quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Livre pensamento (continuação do texto 2 do Blog)

Toda criança e adolescente passa por transformações e cria sua identidade baseada nas questões que levanta e nas respostas que obtêm para tais. Os temidos “porquês” são as perguntas que inclinarão a criança a ser um humano reflexivo pensador ou um cumpridor de metas repetidor de respostas feitas.
Porque estou aqui? Quem sou eu? Porque sou eu? Porque tenho que comer verduras? Porque McDonalds faz mal? Se faz mal porque meus pais me levaram a infância toda para lá? Porque não posso usar sempre o computador? Porque meu pai/mãe pode?
Durante a infância em sua maioria, as crianças recebem respostas do tipo: “porque sim”, “porque não”, “não se pode fazer esse tipo de pergunta”, “você não entende ainda” ou “pare de perguntar ‘por quê’”; isso quando não vem o celebre “porque eu disse.” Qual o relacionamento que a criança terá com suas perguntas e confabulações? O que ela achará e pensará sobre o pensar? O que significará ser reflexivo para ela?
Quando chegar a adolescência, por ter passado a infância inteira sem respostas, as procurará por si mesma, e o resultado disso poderá ser bem desastroso. Provavelmente o adolescente encontrará dificuldades em se relacionar com os mentirosos e omissos que esconderam dele a verdade e as soluções que sempre procurou. Provavelmente há de encontrar o tesouro que buscava com amigos mais velhos, parceiros de classe, companheiros da internet, televisão, vídeo game, revistas e até drogas, se levarmos aos extremos os questionamentos da criança.
O ensino básico deve investir e explorar ao máximo a reflexão e a lógica infantil, buscar incentivar o livre pensamento e tratar com respeito e cuidado os debates com as crianças. Mas de maneira alguma tais conselhos podem ser seguidos com o intuito de “adultizar” a criança, tratá-la como gente grande, ela deve ser vista como criança, como inocente em busca do conhecimento, e por isso receberá respostas mais simples e as vezes até mais perguntas, para que ela por si só esteja disposta a descobrir os mundos em que tenta pisar e simultaneamente estar preparada a sempre mudar seu pensamento, nunca estipular os valores absolutos certos e imutáveis, estar em constante mutação.
Com o atual sistema de ensino, criamos grandes massas de robôs que aderem verdades absolutas, entram sistematicamente em crises sem saber lidar com estas, vivem travados e muitas vezes frívolos quanto a vida sem o mínimo interesse de refletir, as vezes com medo de fazer isto, e não cumprindo com seu dever humano e cívico de dirigir e trabalhar para que haja uma sociedade mais justa e real.
Dizemos que o futuro do país, da sociedade, do mundo, da humanidade, são as crianças, mas não as tratamos como o tal e muito menos as educamos para tal finalidade. Por isso a tecnologia, as cidades, os automóveis e até a população, cresce e se desenvolve em velocidades absurdas, mas a sociedade e a humanidade não. Emperramos sempre nos mesmos erros, problemas e falhas, e ao invés de corrigirmos nossos erros com o intuito de melhorarmos o futuro que pertence aos nossos filhos, não transformamos e revolucionamos as relações educacionais.No livro que se tornou filme “A Bússola de Ouro”, as crianças se relacionam com suas almas e as questionam, por isso estão em constante mutação e conseguem um livre-arbítrio de atitudes e pensamentos. Já os adultos domesticam suas almas e não há discussão interna, sua alma sempre faz o que eles mandam e assim tornam-se presos a regras e conceitos previamente estabelecidos. Esse sem dúvida é um reflexo real do que de fato acontece com nossas vidas. Isso mostra figurativamente como conseguimos criar um coração sólido, mecanizado e fechado para novos conceitos e a sem a capacidade de admitir erros e voltar atrás para reestruturar os ideais anteriormente tidos como absolutos, desencadeando daí intrigas que se tornam desavenças, rupturas, destruições, guerras, fome, tristezas, dores, indiferença, fanatismos e soldados.

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