quinta-feira, 18 de março de 2010

Máximas de Nietzsche I

"O amor destinado a um só é uma barbaridade, porque se exerce a custa de todos os outros. O mesmo quanto ao amor por Deus." (Friedrich Nietzsche, Para além do bem e do mal")

Quem quer que escrevesse uma frase destas seria criticado. Ou pelo menos forçaria a quem lê ler novamente. Colocar "amor" e "Deus" numa mesma sentença é instigar e aguçar os sentidos daquele que crê. Talvez por ter sido escrito por aquele que não se deve mencionar o nome em certos ambientes (Friedrich Nietzsche), ganha uma atenção redobrada. Ou sequer recebe atenção, pois pode desviar da sã doutrina ou colocar em xeque a fé. Claro, já que o escritor foi (ou é) o mais astuto crítico da religião, da filosofia, da fé, da política e da própria crítica, então de fato será criticado.

Tive e por bastante tempo medo e um certo receio (preconceito) de me inteirar da filosofia deste que dependendo do ambiente não podemos mencionar o nome. Desde criança, por viver num meio cristão religioso, sempre que este nome caía em uma roda de adultos que se atreviam a entrar no campo do amor a sabedoria, em seguida vinha uma crítica ou uma ofensa que logo matava o assunto (e para mim acendia um lampejo de curiosidade). Aprendi e fui "aprendido" a ter uma reação ofensiva ao ouvir este nome. Como se fosse uma experiência hipnótica: "quando ouvir a campainha você se tornará como uma galinha". Ao criar minhas asas e arriscar voos, sobrevoei os livros escritos por este que não podemos mencionar o nome em certos ambientes e encantei-me.

Pode até parecer estranho, mas naquele que era o "anti-cristo" quando eu era criança, hoje vejo mais cristianismo do que os próprios "verdadeiros cristãos" que me foram apresentados. Nunca vou me esquecer de um homem que uma vez foi falar sobre a verdadeira vida cristã em um acampamento, e que nos disse (para mim e outros como eu) que deveríamos abrir mão de tudo e de todos para seguir a Deus. Se preciso fosse sair de casa, da escola, esquecer os amigos, deixar o trabalho, os pais e me apegar apenas no lugar de onde vinha todo o "dom perfeito", a "verdadeira mensagem", a igreja. Tudo porque devemos amar somente a Deus (eu acho que ele embaralhou os versículos).

Só sei que na igreja só tive problema minha vida inteira. Se hoje estou nela, não é por essa mensagem de ir apenas para a igreja, abrir mão de tudo e amar só a Deus, muito pelo contrário. O que me move ir e acreditar na igreja, é que nela encontro pessoas que amo, que me amam e que nós amamos a mesma coisa, uma mensagem de amor que liberta de obrigações e fardos nos trazendo para uma vida que deve ser vivida em prol de outros. Lembro bem de uma passagem conhecida na Bíblia Jesus fala dos mandamentos. Ame a Deus acima de todas as coisas e ao teu próximo como a ti mesmo. Até onde sei, não está escrito ame única e exclusivamente a Deus e abra mão do resto das coisas. E para embasar ainda essa idéia, Paulo fala que o fruto do espírito é o amor, e Jesus tinha dito que a Lei é o amor, no geral, não específico, direto, prático, único e exclusivo.

Em Filipenses, Paulo cita a expressão de que Cristo não quis ser igual ao Pai, mas abriu mão de si mesmo, de sua divindade, de amor à Divindade, para ser homem e por amor aos homens. Kenosis por amor. Não a Deus, mas aos próximos, as criaturas, aos homens. Ou, podemos admitir que foi por amor a Deus, transmitido e demonstrado em amor aos homens. Aquele que ama ao próximo ama a Deus. Então passa a fazer sentido o texto de Mateus 25 em que Jesus olha para os homens e diz: "35 Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; 36 necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram'. 37 "Então os justos lhe responderão: 'Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? 38 Quando te vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou necessitado de roupas e te vestimos? 39 Quando te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar?' 40 "O Rei responderá: 'Digo-lhes a verdade: O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram'."

Logo, entre o homem que me disse que deveria abrir mão de tudo por amor a Deus estava bem mais longe do cristianismo do que o próprio "filósofo anti-cristo". Em sua máxima, Nietzsche acerta na veia o ponto errado do religioso cristão. Como cristão sua missão não é se isolar em seu mundinho para amar a Deus, mas viver de fato o mundo para fazê-lo. Sua crítica a religião afirma, confirma e reafirma a visão cristã de amor. Não deve ser exclusivo de Deus, mas compartilhado entre os homens. O Deus Todo-Poderoso abriu mão de todo o poder para compartilhar do amor com os homens, que dirá os homens nada poderosos o que deverão fazer.

O amor destinado a um só de fato é uma barbaridade, pois de fato é as custas de todos os outros! Amando-se (ou dizendo que se ama) somente a um, abre-se mão do amor fraternal, parceiro, amigo, humano ao outro. Mesmo que se falando de amor a Deus. Se rejeita-se o outro em nome de Deus, não é em nome de Deus que o está fazendo.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Doralice

Doravante Doralice dourou a pílola. Devagar divagou donde estava a doença. Estagnou frente a estante no instante em que pensou: "Será que é isso mesmo?"

Lutou relutante bravamente contra si. Desarmou desanimada a toada que aprendera a decorar e repetir. Frenou. Lentamente ajustou a lente que desde sempre a tornara crente que a verdade iminente era aquela que tinha ali.

Pouco estudo, pouco conteúdo muita reflexão. Confrontou a fé que tinha até então. Entretando pensou tanto que quanto mais refazia mais cria. Ficou em pé bateu o pé por causa da fé que ali aumentava. Quanto mais brigava mais abrigava em si o que acreditava. Sem livros, sem medo, sem nada. Repensou a vida e ficou enfezada: "Porque nunca tinha pensado nisso? Poque minha fé nunca fora questionada! E agora, está mais profunda do que estava."

quarta-feira, 10 de março de 2010

O Mentiroso

Nas últimas semanas tenho ouvido praticamente todo "santo dia" a mesma pergunta; "Você acredita no Diabo?". A primeira coisa que vem em minha mente é uma resposta que aprendi com um grande amigo meu, Joel Cardoso; "Eu não, ele é 'mó' mentiroso". Mas imagino que essa não satisfaça a questão levantada. O que de fato se questiona é a existência do Coisa Ruim, Satã, Pé Preto, Tinhoso, Do Mal, Príncipe das Trevas, Lúcifer, Sãopaulino... Diabo.

Antes de chegar a uma resposta definitiva, fechada ou coisa do tipo, temos que refletir sobre o sentido, significado e a imagem que temos em nossa mente quando é mencionada a palavra Diabo. Diabo seria um ser que em si teria toda a maldade, a personificação do mal. Diabo seria inimigo de Deus. Diabo tentaria o homem. Diabo coordena, organiza e dirige um exército de outros diabos menores que visam levar as pessoas ao inferno. Logo, se o Diabo tem tudo isso ai, está em guerra com Deus. Qual seria então nossa função nessa batalha? Somos prêmios? Mas a guerra já não está (presente) ganha? Já não somos salvos? Livres? O Diabo já não perdeu seu poder?

O Diabo não é um anjo caído. Em lugar nenhum da Bíblia existe menção a esta definição. Se ele não é um anjo caído (ou mesmo se for), de onde vem? Se não foi criado por Deus, é um ser incriado, logo, igual a Deus. Se é igual a Deus, tem equivalência de forças e há uma guerra, uma batalha na qual não sabemos quem ganha, sem contar que contraria a nossa afirmação de Deus ser o Todo Poderoso, único Deus, pois estaria em uma competição com um ser igual a Ele. Se foi criado, foi Deus quem o criou. Se Deus criou-o como anjo e este se rebelou, temos que pensar se os anjos possuem livre-arbítrio. Se possuem, isso pode acontecer novamente. Porque Deus lançaria o Diabo, que se rebelara contra Ele, para fora do Céu, direto à terra, com poderes maiores do que o dos seres amados por Deus (os humanos) ao invés de da-lo um fim? Se na Bíblia, o juízo divino contra os homens que se rebelam contra sua leis é sempre fatal e drástico. Isto porque seriam os seres amados, fracos, sem conhecimento direto do próprio Deus, enquanto que o anjo que tinha direto contato com Ele é colocado em um reino no qual agora controla e ainda inferniza a vida dos homens.

Se o Diabo é criado por Deus, se rebela contra Deus, não é punido por Deus, então Deus é conivente com sua existência (lembrando, ele é a personificação do mal). Deus teria controle sobre o Diabo? Permitiria sua livre relação com a humanidade? Mas Deus não compactua nem se agrada e nem tem parte com o mal! Aí há mais um sério problema para que haja espaço para um Diabo como nós o definimos. Sem levar em conta que: o Diabo seria o total contrário de Deus (o anti-Deus), por isso pai da menitira, enganador. Já que Deus é fiel, cumpre suas promessas, o Diabo é infiel e não cumpre com suas palavras. Como é que um grupo de demônios, maus, detentores de toda a maldade, infiéis, trabalham em conjunto sob a liderança de um ser pior que eles, tão mal quanto eles, permanencendo leais ao projeto maligno inicial que seria... Não consigo imaginar qual seria. Mas o intrigante é o como que eles se respeitam, trabalham juntos, amigos, num mesmo propósito e fiéis?

Pensando no lado de Deus, se Ele é bom, amoroso, FIEL... Revelado plenamente em Jesus Cristo, o Verbo que se fez carne, como é possível imaginar que Ele permita que um ser maior que eu, mais poderoso que eu, intocável e invisível a mim, de outra realidade, arrebente com minha vida? Destrua sua criação? Deixe que o mundo se desfaça em suas mãos? Deixe que ele comande e seja dono de sua criação?

Para crer que exista um Diabo, é necessário a admissão de uma de duas posições. A primeira é crer que ele é igual a Deus, ou, tão poderoso quanto, e está em uma guerra cósmica. Ou, a segunda, que ele é (como na tradição protestante) um cachorro raivoso na coleira de Deus. Deus permite sua existência, usa de sua maldade, para atingir seus objetivos e para que este faça seu trabalho sujo.

Nenhuma dessas duas opções, até onde sei, se encaixa numa fé cristã. Mas, se para você sim, a existência de um Diabo é possível. Se não concorda com nenhuma dessas duas opções, deve repensar seu conceito de mal, Diabo, inferno, demônios... E descobrir uma nova maneira de enxergar as coisas. Quando menino fazia coisas de menino, depois de homem, faço coisas como homem não mais como menino. Se nenhuma das duas possibilidades de existência de uma personagem com toda a maldade em si se encaixa em sua teologia, não existe esse Diabo. Bem vindo a um novo mundo...



OBS: Onde lê-se a palavra "anjo" na Bíblia, deve-se ler mensageiro. Isso abre novos caminhos a serem percorridos e retira nossos preconceitos com o texto. Se esse ser repleto pelo mal não tem espaço, onde se encaixa agora as tentações? De onde vem a maldade? Precisamos reler e refazer nossas respostas tradicionais sempre prontas e que se contradizem. Precisamos repensar a maneira que trabalhamos nossa fé e mais ainda, como vivemos nossa vida. Coisas que para nós é Deus, para nossos irmãos pode ser o Diabo, e vice-versa. Como então saber o que é Deus e o que é Diabo? Se é que há um Diabo...

domingo, 7 de março de 2010

Música - Valores do Reino

Em Mateus 25, está expresso o que é amar sem o uso da palavra amor. Acho que como Jesus disse a Nicodemos que se não compreendia as comparações do Reino com coisas de nosso mundinho, "como entenderia as do céu?", se encaixa bem nesse texto. Como compreender amor por si só? Não dá, é celeste demais. Precisamos de passo a passo como se ama, com comparações com coisinhas do nosso mundinho. Então, ao perceber essa explicação do que é amar, sem o uso da palavra amor, arrisquei notas, rimas e tentei construir uma música. Aqui não sai o áudio... mas deixo a letra:



Eu tive fome e me deram de comer, tive sede e me deram de beber
Fui estrangeiro e me acolheram em sua casa
Eu tive frio e vieram me vestir, tive doente e cuidaram bem de mim
Estive preso e vieram onde estava

E quando ou como, fizemos isto?
Quando cuidaram destes, nos disse Cristo
Pois em meu Reino as coisas são assim
São os valores que estão em mim

Viver em paz
Querer mais justiça e compaixão partir o pão
Sermos iguais
Nada demais é querer ter o Reino no coração

sexta-feira, 5 de março de 2010

(In)Certeza

O problema do prefixo "in(m)" da língua portuguesa, é que quando ligado a uma palavra, anula-a ou põe-na em uma situação constrangedora; a "situação do talvez". Indireto, impossível, inadequado, incerto... Isto! Incerto! As palavras com o prefixo "in(m)" tornam-se incertas! Que por sinal, é uma palavra com este prefixo.

A incerteza é causadora de problemas. "Ser ou não ser?", "Fio vermelho ou fio azul?", "Homem ou mulher (ou nem um nem outro)?", "Saia ou vestido?", "Sapato ou chinelo?", "Predestinação ou livre-arbítrio?", "Deus existe?". Como estar entre duas linhas, ter de decidir um caminho, e não saber qual? Complicado, complexo, incerto e tão difícil, que talvez você esteja no quarto ano de medicina e desista para fazer Filosofia para tornar-se um professor de Ensino Médio.

Em um texto mais antigo que escrevi, falei sobre "Se certeza nenhuma temos, qualquer decisão é certa", mas agora, não quero falar sobre a decisão tomada em cima da incerteza, mas o caminho que nos leva a ela e ir além, como lidar com ela. Isto se esta for um problema. Pode ser que a incerteza seja algo bom, não sei... Estou incerto quanto a isso... hehehehe.

Acho que a nossa necessidade por ter resposta para tudo é a primeira coisa que nos leva a incertezas. Temos por alguma razão o desespero de ter TODAS as respostas do mundo, sendo que jamais chegaremos a este ponto. Culpo, por enquanto, a alfabetização, ou a educação básica. O problema deve estar nela, não sei. Só sei que quando criança, perguntei a meu pai: "Pai, de onde vem Deus?". E ele me respondeu: "Sei lá." (lembrando, meu pai é pastor, Teólogo e gênio). Virei-me e voltei a brincar. Um pouco mais crescido fiz a mesma pergunta, obtive a mesma resposta e perdi toda a minha noite de sono! Não conseguia mais dormir pensando de onde tinha vindo Deus e a pergunta subsequente a esta: "Se não vem de nenhum lugar... Como pode existir?".

De algum jeito, me treinaram a não estar apto para viver com "situações talvez". Se veio, para onde vai, se está ou onde esteve eu não sei, logo, estou sempre no talvez. Mas antes, o talvez me satisfazia. A incerteza fazia parte da alma e não me arrancava o sono. Entretanto, dentro de uma igreja (como a em que cresci), existe um livro do qual sempre me ensinaram que tirava todas as dúvidas e incertezas de todas as pessoas do mundo! Logo, tirava todas as dúvidas do mundo, seria o livro das respostas! Tiraria minha incerteza e me tornaria conhecedor de todos os mistérios do mundo, um perfeito Oráculo.

O novo problema é que quanto mais lia aquele bendito livro (literalmente), mais incertezas eu tinha. Dúvida, dúvida, dúvida. Para um ser criado num mundo informatizado binário de "Sim" e "Não", as vezes com a possibilidade do "Cancelar", mas que equivale ao "Não", falta sempre o costume do talvez. Antigamente, o que movia os filósofos, cientistas, inovadores e seres humanos, era o mistério, as dúvidas a tentativa de compreender as perguntas e conviver com elas. No atual futuro, ao que parece, o mundo já foi desvendado, tudo conhecido, tudo solucionado, logo não há a necessidade de pensar e refletir. Está com dúvida? Entre no Google, vá a uma Enciclopédia ou simplesmente elimine-a, pois ela já foi pensada por alguém, já está solucionada e você pode e deve optar por esta descoberta, por esta resposta.

Tudo está quadrado, esquadrinhado, codificado e preparado para ser assimilado sem a necessidade da digestão, por seu organismo. Não tenha dúvidas, apenas certezas. Mais um problema é que num mundo desta magnitude, não há espaço para fé. Fé é confiar em algo incerto. Não em algo que não exista, num nada, mas em algo incerto, que tem a possibilidade de existir ou não. Mas, para que haja esta possibilidade, é necessário que haja uma "situação talvez".

Argumentos que tentem provar o incerto fazem parte do niilismo, o culto e o incentivo ao nada. É querer acabar com a única coisa que move o homem e o traz esperança, a fé. Acreditar que amanhã talvez seja um dia melhor é pura fé. Arrancada de alguém, leva-o a morte. Nitzsche diz em seu livro "Para além do Bem e do Mal", o seguinte: "Creio que exista quem prefira estar num nada assegurado, do que a possibilidade do incerto". Mais um vez, ponto pro Nitzsche. Tentamos provar o incerto transformando-o num nada. Mas agora, é um nada cheio de certeza. Continua sendo nada. A possibilidade da incerteza é muito mais nobre: "Não sei, por isso creio, por isso confio".

No espaço da incerteza reservada para Deus, coloca-se mais uma vez a fé. Dentro das infinitas possibilidades, o Deus eterno e infinito preenche a todas. Quanto a arrogância religiosa de tentar provar Deus e raciocinar a certeza de que este cabe dentro de seus argumentos, cérebros e conceitos vazios, é nada. Pura perda de tempo e gasto de paciência. Se existe ou não Deus ou se Jesus foi ou não Deus, são perguntas que devem perdurar para sempre, para que as dúvidas continuem rondando e a fé preenchendo os espaços dos corações dos homens. Se a bíblia estava certa, se é literal, se as coisas nela aconteceram, são perguntas que devem existir para o crescimento no conhecimento e na graça.

Esta eterna "situação talvez", deve tornar-nos como crianças, que ouvem respostas incertas, mas estão abertas e preparadas para entrarem e compreenderem o Reino dos Céus. Vivamos independentes da concretude, mas vivamos pela fé. Fé num amanhã incerto, num Deus incerto, num fim incerto. Mas fé. Que nos faz viver e viver uma vida em abundância, uma vida eterna, uma vida incerta preenchida por fé, confiança. As certezas passarão, se transformarão, ruirão para dar lugar a novas. Mas as incertezas nos empurram para o Eterno.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Novas ferramentas para velhos conceitos

Neste domingo estava dando aula na igreja para adolescentes (por incrível que pareça, eu dou aulas... acho que é devido a falta de pessoal), e nós nesse semestre estamos trabalhando as histórias contidas no livro do Genesis, uma releitura de seus textos e novas maneiras de se enxergar os seus conteúdos.

Trabalhar com inova coes, idéias e novos conceitos é um problema sério. Primeiro porque precisamos quebrar dentro de nossas cabeças os muros do preconceito. Nesse caso não me refiro a cor da pele, classe social ou problemas sociológicos, mas de conceitos que nos são ensinados, adquiridos, assimilados e pior, tratados como verdades absolutas: PRECONCEITOS. Segundo porque temos que saltar o muro do concreto. Não, você não leu errado e eu não escrevi errado, é muro DO CONCRETO mesmo. Nossa visão é limitada pelo material, o concreto, o real, físico, nem um pouco místico ou metafórico. Não queremos coisas incertas ou inexistentes, aceitamos apenas o que vemos e nos for comprovado na pratica. Terceiro e ultimo ponto (que me darei ao luxo de apontar) é o da arrogância geneticamente adquirida. Todos nós, seres humanos, homens, homo sapiens ou como preferir, geneticamente somos arrogantes no que diz respeito a achar que sabemos algo que ninguém mais sabe.

Enquanto falava sobre o capítulo 4 de Genesis (a história de Caim e Abel), me dei conta de como é complicado reconstruir uma história já preconcebida em nossa cabeça. Não vou entrar no mérito de quais conceitos trabalhei, mas sim no processo de formação destes. Para podermos enxergar as coisas de outra maneira, com outra visão, precisamos de novas ferramentas.

Darei um exemplo prático: quando eu era criança, minha cama ficava bem de frente para a porta, que permanecia entreaberta mostrando parte do corredor. Morria de medo imaginando que havia ali um monstro, pois ouvia barulhos de passos e do piso de madeira, mas não havia ninguém andando. Depois, perdi o medo, já sabia que não havia monstro, mas não sabia ainda explicar o porque dos barulhos.

ETAPA 1 - Experiência

A ferramenta que sempre tive foram minhas experiências. Ouvia passos, logo, imaginava o incerto. E disso, eu tinha certeza (preconceito) que havia um monstro. Não tinha como controlar ou descobrir os porquês daquilo tudo, logo, tinha medo e buscava as respostas partindo de minha imaginação e experimentacao; olhar e tentar ver o que acontece.

ETAPA 2 - Percepção

A ferramenta que eu aprendi a utilizar enquanto crescia era a percepção. Percebia e entendia que aqueles sons aconteciam naturalmente. Pois agora conseguia ouvi-los de dia também. Compreendi então que era normal, não tinha a explicação do porque, isto agora tornara-se incerto, mas não me impedia de dormir a noite e ter certeza de que não havia monstro algum naquele quarto. Desenvolvi meu conceito, perdi meu preconceito e agora tinha uma nova ferramenta para lidar; além da experiência, percepção.

ETAPA 3 - Amadurecimento

Continuei a crescer, os sons já não me incomodavam mais. Estudei, aprendi física, química, fiz pesquisas, e sem me dar conta, descobri que não tinha medo dos barulhos, mesmo sem ter as explica coes e porquês, e agora, depois de maduro, tinha as respostas em minhas mãos. "Devido as mudancas de temperatura, o material madeira expandia-se e comprimia-se". O fato de saber isso nunca mudaria o fato da madeira fazer barulho, mas eu tinha explicacoes. As explicacoes em si não me fizeram perder o medo do monstro pois este eu ja tinha perdido, mas me comprovaram que não era necessário temer; agora tenho uma ferramenta que me faz rever a realidade.

O grande problema é que quando se tratam de conceitos teóricos ou, no caso que mais gosto, religiosos, não estamos disposto a adquirir novas ferramentas para reler os conceitos. Tentamos encontrar os novos conceitos utilizando as mesmas e velhas ferramentas, ou só as expeciencias ou apenas percepcoes. Nunca estamos dispostos a amadurecer, rever os conceitos e trabalhos lógicos, reavaliar raciocínios e instrucoes. Para que haja sempre um avanço para um crescimento, amadurecimento e novas compreensoes de realidade, precisamos sempre de novas ferramentas.

Jó as avessas

Numa meia casa no Paraisópolis, vivia um homem chamado Jonivaldo, muito conhecido como Jó. Era um homem íntegro, justo e trabalhador. Tinha sete filhas e três filhos, um cachorro, uma televisão, algumas redes na casa, que tinha um quarto, um banheiro, uma sala e uma cozinha. Servia de pedreiro, porteiro, vigia e todo mais serviço que lhe fosse requisitado. Não era rico, mas amava a toda gente.

Educara de maneira brilhante suas filhas e filhos, um batalhador e guerreiro na vida. Perdeu sua mulher muito cedo, fez como pode para não desmanchar a família e mante-la unida, não apenas debaixo do teto de seu barraco, mas também do teto de uma igreja e no que chamava de “os caminhos do Senhor”. Nunca esqueceu de seus filhos em suas orações, e sempre fora grato ao Senhor pela vida, que apesar dos pesares, era a que tinha e a única a ser vivida. Era feliz.

Certo dia, os anjos vieram apresentar-se a Deus nos Céus, e entre eles estava “ele”, o “ferão”, pé-preto, corinthiano, tinhoso, inimigo, do mal, pai da mentira, acusador, caído... Diabo. O Senhor perguntou:

- De onde vens, camarada?

O Diabo respondeu a Deus:

- De andar e visitar meus parentes em Brasília. Aproveitei a caminhada, rodeei por aquelas terras e dei uma esticada até São Paulo.

Deus de imediato diz ao Diabo:

- Reparou no meu servo Jonivaldo, muito conhecido como Jó? Não há ninguém naquela terra como ele, irrepreensível, íntegro, homem que teme a Mim e evita o mal... no caso você.

Com um sorriso amarelado, devido a piada do Senhor, sorrateiramente o Diabo aproveita a deixa:

- Pois então o Senhor não acha que teu servo Jó, ou Jonivaldo, mereça um pouco mais da vida? Acaso não puseste uma cerca em volta dele e o impedira de desfrutar de outros luxos da vida? Será que ele não O teme por não ter mais nada a se apegar além daquela igrejinha e uma esperança que ele chama de “os caminhos do Senhor”? Tenho certeza que se deres tudo o que um coração de homem deseja, ele não mais será íntegro e temente a Ti como é hoje.

Pós um momento de silencio cósmico, universal, Deus propõe ao Diabo:

- Pois bem. Pode entregar a Jonivaldo, muito conhecido como Jó, o que crês que um coração de homem deseja.

O Diabo saiu então da presença do Todo Poderoso e retornou aquelas terras.

Passado um tempo, num domingo, dia de culto na pequena igrejinha, a tarde, Jonivaldo, muito conhecido como Jó, arrumava-se para a sagrada ocasião, colocava sua gravata preta, seu terno marrom desbotado e preocupado, visava o relógio a todo instante. Nenhum de seus três filhos chegara até então em casa. Já eram quase seis horas da tarde, o culto começava as sete, e precisariam sair naquela hora para chegar a tempo de acalmar o coração e prestar a reverencia necessária para a comunhão com os outros fiéis.

O trinco da porta girou, e os tres jovens entraram na meia casa apressados, sorrindo e extasiados de alegria. Cada um tinha nos ombros uma mochila preta. O pai, que nunca vira as malas, curioso pergunta aos filhos:

- O que é isso ai? Onde conseguiram essas malas?

- Encontramos pai! Na rua, enquanto vínhamos para cá! Demoramos pois não sabíamos o que fazer com o dinheiro, mas decidimos e... – foram interrompidos por Jó:

- O que? Que dinheiro?

Os meninos abriram as malas abarrotadas de notas e continuaram sua fala antes interrompida:

- Vamos te ajudar a reformar, ou até mesmo construir uma nova casa! Agora podemos ter um carro! Cursarmos uma faculdade! A vida pode melhorar!

- Não. É muito dinheiro, não sabemos de onde vem, de quem é. Com certeza tem dono. Amanha entregaremos a polícia, agora apressem-se, precisamos ir ao culto. – disse Jonivaldo.

- Mas pai... Olha esse dinheiro! Achamos, e achado não é roubado! Quem sabe não foi Deus que preparou este momento para nós! O senhor é um homem íntegro, bom, que teme a Deus, deve ser tua recompensa! – retrucaram e insistiram os meninos.

Tres suspiros depois, o irredutível Jonivaldo, muito conhecido como Jó, falou:

- Não. Já tenho dez recompensas por ser um homem íntegro e temente ao Senhor. E tres delas estão com mochilas cheias de dinheiro que não as pertence, e como as ensinei os caminhos do Senhor, devolveram junto comigo estas coisas na polícia amanha. Agora vamos a igreja, tuas irmãs estão prontas e estávamos os esperando.

Para recuperar o fôlego e secar o suor que já brilhava a testa, Jonivaldo, muito conhecido como Jó, foi ao banheiro lavar o rosto e espairecer, para se concentrar e voltar seus olhos para a sagrada ocasião que estava por vir, o culto em sua igrejinha.

Ao sair do banheiro, os tres meninos haviam sumido, e como eles, as mochilas também. Atrasado Jonivaldo reuniu as filhas e juntos foram a igreja. Deixou a porta de casa aberta, caso os meninos voltassem, pois acreditava em seus filhos, e, como dizia, havia os criado nos “caminhos do Senhor”.

Ao chegar na igrejinha, as sete e meia da noite, o culto não havia ainda começado. Os pastores pediram um instante da igreja e faziam naquela ocasião uma reunião entre as lideranças da comunidade. Por Jonivaldo, muito conhecido como Jó, ser um homem íntegro e temente a Deus, era reconhecido e respeitado dentro da igrejinha, e ao chegar a porta, fora convidado para tal reunião também. Com a testa franzida e uma expressão de preocupação, Jó pensava: “Como é possível?! O que há de tão urgente que não possa ser esperado para depois do culto? É uma sagrada ocasião! Nosso momento de comunhão!”

Dentro de uma sala, nos fundos do templo, estavam reunidos o pastor presidente da igrejinha, seu auxiliar, dois presbíteros, o tesoureiro, um homem bem vestido que Jó nunca vira, e agora ele também. O pastor presidente olhou para Jó e exclamou:

- Este aqui é Jonivaldo! Mas muito conhecido como Jó! Pode chamá-lo assim, ele é que nem o da Bíblia!

Retornou os olhos para o homem bem vestido que Jó nunca vira por um instante, e logo voltou-se novamente para Jonivaldo:

- Querido irmão, é o seguinte: este abençoado aqui bem vestido que está em nossa igreja, é um irmão pastor de uma igreja bem maior! Aquela do centro que cresce sempre e tem um programa santo na televisão para propagar o evangelho sabe?! Ele teve uma revelação do Reino de Deus e veio aqui propor para nós esse movimento. Nossa pequena comunidade agora será um braço desta grande, para aumentarmos, claro, o projeto de Deus pra São Paulo. Aí o irmão aqui, me propôs que eu fosse ser servo de Deus numa igreja maior, levasse comigo meu auxiliar e nisso tudo, você por ser muito respeitado aqui dentro, torna-se pastor no meu lugar! Comecando já hoje! Porque precisamos pedir um dízimo para fazer essas mudanças, e eu sei que se o senhor, que é um homem integro, bom, temente ao Senhor, fizer esse sagrado momento de ofertas, nós conseguiremos o necessário para esse investimento no Reino. Glória a Deus!

Jonivaldo transtornou o rosto, e disse:

- Não.

O pastor com um sorriso muito amarelo e o olhar confuso continuou:

- Mas meu irmão, veja bem...

Logo foi interrompido por Jonivaldo:

- Não.

E isso se repetiu mais umas duas vezes, até que o homem bem vestido calma e friamente falou:

- Jonivaldo. Isso aqui não é brincadeira. É um negócio sério. Estamos tentando fazer o melhor para todos. Talvez nossos objetivos e valores não sejam os mesmos, mas se aceitar essa proposta, poderá cumprir com o que acredita, fazer o bem que bem entende. Voce terá o poder necessário para mudar as pessoas e construir essa igreja da maneira que considerar correta e dentro dos caminhos do Senhor. Fará o que quiser com o dinheiro arrecadado, e poderá ajudar e salvar muita gente.

A sala silenciou-se. Após o silencio terreno mas mortal, cheios de expectativas, os senhores sentados em reunião ouviram de Jonivaldo:

- Isso de fato não é brincadeira, é um negócio sério. Um negócio de troca e transferência de valores. Os teus são financeiros, e os meus são verdadeiros. O poder que querem me dar nem vocês o tem. Quem os domina é o que dizem estar negociando. O que considero dentro dos caminhos do Senhor me impede de aceitar essa proposta desumana, mas diabólica. Sou um homem íntegro e temo a Deus, não aceito barganha destes desejos desumanos que destroem famílias, vidas e pessoas. Hoje perdi tres filhos por causa de dinheiro, e uma igreja por causa de seu poder.

Ao dizer isso, Jonivaldo, muito conhecido como Jó, virou-se para a porta, levantou a cabeça, chamou suas sete filhas e foram todos para casa. Ao chegar, nem sinal de seus tres filhos.

No outro dia, segunda-feira, logo de manha, um amigo de Jonivaldo, muito conhecido como Jó, bateu na porta e extremamente feliz o chamara para o trabalho que seria o melhor de suas vidas. Uma rica madame paulista daria uma festa e o primo de seu amigo era funcionário dela e responsável por contratar serventes, mordomos, manobristas e empregadas que deixassem a casa sempre limpa. Naquele dia a empresa que contratara falira, outras não tinham previsão de funcionários e agora o primo estava correndo como louco atrás de pessoas confiáveis que tratassem do serviço. Jó, por falar bem em público e ser íntegro e confiável, seria um dos mordomos e recepcionaria os convidados, enquanto suas filhas poderiam trabalhar num bico como empregadas. Jó de imediato aceitou a proposta e a família toda deixou de lado os afazeres de outros serviços, empregos e escola, e foram para a mansão da madame.

Chegando lá, enquanto Jó trabalhava, a rica madame se engraçava e ria com suas filhas enquanto fitava-o constantemente. A noite, durante a festa, a madame chamou-o de canto e prontificado, Jó apresentou-se:

- Pois não, madame?

- Jonivaldo né? Ou posso te chamar de Jó como é conhecido? – perguntou risonha a senhora.

- Jonivaldo sim, madame. – respondeu.

- Pois bem... Jonivaldo, como estava falando com suas filhas, fiquei interessada em seus serviços e quero contratá-lo. Não apenas para estes serviços que esta fazendo, mas para outros também... Se é que você me entende... Mas, como fiquei sabendo por elas que você é um homem muito integro, fiel e temente a igreja, eu em troca e para garantir que não terá problema e valera a pena, os trarei para morar aqui e pago os estudos de suas filhas enquanto trabalham para mim também.

Jonivaldo, estático e ansioso pelo fim da conversa dá sua resposta:

- Madame, em primeiro lugar sou íntegro e temente a Deus, não a igreja. Vim trabalhar aqui hoje por necessidade, mas de maneira honesta e sincera. Não barganho minha família, minha casa e nem meu corpo. Sou servente, mordomo, pedreiro e o que mais for necessário, desde que meu trabalho não roube minha alma, meu coração e minha integridade.Se quiser fazer algo por mim e minhas filhas, que faca de bom grado e por gostar dos nossos serviços, não por causa de um interesse descompromissado e para seu prazer egoísta. Mas como sei que de maneira alguma é de bom grado, vou embora.

Jó pediu licença da presença da Madame, buscou encontrar as sete filhas, puxou-as para consigo e buscou ir embora. Indignadas com a atitude do pai, de recusar a proposta de emprego que mudaria suas vidas, duas, das sete retornaram para a mansão e por lá ficaram durante toda a noite, enquanto Jó e as outras cinco retornaram para casa.

Na manha seguinte, Jonivaldo, muito conhecido como Jó, acordou com a porta de seu quarto abrindo. Abriu os olhos e viu os tres filhos de cabeça baixa colocando as tres mochilas no chão.

- Voltaram? Com todo o dinheiro? – resmungou sonolento enquanto levantava da cama.

- Sim. Nos arrependemos de contrariá-lo, e demo-nos conta de que o senhor, como sempre está certo. Perdoe-nos por sumir. Trouxemos todo o dinheiro e o entregaremos junto contigo hoje na polícia. – responderam os irmãos.

- Eu sabia que meus filhos conheciam os “caminhos do Senhor”, e que retornariam para casa. Esse dinheiro bem poderia nos ajudar, mas não é nosso e não sabemos de onde vem. Vamos agora mesmo entregá-lo as autoridades. – concluiu o pai saltando da cama.

No ponto de ônibus, Jó, junto a seus filhos e as mochilas, encontraram as duas filhas que ficaram na casa da Madame. Arrependidas por deixarem o pai, e vendo que aquela não queria o bem da família e sim o próprio, pediram perdão e foram para a meia casa descansar. Jó e seus filhos seguiram caminho, foram a delegacia e entregaram lá o dinheiro.

Ao retornar mais uma vez a meia casa, Jonivaldo, muito conhecido como Jó, exclamou aos Céus:

- Obrigado Senhor! Pela vida que me deste. Tudo criaste, tudo formaste e me dera dez filhos. Alguns se foram, mas retornaram. Os perdi, mas encontraram o caminho de volta. Não tenho aquilo que o coração dos homens deseja, mas aprendi a ser humano e compreendo que o que mais vale nessa vida é amar, ser íntegro e temer a Ti.

Mais tarde, alguém bateu a porta e Jó foi atender. Um senhor distinto, de terno engomado, bem arrumado, com uma maleta na mão e os olhos arregalados e interessados disse:

- Boa tarde seu Jonivaldo. Sou um político importante em Brasília e perdi algumas malas com dinheiro. Fiquei sabendo que o senhor as devolveu na delegacia. Muitíssimo obrigado. Como forma de agradecimento, quero convidá-lo a vir comigo para Brasília, exercer uma função no meu gabinete, e não se preocupe, o senhor não precisará trabalhar demasiado, é um cargo bem tranqüilo. Estamos reajustando algumas verbas e preciso de pessoal na folha de pagamento. O senhor pode trabalhar como um tipo de assessor, inventar alguns projetos e até ajudar algumas pessoas carentes como o senhor. Seria um trabalho muito justo para um homem íntegro como o senhor.

Jonivaldo, respondeu:

- Não, muito obrigado meu senhor. Por ser um homem íntegro, trabalho de verdade. Se exerço funções, são as que condigam com o que creio. Sou um homem temente a Deus, e não é por dinheiro, prazeres, poderes que me deixarei levar a corrupção. Sou homem simples, mas não bobo. Conheco muito bem os caminhos do Senhor, e com certeza não são atalhos que facilitam a vida. Mas uma vida intensa que é trilhada por inteiro. O senhor pode levar o teu dinheiro e teu cargo de volta para tuas terras. Aqui tenho tudo o que preciso com minha família, que não tem tudo o que o coração do homem deseja, mas é íntegra e temente a Deus.

Fechou a porta e deixou o homem do lado de fora. Este por sua vez, deu as costas e seguiu seu rumo. Foi aos Céus ter com Deus:

- Tudo bem, já compreendi. Jó é humano demais para querer o que o coração dos homens deseja. Nem dinheiro, nem prazer e nem poder o corromperam. De fato tens que se agradar deste homem, pois não há ninguém como ele naquelas terras. – falou o Diabo.

- Existe sim. Muitos. Que como Jovanildo, muito conhecido como Jó, não tem tudo aquilo que o coração do homem deseja, e as vezes nem o que um ser humano precisa. Mas são íntegros, bons e incorruptíveis, pois temem a Mim e amam. – Finalizou Deus apontando para o pequena parte de humanidade que restava nos homens daquelas terras.