Sem levar em consideração a própria tentativa de se definir "humano", pragmaticamente e com muito sentido, a possibilidade que minimizaria problemas de generalizações seria o abandono da tentativa de encontrar a "natureza humana". Apesar de abrir mão dessa busca, farei pretendo propor uma metáfora, quem sabe um mito, sobre a "essência humana". Nessa minha tentativa de criar uma metáfora ou mito de qual seria a natureza humana, eu afirmaria, ou melhor, afirmo: o que me fez humano é a capacidade de "esquecer"...
Diferente de máquinas, sou capaz de esquecer, perder a memória, alterar as recordações, misturar informações. Me esqueço. Não sofro de uma "perda de memória" recente ou coisa do tipo, realmente esqueço e sou capaz de esquecer. Esqueço que mulheres não tem caudas no lugar de pernas, esqueço que é absurdo um cavalo voar ou um peixe virar gente em noites de lua cheia. Esqueço até de minha habilidade de esquecer! Esqueço que não sou super-poderoso e esqueço que não sou fracote. Esqueço de quem é humano e quem não é. Esqueço do tempo e às vezes esqueço de esquecê-lo.
Esquecer; essa é nossa característica, aquilo que nos move. Saber que seremos esquecidos ou que somos esquecidos é angustiante, desesperador! E depois de minha morte? Esquecerei de minha vida? Esquecerão de minha vida? Não quero esquecer e nem que me esqueçam. Doenças que degeneram neurônios e perturbam o funcionamento da memória são o extremo dessa angústia - são a História humana encarnada: a vida construída por esquecidos.
A perfeição de nossos instrumentos, nossas máquinas, nossas crenças, religiões, filmes, trabalhos, exercícios científicos não podem esquecer, mas, nós, podemos. Aliás, o fazemos. Esquecemos. Exatamente por esse contato com o esquecimento que dependemos de experiências de Fé, de confiança em algo que não se esquecerá de nós. "Deus não se esqueceu de nós...", essa é uma mensagem de libertação, de salvação. Inclusive, como cristãos, nos relacionamos profundamente com o esquecimento. Jesus, o Filho de Deus, a experiência de que Ele não se esqueceu de sua Criação, que participa de sua História construída pelos esquecidos. "Fazei isso em memória de mim": não deixem a Mensagem de esperança na eterna lembrança de Deus morrer. Até podemos matar o Filho de Deus e nos esquecermos disso, mas, Ele, não se esquece de Suas promessas, é fiel. Então, somos convidados a sermos fiéis também: tentarmos romper com uma humanidade qualquer e experimentarmos algo divino, o não esquecimento...
Gratis i Kristus
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