quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Tatuagem

Farei três tatuagens no fim desse ano. Todas elas representam experiências que vivi e, claro, serão motivo de charme, vaidade e cuidado para mim. São adereços supérfluos e permanentes...

Com amigos sabendo que farei uma tattoo, recebi uma imagem sensacional exibindo o Charlie Sheen e mais ou menos essa inscrição:

"Me perguntam porque não tenho tatuagem. Pergunto, então, se você colocaria um adesivo numa Ferrari."

Claro que ri da sacada do gênio que escreveu isso. Num primeiro momento, porque, no seguinte, tive que parar e pensar: "Como é que é?"

O que está posto na imagem é a regra: "se teu corpo é tão bom quanto uma Ferrari, não coloque um adesivo". Entende a medida? A Ferrari! Ela é o crivo par a qualidade do teu corpo. Na minha enorme cabeça, a resposta mínima e decente deveria ser: "se a Ferrari for tão importante quanto é meu corpo, poria sim um adesivo, mas como não é..." Infelizmente, é difícil fazer essa conta, porque de tão viciados em preços de coisas, não conseguimos imaginar que nosso corpo seja "tão bom quanto uma Ferrari".

É muito estranho: ou pensamos que Charlie Sheen é um arrogante por se comparar a uma Ferrari e não por isso não põe um adesivo em si, ou que somos muito mais arrogantes ao acharmos que somos mais importantes do que uma Ferrari e, exatamente por isso, dignos de termos uma marca e ela não. O problema em tudo isso não é a arrogância ou qual a melhor escolha, mas porque temos de fazer essa escolha. Melhor: porque eu tenho que me comparar a uma Ferrari?

Nunca vi Ferrari comendo. Nunca vi Ferrari desenhando. Nunca vi Ferrari rindo... Já vi Ferrari correndo (nos filmes). Nunca vi Ferrari escrevendo textos, ensinando a jogar bola, brincando com criança, tocando violão, cantando, compondo músicas, dando um beijo, amando, "praticando amor", tomando sol ou pensando se faria ou não uma tatuagem... Será que sou tão bom quanto uma? Pergunta ridícula e sem sentido...

Nunca vi Ferrari sendo religiosa, cumprindo deveres morais, participando de política. Já vi carregando "gente importante" para lá e para cá, mas, além disso... Nada. Infelizmente, de novo, é difícil conceber a preferência pelo nosso corpo ao invés da Ferrari. Porque a Ferrari custa um preço, nosso corpo não.

Na Fé, por exemplo, porque é tão difícil aceitar uma relação que seja graciosa, "de graça", pois tem que ter um "preço". O corpo dado não custa nada, mas 30 moedas de prata podem resolver alguns problemas...

Nessas horas eu entendo como é "inconcebível" a possibilidade de vida eterna: ela não tem preço, não tem começo e nem fim. Não está limitada a um número, por maior que ele seja. Por isso não se cobra por ela (não tem moeda que pague). Por isso ela é rejeitada... Melhor é a outra vida, aquela que custa, que é danosa e infinitamente delimitada: uns podem ter e outros não. Ela não faz nada além de morrer, mas isso só alguns conseguem... Tipo uma Ferrari.








Gratis i Kristus