora de televisão com a maior expansão de rede dos últimos anos) noticiou a eleição da primeira mulher governadora de distrito no Afeganistão - depois da queda do regime talibã em 2001-2002.</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><span style="background-color: white;"><br /></span>
</span><br />
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><o:p></o:p></span></div>
</div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Saira, moradora de uma cidade onde habitam 5.000 famílias, disse,
ao assumir, que governaria pela "mudança e pelo progresso". A Al
Jazeera noticiou a posse da primeira mulher governadora de distrito com grande
entusiasmo, o que gerou alguns comentários interessantes de muçulmanos em
páginas do facebook e que tomei a liberdade de traduzir:<br />
<br />
"Bosniaco Vero: Aljazeera, vocês são propagandistas. O que é governadora
de distrito? Temos mulheres Governadoras provinciais, mulheres chefes de
polícia e até uma ministra da guerra, mulheres com os homens sob seu controle e
temos mulheres candidatas a eleições. Aljazeera é um fantoche do presidente do
Ocidente. Booooo!!! [...] não houve momento na história islâmica em que as
mulher eram mais respeitadas do que exatamente na era do Profeta Maomé, então o
que você está falando?? Uma mulher governou Aleppo 800 anos atrás, uma mulher
governou o Paquistão há 40 anos, por que as pessoas estão sendo estúpidas para
agradar hipócritas do Ocidente??"<br />
<br />
"Umar Abdul Farouq: Eu acho que as mulheres ganharam o direito de
governar, o tempo do profeta Maomé foi totalmente diferente do nosso tempo.
Homens deram às mulheres a paz de espírito naqueles dias, tudo o que oferecem
hoje são a guerra, o desemprego, a fome, a mágoa... Querem comparar o tempo do
profeta Maomé com Bashir al'Assad? Conosco, homens de hoje, nossas mulheres
precisam é de cuidado para crescerem fortes, porque as coisas podem evoluir."<br />
<br />
"Abdelali Azhari: Esperemos que a América aprenda com o resto do mundo e
um dia logo eleja um presidente do sexo feminino. América é realmente o único
país 'desenvolvido' que nunca teve um presidente do sexo feminino. É engraçado
como os americanos criticam os outros de oprimir as mulheres, quando na
verdade, as mulheres nos Estados Unidos são as mais oprimidas."<br />
<br />
"Umar Abdul Farouq: Deus salve sua alma. Há alguns retardados que
acreditam que as mulheres não devem governar sobre os homens, agora ela será
infiel a eles! LOL."<o:p></o:p><u1:p></u1:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br />
"Shoaib Adam: Se os homens e as mulheres do Afeganistão estão fazendo isso
para a guerra de gênero como no ocidente, em seguida, será a sua queda. Se eles
estão fazendo para trazer o Islã de acordo com Deus e seu Mensageiro, que foi
rotulado como terrorista, então talvez haja alguma coisa para falarmos sobre."<o:p></o:p><u1:p></u1:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">As posturas e decisões dos países muçulmanos se confundem com a
religião, carregam explicitamente o fervor de sua Fé. Entretanto, em qual lugar
no mundo uma decisão não é sustentada por crenças, confiança, experiência de
Fé? Uns se justificam em cartas de direito "laicos", outros em uma
política que tenta ser "fria", mas, qual não está seguro pela Fé e
pelos desejos escondidos no fundo dos olhos dos homens? <o:p></o:p><u1:p></u1:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><i>Gratis i Kristus</i><o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br />
</span><br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Bruno Reikdalhttp://www.blogger.com/profile/17581018416520528047noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2571232322467445722.post-69012384353842035212013-02-05T18:28:00.000-08:002013-02-05T18:28:01.823-08:00Fundamentalismo: pelo fundamentoJá disse outra vez em outro <i>post</i> que não gosto de "ismos" - o único que me interessa é o cristianismo; por causa de Cristo, e não do "ismo". Porém, aqui nesse texto, lançarei mão de um termo muito gasto e que termina com "ismo". Assim como quanto a Cristo, não o usarei por causa do "ismo", mas, por causa do "fundamento": fundamentalismo.<br />
<br />
Esse termo anda muito desgastado. Para um grupo ele remete ao movimento de guarnição da sã doutrina e salvação da humanidade, enquanto que para outro é exatamente o contrário: objeto a ser jogado fora e considerado um lixo produzido pela mesma humanidade. Para mim, não será nem uma coisa e nem outra. Aprendi num livro infantil (Alice no País dos Espelhos) que as palavras dizem aquilo que eu quiser que elas digam - dependerá do salário que eu pagar para cada uma delas.<br />
<br />
Não vou criticar quem ataca o fundamentalismo ou todo tipo de tradição - apesar de achar que atacar tradições pelo fato de serem tradições é uma grandessíssima besteira -, e muito menos defender quem se firma tanto a tradições que não consegue mais sair do barco e andar sobre as águas para se encontrar com Cristo. Vou aqui dizer que creio em um fundamento, que o defendo e que jamais abriria mão dele. Creio que esse fundamento seja chave de nossas relações de proximidade e de nossas relações com Deus. Creio em um fundamento que é o ponto de partida e o alvo em que devemos manter os olhos fixos. Creio que nos fundamentamos em nosso encontro com Cristo.<br />
<br />
O ponto de partida de nossas experiências de Fé é o que chamamos de "encontro com Jesus". Alguns marcam dias, escolhem datas, períodos, músicas e outros escolhem afirmar que esse encontro precisa ser repetido todos os dias. Qual será a afirmação, acho que não faz diferença. O importante é que nossa construção de Fé e toda nossa caminhada dependerá desse encontro, do resgate desse encontro, das interpretações que daremos à experiência desse encontro. Temos nosso fundamento: o encontro.<br />
<br />
Ao mesmo tempo que esse encontro é o ponto de partida, deveria ser ele o filtro para as próximas escolhas de nossa vida - nossa Nova Vida. Deveria ser através dele nosso processo de alimentar esperanças. Deveria ser ele o crivo, a pedra fundamental para nossa interpretação da Bíblia e suas passagens. A experiência íntima e única com Cristo deveria guiar nossos passos, apontar para onde devemos seguir, apontar para Cristo. Assim como a Ceia, o encontro com Cristo é resgatar na memória as esperanças para o futuro...<br />
<br />
Nesse ponto, devemos ser "fundamentalistas" - não abrir mão do primado do encontro com Cristo. Carlos Mesters disse que Deus escreveu dois livros: a Vida e a Bíblia, sendo que o primeiro deve ser lido antes para que se entenda o segundo. É exatamente isso! Nosso encontro com Cristo se dá na vida, no cotidiano, na experiência com a Vida; é depois dela que temos a experiência religiosa, de leitura Bíblica, costumes, reflexões, renovações ou o que mais quisermos listar.<br />
<br />
Sim, há um fundamento a ser guardado, há um ponto em que devemos ser fundamentalistas. O que me intriga é essa tentativa de resgatarmos a experiência do encontro com Cristo - os sentimentos, o que dissemos, o que ouvimos, o que testemunhamos, pois, se foi uma experiência de amor, como leremos os textos bíblicos? Se é uma relação de redenção imerecida, como nos relacionaremos com o próximo? Se é uma experiência que transcendeu paredes, roupas e aparências, como trataremos as diferenças? Se nos foi Revelado de maneira que entendemos e todos podem também entender quando testemunhamos sem a necessidade de esforço, o que afirmaremos sobre profecias? Se resgatarmos esse fundamento, em que chão estaremos pisando?<br />
<br />
<br />
<br />
<i>Gratis i Kristus</i>Bruno Reikdalhttp://www.blogger.com/profile/17581018416520528047noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2571232322467445722.post-78243341058419943122013-01-02T05:55:00.001-08:002013-01-02T05:55:31.808-08:00Desejo para um novo anoHoje, dia 2 de janeiro de 2013, sentei no sofá com aquele jeito preguiçoso para começar o dia. Passei as mãos nos olhos e pensei: "que desejo nesse novo ano - além de voltar para a cama, claro -?". E a resposta veio apressadamente lenta:<br />
<br />
Desejo aprender a me conformar com aquilo que demanda tempo e a não me conformar com o que já perdeu sua hora.<br />
<br />
Creio que preciso de um relógio novo.<br />
<br />
Existem problemas que ao experimentarmos os valorizamos demais, exigimos mudanças, ficamos inconformados. Não necessariamente sejam problemas dignos de inconformidade ou urgentes de transformação, mas, por estarem próximos ou nos parecerem "manipuláveis", sentimos emergencialmente a responsabilidade super-heroica de sanar seus males. Não são problemas que alteram nossa caminhada, que destroem pessoas, mas, são pequenos, fracos, do tamanho do nosso punho fechado. Tratamos logo de esmurrar com gosto. Desejo aprender a me conformar com eles, dar-lhes tempo, entender que não é por que estão menores do que eu que devam ser por mim destruídos...<br />
<br />
Por outro lado, existem problemas que nos preocupam, mas, não recebem a devida atenção. Por serem grandes demais, maiores do que o que consideramos normal, fazem sombra nas nossas casas, mas, não ficamos inconformados, preferimos dizer que essa nuvem é passageira - apesar de não termos o menor controle sobre ela. Nesse caso, por serem maiores do que nosso punho fechado, é melhor que não fiquemos inconformados com essas atrocidades - poderíamos ser esmagados ou não termos nossas vozes ouvidas: gritaríamos e seria o mesmo que o silêncio. Então, melhor poupar. Não, eu desejo aprender a não me conformar com o que já perdeu sua hora. Essas nuvens estão nos céus a tempo demais, fazendo sombra em minha casa por eras. É hora de entender que por serem problemas maiores do que eu, destroem vidas de outros. Se não os manipulo, é porque consigo vê-los para além de mim, fora do meu terreno. Sou estrangeiro, de outro mundo e, por isso, posso transformá-los, fazer deles algo que nunca imaginaram ser...<br />
<br />
Desejo para esse ano poder inverter esses valores: poupar os pequenos e sumir com os grandes. Kierkegaard escreveu em <i>Temor e tremor</i>:<br />
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<i>Porque aquele que se amou a si próprio foi grande pela sua pessoa; quem amou a outrem foi grande dando-se; mas o que amou a Deus foi o maior de todos [...] Porque aquele que lutou contra o mundo, foi grande triunfando do mundo, o que combateu consigo próprio foi grande pela vitória que alcançou sobre si — mas aquele que lutou contra Deus foi o maior de todos [...] Viu-se os que se apoiaram em si próprios e tudo triunfaram e os outros, fortes da sua força, tudo sacrificaram — mas, o maior de todos foi o que acreditou em Deus.</i><br />
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Creio precisar de um novo relógio: confiar na eternidade maior do que minhas mãos e cuidar com zelo os pequenos segundos marcados pelos homens em riscos do tamanho de manchas em meu dedo...<br />
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<i>Gratis i Kristus</i>Bruno Reikdalhttp://www.blogger.com/profile/17581018416520528047noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2571232322467445722.post-33958681243491863082012-12-27T08:31:00.001-08:002012-12-27T08:31:20.259-08:00Devo crucificar o rei de vocês?Trechos de João 18 e 19:<br />
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"Pilatos então voltou para o Pretório, chamou Jesus e lhe perguntou: 'Você é o rei dos judeus?'<br />
Em resposta, perguntou-lhe Jesus: 'Essa pergunta é tua ou outros te falaram a meu respeito?'<br />
Respondeu Pilatos: 'Acaso sou judeu? Foram o seu povo e os chefes dos sacerdotes que te entregaram a mim. Que é que você fez?'<br />
Disse Jesus: 'Meu Reino não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem. Mas, agora, o meu Reino não é daqui.'<br />
'Então você é rei?', disse Pilatos.<br />
'Você que está dizendo', respondeu Jesus, 'De fato, por esta razão nasci e para isto vim ao mundo: para testemunhar da verdade. Todos os que são da verdade me ouvem'.<br />
'Que é a verdade?', Pilatos perguntou e saiu novamente para onde estavam os judeus [...]<br />
'Querem que eu solte o rei dos judeus?' [...] 'Devo crucificar o rei de vocês?'"<br />
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Existem perguntas que não fazem sentido para uma experiência de Fé. "Que é a verdade?", por exemplo, é uma pergunta que não encontra espaço nas experiências cristãs. A resposta para uma pergunta como essa está escondida na ponta da língua: "Jesus". "Qual o caminho?" ou "O que é a vida?" também não fazem parte das investigações de um cristão: "Jesus" é a resposta para essas perguntas. Aliás, na experiência de Fé cristã Ele é a resposta para todas as inquietações, para todas as angústias. Se não devemos ter preocupações que nos roubem o sono, é porque devemos entregar a Ele nossas angústias e descansar. "Jesus", a resposta pronta para a pergunta.<br />
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Tudo bem, temos uma resposta. Isso não é problema. A dificuldade está no passo verdadeiramente importante: o que faremos com ela? Agora sim encontramos uma pergunta que cabe em nossos encontros com Cristo. Pilatos sabe essa resposta, entendeu o que seria respondido na conversa com Jesus. A questão que lhe tiraria o sono era: "o que fazer com esse homem? O que faremos com o 'rei dos judeus'?". Quando ele pergunta se Jesus é rei, a resposta é maravilhosa: "Você que está dizendo...". Exatamente! A resposta já demos, o problema é: "o que faremos com ela?"<br />
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A conversa entre Jesus e Pilatos me deixou encantado, pois, antes de ser assassinado publicamente por causa da Lei, Jesus se encontra com governante que descobre em sua conversa com Cristo que suas ações tem um valor muito maior do que as justificativas dadas para elas. Jesus não tem o título de rei, mas, é reconhecido como um por como Ele vive, por quem Ele é. Jesus não precisa argumentar sobre sua inocência, pois a maneira como age é inocente. Jesus não precisa falar sobre a verdade, Ele testemunha ela. Jesus não precisa provar o que é verdade, pois, aquilo que vive é verdadeiro. Pilatos percebe essa sutileza em seu encontro com Jesus, e quando pergunta "Que é a verdade?", não quer saber da resposta - pouco importa -, ele a encontrou no testemunho de Cristo. Para Pilatos o que efetivamente tinha valor era "querem que eu solte o 'rei dos judeus'?"<br />
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A verdade estava dada, mostrada, experimentada, viva. "Devo crucificar o rei de vocês?", aí sim! Essa pergunta cabe em nossa experiência de Fé com Cristo. A reação daquele que é discípulo, que se permitiu ouvir a verdade testemunhada, é de prontamente gritar "não!". Talvez, quem sabe, até sacar uma espada e correr para cortar as orelhas daqueles que o prendem para não ouvirem a pergunta, para não tentarem crucificá-lo. E é, mais uma vez, nesse instante, que a verdade é testemunhada por Cristo: reconstitui a orelha daquele que fora ferido por seu discípulo e ensina a necessidade da liberdade, de um Reino que não se conquista lutando contra carne ou sangue, que se permite a maldade de quem deseja matar Deus. Não corte a orelha de quem me prende, mas, tente testemunhar a verdade do Reino que não é deste mundo.<br />
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As perguntas sobre a verdade, o caminho, a vida, Deus, amor, liberdade, eternidade e etc, são perguntas para as quais temos a resposta: Jesus. O fundamental da experiência com essa "resposta" é entendermos que ela não é um som ou sinais escritos, mas, uma pessoa, carne, gente. É material, usual, funcional. Pão que se come, água e vinho que se bebe. Jesus é uma experiência de vida, experiência verdadeira de Fé. Assim sendo, a pergunta que faz sentido para essa experiência é: "o que faremos com o Cristo?", "devemos crucificar nosso rei?". Nossa experiência é do Cristo vivo, e vivo não procura uma boa resposta, mas, vive aquilo que crê ser uma boa pergunta.<br />
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<i>Gratis i Kristus</i>Bruno Reikdalhttp://www.blogger.com/profile/17581018416520528047noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2571232322467445722.post-47462473133164008752012-12-18T08:08:00.001-08:002012-12-18T08:08:24.710-08:00Esquecimento...É muito comum falarmos sobre "natureza humana" ou "essência humana", "aquilo que nos faz seres humanos". Procuramos uma característica que seja extremamente específica de "humanidade" e, ao mesmo tempo, que faça parte de "todos os seres humanos". O problema de definir uma característica de "natureza" ou "essência" humana é que se escapar a alguém essa característica específica, esse alguém não será considerado humano. Assim acontece com a relação entre povos que se odeiam, etnias, racismo, machismo, disputas de gênero, sexualidade, escravidão e aí por diante. Se não há correspondência entre pessoa e característica da "essência humana", uma pessoa deixa de ser "humana".<div>
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Sem levar em consideração a própria tentativa de se definir "humano", pragmaticamente e com muito sentido, a possibilidade que minimizaria problemas de generalizações seria o abandono da tentativa de encontrar a "natureza humana". Apesar de abrir mão dessa busca, farei pretendo propor uma metáfora, quem sabe um mito, sobre a "essência humana". Nessa minha tentativa de criar uma metáfora ou mito de qual seria a natureza humana, eu afirmaria, ou melhor, afirmo: o que me fez humano é a capacidade de "esquecer"...</div>
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Diferente de máquinas, sou capaz de esquecer, perder a memória, alterar as recordações, misturar informações. Me esqueço. Não sofro de uma "perda de memória" recente ou coisa do tipo, realmente esqueço e sou capaz de esquecer. Esqueço que mulheres não tem caudas no lugar de pernas, esqueço que é absurdo um cavalo voar ou um peixe virar gente em noites de lua cheia. Esqueço até de minha habilidade de esquecer! Esqueço que não sou super-poderoso e esqueço que não sou fracote. Esqueço de quem é humano e quem não é. Esqueço do tempo e às vezes esqueço de esquecê-lo.</div>
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Esquecer; essa é nossa característica, aquilo que nos move. Saber que seremos esquecidos ou que somos esquecidos é angustiante, desesperador! E depois de minha morte? Esquecerei de minha vida? Esquecerão de minha vida? Não quero esquecer e nem que me esqueçam. Doenças que degeneram neurônios e perturbam o funcionamento da memória são o extremo dessa angústia - são a História humana encarnada: a vida construída por esquecidos.</div>
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A perfeição de nossos instrumentos, nossas máquinas, nossas crenças, religiões, filmes, trabalhos, exercícios científicos não podem esquecer, mas, nós, podemos. Aliás, o fazemos. Esquecemos. Exatamente por esse contato com o esquecimento que dependemos de experiências de Fé, de confiança em algo que não se esquecerá de nós. "Deus não se esqueceu de nós...", essa é uma mensagem de libertação, de salvação. Inclusive, como cristãos, nos relacionamos profundamente com o esquecimento. Jesus, o Filho de Deus, a experiência de que Ele não se esqueceu de sua Criação, que participa de sua História construída pelos esquecidos. "Fazei isso em memória de mim": não deixem a Mensagem de esperança na eterna lembrança de Deus morrer. Até podemos matar o Filho de Deus e nos esquecermos disso, mas, Ele, não se esquece de Suas promessas, é fiel. Então, somos convidados a sermos fiéis também: tentarmos romper com uma humanidade qualquer e experimentarmos algo divino, o não esquecimento...</div>
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Bruno Reikdalhttp://www.blogger.com/profile/17581018416520528047noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2571232322467445722.post-55709456611885181822012-12-14T11:19:00.002-08:002012-12-14T11:19:22.188-08:00Porque escolhi?Ultimamente tenho pensado bastante sobre o porque escolhi o que escolhi, ou melhor, sobre o que tenho feito à partir das minhas escolhas. Especificamente, tenho pensado nas escolhas que pude fazer na tentativa de criar uma estória interessante que contarei aos meus netos sobre minha "carreira profissional". Tenho pensado muito nas funções que certas profissões exercem ou deveriam exercer, os propósitos de determinadas faculdades e disciplinas, a exploração de certos trabalhos, a apropriação de outros, a malandragem de todos, etc. Na minha caminhada, escolhi como faculdade (até agora) Ciências Sociais, Teologia e Filosofia, sendo que apenas conclui (ou estou prestes a concluir) as últimas duas. Pretendo fazer mestrado, doutorado e qualquer outro "rado" que surgir como oportunidade. Entretanto, o que tenho pensado é: "para que servem esses estudos?", "quais suas funções em minha relação com eles?"<br />
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Depois de um tempo experimentando desses estudos, exercitando meus desejos, experienciando minha caminhada com eles e suas relações com os outros, percebi algumas coisas e decidi torná-las públicas. Pois bem, quanto à Filosofia, gostei de poder compartilhar das posturas de dois caras completamente diferentes: Zizek e Rorty. Zizek disse que como filósofo, ele não poderia dar respostas, mas, corrigir as próprias perguntas que fazemos. Já Rorty colocou a filosofia de um jeito bem diferente e, recortando muito suas propostas, diria que ele coloca a razão - talvez o instrumento filosófico - como organizadora de nossas crenças para que elas tenham coerência. É, escolhi Filosofia porque quero produzir perguntas que sirvam de instrumentos úteis para nossas adaptações e para a maneira como lidaremos com nossos problemas, com nossas relações e nossa maneira de nos adaptarmos e nos relacionarmos com nossas experiências. Corrigir perguntas significa assumir a impossibilidade de encontrarmos a verdade, a resposta para nossos problemas. Significa ter que nos adaptarmos aos problemas, dissolvê-los com novas possibilidades de problemas. Significa, por fim, que precisamos reorganizar nossas crenças, corrigir a maneira como as estruturamos. Isso caminha junto com Rorty, isso me leva a outra escolha: Teologia.<br />
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Creio ter escolhido e me apaixonado por Teologia por sua função muito peculiar: partir de um pressuposto de Fé - que, no caso, seria Deus. Quando falo sobre Filosofia, reorganizo as perguntas, proponho problemas, balanço as crenças com uma coerência insuficiente - desorganizadas -, ouço a seguinte questão: "mas, e você? O que pensa a respeito?". Bem, quando alguém me pergunta o que penso a respeito de algo, eu ouço: "em que você acredita? Pois preciso acreditar em algo também...". Nem que seja crer que a crenças não fazem sentido algum nunca, parece que todos estamos sedentos por crer em algo, em alguém. Seja no Corinthians, na Igreja, no Pastor, Rolling Stones, Obama, Gandhi, Hitler, Filosofia, Razão, Buda, Absoluto, Deus, Jesus ou que é certeza que a água ferve a 100 graus Célsius ao nível do mar dentro de condições ideais de pressão e etc, buscamos alguma coisa para acreditar. Teologia parte desse ponto, aceita como máxima essa relação estranha que temos conosco ou com alguma outra coisa que dizemos não ser nós. Perceber que em diferentes circunstâncias e relações optamos por diferentes crenças e diferentes perguntas, me fascina, me enche o peito de medo, ânimo, esperança e inquietação.<br />
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Por um lado faço perguntas, por outro apelo para uma falta de "embasada" (correta) resposta. Por um lado sou movido por problemas, por outro por crença de que alguma solução é possível. Organizo, abro mão da organização. Corrijo, abro mão da correção. Acho que escolhi porque creio em mudanças. Não em solução de problemas indefinidamente, mas, em mudanças. Os problemas mudam, as soluções mudam, as relações mudam, as possibilidades mudam, minhas crenças mudam e parece que nunca será satisfatório. O importante é que será necessária uma crença, uma aposta. Escolhi porque creio, escolhi porque apostei. A pergunta que seria "qual o propósito da vida?", eu substituiria: "em que tens crido? Qual a tua aposta?"<br />
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<i>Gratis i Kristus</i>Bruno Reikdalhttp://www.blogger.com/profile/17581018416520528047noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2571232322467445722.post-66646876470153891812012-12-12T08:12:00.002-08:002012-12-12T08:38:40.890-08:00Que é que tem a religião?Tenho um amigo que diz que só existe mal no mundo porque existe gente. Não, ele não quer dizer que as pessoas são más e que o mundo sem elas seria bom, mas, que só existe a constatação do "mal" porque a "gente" é capaz de se relacionar com o mundo dizendo "isto é mal". Entende? Conosco ou "sem-nosco" (eu sei, trocadilho ruim) o mundo continuaria mundo - nem bom e nem mal, apenas mundo. A questão é que em nossas relações experimentamos o mundo e lhe damos nomes. Isso não me incomoda; o que me preocupa é quando esses nomes ganham mais vida do que as nossas relações com o mundo, quando damos mais valor para os nomes do que para a "gente".<br />
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Vejo muitas críticas e reclamações com o "mal do mundo" relacionando-o com a Religião - qualquer que seja. O problema não é criticar as relações justificadas pela religião, mas, lidar com a Religião como se fosse o "mal do mundo". Seria o mesmo que ler a frase que meu amigo diz e afirmar "o mundo seria muito melhor sem a gente" ou "sem humanos". É um problema sério quando nos apegamos aos crachás que as pessoas utilizam para se identificar ao invés de nos apegarmos ao próximo. Aqui caberia bem uma imagem religiosa: o samaritano ajudando um judeu na parábola cristã. Se ao invés de fazermos críticas às maneiras como nos relacionamos, nós nos preocupamos mais em levantar bandeiras contra crachás e guerrearmos em nome disso, paramos de nos responsabilizarmos pela maneira como "o mundo está" nos escondendo atrás de uma boa justificativa: a luta por uma bandeira, nossas ações chanceladas pelo Espírito, Bem-Comum, Felicidade, Deus, Razão, Absoluto ou qualquer outra palavra a qual nos apegaremos mais do que a pessoas.</div>
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Na verdade, se nos viciamos em nos apegarmos a uma palavra mais do que a uma pessoa uma vez, aprendemos a fazer sempre. Se digo que o "mal do mundo" é a Religião e sem ela o "mundo seria bem melhor", me apego à palavra Religião para lutar contra qualquer um que possuir este crachá e, ao mesmo tempo, escolho outra palavra (Liberdade, Paz, Felicidade. Deus ou sei lá o que mais) para a qual criarei uma bandeira e defenderei com unhas e dentes. O mesmo ocorre com Capitalismo, Comunismo, Burguês, Palestino, Israel e demais taxações contra as quais alguém se levanta. O problema não é a luta contra as relações que cremos fazerem mal, mas, escolhermos uma palavra "inimiga" de tal modo que aqueles que nela se encaixam são "o mal do mundo". Pode parecer bobo, mas, não existe "Religião", mas, pessoas que se relacionam e experimentam relações que categorizam como "Religião". Assim como "o mal do mundo".</div>
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Reclamar da Religião como o problema que torna o mundo ruim é muita mediocridade, medo de assumir responsabilidades e experiências próprias, frustrações, alegrias, desejos, sonhos e o que mais experienciamos. É muito pequeno agir como se o "sistema x" ou "y" sendo destruídos solucionassem-se todos os problemas, levaríamos-nos ao Paraíso. É o mesmo que afirmar que sem a humanidade o mundo estaria "bem melhor". Não estaria nem melhor e nem pior, estaria mundo e, aliás, nem teria quem dissesse "isto é mundo". É muita covardia levantar uma bandeira contra uma palavra, se apegar aos nomes e não às pessoas. É muita pequenez, farisaísmo às avessas. Podemos até afirmar não cremos nem em Deus e nem no Diabo, mas, nos relacionamos com outros termos como se fossem "deus" e o "diabo".</div>
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Criticar Religião ou outro termo carregado de identidade simplesmente pelo termo e guerrear contra ele em nome de outro é fraco, pequeno, (desculpem) imbecil. Achar que sem "Deus" o mundo é melhor ou sem Igreja o mundo é melhor é uma crença descontextualizada e tão sem sentido como crer que o mundo foi criado em 7 dias ou a partir de um encontro do Pai Céu com a Mãe Terra. O problema não é a Religião, a Economia, a Biotecnologia, a Indústria Farmacêutica, o Corinthians, Israel, a Palestina, o Homem, Deus, o Diabo ou sei la mais qual ideia podemos ter; o problema são nossas relações, a maneira como decidimos nos relacionar e experimentar o mundo. Qual o melhor jeito de se relacionar e experimentar? Isso já é um outro problema, mas, com certeza, não é fugindo de nossas relações com próximos para nos relacionarmos com nossas próprias bandeiras...</div>
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Bruno Reikdalhttp://www.blogger.com/profile/17581018416520528047noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2571232322467445722.post-56028634925120557592012-11-17T06:19:00.000-08:002012-11-17T06:19:00.360-08:00Messias e EternidadeFalta-nos um pouco mais de Fé; não novas experiências de culto, mas, um pouco mais de confiança na própria experiência de Fé que já tivemos. Falta crermos que um encontro já é o suficiente. Falta crermos que salvação não depende de nossas forças, mas, é dom de Deus. Falta crermos que se é necessário fazer algo, esse é algo é ter Fé.<br />
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Apesar de dizermos ter Fé em Cristo, parece que vivemos na esperança de um Messias. Apesar de afirmarmos que nossa salvação é eterna, parece que vivemos presos ao tempo. Apesar de afirmarmos que a vinda de Cristo foi de uma vez por todas e que nossos destinos não estão traçados para o futuro, parece que confiar em Cristo é pouco e viver a Vida que nos foi dada é para sempre. Falta-nos um pouco mais de Fé.<br />
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Essas frases podem estar meio sem sentido, mas, o que tento dizer é que apesar de afirmarmos confiança em nossa experiência de Fé, não depositamos Fé na própria afirmação de Fé. No caso, falo especificamente quanto a Fé que Jesus é o Filho de Deus e o único Messias e quanto ao tempo da Graça. Parece que estamos em função da vinda de um Messias e na esperança de que o amanhã já tenha sido traçado, já tenha um futuro. Depositamos nossa esperança não em Cristo e nem na eternidade, mas em algum salvador que aparecerá amanhã...<br />
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Mesmo que professemos com nossa boca que Jesus Cristo é o Senhor, cremos que seremos nós os "salvadores do mundo". Vivemos uma esperança de que ou "eu" ou um "outro" surgirá com uma nova verdade que revolucionará a cristandade, destruirá o mal do mundo e, para finalizar, expandirá a mensagem de salvação até os confins da Terra. Desacreditamos de Cristo, confiamos em nossa verdade. Às vezes, nos sentimos parte de grupos que encontraram o real sentido cristão ou a Fé da "Igreja Primitiva" ou sei lá, e nos fazemos os maiores responsáveis pela salvação do próximo - talvez até dispostos a fazer de tudo para que isso ocorra, mesmo que transgrida a própria Fé - a ponto de sermos mais salvadores que o próprio Cristo. Agimos de modo que os mensageiros são mais importantes que a Mensagem, que somos mais messias do que o Messias. Parece que a Igreja ou o grupo ao qual pertencemos é mais Cristo do que Jesus foi. Novamente, desacreditamos de Cristo, confiamos em nossa verdade, ou ainda, na verdade que algum novo nascido traga amanhã...<br />
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Amanhã, aliás, que ganha um <i>status</i> de esperança mais profunda do que a Fé na eternidade. Não cremos num destino traçado, mas, confiamos plenamente que o amanhã terá a verdade melhor revelada do que ontem. Se assim fosse, os que viveram com o próprio Cristo teriam tido uma Revelação menor do que a nossa e, desse modo, de que nos valeria a Bíblia e as estórias sobre Cristo? De que adiantaria a vinda de Jesus se, hoje, entendemos muito mais dele do que quando encarnado convivendo com os Doze? Não temos traçado o amanhã, mas, confiamos mais na verdade que pode chegar do que aquela que experimentamos ao nos encontrarmos com Cristo. Falta-nos um pouco mais de Fé. Parece que temos mais Fé em homens do que em Deus. Cremos mais na mensagem que decoramos com nós mesmos, mais nas nossas próprias palavras, do que no nosso encontro com Cristo. Botamos mais Fé em mensageiros do que na Mensagem. Confiamos mais que amanhã será melhor do que na eternidade que experimentamos sempre. Temos tanto medo de perder a Fé que desistimos de crer Nela.<br />
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Podemos até afirmar que "o amanhã a Deus pertence", mas, da mesma boca, ouvimos que "um homem vive a frente de seu tempo" - como se o tempo do amanhã tivesse uma linha traçada à partir desse alguém. Podemos afirmar que a salvação é dom de Deus, mas, gastamos fortunas em "cruzadas evangelísticas" ou nos martirizamos com medo de perder a salvação. Falta-nos um pouco de Fé.<br />
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Não temos a verdade "ainda não revelada", pois, se cremos em Cristo, a Verdade é Ele e não nós, os mensageiros. Amanhã não será melhor ou pior que hoje, não teremos uma verdade melhor ou pior, pois as experiências de Fé pertencem à eternidade. A questão não é estipularmos uma certeza de Fé, mas, termos Fé em nossa experiência de Fé. A eternidade é eternidade, sempre, vivida hoje, ontem e com a possibilidade de ser experimentada no que talvez chamemos de "amanhã".<br />
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Enfim, precisamos resgatar essa confiança; não em nós, não no amanhã, mas, em Cristo, na Vida Eterna...<br />
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<i>Gratis i Kristus</i>Bruno Reikdalhttp://www.blogger.com/profile/17581018416520528047noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2571232322467445722.post-49307306347633701362012-11-07T06:20:00.001-08:002012-11-07T06:20:13.893-08:00E a Teologia?Utilizamos alguns termos sem saber necessariamente qual sua função. "Cadeira", por exemplo, é um termo que utilizamos para nos referirmos não a uma coisa específica com forma determinada, mas, a um objeto que desempenha uma certa função de "cadeira". Criamos termos não para explicar o que são as coisas, mas, para caracterizarmos um certo papel, uma certa função; generalizarmos uma relação. Poderíamos, no português informal dizer que quando utilizamos "cadeira", queremos falar da "bacia", que não é a função de recipiente em que depositamos água ou outra coisa, mas, parte do nosso quadril, da nossa "cintura" que apelidamos comicamente de "cadeira". Quer dizer, com um termo que parece tão simples - "cadeira" - já é possível fazer uma confusão, imaginemos com outros termos que cabem a relações mais abrangentes... Que confusão podemos causar, não?!<br />
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Não me adianta querer falar do termo "teologia" - que está presente no título -, sem tentar exprimir que relação eu gostaria que esse termo taxasse. Eu poderia, por exemplo, buscar a "origem" da palavra teologia no grego ou sei la em qual outra língua para justificar a relação "correta" desse termo. Porém, prefiro não encontrar a "relação correta do termo", mas, desenvolver uma generalização do que eu gostaria que compreendêssemos do termo "teologia", qual a função que desejaria que tal termo desempenhasse.<br />
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Se Teologia tiver a função de taxar a tentativa que não-divinos fazem de explicar Deus, imagino que o termo se refira a uma relação sem-sentido, uma busca que não nos cabe pois é uma busca impossível; é repetir palavras sem as relacionar com uma função, já explicar ou procurar Deus não é função de quem não é capaz de apreendê-lo. Seria como se quiséssemos construir uma torre que chegasse aos Céus (parecido com uma estória bíblica, não?!). Aliás, se Teologia for encontrar a "correta" leitura da Bíblia ou saber desvendar a "verdade" das escrituras, os termos "exegese", "filologia", "crítica literária" e "alfabetização" caberiam melhor para essa função<br />
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Não creio que Teologia seja um bom termo para essas funções apresentadas. Aliás, "creio" cabe muito bem na relação que gostaria de ter com Teologia. A pressuposição de Deus já é dependente de um afirmação de Fé, um ato de crença. Essa afirmação estaria baseada em que? Numa experiência que indivíduos tem em suas relações que consideram ser transformadora, transcendente e de confiança: numa experiência de Fé. Experiência é a relação existente entre os corpos, entre as coisas. Se temos uma experiência de Fé cristã, é porque afirmamos ter encontrado Jesus encarnado, Deus em pessoa, o corpo de Cristo. Se desenvolvemos Teologia, é à partir de uma experiência - relações entre corpos - que, confiando, afirmamos ser com Deus, nos entregamos à Fé. São experiências de Fé individuais - o que complica mais ainda definir uma função única para o termo.<br />
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Por alguma razão, entendemos que indivíduo é o que existe por trás dos olhos de um ser humano e comanda seu corpo, enquanto que comunidade são os outros seres por trás dos olhos de outros seres humanos que comandam seus corpos. Aqui, entenderemos indivíduo como a relação singular da infinidade de possibilidades de um momento único. Indivíduo não é um átomo isolado que se constrói solitário ou uma peça determinada pelo meio em que nasce, mas, é o termo que utilizamos para indicar a relação entre uma série de corpos - átomos, moléculas, pulsos elétricos, tecidos, órgãos, ar, comunidade, meio-ambiente e o que mais pudermos cercar que se relaciona - que é singular dentro dessa infinidade de possibilidades existentes nas experiências dos corpos em um momento, num instante que mal percebemos. Indivíduo é uma relação. É nessa relação que se dá a experiência de Fé, o encontro com Cristo. Se fosse utilizar o termo "Teologia", seria para designar a conversa sobre a abrangência dessas experiências de Fé individuais e suas implicações em uma comunidade.<br />
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Teologia não é a tentativa de desvendar o mistério transcendental, ou explicar as relações divinais, ou determinar quais as relações entre Deus e os homens ou Deus consigo mesmo. Teologia não pode ser esse emprego de chegar ao Céu e descobrir a "verdade". Partimos do pressuposto de que encontramos a verdade: tivemos uma experiência com Cristo, sabemos a verdade e o caminho. O que podemos analisar e tentar entender são as implicações e os desdobramentos que essa experiência de Fé causa em nossas relações. Podemos desenvolver sistemas que tentem abarcar as possibilidades - apesar de que creio que esse empreendimento seja pouco, pois as possibilidades são infinitas, logo, nenhum sistema as abarca - de uma experiência de Fé e o que ela pode causar em certos contextos. Muitos já o fizeram, temos uma longa tradição teológica nesse ponto.<br />
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Aqui encontraríamos mais uma função que imagino caber ao termo "teologia": estudar os vocabulários desenvolvidos para explicar as experiências de Fé e suas implicações - as tradições teológicas - para reinterpretá-los ou, até, abrir mão de determinados sistemas que não nos auxiliam na análise das experiências de Fé que acontecem em nosso cotidiano. A busca não é pela "correta verdade", mas, sobre as implicações de encontrarmos a Verdade - que é Cristo. Certas interpretações das Escrituras e experiências de Fé justificaram matanças, guerras, preconceitos e exclusão. Outras promoveram paz, liberdade, libertação e salvação. As implicações de fazermos ceras "afirmações de Fé" são parte da função de Teologia que quero escolher.<br />
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Enfim, nessa breve tentativa de encontrar sem muitos rodeios e minúcias de explicar a função que entendo que Teologia deveria generalizar, seria a função de Teologia taxar os cuidados que temos quanto a: conversas sobre nossas experiências de Fé individuais e suas implicações, e o estudo das implicações/consequências que as várias afirmações e explicações sistêmicas das experiências de Fé que outros indivíduos tiveram em suas/nossas relações. A base da teologia é já termos encontrado a verdade: Jesus. Agora, não é desvendarmos essa verdade, pois já a experimentamos, mas, renovar seu significado, entender e trabalhar as transformações que e esse Caminho, que o encontro com Cristo, nos propôs, nos causou, pode causar. Não estamos à procura de um "certo/errado" teológico, mas, as consequências das afirmações de Fé feitas e que fazemos sobre nossas relações com Deus, sobre o que acontece em nosso cotidiano, sobre as experiências com Cristo do dia-a-dia.Bruno Reikdalhttp://www.blogger.com/profile/17581018416520528047noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2571232322467445722.post-3524050072234549992012-10-15T11:55:00.002-07:002012-10-15T11:55:35.485-07:00Mensagem, mercado, negóciosNão gostar do processo de "seleção natural" e reclamar dele não acaba com o processo. Se quisermos transformá-lo, desenvolvemos um vocabulário que nos auxilia a manipular melhor as bases da seleção natural e nos fazemos agentes desse sistema; adaptamos nossas ciências às técnicas genéticas, por exemplo. Se não gostamos da organização democrática, falar mal de sua história e sua atuação não ajuda a redefini-la. Teríamos que adaptar um vocabulário que nos desse maior força em nossas relações políticas e nos fazermos agentes desse sistema; projetos de lei, opções eleitorais ou até mesmo revoluções que tem início em interações pela internet, por exemplo. Do mesmo modo, perceber que a religião/religiosidade/mensagem religiosa estão inseridas em moldes do sistema capitalista e desempenham papéis semelhantes aos das empresas no "mercado" e criticar isso, não muda a situação de que esse processo existe, de que as relações tem se dado assim. Se quisermos transformações, nos tornarmos agentes desse processo, temos que desenvolver um vocabulário que nos auxilie a manipular melhor a situação, fazer melhores previsões, nos adaptarmos de maneira mais eficiente às necessidades emergentes.<br />
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Sim, ao olhar para as relações religiosas, não consigo deixar de perceber um grande sistema financeiro que expõe produtos e suas "éticas de consumo"; assim como a "conduta ética da empresa". Percebo discursos "sustentáveis", benefícios-vantagem-lucro, "títulos de capitalização", cartéis, corporações e o que mais inventarmos para um vocabulário de ciências econômicas ou para o mercado de ações, sei lá. Percebo mensagens que custam mais caro, outras mais barato, umas que oferecem certos benefícios, luxo ou os valores de vaidade como produtos "cult", underground, alternativos ou até "exclusivos". Imagino grandes investidores, algumas cooperativas, pequenos/médio empresários e uma ou outra micro-empresa-individual. Encontro também alguns acadêmicos estudiosos que compram produtos, mas, reclamam de quem os compra e vivem de recriminar o sistema apesar de saberem aproveitar as vantagens do negócio - não podemos esquecer que criticar o sistema é um mercado muito lucrativo...<br />
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Não, não concordo com esse sistema de mercado e muito menos com a manutenção dele. Muito pelo contrário, sonho com as paredes desse castelo ruindo por um terremoto causado por uma reforma mal-feita de algum engenheiro desatento a mando de um rei megalomaníaco ou mesmo de um megaempresário que sente que seu bolso é maior que o mundo. Porém, não acho que reclamar do "mercado de mensagens" ajude a derrubar o castelo. Sonhar com uma ilha onde meia dúzia de seres humanos vive em paz na base da troca e da solidariedade por toda a eternidade até que falte comida para os seis, não me parece uma boa alternativa para nos tornarmos agentes dentro desse sistema. Se existe uma coisa que aprendi consumindo Cinema foi que para derrubar a Matrix, é necessário que Neo se torne parte dela. Se aprendi alguma coisa lendo o Evangelho, foi que Jesus teve que ficar 33 anos em silêncio aprendendo do mundo como as pessoas se relacionavam, como funcionava o sistema, e, à partir de então, conversar com o mundo a língua do mundo, usar contra a religião o próprio sistema da religião, contra o Império as armas do Império.<br />
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Sim, pode parecer que minha proposta seja de continuismo e manutenção do sistema - pode parecer. Mas, isso só acontece porque estamos acostumados com vocabulários que se encaixam dentro desse sistema: ou você fala "sistemês" e se faz filho do mundo, ou aprende a falar "anti-sistemês" e se torna um "contra-corrente", um underground (que, querendo ou não, é mais um setor produtivo do próprio sistema para um mercado alternativo do próprio sistema). Se tentarmos nos livrar dos vocabulários prontos e nos esforçarmos para desenvolver um que nos auxilie na manipulação das coisas e nos torne mais eficientes para nos adaptarmos às necessidades, aprenderemos como agir no sistema, não teremos medo de aumentar as fissuras pequenas que sustentam nossa prisão. Seria como se estivéssemos dentro da prisão do castelo, no subterrâneo, junto às fundações da estrutura, com a possibilidade de fazer tremer as bases, mas, com o medo de colocarmos nossa vida em risco na esperança de que um dia o mercado nos convide para sermos participantes da sala do trono.<br />
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Não, não acho que falar mal do sistema nos torne "anti-sistêmicos", apenas ilustra o desejo que temos de estar no lugar daqueles poderosos que tem dominado o "mercado das mensagens". Se temos o louco sonho de ver o castelo ruir, deveríamos aprender a nos tornarmos agentes no mercado de ações. Porque não desenvolvemos um vocabulário que nos ajude não a olhar para o mercado de mensagens, mas, a virar de cabeça para baixo suas atuações? Se é um mercado onde consumimos aquilo que estiver à disposição, porque não aprendemos a exigir outras necessidades para as quais a oferta não dá conta? Porque não aprendemos a fazer contas de custo-benefício? Porque não aprendemos simplesmente a ignorar os produtos de má qualidade e exigir ofertas mais específicas? Já vivemos uma relação religiosa de mercado em que trocamos de comunidade assim que nossos desejos não são atendidos, a questão agora é aprender a utilizarmos dessa relação de maneira ordenada, com o fim de nos adaptarmos de modo mais eficiente para nos tornarmos agentes nesse mercado, e não consumidores espectadores. O homem que produz também tem a necessidade de consumir - o cuidado que temos que ter é que uns produzem em troca de sangue, enquanto outros sangram em troca de produtos...<br />
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Sim, Malafaia, Macedo, Santiago, Soares, Silva, Batista, Constantino, Rossi, Reikdal... são mensagens, são produtos, são consumíveis. Se eu não agradar teus ouvidos, existem outras ofertas por aí. A questão é que se nos relacionamos como acionistas, porque não abrimos rombos no mercado de ações? Porque não aprendemos a inflar e/ou desacelerar produções? Porque não aprendemos a agir como consumidores e investirmos em ações? Porque ainda alimentamos a concorrência entre empresas grandes ao invés de apostarmos nos pequenos mercados, nas produções emergentes? Porque olhamos para os poucos megaempresários de mensagens e suas altas percentagens de ações ao invés de arrecadarmos outras pequenas para fazermos frente com mercados menores, barreiras econômicas, bolhas menores que fazem tremer os sistemas gigantescos? Quando um consumidor está insatisfeito, reclama com seus amigos, faz um pacto quase que secreto de não consumir mais determinado produto - ignora-o. Porque ainda damos espaço nas mídias sociais para políticos, pastores, indústrias auto-mobilísticas ou empresários vorazes para se retratarem? No mercado de mensagens, se não nos satisfazemos com os produtos que tem se oferecido, porque não produzimos a nossa?<br />
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Não, o mercado de mensagens não é igual ao mercado comum. No mercado de mensagens, graças ao bom Deus, qualquer um pode se tornar produtor. Não nos esquecendo, claro, de que quem produz também consome, tem a necessidade de consumir. No mercado de mensagens, temos uma facilidade muito maior de nos tornarmos acionistas majoritários. Podemos inventar produtos que atendem melhor a demanda, que atuam de maneira mais eficiente dentro do próprio mercado, que podem causar uma falha monstruosa no sistema e derrubar quem estiver com "poder demais". Temos a possibilidade de rejeitar mensagens, ignorar as grandes marcas, as monstruosas empresas. Temos uma liberdade muito maior de dançar a música que nós mesmos criarmos. Conseguimos ser auto-sustentáveis por um tempo muito maior, encontrar brechas nas grandes economias, adaptarmo-nos mais rápido a novas necessidades, temos uma gama muito maior de recursos a ponto de, talvez, conseguirmos abrir mão do sistema financeiro de uma vez e jogarmos fora todo esse vocabulário econômico para falar de religião. Mas, precisamos aprender a nos tornar acionistas, a fazer das nossas ações "efetivamente ativas". Não adianta aderirmos a um discurso chamado de "crítico" se não aprendermos a manipular a língua que fundamentou esse discurso, se não aprendermos a transformar as estruturas vocabulares desse sistema, se não encontrarmos o caminho de morrer nas mãos de quem viemos resgatar e esperar os três dias para a ressurreição.<br />
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Sim, há esse mercado. Queremos destruí-lo? Encontremos as rachaduras nas fundações do castelo...<br />
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<i>Gratis i Kristus</i>Bruno Reikdalhttp://www.blogger.com/profile/17581018416520528047noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2571232322467445722.post-28674370638604488722012-10-08T15:57:00.001-07:002012-10-08T15:57:03.716-07:00Somos fiéis ao tempoFaz tempo que não escrevo (ando ocupado construindo meu castelo). Tenho lido bastante e, aproveitando esse comentário, indico alguns autores que tem me chamado atenção tanto por me encantarem quanto por despertarem em mim a necessidade de criticá-los: Richard Rorty, José Comblin, Slavoj Zizek, Friedrich Hegel e, (se parecer ridículo acho que deveria rever alguns valores...) aquele que é meu livro de Fé e de cabeceira, a Bíblia. Enquanto leio, caminho, converso, tomo café, pego trem e construo meu castelo, vivo descobrindo que "o fim está próximo". Percebi que o tempo é sempre apocalíptico e que a finalidade que entregamos para ele sustenta nossas afirmações, nossas ideias, nossas relações... Enfim, nossas crenças.<br />
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Quem tem caminhado comigo e me emprestado alguns tijolos para a construção de meu castelo sabe que, para mim - de acordo com o que creio -, nossas relações e nossa maneira de interpretar o mundo sempre parte de uma experiência de Fé; de uma crença. Usarmos a linguagem, desenvolvermos estruturas que chamamos de "mentais", depende de nossa Fé, de nossas crenças; são apostas que fazemos para suportarmos a monstruosidade de relações em que estamos imersos, que experimentamos. Emprestamos ao tempo uma crença de que ele tem um fim - um sentido, um porquê, um movimento, uma dinâmica -, cremos nisso. Não sei dizer se é isso que sustenta nossas crenças ou nossas crenças que sustentam isso, mas, independentemente da ordem, é a minha crença e a palavra que se repete em qualquer uma das possibilidades é "crença".<br />
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Seja imaginar que o tempo é cíclico, linear, progressivo, catastrófico, revolucionário, a caminho do Reino dos Céus, do Retorno ao princípio, ao auge da civilização, à perfeição intelectual humana, rumo ao Estado Comunista ou à destruição completa do mundo e da raça humana, precisamos depositar nossa confiança nalguma finalidade para o tempo. Se vamos pensar "quem são os homens", o fazemos à partir do sentido que demos para o tempo. Se vamos pensar "o que é justo", o faremos tendo nossa crença no sentido como norte. Se vamos estabelecer nossas relações, estabelecemos de acordo com o sentido que entregamos ao tempo. Tenho pensado muito nesse sentido e as implicações que resultam em nossas relações por causa das opções feitas nas crenças neles. O ponto não é deixarmos de crer, porque, quanto ao tempo, ao fim, ao sentido, apenas podemos crer. A questão é, se somos crentes, porque não abrimos mão das discussões e da necessidade de provar o que são as coisas, os homens, o justo ou como são nossas relações e nos voltamos para "o que faremos com nossas crenças"?<br />
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O problema de determinar a verdade à partir de uma crença no tempo é ter que reconhecer que não lidamos com a procura da "realidade", mas com a tentativa de encontrar e/ou construir em nossas relações nossas crenças. Nisso teríamos que deixar de lado a ideia de que temos verdades absolutas e que o mundo está certo de acordo com o que cremos, e, num outro sentido, teríamos a necessidade de nos calarmos e estarmos dispostos a reconhecer que nossos sistemas, hipóteses e afirmações de Fé desistindo de lutar por causas, mas, procurar viver efeitos, amar efeitos. Se cremos num sentido do tempo, o fazemos porque desejamos chegar em algum lugar (obter um efeito) e não explicar ou desenvolver as causas perfeitas para chegar lá. Admitir que necessitamos de Fé é crer plenamente nas dúvidas, que nada há de certo além das experiências de nossas relações onde tentamos encontrar e/ou construir nossas crenças.<br />
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Se eu fosse propor uma finalidade do tempo, um sentido, crer em algum tempo, creria no tempo da eternidade. Não vou tentar explicá-lo através de metáforas por ora. Não me colocarei na empreitada de desenvolver um sistema de crenças que traga sentido para o sentido que tenho crido. Prefiro me calar, utilizar esse termo - eternidade - e possibilitar que ele se relacione com as tuas experiências e abra um outro caminho para outras crenças que atendam as necessidades das relações em que você estiver imerso...<br />
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Somos todos fiéis...<br />
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<i>Gratis i Kristus</i>Bruno Reikdalhttp://www.blogger.com/profile/17581018416520528047noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2571232322467445722.post-25049360338333413152012-08-27T11:22:00.002-07:002012-08-27T11:23:49.430-07:00EspiritualidadeOntem, 26 de Agosto, marquei meu aniversário de número 23. Um número, assim como qualquer outro, interessante. Senti a necessidade de escrever; não sobre a minha caminhada de 23 anos, mas, sobre o que desejaria contar para meu espelho hoje, o que tem gritado alto quando deito a cabeça no travesseiro e fico em silêncio. Bem, o que tem gritado é uma sensação de mudança, de santa crise, de benditas dúvidas - Graças à Deus...<br />
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Aprendi uma vez que entramos em crise uma única vez: quando nascemos. O problema é que, depois de "entrados", nunca mais saímos dela - pelo menos enquanto estivermos vivos. Procurei entregar um nome para essa crise, tentei descobrir um som que correspondesse ao que sentimos quando nos damos conta que o ar está entrando sem pedir permissão para os pulmões que o expulsam sem medo de deixá-lo magoado. Vida seria uma boa palavra, mas, tem perdido a graça por causa do excesso de uso. Depressão não tem feito e ainda não faz parte do meu vocabulário. Na procura pela palavra perfeita, o mais próximo desse som foi a sequência de caracteres unidos que soam assim: "espiritualidade".<br />
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Palavras que terminam com o sufixo "dade" significam o jeito de ser de alguma outra palavra. "Mortalidade", por exemplo, é o jeito de ser mortal. "Habilidade", o jeito de ser hábil. Espiritualidade seria o jeito de ser espiritual. Não que eu acredite que exista "espírito", uma entidade à parte que habita algum lugar em alguém. Não, creio que "espírito" seja uma palavra linda que utilizamos para dar esperança no que podemos nos tornar, no sonho que podemos ter. Palavras lindas, como "espírito, servem para criarmos uma crise em nós mesmos, servem para nos fazer nascer, para nos empurrar para o mundo, não desistir de viver alguma coisa que não faça sentido. Jeito de ser espiritual, "espiritualidade", é o jeito de renovar a vida, restaurar as esperanças, ressuscitar o desejo por uma paixão, dar sentido para a palavra "amor".<br />
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Como um bom cristão, ouço de Jesus o que é espírito: "O que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito. Não se surpreenda pelo fato de eu ter dito: É necessário que vocês nasçam de novo. O vento sopra onde quer. Você o escuta, mas não pode dizer de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todos os nascidos do Espírito". O vento que refaz o nascimento, o jeito de renovar algum sentido para a vida, a respiração que tenta trazer de volta a esperança; isso é exercer da espiritualidade. Porque fazemos isso? Creio que nesse momento é que entendemos um pouco do que tentamos dizer com o termo "amor"; fazemos por nada. Que diferença fará ao mundo renovar meu sentido para a vida? Que diferença fará para qualquer sistema de interpretação da realidade minha escolha? O que de melhor acontecerá no universo se uma massa qualquer de material biológico com uma organização nervosa que possibilita uma tal de "consciência" cria esperança? Nenhuma, nada. Porque fazemos? Por uma escolha. Escolha com sentido lógico-formal? Estruturado? Funcional? Não. Escolha por nada. Escolha por amor...<br />
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É nessa hora que o jeito de ser espírito faz sentido. Amor? Outra palavra igual à espírito ou espiritualidade: um som que nos coloca em crise. É tempo de crise, é tempo de espiritualidade. É tempo de exercermos nosso sopro de esperança, renovar o vento e os ares, arejar a casa fechada a muito tempo. Casa fechada junta pó e sujeira; precisamos abrir as nossas para o vento levar esse mofo embora. Esperemos que nossos irmãos ao ouvirem as janelas e as portas se abrindo, resolvam abrir as de suas casas também. Que o vento que sopra em nossa rua percorra todos os nossos corredores e salas. Espero que a crise atinja a todos nós. Espero...<br />
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Espero que alguma metáfora tenha feito sentido. Se fez, espero que tenha despertado teu jeito de ser espírito...<br />
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<i>Dedico à todos que tem me acompanhado, mesmo que olhando de longe, em minha caminhada. É graças aos olhos, cumprimentos, sorrisos e suspiros de vocês que redescubro a beleza de assistir o nascer do Sol de dentro de um vagão de trem todos os dias pelas manhãs...</i><br />
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<i>Gratis i Kristus</i>Bruno Reikdalhttp://www.blogger.com/profile/17581018416520528047noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2571232322467445722.post-70988822497170634482012-07-29T20:05:00.000-07:002012-08-02T19:38:16.750-07:00Tirei as sandáliasAcho que esse é um dos textos mais curtos que já postei. Isso não significa que ele não seja importante ou profundo, muito pelo contrário. Imagino que tenha se tornado curto porque as poucas metáforas que utilizei apenas são respondidas com o silêncio.<br />
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Descobri que existem solos sagrados. Descobri que existe terreno santo. Descobri que preciso tirar as sandálias dos meus pés. Sou andarilho e quem me conhece sabe que sou apaixonado por essa metáfora (inclusive escrevi um texto chamado "Andarilho" sobre isso e coloquei o link no final desse que agora escrevo). Minha casa é onde eu estiver, meu mundo é por onde eu caminhar. Amo caminhar. Tenho desdém pelas fronteiras, não ligo para as cercas. Cerco o mundo enquanto o mundo me cerca. Ando e convido outros para que caminhem comigo.<br />
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Entretanto, existe um lugar pelo qual não passo de qualquer jeito, descobri que preciso tirar as sandálias dos meus pés. Encontrei o santo dos santos, encontrei o Paraíso. Sim, eu vi no deserto a sarça ardendo e não sendo consumida pelo fogo. Eu vi nuvem do tamanho da minha mão que anunciava chuva. Eu vi toda a Criação: encontrei o coração. Não, não o meu, encontrei gente, pessoas, indivíduos. Não me atrevo mais a entrar no coração de gente assim, de qualquer jeito! Não, coração é lugar sagrado, é sacro-santo.<br />
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Descobri que acho que as pessoas são sagradas. Descobri que entrar na vida de um não é como atravessar uma trilha. Descobri que preciso tirar as sandálias dos meus pés. Sou andarilho pelo mundo, mas morador fixo de corações. Moro na vida de gente, piso nos desertos humanos, vivo ajoelhado em lugares santos. As pessoas são sagradas, terra santa. Tire a sandália dos teus pés. Adoro caminhar, mas não passarei por uma vida sem parar, me prostrar e falar com o Deus que habita nos corações humanos.<br />
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texto "Adarilho": <a href="http://brunoreikdal.blogspot.com.br/2012/02/andarilho.html">http://brunoreikdal.blogspot.com.br/2012/02/andarilho.html</a><br />
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<i>Gratis i Kristus</i>Bruno Reikdalhttp://www.blogger.com/profile/17581018416520528047noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2571232322467445722.post-74504196209757902072012-07-26T08:25:00.003-07:002012-07-26T08:26:49.037-07:00É tempo de nos sentarmosMe preocupo muito quando vejo um homem se levantar e apenas estender a mão para apontar o dedo na direção do rosto dos que estão sentados. Me preocupo mais ainda quando um grupo de homens se levantam para tal. Perco o sono quando uma comunidade inteira decide tomar essa postura. Para fechar minha coleção de preocupações, me desespero quando outro grupo se levanta para rir da cara do primeiro que se levantou. Isso apenas piora quando eu me vejo pertencente de um desses grupos.<br />
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Não gosto muito de "ismos". Legalismo, fundamentalismo, liberalismo, feminismo, machismo, colonialismo, capitalismo, socialismo... Acho que apenas com "cristianismo" me dei bem, mas não por causa do "ismo", e sim do Cristo. Ismos são generalizações, categorias, multidão sem rosto, corpo e cérebro. Grupos que se unem para chacota ou para humilhação, são amantes dos ismos. Se encaixam, e tem orgulho de se encaixar, em alguma torcida desorganizada que não se senta para cear junto, mas fica de pé a rodear o mundo e procurar o primeiro justo que seja digno de sofrimento.<br />
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Fico chateado com minha religião, muitas vezes ela dá mancadas com seus fiéis. Porém, sou amante e defensor dos religiosos, dos que abraçam a Fé e, com toda simplicidade, põe o corpo no chão em silêncio para ouvir o Mestre, ao invés de se levantar e acusar os "mentirosos". A Fé não é funcionária da verdade, mas consolo de quem é oprimido. A Fé não é uma universalidade que faz todo sentido e responde corretamente as perguntas que lhe são propostas, mas um calado vento que escreve no chão as leis que os fiéis precisam ouvir para suportar a vida, aguentar as acusações.<br />
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Muita coisa não faz sentido. Provavelmente todos já ouviram falar da estória de Jesus do "quem não tem pecado que atire a primeira pedra" (João 8), mas às vezes nos escapa algumas cenas; nos preocupamos muito com as palavras e as "verdades ditas" e pouco com a Fé vivida. Nos esquecemos de quem estava de pé e quem estava no chão.<br />
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Fariseus imponentes jogaram uma prostituta mentirosa no chão. Deus se sentou perto dela. Homens de pé acusaram aquela falsa esperando capciosamente a resposta eterna que solucionaria os problemas do pecado. Deus sentado no chão escrevia na areia. Os detentores da verdade provavelmente tinham um sorriso no rosto enquanto viam aquele homem simples rabiscando qualquer coisa e uma prostituta envergonhada. Deus com seu dedo escreveu uma lei do Espírito na areia, onde o vento pode soprar e apagar o que fora verdadeiro naquele instante. Os homens de pé ouviram a lei e foram embora. Deus sentado pediu que a prostituta percebesse que o Criador estava sentado ao seu lado, no chão e não no alto. A mulher se levantou. Deus estava sentado; despreocupado com o que fora dito e na esperança dos próximos passos.<br />
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Não fez muita diferença o ismo da estória. O que transformou tudo foi o Cristo. Não fez muita diferença a lei escrita, dita ou seguida. O dedo na areia e Deus no chão sim. A verdade não se implantou no mundo por causa de uma Teologia, mas salvou uma vida colocando os pés no chão. O Espírito não sopra quando os homens se levantam, mas quando ele quer. Deus não fala quando um grupo encontra a verdade, mas quando Cristo está sentado com os oprimidos. A salvação é dom de Deus.<br />
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<i>Gratis i Kristus</i>Bruno Reikdalhttp://www.blogger.com/profile/17581018416520528047noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2571232322467445722.post-88529722888263895532012-07-24T11:15:00.000-07:002012-07-24T11:20:06.407-07:00EscolhaFaço parte da liderança de um grupo de adolescentes de uma igreja e muitas vezes conversamos, discutimos ou nos aconselhamos sobre as dúvidas, crises e dificuldades que se apresentam em nossa religiosidade. Me parece que em nossa caminhada de Ministério, o grande problema é "como comprovar minha religião". Porque defender ou praticar ou se submeter a determinada Fé. Claro, se é para nos entregarmos às palavras de um grupo, que seja um grupo de confiança, que inspire certezas. O problema é encontrar um porto seguro, uma fundação sólida.<br />
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Seria justo depositar toda minha confiança num grupo que armou suas palavras de modo que um sistema de vocabulário e lógica respondem a todos os questionamentos levantados. Seria justo me agrupar com outros que, como eu, se fidelizem a conversas que soem como verdades. Seria muito justo me sentir à vontade de me unir a uma comunidade que se constrói solidamente em uma rede de textos, doutrinas e argumentação que responda aos meus desejos e afinidades. Seria justo, claro, se tal segurança fosse possível. Se o primeiro passo é me confidenciar à uma palavra ou um sistema de conversas, o dia que o significado de uma delas mudar, todo o castelo corre risco de ruir e a crise religiosa se instaura.</div>
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Na procura pela certeza e por provas, nos matamos na caça por argumentos, estruturas lógicas, discursos, esforços léxicos e um exercício constante de ignorância. Remoldamos as frases prontas e as falas para que ainda nos sintamos seguros, apesar de experimentarmos todos os dias aquele frio na barriga insistente que cresce ao depararmo-nos com qualquer vocabulário diferente. A crise está fundada na pergunta: "como é possível que eu tenha confiado nessa mentira?" - e as respostas ou são "só pode ser, então, verdade", ou, "se é mentira, porque ainda crer nisso?". Desse modo, retornamos ao primeiro problema de "como comprovar minha religião".</div>
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A questão não é respondermos como comprovar a religião ou nos desesperarmos por termos confiado numa verdade ou numa mentira. O ponto importante é pensarmos: em quem tenho confiado. O problema não é por as palavras à prova e retirar delas as verdades e destruir as mentiras, ou encontrar o lugar onde todos falam a verdade, mas, pensar se faz sentido depositarmos nossa Fé, nossa confiança, nas palavras por elas mesmas. Não percebemos que se a verdade está num som articulado que forma palavras, aquele que soar melhor, é de confiança. Todos soam e podem comprovar suas palavras com seus próprios sons. E qual o verdadeiro? Aquele que escolhermos como um bom som.</div>
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O passo de entrega e submissão à uma religião não é fundado em suas palavras ou em sua comprovação, mas, na escolha do fiel de acordo com suas experiências de Fé. Não é por uma comprovação que nos tornamos fiéis, mas, por querermos ser fiéis, que exigimos e procuramos uma comprovação. Porém, não percebemos nisso que a fidelidade partiu de uma escolha, de um depositar da confiança, de uma experiência de Fé. A caminhada religiosa não é a procura pela verdade dita, mas pela experiência de Fé vivida. Descobrimos que o porto seguro parte de uma escolha. A fundação sólida não está no discurso dito, mas no desejo fiel de pertencer à uma comunidade e partilhar de experiências religiosas.</div>
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Não, a Fé não procura explicações para o mundo. Não, não estamos esperando por uma certeza. Não, nossas crises não podem ser por causa dos vocabulários. Se tivermos dúvidas, não é porque as frases não respondem aos problemas do mundo, mas porque minha Fé não age para saná-los. O problema é em quem depositar minha confiança. Se nos sons, me desligarei do mundo para ouvir aquilo que me agrada. Se em Deus, darei todos os passos para que seu Reino se faça presente. Não confiemos nas palavras, mas em Cristo. Não confiemos em nossos discursos, mas em pessoas.</div>
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<i>Gratis i Kristus</i></div>Bruno Reikdalhttp://www.blogger.com/profile/17581018416520528047noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2571232322467445722.post-63303729292232718522012-06-25T14:11:00.002-07:002012-06-25T14:12:43.824-07:00A História do Sol<span style="background-color: white;">Esse texto é um trecho de um artigo que estou escrevendo chamado "A Origem do Fim das Espécies". Essa é a verdadeira História do Sol:</span><br />
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<br />Eram dois: um menino e uma menina. Não sabiam de onde nasceram nem de quem, mas sempre estiveram juntos. Cresceram sorrindo e prestando atenção em tudo, menos um no outro. Certa vez, depois de coçar os olhos, o menino os abriu e percebeu que havia uma linda mulher à sua frente. Era esbelta, morena, cabelos escuros, rosto delicado, lábios destacados e, ao mesmo tempo, bem afilados. Tinha um olhar penetrante e um sorriso que brilhava mais que tudo. Apaixonara-se. Quis conquistá-la, mas não sabia como. Determinado em seu amor, prometeu aos Céus que se o ajudassem a encantar a moça, faria qualquer trabalho para Eles. Esticando os braços, viu que próximo dele caiu dos Céus uma flecha flamejando. Muito contente, o rapaz correu para o encontro da mulher e começou a pintar nas paredes, nas árvores, no chão, no mundo com fogo. Escreveu o nome dos dois, desenhou corações, esquentou fogueiras, criou abrigos, manteve a chama por muito tempo acesa. <br /><br />Num determinado momento, preparou uma comida quente e a convidou para o jantar. O homem e a mulher estavam juntos. Abraçaram-se, deitaram-se, tocaram-se, amaram-se. Por causa desse fogo, o homem a encantou, a mulher que já o conquistara se entregou e, amando, engravidou. Os Céus, por essa hora, chamaram o homem para seu trabalho, mas, agora, o homem já não queria trabalhar, apenas amar sua mulher. Porém os Céus lembraram de sua promessa, mas, ele, se recusou a aceitar qualquer coisa, pois não poderia abrir mão de qualquer tempo para trabalhar: seu amor queria eternidade. Enfurecidos, os Céus decidiram que o homem jamais poderia tocar nos filhos que sua mulher tivesse: sempre que nascesse um e ele nele tocasse, a criança morreria queimada. E assim foi: filho à filho, tempo em tempo, todos morriam queimados. Amargurados, homem e mulher choravam. <br /></div>
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Depois de tempos de desespero, o homem, já ficando velho, aceitou trabalhar para que seus filhos não mais morressem. Os Céus aceitaram a tristeza do homem e decidiram sua obra: o homem com o fogo marcaria o tempo. Fez-se o Sol. A mulher estava grávida e teve filhos que jamais tocariam seu pai. Triste, afastada de seu amor, queria criar os filhos, mas não gostaria de ficar tão longe de seu marido. Já ficando velha, também cansada, clamou aos Céus pedindo que pudesse olhar por seus filhos, mas junto do homem, seu amor. Os Céus foram condescendentes: colocaram a mulher para trabalhar junto com o homem marcando o tempo. De tão feliz, abriu o sorriso mais belo do mundo para iluminar seus filhos enquanto caminhava junto com seu amor. Fez-se a Lua. <br /><br />Fizeram-se Sol e Lua, o nascimento dos dias, da possibilidade dos filhos contarem Histórias e marcarem o "tempo".<br /><br /><br /></div>
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