sábado, 17 de novembro de 2012

Messias e Eternidade

Falta-nos um pouco mais de Fé; não novas experiências de culto, mas, um pouco mais de confiança na própria experiência de Fé que já tivemos. Falta crermos que um encontro já é o suficiente. Falta crermos que salvação não depende de nossas forças, mas, é dom de Deus. Falta crermos que se é necessário fazer algo, esse é algo é ter Fé.

Apesar de dizermos ter Fé em Cristo, parece que vivemos na esperança de um Messias. Apesar de afirmarmos que nossa salvação é eterna, parece que vivemos presos ao tempo. Apesar de afirmarmos que a vinda de Cristo foi de uma vez por todas e que nossos destinos não estão traçados para o futuro, parece que confiar em Cristo é pouco e viver a Vida que nos foi dada é para sempre. Falta-nos um pouco mais de Fé.

Essas frases podem estar meio sem sentido, mas, o que tento dizer é que apesar de afirmarmos confiança em nossa experiência de Fé, não depositamos Fé na própria afirmação de Fé. No caso, falo especificamente quanto a Fé que Jesus é o Filho de Deus e o único Messias e quanto ao tempo da Graça. Parece que estamos em função da vinda de um Messias e na esperança de que o amanhã já tenha sido traçado, já tenha um futuro. Depositamos nossa esperança não em Cristo e nem na eternidade, mas em algum salvador que aparecerá amanhã...

Mesmo que professemos com nossa boca que Jesus Cristo é o Senhor, cremos que seremos nós os "salvadores do mundo". Vivemos uma esperança de que ou "eu" ou um "outro" surgirá com uma nova verdade que revolucionará a cristandade, destruirá o mal do mundo e, para finalizar, expandirá a mensagem de salvação até os confins da Terra. Desacreditamos de Cristo, confiamos em nossa verdade. Às vezes, nos sentimos parte de grupos que encontraram o real sentido cristão ou a Fé da "Igreja Primitiva" ou sei lá, e nos fazemos os maiores responsáveis pela salvação do próximo - talvez até dispostos a fazer de tudo para que isso ocorra, mesmo que transgrida a própria Fé - a ponto de sermos mais salvadores que o próprio Cristo. Agimos de modo que os mensageiros são mais importantes que a Mensagem, que somos mais messias do que o Messias. Parece que a Igreja ou o grupo ao qual pertencemos é mais Cristo do que Jesus foi. Novamente, desacreditamos de Cristo, confiamos em nossa verdade, ou ainda, na verdade que algum novo nascido traga amanhã...

Amanhã, aliás, que ganha um status de esperança mais profunda do que a Fé na eternidade. Não cremos num destino traçado, mas, confiamos plenamente que o amanhã terá a verdade melhor revelada do que ontem. Se assim fosse, os que viveram com o próprio Cristo teriam tido uma Revelação menor do que a nossa e, desse modo, de que nos valeria a Bíblia e as estórias sobre Cristo? De que adiantaria a vinda de Jesus se, hoje, entendemos muito mais dele do que quando encarnado convivendo com os Doze? Não temos traçado o amanhã, mas, confiamos mais na verdade que pode chegar do que aquela que experimentamos ao nos encontrarmos com Cristo. Falta-nos um pouco mais de Fé. Parece que temos mais Fé em homens do que em Deus. Cremos mais na mensagem que decoramos com nós mesmos, mais nas nossas próprias palavras, do que no nosso encontro com Cristo. Botamos mais Fé em mensageiros do que na Mensagem. Confiamos mais que amanhã será melhor do que na eternidade que experimentamos sempre. Temos tanto medo de perder a Fé que desistimos de crer Nela.

Podemos até afirmar que "o amanhã a Deus pertence", mas, da mesma boca, ouvimos que "um homem vive a frente de seu tempo" - como se o tempo do amanhã tivesse uma linha traçada à partir desse alguém. Podemos afirmar que a salvação é dom de Deus, mas, gastamos fortunas em "cruzadas evangelísticas" ou nos martirizamos com medo de perder a salvação. Falta-nos um pouco de Fé.

Não temos a verdade "ainda não revelada", pois, se cremos em Cristo, a Verdade é Ele e não nós, os mensageiros. Amanhã não será  melhor ou pior que hoje, não teremos uma verdade melhor ou pior, pois as experiências de Fé pertencem à eternidade. A questão não é estipularmos uma certeza de Fé, mas, termos Fé em nossa experiência de Fé. A eternidade é eternidade, sempre, vivida hoje, ontem e com a possibilidade de ser experimentada no que talvez chamemos de "amanhã".

Enfim, precisamos resgatar essa confiança; não em nós, não no amanhã, mas, em Cristo, na Vida Eterna...



Gratis i Kristus

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

E a Teologia?

Utilizamos alguns termos sem saber necessariamente qual sua função. "Cadeira", por exemplo, é um termo que utilizamos para nos referirmos não a uma coisa específica com forma determinada, mas, a um objeto que desempenha uma certa função de "cadeira". Criamos termos não para explicar o que são as coisas, mas, para caracterizarmos um certo papel, uma certa função; generalizarmos uma relação. Poderíamos, no português informal dizer que quando utilizamos "cadeira", queremos falar da "bacia", que não é a função de recipiente em que depositamos água ou outra coisa, mas, parte do nosso quadril, da nossa "cintura" que apelidamos comicamente de "cadeira". Quer dizer, com um termo que parece tão simples - "cadeira" - já é possível fazer uma confusão, imaginemos com outros termos que cabem a relações mais abrangentes... Que confusão podemos causar, não?!

Não me adianta querer falar do termo "teologia" - que está presente no título -, sem tentar exprimir que relação eu gostaria que esse termo taxasse. Eu poderia, por exemplo, buscar a "origem" da palavra teologia no grego ou sei la em qual outra língua para justificar a relação "correta" desse termo. Porém, prefiro não encontrar a "relação correta do termo", mas, desenvolver uma generalização do que eu gostaria que compreendêssemos do termo "teologia", qual a função que desejaria que tal termo desempenhasse.

Se Teologia tiver a função de taxar a tentativa que não-divinos fazem de explicar Deus, imagino que o termo se refira a uma relação sem-sentido, uma busca que não nos cabe pois é uma busca impossível; é repetir palavras sem as relacionar com uma função, já explicar ou procurar Deus não é função de quem não é capaz de apreendê-lo. Seria como se quiséssemos construir uma torre que chegasse aos Céus (parecido com uma estória bíblica, não?!). Aliás, se Teologia for encontrar a "correta" leitura da Bíblia ou saber desvendar a "verdade" das escrituras, os termos "exegese", "filologia", "crítica literária" e "alfabetização" caberiam melhor para essa função

Não creio  que Teologia seja um bom termo para essas funções apresentadas. Aliás, "creio" cabe muito bem na relação que gostaria de ter com Teologia. A pressuposição de Deus já é dependente de um afirmação de Fé, um ato de crença. Essa afirmação estaria baseada em que? Numa experiência que indivíduos tem em suas relações que consideram ser transformadora, transcendente e de confiança: numa experiência de Fé. Experiência é a relação existente entre os corpos, entre as coisas. Se temos uma experiência de Fé cristã, é porque afirmamos ter encontrado Jesus encarnado, Deus em pessoa, o corpo de Cristo. Se desenvolvemos Teologia, é à partir de uma experiência - relações entre corpos - que, confiando, afirmamos ser com Deus, nos entregamos à Fé. São experiências de Fé individuais - o que complica mais ainda definir uma função única para o termo.

Por alguma razão, entendemos que indivíduo é o que existe por trás dos olhos de um ser humano e comanda seu corpo, enquanto que comunidade são os outros seres por trás dos olhos de outros seres humanos que comandam seus corpos. Aqui, entenderemos indivíduo como a relação singular da infinidade de possibilidades de um momento único. Indivíduo não é um átomo isolado que se constrói solitário ou uma peça determinada pelo meio em que nasce, mas, é o termo que utilizamos para indicar a relação entre uma série de corpos - átomos, moléculas, pulsos elétricos, tecidos, órgãos, ar, comunidade, meio-ambiente e o que mais pudermos cercar que se relaciona - que é singular dentro dessa infinidade de possibilidades existentes nas experiências dos corpos em um momento, num instante que mal percebemos. Indivíduo é uma relação. É nessa relação que se dá a experiência de Fé, o encontro com Cristo. Se fosse utilizar o termo "Teologia", seria para designar a conversa sobre a abrangência dessas experiências de Fé individuais e suas implicações em uma comunidade.

Teologia não é a tentativa de desvendar o mistério transcendental, ou explicar as relações divinais, ou determinar quais as relações entre Deus e os homens ou Deus consigo mesmo. Teologia não pode ser esse emprego  de chegar ao Céu e descobrir a "verdade". Partimos do pressuposto de que encontramos a verdade: tivemos uma experiência com Cristo, sabemos a verdade e o caminho. O que podemos analisar e tentar entender são as implicações e os desdobramentos que essa experiência de Fé causa em nossas relações. Podemos desenvolver sistemas que tentem abarcar as possibilidades - apesar de que creio que esse empreendimento seja pouco, pois as possibilidades são infinitas, logo, nenhum sistema as abarca - de uma experiência de Fé e o que ela pode causar em certos contextos. Muitos já o fizeram, temos uma longa tradição teológica nesse ponto.

Aqui encontraríamos mais uma função que imagino caber ao termo "teologia": estudar os vocabulários desenvolvidos para explicar as experiências de Fé e suas implicações - as tradições teológicas - para reinterpretá-los ou, até, abrir mão de determinados sistemas que não nos auxiliam na análise das experiências de Fé que acontecem em nosso cotidiano. A busca não é pela "correta verdade", mas, sobre as implicações de encontrarmos a Verdade - que é Cristo. Certas interpretações das Escrituras e experiências de Fé justificaram matanças, guerras, preconceitos e exclusão. Outras promoveram paz, liberdade, libertação e salvação. As implicações de fazermos ceras "afirmações de Fé" são parte da função de Teologia que quero escolher.

Enfim, nessa breve tentativa de encontrar sem muitos rodeios e minúcias de explicar a função que entendo que Teologia deveria generalizar, seria a função de Teologia taxar os cuidados que temos quanto a: conversas sobre nossas experiências de Fé individuais e suas implicações, e o estudo das implicações/consequências que as várias afirmações e explicações sistêmicas das experiências de Fé que outros indivíduos tiveram em suas/nossas relações. A base da teologia é já termos encontrado a verdade: Jesus. Agora, não é desvendarmos essa verdade, pois já a experimentamos, mas, renovar seu significado, entender e trabalhar as transformações que e esse Caminho, que o encontro com Cristo, nos propôs, nos causou, pode causar. Não estamos à procura de um "certo/errado" teológico, mas, as consequências das afirmações de Fé feitas e que fazemos sobre nossas relações com Deus, sobre o que acontece em nosso cotidiano, sobre as experiências com Cristo do dia-a-dia.