segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

"O mundo jaz no maligno"

Em um de seus sermões, Padre Antônio Vieira conta uma história, um mito, dos tempos de Alexandre, quando este estava navegando pelo Egeu para conquistar e pilhar algumas ilhas. A história é mais ou menos a seguinte: "enquanto Alexandre seguia pelo mar, encontrou uma embarcação pirata. Por ser um imperador moralista e exigente, cercou o tal barco, rendeu a tripulação e começou a discursar para o comandante corsário. Um sermão sobre certo e errado. Disse ao comandante que sua prática era ilícita, errada, repugnante e proibida em seu império. Em resposta, o pirata disse:

- Eu roubo pescadores e pequenas embarcações e sou considerado ladrão, pirata. Você invade cidades, reinos e nações e é imperador. Então essa é a sentença: quem rouba pouco é pirata, e quem rouba muito é Alexandre."

Desse mito de Alexandre podemos tirar várias lições e reflexões. Mas o que me importa neste texto é uma delas, a "injustiça" do mundo. A inversão de proporções de quem rouba pouco e muito com os títulos herdados da prática, pirata e imperador, refletem isso que chamamos de injustiça do mundo. Como é possível existir isso? Está errado!

Essa chamada "injustiça" é vista pelos cristãos como uma perseguição do "Inimigo" (diabo, demônio, satã, potestades do mal, anticristo e etc) que está em constante guerra com o Divino (que já falou que é vitorioso e onipotente, mas continuam a insistir que há guerra) e que consegue controlar o mundo, e tudo baseado no "mundo jaz no maligno", trecho bíblico que é somado a outros para garantir essa idéia de perseguição de todo o mundo aos cristãos por estes serem ... cristãos, logo inimigos do "Inimigo" (já expliquei o que é isso).

O problema dessa lógica genial é que não cristãos, aliás, a maioria, também sofrem com essas "injustiças" do mundo, e como fica? Bom, óbvio, a explicação clássica e tradicional é porque estes não são filhos de Deus, cristãos, nascidos de novo. Quer dizer, cristão se ferra por causa da perseguição do "Inimigo" porque tem a Deus, e não cristão se ferra por não ter a Deus, mas sem sofrer a perseguição do Inimigo. Hummmmmm.... Então, afinal, todos se ferram. Mas porque? Qual o sentido da existência dessa "injustiça"? A resolução está na base da explicação cristã, "o mundo jaz no maligno", mas, quem, o que, ou qual, seria o maligno dessa história?

Agora sim, tentemos enxergar de onde vem essa "injustiça". Se vem de um maligno, que é contrário a Deus, temos que compreender qual o objetivo desse maligno, o que o torna tão contrário a Deus que o próprio Deus o rejeita. Jesus, tido na fé como a encarnação e plena imagem de Deus, disse uma vez que o contrário do ódio é o amor, e o contrário do amor, é a indiferença. A melhor explicação para quem é Deus é dizer que "Deus é amor", o que não diz muito, porque explicar amor também não é tarefa simples. Mas pegando o gancho de que o contrário do amor é a indiferença, o máximo de contrariedade de Deus, é o indiferente. O maligno nessa história então não seria o "Inimigo", mas a indiferença.

Para quem vive no mundo, o mundo é indiferente. Não importa quem você seja, como seja, de onde seja ou a quem siga, você é mais um ser vivente no planeta. Tudo é indiferente. A aleatoriedade da vida, o chamado "acaso", é indiferente a todos. Coisas acontecem. Nesse ponto encontramos o máximo da distância de Deus, "seja frio ou quente, pois morno, vomitar-te-ei da minha boca". A indiferença, a independência de tudo, a vida vivida sem considerar o outro ou as outras coisas, indiferente a tudo, é o maligno. As "coisas do mundo" tão rejeitadas na bíblia, são coisas indiferentes que levam a indiferença, a uma vida indiferente a tudo; dor, amor, alegria, tristeza, vida, morte, sorriso, choro... indiferentes.

O sal da terra e luz do mundo é um movimento de diferença em um mundo indiferente. Fazemos diferença frente a indiferença. E quando é dito que haveria perseguição do mundo, ódio do por parte do mundo, não é porque os cristãos sofrem por serem filhos de Deus e irem a igreja, mas porque há um empurrão na indiferença, esta é tocada e gera um movimento contra ou a favor. Mas se há este movimento, significa que a função de diferença no mundo está sendo cumprida. O marco não é a perseguição em si, mas as reações geradas ao movimento contra essa indiferença.

Gandhi, Martin Luther King, Rosa Parks, Madre Teresa, Padre Antônio Vieira, Paulo de Tarso, Jesus de Nazaré, Henri Nowen, Rob Bell e muitos outros que se incluem em Hebreus 11, compreenderam e movimentaram-se contra essa indiferença. Diferente das pregações cristãs de que o mundo nos persegue por isso temos que nos enclausurar dentro de quatro paredes para adorar a Deus e viver no nosso mundinho excluído do mundo, ou de que devemos buscar o que é de nosso direito e o resto que se exploda, que são pregações que incentivam e proclamam o maligno da indiferença, devemos nos preocupar em pregar e preparar uma geração de cristãos que vivam contra isso e a favor de um movimento diferente, que incomode cuidando e amando aos outros.

Hoje fala-se muito em um reavivamento da igreja, um novo crescimento pentecostal e sei la mais o que, que faz com que pessoas escondam-se mais ainda dentro das igrejas para sentir uma transi religiosa e achar que isso é seguir a Deus, isso é um assunto para outro texto, mas, aproveitando a brecha, um avivamento seria levar a sério a amar ao próximo e derrubar barreiras entrepostas pela indiferença entre o "mundo secular" e o "mundo cristão" e começar a fazer valer uma reação pentecostal de Deus, para sermos como cristo e tenhamos em nós um Espírito Santo consolador, que console outros através de nossas vidas, que faça diferença frente a indiferença em nossas caminhadas cristãs. Um REAVIVAMENTO de verdade, que gera VIDA, e não mais indiferença.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Blasé

Ontem, na porta da minha casa praticamente, um vizinho meu foi ao prédio onde mora a ex-mulher (ela não estava em casa), subiu para o apartamento com o pretexto de levar seu filho de 5 anos para tomar sol e ao invés de passear com o garoto, levou-o até o terraço do edifício, jogou o menino e depois saltou. O motivo? Se vingar da mulher.

Na minha ingênua cabeça de um "otimista da humanidade", um cristão que ainda espera encontrar um fôlego de vida numa carne de homem fria e morta, não cabe uma atitude dessa. Não há espaço para compreender o porque matar o filho e depois cometer suicídio por vingança. Em seus estudos, Durkheim trabalha com vários tipos de suicídio, analisa a relação destes com os vínculos sociais de cada indivíduo. Mas em sua teoria, também comenta um tipo de cidadão diferenciado, apelidado de cidadão "blasé", e é dele que quero falar.

Durkheim ao analisar as condições dos laços sociais na sociedade, elabora e percebe um tipo de indivíduo característico da sociedade, na época, emergente, a Modernidade. Esse indivíduo era tão independente, auto-suficiente, que não necessitava de estreitos ou fortes laços sociais. Era capaz de andar na rua sem necessariamente conhecer os outros que andavam a seu lado. Morar numa casa sem necessariamente saber quem são seus vizinhos. Fazer compras sem precisar saber quem vendia os produtos ou quem o produzia. Tudo para este era tão automático, prático, simples, que sua vida era autônoma, independente e segura. Nenhum interesse por novidade, por confronto, pelo outro. Uma total indiferença frente a sociedade.

Esta construção de existência, indiferente, dá toda a impressão de segurança e poder ao indivíduo. E agora, da maneira Bruno Reikdal de pensar (brunística), quando essa ilusão se esvai e rui, a ânsia de necessidade por recuperar esse poder que dá segurança, empurra o indivíduo ao máximo do egoísmo, egocentrismo, a indifenrença. Tamanho ponto extremo de indiferença, que nada a sua volta importa, o único foco é retornar para o estado blasé de segurança.

Eu só consigo compreender essa tragédia que aconteceu na frente da minha casa percebendo que este meu vizinho, o exemplo de indivíduo moderno, científico, que goza do individualismo e da ciência produtora de tecnologias práticas, simples que tornam a vida autônoma e automática, o cidadão blasé, tomou esta atitude quando sua ilusão de controle e segurança caiu a 5 meses atrás. Separou-se da mulher. A ânsia egoísta e egocentrista de assumir o poder que antes achava que tinha o levaram ao ato extremo. Um caso por enquanto ainda raro e chocante, mas com o tipo de construção de vida e de laços sociais que temos e reproduzimos, o contingente blasé dentro de uma sociedade tende a aumentar. O máximo do egoísmo, em que podemos fazer tudo sozinho, dentro de nossas casas, quartos, camas, sem buscarmos conflitos, fugindo do contato e do confronto com o diferente, com o outro, com a sociedade, do relacionamento, leva o próximo passo a ser em falso no ar a uma altura de um edifício.

Puxando para minha veia religiosa, quando Cristo diz que o contrário do ódio é o amor, e o contrário do amor é a indiferença, tem, como sempre, aliás, toda eternidade literalmente, razão. Quanto menor o vínculo social, os laços mais fracos, maior a propensão de existir cidadãos blasé, uma sociedade muito mais indiferente e impessoal, não produtora de amor, mas de seu contrário. Quando trabalhamos e pregamos o Reino de Deus, que é um reino diferente dos reinos deste mundo, é uma pregação de um Reino "diferente", amoroso, não indiferente. No Reino de Deus há contato e divergências entre seus cidadãos, porque é preferível termos certeza de que não possuímos controle e segurança em tudo o que falamos, acreditamos, vivemos e pregamos, do que a ilusão de uma segurança e poder absolutos. Pois estes, estão apenas com um, Deus, e a dúvida, a incerteza e a diferença, com nós, humanos. Mas é disso que nos nasce uma esperança e uma vontade de viver, não porque nos iludimos e somos indiferentes com os outros, mas porque cremos em nós e nos outros, amamos uns aos outros. Temos esperança de que através deste Deus é que somos um. Temos esperança de vida e queremos nos encostar no próximo, pois precisamos contar as boas novas. Jesus Cristo viveu, morreu e ressuscitou por nós, não é necessário que tenhamos mais controle de tudo e tenhamos medo do mundo, pois Ele venceu o mundo. Tenhamos bom ânimo e deixemos nossas indiferenças de lado.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A Letra mata

Existem leis e mais leis. Umas são seguidas, algumas nem tanto, umas conhecidas e outras nem se sabe da existência (mas existem). No Brasil dizemos as vezes: "Esta lei não pegou", quando ela existe, todos tem ciência, mas ninguém a segue. Se há uma lei, uma regra, sujeita a punição, que exige uma organização, mas ninguém a cumpre, de que vale a lei? Simples pedaço de papel burocrático, lido, assinado, promulgado e vazio, sem qualquer valor. O que diferencia entre este e o papel higiênico é que o segundo ainda é utilizado para uma finalidade, enquanto o primeiro apenas ocupa espaço numa pasta.

Ouvi histórias de pessoas que tentaram cumprir a risca todas as leis da sagrada Bíblia, que são mais ou menos umas 700. Umas enlouqueceram, outras se enfureceram e algumas chegaram numa brilhante conclusão: é impossível cumprir literalmente todas estas leis. Sem fazer isso e sem necessitar de todo esse esforço também cheguei a essa brilhante conclusão, não contarei como nem quais foram os meus passos, mas argumentarei no intuito de tornar os pedaços de papel (ou de pedra) onde foram escritos os mandamentos e leis bíblicas, simplesmente pedaços de papel e de pedra, não necessários, não temíveis, não como leis e mandamentos que enlouquecem, enfurecem ou nos levam àquela tal brilhante conclusão.

Acho muito interessante percebermos as reações de Jesus às pressões da Lei. Em muitos textos Ele aparece dizendo "a Lei de Moisés diz... Porém eu vos digo...", logo, coloca-se acima de toda e qualquer Lei. Se Jesus, chamado o Cristo, é a plena Revelação de Deus, como prega o cristianismo, que diversas vezes parece ser mais ortodoxo do que um judaísmo ortodoxo, Ele deve ser a chave para toda e qualquer leitura Bíblica, já que esta também é considerada pelo próprio cristianismo como a Palavra de Deus. Se Deus não se contradiz, é o mesmo ontem, hoje e para todo o sempre (amém), e o próprio Deus é Cristo, a Palavra viva, pura e correta é a de Cristo. Nisto, o pedaço de papel (ou de pedra) é subjugado e cai para baixo de Jesus que é a Palavra encarnada ("o Logus se fez carne e habitou entre nós").

Continuando nesse pensamento, quando Jesus é questionado sobre qual o maior mandamento, sua resposta é "o amor". A base de todo mandamento é o amor, e ao dizermos a nossa melhor definição de Deus, "Deus é amor", toda a base da lei então é Deus. Se Deus é pleno em Jesus, ou Jesus é a plena Revelação de Deus, toda a lei está baseada em Jesus. Ele é a Lei. E isso retorna ao sentido de que ele deve ser a chave para toda e qualquer leitura bíblica, da Palavra de Deus.

Paulo, na segunda carta aos Coríntios, diz o seguinte : "Estamos novamente começando a nos recomendar a nós mesmos? Será que precisamos, como alguns, de cartas e de recomendações para vocês ou da parte de vocês? Vocês mesmos são nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos. Vocês demonstram que são uma carta de Cristo, resultado do nosso ministério, escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de corações humanos. Temos tal confiança diante de Deus, por meio de Cristo. Não que possamos reivindicar qualquer coisa com base em nossos próprios méritos, mas a nossa capacidade vem de Deus. Ele nos capacitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivifica." (3: 1-6). Claramente, apóstolo de Cristo Jesus, Paulo, pela vontade de Deus, explica e repreende a letra, a necessidade de um código penal sagrado ou divino para a sequência da vida. A nova aliança, ou a carta que está escrita em nossos corações (não em tábuas de pedra,) é baseada no Espírito, Espírito de Cristo, o amor (Deus é amor).

Nessa nova aliança, da qual somos ministros e as leis (uma única, o amor) escritas em nossos corações, somos livres de pedras e letras ("Para liberdade Cristo nos libertou", Paulo na carta aos Gálatas), pregamos uma vida não dependente de punições, leis e regras, mas somos organizados pelo exercício do Espírito de Cristo ("exerçam sua cidadania de maneira digna do evangelho de Cristo para que assim... permaneçam num só espírito", Paulo na carta aos Filipenses) o exercício do amor. O que deve guiar a nossa vida não são regras ou mandamentos, mas Cristo. Que como Paulo, já que estou neste momento utilizando exemplos dele, sejamos imitadores de Cristo, e esta seja nossa lei, o amor. Através de nós não deve ser produzido morte, mas ressurreição, pois nossa pregação não é de um Cristo morto, mas ressurreto. Já que a letra mata, nossa pregação não está nela, mas no Espírito, que vivifica, ressuscita, traz vida. Nossa pregação DEVE gerar vida.

Em Josué 1;2, a Bíblia diz que Deus se dirige a Josué: "O meu servo Moisés está morto. Agora você e todo povo de Israel se preparem para atravessar o rio Jordão e entrar na terra que prometi a vocês.". Para mim, numa interpretação metafórica, "alusionada", Moisés morto, morre com ele a Lei. Meu passo agora é atravessar esse rio que divide a minha escravidão da minha liberdade e caminhar para aquilo que me fora prometido, "um Filho se nos deu", o Messias prometido, o Cordeiro que livraria o povo, Jesus Cristo o Senhor, a plena Revelação de Deus, a plena Revelação do amor. Atravesso esse rio, continuo minha trilha independente de uma letra que mata, mas livre e ressurreto em Jesus, o Pão da Vida. Essa é a mensagem, ao invés de uma série de regras e tradições, leis e costumes, uma vida de verdade, uma vida vivida e livre, dependente da liberdade, baseada em Cristo, guiada no amor.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Um salto atrás

"Dar um passo atrás para poder dar dois a frente", foi a frase do camarada Lênin quando implantou o programa das NEP's na antiga e já finda União Soviética. No campo religioso, a área que me interessa, essa frase é seguida a risca. Na verdade, refletindo um pouco, é uma variação dessa frase que se segue, e não ela em si: "Dar dois passos para trás para poder dar um a frente". (imagine uma musiquinha simples ao fundo e uma voz grave e pausada lendo-a).

Seguindo essa filosofia "lusitana" (brincadeirinha queridos amigos portugueses, é só uma questão humorística ok?!) é inevitável o atraso da religião e de seus dogmas. O que era pecado séculos depois deixa de o ser, o errado torna-se certo, o que nos "bons tempos" a religião proibia, posteriormente pratica, e estas teimosias e preconceitos pegam tanto o chamado senso comum (as crendices populares) quanto a ciência, política, filosofia e etc. Desde do pecado da "Terra ser redonda" esse tipo de atitude é perceptível.

Acho que as situações mais cômicas são nos momentos de transição, em que a religião olha para o mundo e diz: - Tomaremos agora uma atitude revolucionária, seremos mais "pra frentex". Ou então: - Deu na telha uma idéia batuta e vamos pô-la em prática, broto.

Hoje, crendo ser revolucionária e inovadora, a Teologia apresenta soluções para o mundo e para a religião, como por exemplo dois segmentos divergentes e distintos: a Teologia da Libertação e a Teologia da Prosperidade. Gedeon Freire faz a seguinte caricatura destes dois tipos de pensamento:
"Se um fiel entrasse numa estrebaria e nela estivessem José, Maria e o menino Jesus, o fiel choraria, se emocionaria e daria todo valor ao momento. Enquanto que, se um teólogo da Teologia da Libertação chegasse à estrebaria onde estavam José e Maria com o menino Jesus, não veria José, Maria nem o menino Jesus, mas pobres que precisam de um novo Estado e prática econômica. Faria uma revolução, redividiria a estrebaria e criaria uma corporação comunitária. Já se um teólogo da Teologia da Prosperidade chegasse nesta estrebaria, não veria nada além do incenso, ouro e mirra."

Nós, cristãos críticos e estudiosos da religião cristã, olhamos para a Teologia da Prosperidade e a relacionamos como um movimento atual capitalista, que segue os moldes dessa nossa sociedade capitalista. Mas não é bem assim, os padrões e regras seguidas por essa teologia são padrões Mercantilistas do século XV, quando a usura, base do capitalismo, era ainda um embrião e PROIBIDA pela igreja. A teologia da prosperidade também é atrasada e desatualizada (uns 500 anos). As bases do Mercantilismo, também chamado de pré-capitalismo, são o intervencionismo do Estado na economia (que no caso da religião é a intervenção divina na vida), o metalismo, que dizia que a quantidade de metais preciosos é que demonstravam a riqueza do Estado ou do burguês (como Deus é o Estado dono do ouro e da prata, a quantidade de bens acumulados pelo fiel demonstra sua riqueza de fé e proximidade com o divino) e a balança comercial favorável (o crente tem que ganhar mais do que dá, logo todo sacrifício ou oferta feita na igreja é visando receber o dobro ou 100 vezes mais). Bom, teria também a prática alfandegária, taxas sobre o produto importado, mas eu diria que esta seria ou o preço pago por pecar e/ou "comprar produtos do capeta", ou então a igreja em si já é uma alfândega entre Deus e os homens.

Quer dizer, esse modo de agir e viver hoje adotado pela religião é mais do que atrasado, é antiquado e medieval. Mas não pensemos que a solução seria então o outro lado, a Teologia da Libertação. Revolucionária e inovadora ela com certeza não é. A Teologia da Libertação em si é a versão religiosa do socialismo ou comunismo, por anos perseguido e rejeitado pela igreja. Propôr mudanças em teorias econômicas, crer na igualdade de meios de produção, a não existência do capitalismo, o repúdio ao "Burguês", são idéias e visões do comunismo já falido. Décadas depois da ruína da experiência socialista, da queda do muro de Berlim, fim da União Soviética (do camarada Lênin que fora meu mencionado na introdução) a religião enfim adere a este propósito. "Dar dois passos para trás para poder dar um a frente".

A função deste texto não é resolver os problemas por ele apresentados (aliás, teriam muitos outros exemplos, mas a minha paciência de escrever e a tua de ler já se esgotaram) mas sim o problema a que ele se propõe, ao atraso da religião. Como cristãos, nossa fé tem que ser eterna (pois cremos e pregamos isso) e recorrente. Nossa fé tem que dar esperança e fazer sentido para a nossa geração. Nossa pregação tem que atingir os anseios do nosso tempo. Viver séculos atrasado não melhora o mundo, mas prova a nossa incapacidade de vencer Nietszche e sua afirmação "Deus está morto". Viver em atraso apenas cria uma barreira entre o diálogo da contemporaneidade com o trascendental. Viver com um passo sempre atrás não só não cumpre com o discurso e pregações revolucionários de Cristo para seu tempo, assim como estes para a eternidade. Ao invés de voarmos e subirmos aos céus do conhecimento e da consciência humana, sem nem necessitar dar passos, mas sempre acompanhar o tempo.

Hoje estamos um salto atrás. Devemos é nos ocupar e preocupar com a realidade de hoje. Os temas e a maneira de abordá-los tem que ser de acordo com a consciência de humanidade que vivemos, e não baseado em preceitos da Antiguidade ou conceitos da Modernidade, pois até esta ja é utlrapassada. Temos que reconstruir nossa cosmovisão. O caminho para isso? Nos libertar das antiguidades, não do passado, não jogar a história fora, mas analisá-la e aprender com o conjunto dos fatos e o conjunto humano a não parar e sempre avançar em direção a eternidade.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Mensagem

O que transforma o mundo, gira o moinho, movimenta a roda, a força motriz ... é muito simples. Caracteres unidos que formam sílabas, e estas unidas formam palavras, que juntas formam a frase que dá ordem à ordem e vida à vida. Tão simples. "Amar ao próximo". Seja este quem for, o que for, como for ou sei lá o que for. Simples.

Compreender que baseado nesta frase milhares de pessoas morreram, padeceram, sofreram, viveram e até ressuscitaram, é loucura. Loucura oriunda da tremenda simplicidade. Como é possível isto, e apenas isto, mover um homem em direção a uma cruz? Como isto, e apenas isto, é capaz de fazer com que qualquer pessoa crie coragem de tomar uma cruz e carregá-la até o fim? Como isto, e apenas isto, é capaz de gerar Gandhi's, Madres Teresa's de Calcutá, Nelsons Mandela, Martin's Luther King e por aí vai... ?

Uma simples mensagem. Simples, que de tão simples é imcompreensível. Torna-se "loucura para gregos e escândalo para judeus". Uma mensagem louca. Uma mensagem (mais uma vez) simples. Apenas quem não estiver disposto a enxergar a simplicidade não a vê. "Amar ao próximo". Esta é a mensagem.

domingo, 18 de outubro de 2009

Eu, o Super-homem, Nietzsche e Deus

Se você gosta de quadrinhos, quando ouve o nome Super-homem lembra automaticamente do herói das revistinhas, filmes e seriados de televisão. Já se você é mais chegado a filosofia, lembra-se de Friedrich Nietzsche e sua metáfora do Super-homem, no livro "Assim falou Zaratustra". E se você é como eu, relembra-se dos dois. Nas histórias em quadrinhos, o Super-homem é um extra-terrestre de forma humana que tem uma força sobre humana, voa, possui visão de calor e uma incrível velocidade. Nossos olhos brilham e a imaginação vai longe ao visualizarmos as cenas, possibilidades e situações que desafiam a física e inspiram lampejos heróicos em nossas vidas. Por alguma razão, não é muito diferente de quando lemos Nietzsche, e é nessa mesa que quero cear e analisar o Super-homem.

Principalmente por ter nascido em um berço cristão, durante toda a minha vida ouvi críticas (mesmo que rápidas e seguidas de uma súbita mudança de assunto) a filosofia pós-moderna de Friedrich Nietzsche. "Ele era louco...", "Um depressivo...", "Desencantado...", e claro, "Quase o próprio anticristo...". Essas frases permeavam as efêmeras conversas e discursos que ouvia sobre este pensador e seus pensamentos. Cresci e comecei a conhecer mais deste obscuro ser e seu perfil.

Depois de entrar na faculdade, ler mais, ter acesso a comentários diversos sobre o "amor a sabedoria" e um processo diferenciado na minha formação cristã (o fim do não oficial INDEX evangélico e a possibilidade de estudar, trabalhar e incentivar meus conhecimentos) encontrei-me com o Super-homem niestzsheano. Ouvi a respeito de uma utopia de Nietzsche, um devaneio, aliás, apenas um devaneio, uma crítica social, crítica religiosa e crítica a própria mente de Nietzsche, todas indagações e análises sobre o Super-homem de Nietzsche. Para falar melhor desta caricatura ou personagem, peço licença ao meu amigo Friedrich (que Deus o tenha) e àqueles que obtém os direitos autorais dos textos de Nietzsche (se é que existe essa possibilidade ainda, já que é um patrimônio da humanidade) para citar partes do trecho de apresentação de nosso herói:

"Eu vos anuncio o Super-homem... Que é o macaco para o homem? Uma zombaria ou uma dolorosa vergonha.
Pois é o mesmo que deve ser o homem para o Super-homem: um irrisão ou uma dolorosa vergonha.
Percorrestes o caminho que medeia o verme ao homem, e ainda em vós resta muito do verme. Noutro tempo fostes macacos, e hoje o homem é ainda mais macaco que todos os macacos...
Eu vos apresento o Super-homem! O Super-homem é o sentido da terra...
A hora que digais: 'Que importa minha felicidade! É pobreza, imundície e conformidade lastimosa. A minha felicidade, porém, deveria justificar a própria existência!'...
A hora em que digais: 'Que importa minha justiça?! Não vejo que eu seja fogo e carvão! O justo, porém, é fogo e carvão!'...
O que é de grande valor no homem é que ele seja uma ponte e não um fim; o que se pode amar no homem é ele ser uma passagem e um ocaso.
Eu só amo aqueles que sabem viver se extinguindo, porque são esses os que atravessam de um lado para outro lado...
Amo os que não procuram por detrás das estrelas uma razão para sucumbir e oferecer-se em sacrifício, mas se sacrificam pela terra, para que a terra pertença um dia ao Super-homem.
Amo o que vive para conhecer, e que quer conhecer, para que um dia viva o Super-homem...
Amo o que não reserva para si uma gota de seu espírito, mas quer ser inteiramente o espírito de sua virtude, porque assim atravessa a ponte como espírito.
Amo o que faz da sua virtude a sua tendência e o seu destino, pois assim, por sua virtude, quererá viver ainda e não viver mais...
Amo o que prodigaliza sua alma, o que não quer receber agradecimentos nem restitui, porque dá sempre e não quer se poupar...
Amo o que justifica os homens vindouros e redime os passados, porque quer sucumbir ante os presentes...
Amo aquele cuja alma é profunda, mesmo quando ferida, e pode ser aniquilada por um leve acidente, porque assim de bom grado passará a ponte.
Amo aquele cuja alma transborda, a ponto de se esquecer de si mesmo, e todas as coisas estão nele, porque assim todas as coisas se farão para seu ocaso.
Amo o que tem espírito e coração livres, porque assim sua cabeça apenas serve de entranhas ao seu coração, mas o seu coração o leva a sucumbir.
Amo todos os que são como gotas pesadas que caem uma a uma da nuvem escura suspensa sobre os homens; anunciam o relâmpago próximo e perecem como anunciadores.
Vede: eu sou um anunciador do raio e uma pesada gota procedente da nuvem; mas esse raio chama-se Super-homem."

Fantástica a imagem do Super-homem nietzscheano. Não entendo o porque do medo cristão desta figura magnífica. Assim como não entendo também a mitificação filosófica deste ser. Paremos para pensar; a análise de Nietzsche e sua figura do Super-homem não é nada além da caricatura do "Ser Humano". Todas as prerrogativas e anseios, assim como atitudes características deste Super-homem, são próprias e percebidas como de um ser humano. A diferença é que Nietzsche distingue entre o humano e o homem. Separa a relação muitas vezes vista como intrínscica entre o homo sapiens e o humano. Nietzshce socorre das prerrogativas humanas e as coloca num patamar acima das animais, ou animalescas, sem ao menos citar estas. O Super-homem é o puro homem (no sentido de ser humano, pertencente e participante de sua humanidade).

Creio que a aversão religiosa a esta filosofia seja porque ela critica não apenas a instituição e os dogmas, mas inteligentemente e com brilhantismo a relação do homem com Deus ou divindade e a própria existência Deste. Entretanto, na minha fé, percebo que meu amigo Friedrich (que Deus o tenha) cegou-se ou foi cegado da maior pregação ou mensagem do Evangelho, a boa nova de sermos imitadores ou parecidos com Cristo. Jesus de Nazaré, que para mim a plena revelação de Deus, e para outros simples filho de pai desconhecido de uma cidadezinha microscópica do interior de uma nação que nem nação era direito, foi e agiu como o mais puro ser humano. Sua marca e diferença foi sua humanidade, exercida com plenitude e maestria.

Logo, se meu objetivo é ser mais parecido com Cristo, meu objetivo é ser mais humano. Investindo mais na lógica, se Jesus é a plena revelação de Deus, quanto mais humano eu sou, maior minha sintonia com Deus. Quanto mais humano, mais me aproximo da Imago Dei, a boa e velha imagem e semelhança de Deus. Quanto mais simples e puro for em minha humanidade, mais Super-homem sou, mais Cristo sou, mais próximo de Deus estou, mais "Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim".

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Música - Ser ser humano

Acostumados a viver com angústia e dor
Capacitados a matar o nosso amor
Habituados a congelar os corações
Armados pra acertar com flechas os tendõe

Não damos valor ao sangue que já derramamos
Nos esquecemos de como é ser ser humano
Nos perdemos em nós e deixamos de amar
Pois chegou a hora de recomeçar

Me enterrar em mim tentar renascer pros outros
Dar os primeiros passos, criar meu mundo novo
Descobrir o sono, o sonho e o ato de sonhar
E assim poderemos ter corações prontos a amar

Habituados a congelar os corações
Armados pra acertar com flechas os tendões
Reabrir a ferida que com o tempo já se foi
Estreitar o abismo entre o antes e o depois

Não damos valor ao sangue que já derramamos
Nos esquecemos de como é ser ser humano
Nos perdemos em nós e deixamos de amar
Pois chegou a hora de recomeçar

Me enterrar em mim tentar renascer pros outros
Dar os primeiros passos, criar meu mundo novo
Descobrir o sono, o sonho e o ato de sonhar
E assim poderemos ter corações prontos a amar

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Música - Quebra-cabeça

Por um lado foi bom demais, me encontrei e tive paz
Mas nem tudo correu como agente espera
A vida te trouxe pra mim, por um tempo fui feliz
Mas nem tudo corre como agente quer

Quebra-cabeça que não pode quebrar
Formamos uma peça antes de separar
Quebra-cabeça que não quero lembrar
Desapareça de mim quando dispersar!

Agente se fez assim, metade ficou pra mim
E outra metade perdi pra sempre

Música - Roda

Meu bem meu amor terei que escolher
Se ainda posso andar com você
Se o tênis que comprei terei que dar
Se a música do Bruno é boa de escutar

Pra fazer parte dessa tribo o que se faz?
Nos dê a sua cara e gostos musicais
Ande como agente anda, ande como agente quer
Esqueça sua vida e largue logo essa mulher

Agente inventa moda e só depois que agente vê
Ninguém reinventa a roda
É a roda que faz você


Meu bem meu amor terei que escolher
Se gosto de skate, cachorro, homem ou ET
Terei que mudar o jeito de falar
Usar boné ou uma toca, querer ser rei ou POP star

Pra fazer parte dessa tribo o que se faz?
Nos dê a sua cara e gostos musicais
Ande como agente anda, ande como agente quer
Esqueça sua vida e largue logo essa mulher

Agente inventa moda e só depois que agente vê
Ninguém reinventa a roda
É a roda que faz você

De hoje em diante pare por favor
Seja você mesmo com quem ande ou onde for
Esqueça sua roupa, ou o jeito de vestir
Esqueça a música ou a hora de dormir

Agente inventa moda e só depois que agente vê
Ninguém reinventa a roda
É a roda que faz você

Música - A2

Dois de Fevereiro
A lua ainda brilha
Por cima das nuvens de chuva
Dois de Fevereiro
Duas pessoas num barzinho
Embaladas ao som de uma dupla
Dois de Fevereiro
Um dia pra ficar, um dia pra guardar
Pra lembrar de nós
Dois, de Fevereiro
Uma data preparada
Mais que reservada, pro nosso encontro a...

... Há dois corpos no mesmo espaço
Duas linhas no mesmo traço
Duas vidas, nenhuma dúvida
Todo dia eu ouço essa música

Pra lembrar de nós dois um encontro a dois
Pra lembrar de nós dois eu ouço o som A2

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Preparado para o futuro

Numa revisão rápida de vida, já que não vivi muito até hoje, percebi que fui preparado de uma maneira estranha para meu futuro. Frases do tipo "A vinda de Jesus está próxima", "O mundo está acabando", "Caminhamos para o caos", "As desgraças só aumentam e isso prova que é chegada a hora", mostram que estou sendo preparado para encarar o fim do mundo. "Deixados para trás", "O Apocalipse" e coisas do tipo, rondaram o meio religioso, que teoricamente deveria gerar em mim esperança, na tentativa de me tornar apto a enxergar tudo de maneira passageira e as contingências da vida como normais independentes de minhas ações, porque eu "não sou um cidadão desse mundo".

Dentro da Igreja, eu, assim como minha geração cristã, fui programado para não esperar qualquer coisa do futuro. As desigualdades são assim porque esse mundo não tem jeito, pessoas morrem e não temos o que fazer, bom mesmo só será no "Céu", não são necessários movimentos porque Cristo está voltando, daqui pra frente só piora e o resultado de tudo isso sou eu feliz alegre e contente, esperando o fim de tudo para alcançar, enfim (que ironia), a paz. Fui treinado para ser pessimista. Fui treinado para não agir. Fui treinado para torcer que tudo morra logo.

Com a ineficiência da mudança, uma utopia para não para um futuro, mas para uma eternidade, e um futuro já fadado a desgraça, tudo torna-se apático e sem sentido. A solução então é buscar um resquício de esperança em algum outro lugar. Fui para a escola. Na quarta série comecei a estudar os indígenas em "Estudos Sociais", e descobri que os índios perderam as casas, a terra, foram roubados de suas tradições e vidas e dali pra frente tudo ficaria mais difícil para eles. A vida foi andando, fui passando de séries e conheci o estudo do meio-ambiente. Fiquei sabendo que nós produzimos muito mais lixo do que podemos estocar. A Mata Atlântica foi dizimada. A camada de Ozônio tem um buraco. Produzimos muita poluição. A Amazônia corre risco. A água está acabando e num futuro próximo passaremos sede. Já era. Tudo se esvairá.

Quando entrei no colegial e comecei a estudar economia, tive contato com as disparidades do mundo financeiro. Meu professor me mostrou como analisar uma pirâmide etária e descobri que quando me aposentasse, não teriam jovens o suficiente para pagar minha aposentadoria. Seria uma geração grande de velhos e pequena de jovens. Procurei soluções e apenas encontrei utopias distantes e hipócritas que da mesma maneira enxergavam um futuro sem soluções.

Tudo indica para um futuro ingrato, desgraçado e sem saída. Vivo na geração do pessimismo. Seja na Igreja, seja na escola, no colégio, na faculdade, em qualquer lugar, ninguém espera algo de bom para o futuro. O destino já está traçado. O fim está próximo. Talvez seja por isso que temos uma vida apática. Sem ideiais, projetos e reações para arrumar as coisas, temos apenas caminhos para aproveitar ao máximo o que resta ou tentar prolongar um pouco a durabilidade da Terra. Fui e sou criticado pelas gerações anteriores por participar de uma geração sem causa. Mas como ter causa com um quadro deste? Preparado para o fim, não se sonha com um novo começo. Nada nunca estará bom, nada nunca será eficaz ou suficiente.

O pessimismo generalizado simplesmente pára o mundo. Num tempo em que há menos guerras, novas tecnologias, poucas batalhas ideológicas, uma consciência de humanidade e de meio-ambiente, não há acordos e ações para resgatar o tempo e o espaço que perdemos até hoje. Porque isso? Porque já vivemos o fim que não chegou e sonhamos com o tempo que já é agora, que está passando desapercebido por causa de nossa cegueira de pessimismo.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A Igreja do Diabo (Adaptação do conto de Machado de Assis)

Certo dia, percebendo que os tempos na humanidade eram outros, os homens tornavam-se cada dia mais céticos, suas histórias perdiam força, seu nome era motivo de chacota, competia-lhe zilhões de apelidos, carregava culpas que não lhe diziam respeito, por toda a história tivera um papel coadjuvante, sofria de demasiada desorganização e as seitas que levavam sua graça nada tinham a ver consigo, o Diabo recebeu uma revelação de seu espírito: "Vou construir uma igreja!". Agora, falando em voz alta para que seus súditos acompanhassem seu novo plano, o Diabo disse:

- Que sacada! Puta idéia fera! Travarei a batalha entre minha Bíblia Endiabrada e a Bíblia Sagrada, serei meu próprio profeta. A palavra de fato será a "Palavra do Diabo", já que falo por mim mesmo. Sem regras, dogmas, ritos e liturgias. Apenas marketing, propagandas, shows e confusão. E enquanto as outras religiões brigam entre si em busca de fiéis, a minha será única e abrangerá a todos. Há muitos modos de afirmar, mas só um de negar tudo.

Dito isto, o Diabo tomou o elevador e subiu até o andar celestial. Foi contar a novidade e desafiar o Ser Supremo. Enquanto ouvia a lira e as harpas que compunham a melodia que saia da caixinha de som do elevador, sua mente não parava de trabalhar:

- Tratarei logo de criar um mantra eletrônico e barulhento que repita bastante meus conceitos e valores sem sentido. Que foda.

Deus recebia um novo membro do Reino dos Céus no instante em que a porta metálica se abriu entre as nuvens, o sininho soou e o Diabo de braços abertos e um semblante cínico e assombrado, acompanhado de um sorriso maroto cheio de graça, disse:

- Fala Deus! Fala Deus!

- Que queres teimoso? respondeu o Todo Poderoso.

- O Senhor já ouviu falar de teu servo Jó? disse o Diabo dando leves risos.

- Brincadeira, brincadeira... era só para relembrar velhos tempos. continuou.

- Não vês que vossos gracejos e sarcasmos de nada valem aqui? respondeu o Senhor.

- Desculpe-me aparecer em hora não muito oportuna, já que estás recebendo o último dos homens que entrará nesta terra... ou melhor, neste Céu.

Com o semblante enfadonho e com o ar de "lá vem", Deus suspirou.

- Explica-te.

- Bom, não vai demorar muito para os céus ficarem vazios por causa do caminho, que é esburacado e mal sinalizado. Mas eu, em contra partida, agora construirei um novíssima rodovia, lisinha, tranquila, de fácil acesso e muito bem divulgada. E resumo isso em 3 palavras: construirei uma igreja. Vim te avisar e abrir o jogo para que não diga que estou trapaceando. É uma boa idéia vai?

- Vieste dizê-la, não legitima-la. advertiu o Senhor.

- Claro. Mas como o Senhor é amoroso e compreensível e tal... Eu vou para a terra e construir a minha Igreja.

- Vai. respondeu o Senhor.

- Quer que eu te avise quando terminar a obra?

- Não, pode ir já.

- Bom, eu não vou depois consolar-te pela derrota.

- Vai Diabo, vai.

Entendendo que o próximo passo do Divino seria expulsá-lo (provavelmente pela segunda vez) do Paraíso, o Diabo pôs-se acelerado para o elevador e dirigiu-se a terra.

Vestido de terno e gravata, em um púpto na forma de um troféu, o Diabo não temeu em assumir sua própria graça e pregar aos homens.

- Sim! Sou o Diabo. Mas fui apresentado a vós de maneira enganosa. Não sou aquele que puxa o pé da criança que não obedece. Não ando na calada da noite a espreita de uma alma culpada e muito menos sou o referente àqueles nomes que ganhei; tinhoso, pé preto, coisa ruim, Satã, chifrudo, coisudo, sombrio, Príncipe das Trevas, Pai da Mentira. Sou quem vos libertou do jugo de escravidão. Dei-lhes opções de escolherem o que quisessem. Livrei-os da monótona vida dependente das regras divinas e ajudei-os a ficarem em pé de igualdade, capazes de decidir por si próprios. Pois agora mostro a vocês o verdadeiro caminho, a religião que trará prosperidade, vida abundante, muito bem aproveitada e vencedora.

Prometia poder, conta bancária próspera, incentivava a ganância, luxúria, inveja e tudo o mais que aguçava o imediatismo humano. Invertia todos os valores. O próximo que seria amado, seria o próximo da fila nos relacionamentos sexuais ou financeiros (na verdade negociantes golpistas que derrubavam um ao outro de maneira igual). A indiferença reinava. Cada um por si, o Diabo com todos. Falava bem, montava shows, workshops, programas de rádio e televisão, só havia suas pregações na internet.

O plano diabólico deu certo. Em poucos anos todas as religiões extinguiram-se. Só existia a Igreja do Diabo. Sua liturgia da negação e dogmas do individualismo imperaram. Sua Bíblia a mais vendida, traduzida a todos os idiomas e seu nome não havia mais quem não conhecesse. A obra estava completa, concretizada e perfeita.

Mas, de andar e rodear a terra, uma descoberta assombrou o Diabo. O mal começou a ganhar espaço em sua religião. Encontrou ele um dia um homem famoso por ser glutão, às escondidas, reservando alguns sábados para jejum. Surpreendido rodou um pouco mais e viu um banqueiro tradicionalmente avarento elevando o salário de seus funcionários sem que ninguém soubesse. Um conhecido mão-leve de jogos de azar e baralho não apenas não roubando, como também devolvendo na calada da noite, sem criar alardes e chamar atenção, em dobro a quantia que roubara de outros. Descobriu céticos rezando em silêncio em seus quartos, prostitutas casando-se de maneira legal e mantendo-se fiéis a seus cônjujes e traficantes criando clínicas secretas.

O Diabo ficou estupefato. Espantado e abismado não sabia onde descansar os pés e repousar a cabeça. Indignara-se. Que se passa? Como isso é possível? Sem muitas opções, correu para o céu descobrir o que estava acontecendo e tirar algumas supostas satisfações.

Deus regava o Jardim Celeste quando o Diabo apareceu e disse:

- Que porra é essa? O que se passa? O que você fez?

Sem ar de superioridade, arrogância, mas, pelo contrário, cheio de complacência e doçura nos olhos, Deus não o interrompeu, não o repreendeu e muito menos triunfou. Apenas disse:

- Nada. Essa é a eterna e indecifrável contradição humana.

Não sou isso, não sou aquilo. Apenas sou.

Dar um tiro no meio é um problema. Beber o bom de todas as águas, retirar a imagem mais bonita de cada quadro, a boa palavra de cada discurso. Isso apenas gera mais dor de cabeça. O isolamento e a incompreensão são quase que inevitáveis.

Os capitalistas me vêem como um comunista, libertário sujo por não concordar com a economia de mercado, buscar o fim da desigualdade e pregar contra a lógica consumista. Já nossos amigos de esquerda me chamam de burguesinho vagabundo por não crer que mudanças políticas e/ou econômicas mudarão o mundo, além de viver com os pés no chão e perceber que não adianta fingir que existe fuga para o sistema no qual estamos inseridos, temos é que aprender as regras do jogo e utilizá-las contra o próprio sistema.

Os brasileiros olham para mim como se eu fosse um projeto de europeu nascido no Brasil por sempre manter-me atento aos processos históricos e tecnológicos que podem ser exemplos a serem seguidos por nós, tropicais. Já os estrangeiros me encaram como um brasileirinho metido a patriótico já que nas conversas sempre comparo meu país a outros e viso o interesse de meus "companheiros".

Os cristãos me chamam de herege por repensar a maneira de ler a bíblia, refletir sobre as nossas relações com o divino e a sã doutrina pregada a tanto tempo. Ao passo que os ateus chacotam da minha religiosidade, me têm como um carola por frequentar a igreja "religiosamente", participar das liturgias e sempre ter uma respostinha cristã na ponta da língua.

Os evangélicos pedem para que eu mude de religião por não participar das rodas, idéias e gostos comuns de meus "irmãos", sem contar a leitura e admiração de livros e interpretações de padres católicos. Enquanto que os católicos não vão com minha cara por não concordar ou não sincronizar com a razão e o sentido de tantos "rituais" e a reza para uma imagem.

Os ecumênicos não compactuam muito comigo por eu não concordar com as práticas religiosas de todos os segmentos, nem achar muito possível que unidas possam pregar e caminhar juntas já que cada uma toma seu caminho e este por sua vez, é sempre diferente. Os não ecumênicos se distanciam de mim por eu respeitar e extrair conceitos de outras religiões livre, leve e solto.

Meu espelho não gosta de mim e me acusa muitas vezes de que é muito feia a minha atitude porque estou em cima do muro. Entretanto, minha consciência me aponta para uma percepção diferente, não fico em cima do muro, eu tomo atitude, tomo a frente de minhas decisões e escolhas, e no fim, bebo o que há de bom em todas as águas, leio a boa palavra dos discursos, retiro as imagens bonitas de cada quadro, dou um tiro no meio e acerto o alvo. Uno o que completa minha humanidade, o que compactua com meus sonhos, e ao invés de tomar a bandeira de um partido, os dogmas de uma religião, a camisa de um time, eu simplesmente sou.

Sou o que? Bruno Reikdal, amante do cristianismo, sonhador de uma sociedade mais justa, andarilho que não voa mas tem os pés no chão, prático, ponderado e segue sua trilha de se tornar de fato um ser humano, enquanto, simultâneamente, tenta humanizar a humanidade que se encruzilha com ele. Um romântico, bobo, que acha que assim conseguirá cumprir consigo mesmo o papel a que se presta.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Música - Deixei o sacrifício

Antes eu vinha pra cá
Pra tentar te encontrar
Afogar a minha Alma
E as lágrimas no altar

Sacrifiquei meu coração
Para que pudesse me ouvir
Qual o sentido disso então
Se eu já te tenho em mim?

Eu não vou mais tentar te conquistar
Tentar mover teu braço, tentar te ganhar
Te tenho em mim e teu amor me basta
Enche meu ser, transborda-me de graça

Sacrifiquei meu coração
Para que pudesse me ouvir
Qual o sentido disso então
Se eu já te tenho em mim?

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Filosofia do conhecimento humano

Da percepção (P) somada a interpretação (I) e estas potencializadas pela abstração (ª), resulta o conhecimento (C).

(P + I)ª = C

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Do seco coração

A seca que assola o Nordeste do Coração, o Deserto do Cárdios, o Sertão da Alma. O chão do espírito rachado, o mormasso da solidão que embassa a vista e borra as douradas dunas de dor.

No meio desse nada, andando contra o vento, um homem vestido de longas vestes. A terra árida clama por água. O homem pára, agaixa, e com o dedo, escreve na areia. Uma gota de lágrima escorre do olho, escapole do rosto, estoura no chão.

Primeiro um filete, depois uma poça e então um turbilhão de água e água, e mais água, e cada vez mais água! Rios de águas que como que vivas jorravam no deserto coração. Era água que não acabava mais...

Jesus chorou, e Dele saiu graça. Do seco sepulcro, ressuscitou um coração. Que como criança, nasceu de novo e vive na plenitude de um Reino Eterno, de valores e virtudes, de um Reino dos Céus.

Que assim sede!

Sede implacável
Sede valente
Sede forte
Sede paciente
Sede insistente
Sede que não quer cessar
Sede que mata, sede no mundo
Mas sede persistente
Pois sede não falta
E nunca cedo, sempre tarde
A sede há de acabar...
Assim espero eu
Que assim sede

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Nesta madrugada

A luminária acesa destaca a escrivaninha no escritório escuro. A silhueta humana aventura-se a escrever. As horas passam, madrugada a dentro, e nada. Nada.

Livros abrindo e fechando, canetas caindo, o batucar do dedo na madeira, o ranger da cadeira giratória. A noite não era de inspiração. Mas um escritor depende de seus textos. Ele insiste. O apagar da borracha, rasgar de páginas, rabiscar do lápis na folha de papel.

Com poucas amassadas, forma-se uma bolinha. Jogada fora, arremessada ao lixo, bate no aro da lata de metal. Como se estivesse em câmera lenta, a bolinha cai. Dois quiques no chão parecem mais duas pancadas em um bumbo. Tudo se congela por um instante...

A voracidade da criatividade entra em cena em um ruído estridente e frenético da mão que conduz o lápis sobre o papel. Quem a procurar encontrará. Quem pedir receberá. O maratonista que não pára chega a seu objetivo. Quem não desiste chega a algum lugar. Quem mantém acesa a chama da esperança aquece seus sonhos e clareia o caminho que leva ao futuro. Quem de fato quer vai atrás. Quem busca escrever um texto e não consegue sair do lugar, escreve este e vai deitar.

domingo, 30 de agosto de 2009

Detalhes da vida

O sol deu o ar da graça. Feixes luminosos atravessaram os vãos da persiana de ferro na janela do quarto branco. Os discos e CD's pendurados na parede refletiram o ambiente. Uma cama desarrumada com seu dono sentado sobre ela respirando profundamente o frescor do novo dia. O silêncio absoluto e tranquilo era quebrado apenas pelo som do respirar e dispersas notas cantadas por passarinhos.

Saindo de casa, a tranquilidade continua. Uma senhora passeia com seu cachorro. O Bar da frente começa a abrir as portas para receber seus fiéis fregueses. O vizinho sai para comprar carvão, enquanto seu cunhado começa a preparar a churrasqueira.

O carro segue pelas ruas praticamente vazias e silenciosas. A trilha sonora parece completar a cena cinematográfica. O asfalto dourado pelo sol, os vidros das casas parecem espelhos que devolvem ao astro reluzente um pouco do ar gracioso que ele trouxera no começo de tudo ao passo que o motorista e o passageiro relaxam apreciando o som de Shine, tocado pelo The Skies of America.

No farol brilhando a luz vermelha, o automóvel pára. Uma senhora mulata, de cabelos brancos, usando um simples mas elegante vestido verde, atravessa a rua com seus dois netinhos, um menino e uma menina que, saltitando e cantarolando de mãos dadas com a idosa, seguem para a pequenina igreja da esquina.

A paz e a serenidade davam conta de expor a plenitude da vida. A riqueza da existência demonstrada em comum simplicidade. Quem que É o que É refletido seres que nem sempre são assim, nem sempre são o que são. A paz do Ser que faz tremer a terra, mover montanhas, o Todo Poderoso, apresentada no silêncio. Detalhes da vida. Numa maravilhosa manhã de domingo.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Música - Canto de Alegria

Para um mundo difícil
Uma vida corrida e sofrida
Harmonia que encanta
Quem canta a melodia
De Jesus fonte desse canto
Fonte de Água viva
Esperança para o mundo
O Caminho, a Verdade e a Vida

Porque não soltar nossa voz?
Se Ele mesmo disse:
“O Reino está entre vós”

Um canto de alegria
Que gera nova vida em nós
Inspira noite e dia
A sonhar com a vida
Querer um mundo bem melhor!

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Teologia

Depois de começar a fazer teologia, tenho algumas considerações a fazer.

A primeira pergunta que tenho que responder ao mencionar que estudo teologia, é o que de fato eu estudo. As pessoas perguntam: "Mas como se pode estudar Deus?" Afinal, teologia é o estudo de Deus. Esse questionamento não é frequente apenas em quem não cursa teologia, mas inclusive os cursandos muitas vezes indagam o como eles estão ou hão de estudar Deus? Antes de mais nada, teologia não é um estudo cristão. Essa afirmação é necessária pois nós, brasileiros, nascemos e crescemos numa cultura religiosa majoritariamente cristã, especificamente católica, e acostumamos a associar a palavra deus a Deus. Existe porém a Teologia Umbandista, Kardecista, Taoísta, Xintoísta, Budista, Hindu... E por aí vai. O que de fato seria teologia? O estudo de Deus? Não! É o estudo ou análise da interpretação de Deus. No poema 32 do Tao Te Ching, de Lao-Tsé, "O poder do invisível", no 11° verso, está escrito o seguinte:
"Quando Tao (Deus) assume forma,
Pode ser conhecido mentalmente,
Mas todos os conceitos
São apenas indícios
Que apontam para o Inconcebível."

Que sem dúvida nenhuma é a melhor explicação do porque estudamos teologia. Não por entender, analisar e explicar Deus, mas sim nossas compreensões sobre Ele e os indícios que nos apontam para o que não pode ser compreendido. Comentando a parte, ressalvo que como de acordo com Vattimo, "Quando é que um homem torna-se ateu? Quando lhe é apresentado um Deus menor do que ele.", estudamos o que existe, o que é concreto, e Deus não pertence ao campo do existir, mas do ser. Ele não Existe Deus, e sim, É Deus. Mas isso é um argumento e assunto para outro texto (só para aguçar a curiosidade e não perder leitores).

Um problema da Teologia Cristã é perceber, além do seu objeto de estudo, sua função. Para a maioria dos crentes em Jesus, estudar teologia está relacionado de maneira diretamente proporcional com o "ganhar almas para Jesus", o que, relevando o mérito que dou para essa não muito feliz frase, não compete a teólogos por serem teólogos. Teologia não é formação para pastor, obreiro, padre, diácono, bispo, apóstolo, presbítero, missionário ou sei lá, pois conhecendo a Cristo você já está habilitado, mesmo que sem diploma por incrível que pareça, a viver como cristão e mostrar o Deus a quem você segue a outros. Ou melhor, a sua interpretação de Deus para outros. Sem contar que não é um bonito papel timbrado com teu nome, assinatura de um diretor e o logo de uma instituição de ensino que comprova a sua vocação ou capacidade de revelar um indício de seu Deus.

A terceira coisa, é que me parece que teólogos e cursandos do curso de Teologia, vivem como se "manjassem" tudo sobre Deus. Não preciso aprender quase mais nada, já estou no caminho do "doutorado de divindade" (se é que isso existe mesmo). Já entendi e sei como Deus "funciona". O que é impossível. Jamais seremos capazes de encaixarmos Deus eu nossa cabeça, guardá-lo no cérebro. Se um Deus que é Deus é eterno, correr atrás do Infinito só dá mais canseira. Buscar entender Deus só tem um fim, descobrir que há muito mais, aliás, tanto mais que NUNCA acaba. O que nós conseguimos é aperfeiçoar, atualizar e contextualizar a nossa interpretação do Infinito. Mas mesmo assim, muito distante do que Deus é. Imagine que seu conhecimento de Deus é uma linha equiparada a linha do que Deus É. Iguais. Agora distancie e estique a linha de Deus para frente e para trás já que é eterna. Distancie mais. Mais. Mais. Mais... A tua linha desapareceu.

E isso, regressa à frase já mencionada de Vattimo. Se Deus cabe em mim, ou, em um livro (já comentado em outros textos do blog e será comentado em próximos), é menor do que eu. Logo, não é Deus, e se for, eu também o sou.

Um Deus de m&#d@

Qual rei com toda sua majestade e soberania, abre mão de seu poder? Que dirá um Deus!
Pobre, rejeitado, nascido de uma gravidez um tanto quanto duvidosa numa cidade portuária de prostituição, numa nação dominada por outra, pequena, desorganizada e quase que insignificante.
Sem pretensões de tomar o poder, destruir as instituições, tornar-se líder, arrebentar com seus inimigos e opositores, demonstrar toda sua soberania e infinitude, foi surrado, cuspido, chicoteado, rechaçado, sem apresentar qualquer tipo de reação contrária, morto.
Que Deus é esse? Que tipo de Deus soberano, onisciente, onipotente, onipresente, sofre isso? Um Deus que ao invés de destituir tudo o que é conhecido e arrasar com o que é contrário a sua natureza, prendesse a um argumento de "amor", "compaixão" e "misericórdia"? Difícil de aceitar esse Deus não?! Pois é nesse Deus que eu acredito! Um Deus que para muitos é um Deus insuficiente, impotente e fraco. Um Deus que na cabeça de alguns (como ouvi nessa semana) é um "deusinho" de merda. Pois então é nesse Deus que eu acredito. É esse Deus que É o que É. É esse Deus que é revelado por meio de Jesus chamado o Cristo. Eu creio em um Deus de merda.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Mudando a rota

Pretendia eu organizar meu blog e a linha de pensamento que seguiria daqui pra frente. Mas, devido a situações vividas e experiências recentes, mudei de idéia e reestruturarei minha rota dos textos. Meu caminho agora não será mais responder perguntas do meu antigo livrinho tira dúvidas, mas sim perguntas e reflexões sobre meu credo de hoje.
Esse texto é mais uma justificativa minha a quem (sabe-se lá o porque, hehehe) acompanha meu blog e gostaria de ler novos devaneios.
Obrigado pela leitura e atenção.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Perguntas e respostas, breve introdução

Por esses dias enquanto eu ajudava meu pai a fazer umas prateleiras para colocar nos quartos, encontrei um livrinho que eu achava muito interessante quando criança. Um livro com as soluções para os problemas que rodeavam minha cabeça; "101 perguntas que as crianças fazem sobre Deus". Convenhamos que o título é um tanto quanto chamativo e instigante. A curiosidade me matou e não resisti pegá-lo para ler novamente e rever o que me fora ensinado na infância.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Confesso que fiquei decepcionado, não comigo que ouvi as respostas das 101 perguntas e fiquei satisfeito, mas com as respostas que cristãos diplomados em Teologia e Pedagogia me entregaram. Fiquei assustado e perplexo com a inquietação que vinha a minha mente enquanto lia: "É isso que temos ensinado nossas crianças?!". Percebi que inconscientemente tive uma formação religiosa doentia, aprisionadora, que fazia com que tomasse atitudes em "nome de Cristo" ou em "favor a Cristo" não por compreender o seu amor, sua pregação e sua vontade para minha vida, mas por temer as penalidades divinas e perder minha salvação. Notei que essas respostas me levariam a pensar e viver correndo num círculo, sempre igual, que sai de um lugar e pára nele mesmo, não se aprofunda e nem tenta se tornar uma esfera, sair do plano reto para outras possibilidades e dimensões.
Um exemplo muito bom do que estou falando é a resposta para a pergunta "Porque posso acreditar que a bíblia diz a verdade?", que é mais ou menos assim: a bíblia é verdade porque é a palavra de Deus, e nela está escrito que Deus não mente e tudo o que diz é verdade. Logo, se na bíblia, que é a palavra de Deus, está escrito que é verdade... podemos crer que é verdadeira...
Ge-ni-al! Incrível! Porque nunca pensei nisso?
Bom, para contra argumentar alguém pode me dizer que essa resposta é assim porque é para crianças. Mas o interessante é que todos os adultos para quem eu faço essa pergunta a resposta é praticamente a mesma, isso sem contar que se ensinamos isso a uma criança, ela primeiramente aceita pois é um mais velho que está falando e com maior "autoridade", mas depois que cresce e repensa algumas coisas, percebe o quão imbecil era isso que acreditava e decide por si só procurar outra coisa para acreditar, e se dentro da igreja essa for a única resposta, seu anseio será preenchido por outra instituição, entidade, ser, coisa ou sei lá.
Meus próximos textos serão análises dessas perguntas e respostas e uma reflexão sobre qual seria uma resposta possível dentro de uma proposta lógica, baseada na vida de Cristo, num Deus amoroso para o qual não fui apresentado mas conheci e buscando atender as necessidades da minha geração a partir não das problemáticas e experiências minhas, mas do máximo que eu enxergar das problemáticas e experiências da humanidade.

domingo, 2 de agosto de 2009

O presidente tem o remédio

De acordo com as orientações da Secretaria de Saúde, a melhor maneira de tornar inativo (matar) os microorganismos causadores da gripe suína espalhados pelos cantos é a utilização do álcool para esterilizar os objetos. Se o álcool elimina o vírus, logo faz muito sentido o porque o Lula viaja para lá e para cá na América, Europa, África e Ásia sem se contaminar...

domingo, 26 de julho de 2009

Música - Pesca de sereia

Beira mar na areia, morena de praia
Loira, bela sereia sem cauda de saia
Vem passear perto de mim o Sinbad,
Jack Sparrow, Odisseu ou sei lá...
Só sei que sou pirata

Atrás de um novo tesouro
Quem sabe a pérola azul deste olho?
Como sou maldito marinheiro
Ganancioso quero esse corpo por inteiro

Pescar sereia em alto mar
Ouvir o canto que vem soar
No pé do ouvido para me conquistar...
Não! Caí na rede da sereia que vim pescar

Ela me tirou de meu barco
Me mostrou seu reino e sua mansão
Me prendeu em seu palácio
Me afogou no mar de seu coração

Atrás de um novo tesouro
Quem sabe a pérola azul desse olho?
Como sou maldito marinheiro
Ganancioso quero esse corpo por inteiro

Pescar sereia em alto mar
Ouvir o canto que vem soar
No pé do ouvido para me conquistar...
Não! Caí na rede da sereia que vim pescar

sábado, 25 de julho de 2009

Ao meu amigo Pedrão

Caras como você é que mudam o mundo
O mundo do Bruno, mundo do Zé, do Carlos e do Raimundo
Caras como você trazem sorrisos
Vindos da mais profunda sensação de que mesmo sem te conhecer de fato, sei que tenho um amigo
Caras como você fizeram diferença na minha vida
Não em uma pregação, oração ou sermão, mas debaixo de uma baliza
Pegando no gol, jogando na linha, tomando chimarrão ou fazendo comida
Caras como você, aliás, "você" fez diferença na minha vida vivendo a tua vida
Não é preciso pregar, falar e ensinar
Fizeste diferença em minha vida simplesmente com teu andar
Caras como você estão em falta
Para que caras como eu mudem a rota, repensem a própria história
E por fim se tornem caras como você, que vivem e fazem diferença vivendo
Que sejam reflexos de Cristo em todos os momentos
Um abraço
Ao meu amigo
Pedrão

Música - Novo Caminhar

Se alguma coisa te atormenta
E tira suas forças pra lutar
Coloque sua esperança em Jesus Cristo
O único que pode te ajudar

O ódio é a escuridão que prende o coração
O amor pode te libertar
O amor
Pode te libertar

Se a noite cai, espera amanhecer
Um novo dia vem, um novo alvorecer
Um novo amigo, um novo andar
Jesus Cristo
Um Novo Caminhar

A vida passa e passa o tempo
Movimento que nos faz lembrar
Que nada disso dura para sempre
Mas seu amor nunca vai acabar

O ódio é a escuridão
Que prende o coração
O amor pode te libertar
O Amor
Pode te libertar

Se a noite cai, espera amanhecer
Um novo dia vem, um novo alvorecer
Um novo amigo, um novo andar
Jesus Cristo
Um Novo Caminhar

segunda-feira, 29 de junho de 2009

O mais novo e o mais velho

Não! Não! Não! Vá por ali! Vá por aqui! Não vá! Vá logo! Dá para fazer o certo ou está difícil? ...
Numa trilha escura de uma mata desconhecida por dois aventureiros, um mais velho e um mais novo, estes estavam perdidos. O mais novo cheio de energia e vigor logo tomou a frente até chegarem a uma encruzilhada. Corrompido pela vontade e a adrenalina encaminhava-se por ímpeto do coração para a esquerda em direção a um rio quando o mais velho o parou para dar-lhe um conselho em tom de bronca. Carrancudo e com os pulmões carregados do ar da experiência repreendeu o mais novo dizendo-lhe que em outra trilha tomara um caminho semelhante quando tinha a idade do mais novo e enfrentara águas bravas, barrancos íngremes e trechos estreitos de mata fechada. Daria muito trabalho fazer tudo isso, seria estupidez, tolice infantil, atitude juvenil. Se tomassem o caminho da direita, de acordo com o mais velho, seria mais tranquilo e menos cansativo. O mais novo parou, olhou para cima, respirou e perguntou porque o mais velho tomara aquele caminho anteriormente. Prontamente o mais velho respondeu que o tomara porque era inexperiente e cheio de pique, vigor e gás para queimar. O mais novo retrucou perguntando como descreveria esta caminhada que fizera quando jovem. O mais velho olhou para o chão, esvaziou os pulmões e respondeu: "Uma grande aventura".

quinta-feira, 18 de junho de 2009

A (não) contribuicão da Universidade

A ciência, mitificada como o correto, pleno e verdadeiro tipo de raciocínio ou conhecimento, é produzida, protegida e ao mesmo tempo senhora toda-poderosa e absoluta nas universidades, os famosos e famigerados centros acadêmicos (o templo do saber). Onde há a sapiência, a evolução e o fortalecimento do pensamento humano que procuram o "bem" da humanidade. Que magnífica ciência! Representada de maneira brilhante nas personagens de filmes, quadrinhos e desenhos animados de super heróis, nos quais interpretam cientistas e gênios inteligentíssimos que desenvolvem tecnologias e fazem descobertas espetaculares para o já mencionado "bem" da humanidade, mas, em sua ingenuidade e pureza de coração, as passam para pessoas más, não "científicas", ou não cientistas, que com essa tecnologia e/ou descoberta, trazem ao mundo o caos. Talvez seja por isso então (e agora chego onde queria com essa introdução) que os acadêmicos enclausuram-se em Universidades, no universo do conhecimento. Cercam a ciência com quatro paredes e uma porta acessível apenas para vestibulandos bem sucedidos, põem-na dentro de uma roda feita por eles mesmos e protegida por palavras difíceis, contas e números "complexos", eludicões inacessíveis e a aversão ao "tinhoso", "nefasto", "demoníaco", Senso Comum (o deus adversário da deusa Ciência).
Mas todos sabemos que essa ingenuidade dos cientistas e sua preocupação em entregar suas descobertas apenas para as pessoas "certas", abençoadas com o objetivo do "bem" da humanidade, é falso. Mais falso ainda a existência desse objetivo, já que o conhecimento produzido permanece dentro do centro acadêmico e não avança para a humanidade como um todo que ao que parece depende e espera que alguém traga a salvação para ela. Os acadêmicos criticam e satirizam quem está fora desse meio como pertencente ao senso comum, mas não tem preocupação alguma de tirar. ou melhor, colocar os excluídos por dentro do mundo do conhecimento científico. Porque será que tratam o senso comum como "burrice" que precisa ser erradicada mas ao mesmo tempo não há o movimento para que isso aconteça? Porque será que o debate fica apenas dentro desse meio? Porque será que não é disseminado e de maneira compreensível transmitido o pensamento e o conhecimento obtido pela ciência?
Bom, para responder essas questões, poderia me valer da idéia de que o Estado ou o sistema capitalista necessita não de pensadores que reflitam sobre suas condições e tenham conhecimento de direitos, tecnologias, meios de defesa do indivíduo e boa argumentação. Mas isso seria muito simplista, paranóico e me levaria a cometer um grave erro; dentro das Universidades há o ódio profundo revolucionário e libertário contra o capitalismo, o Estado, a sociedade repressora e coisas do tipo. Portanto, o problema não está nesta questão apenas, ela também faz parte dessa discussão, mas não explica o porque o conhecimento produzido nesses meios revoltosos e científicos não extravasam suas fronteiras. É nítido que o problema está não na produção do conhecimento, mas em seus desdobramentos.
Para avançar no debate e na discussão da transmissão do conhecimento produzido nos meios acadêmicos é preciso entender primeiro qual a função da Universidade, do ensino chamado superior. Claro, se retiramos dos acadêmicos o conhecimento produzido por estes e repassamos para os "de fora", estes terão (na atual concepção de ensino superior) perdido o controle sobre o debate não serão mais os únicos capazes de discuti-los, e assim, consequentemente, seus diplomas perderiam o valor "especial" já que outros também tem conhecimento do assunto (pois este fora transmitido) e poderão superá-los quem sabe ou até mesmo dar pontos no debate. Esse "toque especial" do diploma, que credencia uma pessoa a ser produtora de conhecimento, responde as questões antes colocadas como o porque será que tratam o censo comum como "burrice" que precisa ser erradicada mas ao mesmo tempo não há o movimento para que isso aconteça? Pois é necessário que haja um desconhecimento da ciência para que os detentores do acesso a deusa sejam sacerdotes especiais e poderosos. Porque será que não é disseminado e de maneira compreensível transmitido o pensamento e o conhecimento obtido pela ciência? Porque essa perderia então seu status mitificado de detentora da verdade. Aliás, fazendo um breve comentário, os excluídos pertencentes ao senso comum estão tão distantes da ciência que estes, quando a descobrem, descobrem infelizmente um vestígio desta que já foi ultrapassado e tido como errado e mentiroso.
Me prolongo nesse devaneio e insisto nesta reflexão pois durante o meu semestre de Ciências Sociais na UFPR fui assolado por uma pergunta a qual não pude responder feita por meu professor de sociologia: "Porque você tem que fazer uma faculdade? Pra que serve a Universidade?". Pensei que fosse para a produção de conhecimento, mas este não sai das quatro paredes como repeti varias vezes durante o texto. Reli meus dois textos sobre educação ("'Ensino Básico' e 'Livre pensamento'"), e vi que nas minhas conclusões, as especialidades e o desenvolvimento de uma habilidade para o exercício de uma profissão viria no ensino superior, e essa idéia continua comigo, essa é uma das funções do ingresso na universidade, aprender a se virar, pensar, viver e ter uma habilidade que permita a funcionalidade e um papel do indivíduo dentro do meio em que vive, buscando sempre a melhoria não apenas de si, mas de sua relação com o meio e este propriamente dito. Mas, a grande missão e instrumentalização de uma Universidade não é a produção do conhecimento, mas a transmissão do adiquirido. O temido senso comum é uma forma de pensamento e todos os dias produzido e utilizado, mas não porque os excluídos do meio acadêmico sejam "burros" ou desinteressados em aprender e conhecer a ciência, mas porque este é transmitido de uma maneira prática e pragmática, não simples no sentido de simplória, mas no sentido de ser completa, poucas palavras ou ilustrações que exemplificam e trazem a tona uma lógica que passa a ser de fácil percepção. A ciência, por ser tão poderosa e verdadeira, deveria ser transmitida dessa maneira também, e não enclausurada por blindagens intransponíveis. Até dentro da própria ciência as vezes há falta de transmissão de conhecimento. Um médico se especializa e estuda tanto uma área, faz descobertas e tem toda a bagagem científica consigo, mas não consegue dividir esse conhecimento com outros e assim compreende e sabe tudo de sua especialização, mas está distante do outro que se especializou em outra área e sem comunicação entre os dois, cada um cuida de uma parte do problema de saúde de alguém e nenhum chega a uma solução. Nesse percurso poderia ser um problema piscicológico, e o piscicólogo nem chamado para ter conhecimento do problema é. Como pode ser reflexo do meio onde o paciente vive, e um assistente social ou um sociólogo não é chamado para contribuir na descoberta para o "bem" do paciente que faz parte da humanidade.
A Universidade e o ensino superior não são para adiquirir conhecimento, mas para transmitir o adiquirido. De que adianta ter ouvido uma piada engracadíssima e guardá-la para si? Ou não conseguir contá-la a ninguém? A piada cumpriu sua funcao? Além de você que tomou conhecimento da piada, quantos mais riram e se divertiram com ela? Qual o valor de um conhecimento produzido se este será usado por poucos ou por ninguém para a integração de pessoas a sociedade e a formação destas como cidadãos e melhores seres humanos? De que adianta ter uma casa de praia com piscina se você mora sozinho e nunca chama ninguém para passar um fim de semana e nadar um pouco? O diploma não deveria nos dar o direito de participar do debate e da produção do conhecimento, mas o de transmiti-lo e de fato torná-lo um bem para a humanidade. O que torna um acadêmico especial não é seu conhecimento adiquirido, mas o transmitido.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Milagre

Algo sobrenatural aconteceu. O inexplicável. Incompreensível! Num dia de muita chuva um homem LEVANTOU e ANDOU, foi até a padaria e para comprar uma caixa de leite. No caminho VIU uma criança chorando. OUVIU sua mãe implorando uns trocados. Seguiu seu curso. Entrou na padaria, contou as moedas da carteira e comprou 3 caixas de leite. Abriu o mar de gente que estava a sua frente, passou a pé enxuto entre os carros estacionados, derrubou o gigante da indiferença e deu duas caixas de leite para a senhora e sua criança. Não foi preciso ser paralítico que levanta e anda, cego que passa a ver, surdo que vem a ouvir, homem que reparte as águas ou rapaz que vence um gigante em carne e osso para ser testemunho de u milagre na vida de alguém. Passou de alguém que crê para alguém que é.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Carta ao leitor

Camarada,

Ao ler um texto, não tente arrancar idéias em cada frase. Abstraia o conceito presente no contexto. Aliás, nunca se esqueça de que é necessário ter sempre em mente o contexto, já que texto fora de contexto torna-se simples pretexto. Tenha consciência de que num parágrafo não há um conjunto de idéias fragmentadas, mas um fragmento de uma idéia. Não se prenda a pontos, vírgulas e acentos. Utilize da criatividade e da imaginação para construir imagens, figuras, ícones e momentos. Procure mergulhar fundo na lógica e na escrita do autor. Seja curioso e busque descobrir o fim da ciência, filosofia ou narrativa antes que esta seja apresentada de fato nua e crua para você. Dialogue com o texto. Trabalhe com as palavras. Encante-se com a leitura, mas seja crítico com esta também, sabendo que crítica não é rechaçar o texto, mas, muito pelo contrário, conceder-lhe tal valor ao ponto de empenhar-se em analisá-lo como um todo e procurar a coerência e a coesão deste. Além dessas simples dicas meu camarada, minha intenção é que você leie e sinta o prazer de ler, mesmo que a literatura não seja das mais compatíveis com seus gostos e interesses. Ouça, pense e reflita o que te digo.

Atenciosamente,

A voz que fala dentro de tua cabeça enquanto você lê.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

O presidente e a Yakusa

Estudando o Japão e o avanço do estudo sociológico nesse país, eu descobri muito sobre a influência da famigerada e mundialmente famosa máfia japonesa, a Yakusa. Muito organizada e com regras rígidas e severas para controle dos envolvidos com a máfia, uma das práticas de punição mais comuns aos incompetentes era cortar um dos dedos. Por causa disso, os envolvidos tinham dificuldade de conseguir emprego, já que ter um dedo a menos significava que além de mafioso, era incompetente. Então, o Lula...

Ah! Que frio!

O despertador toca. Meus olhos se abrem lentamente. O sol ainda não deu o ar da graça, mas já dá uma iluminadinha no quarto. Com o corpo todo debaixo das cobertas, os músculos enrigessidos tentando suportar o frio e o peso de um denso ar gelado sobre mim, me preparo piscicológicamente para sair de meu abrigo quente e enfrentar o inferno gelado do mundo de "Fora da Cama".
Um, dois, três, foi! Um salto da cama, o pé esquerdo no chão (como se fizesse diferença este detalhe) e a pior sensação do mundo; o corpo travado, mas ao mesmo tempo tremendo. Nessas horas nós homens descobrimos como é ser mulher, como é a sensação de não ter nada entre as pernas. A cueca quase que é engolida pelo único orifício possível para que isso aconteça, as pernas entortam e os dentes quase quebram de tanto baterem uns nos outros.
Mas as peripécias de um dia frio no mundo de "Fora da cama" não param por ai. Ao entrar no banheiro acontecem duas coisas mais complicadas ainda. Primeiro o ato de esvaziar a bexiga, tirar água do joelho, urinar, molhar o vaso, fazer o numero 1... dar uma boa mijada matinal. Já é difícil fazer isso com sono, agora, tentar achar o que quase desapareceu, colocá-lo para fora no frio e acertar a mira enquanto treme mais do que quem tem Parkson, é uma missão muito mais complexa. Segundo o ato de lavar o rosto, tirar remela com água, e... e... não sei outras expressões que remetam a essa ação. A nossa mão praticamente já congelou, e para deixar mais gostosa a sensação, a água que ficou a noite inteira numa caixa nem um pouco térmica e sem um raiozinho de sol e recebendo muito ar gelado vem de tal maneira que ao tocar nossas mãos faz com que um arrepio suba do calcanhar até a nuca e fiquemos alguns segundos (que parecem uma eternidade) sem reação.
Ao sair de casa e olhar o termômetro marcando 0 graus celcius, a grama e as folhas das árvores assim como os carros que ficaram brancos por causa da geada, ver uma fumaça me perseguindo e descobrir que é a minha respiração e, depois de o sol dar o ar da graça, descobrir que ele só veio para enfeitar o dia, a única coisa que vem a minha mente é um poema por mim criado repetido várias e várias vezes: "Ponte que o partiu (na versão mais "suja" da expressão) que frio! Será que estou mesmo no Brasil?". AAAAAHHHHH!!!!! QUE FRIIIIIO!!!!

domingo, 31 de maio de 2009

Linda Bailarina

Linda Bailarina, dance.
Baile sem tormento,
Seja a dança teu abrigo,
Cada passo um sorriso
E a música teu momento.
Sinta-se no céu, na lua ou debaixo do luar,
Viva tua dança, esqueça-se de tudo!
Deixe a melodia te acalmar.
Ouça atentamente cada nota, corda, batida a vibrar.
E verás que nada desafina,
Para que você,
Linda Bailarina,
Nunca pare de dançar...

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O sentido da morte

A morte nos é apresentada como feia, má, oriunda das trevas e na imagem de um esqueleto tenebroso com uma foice na mão e raios e relâmpagos estourando a cena ao fundo. A morte nos é mostrada como o fim dos fins. Então o primeiro medo que sentimos, talvez o maior dos medos, é o de morrer. Bater as botas, marcar o ponto final, partir para o andar de cima, apagar, ir pro beleléu, esticar a canela, descansar em paz, empacotar, capotar, vestir pijama de madeira, dar o último suspiro, ir desta para uma melhor, estar mais pra lá do que pra cá, e o que eu nunca entendi mas todos compreendemos, virar presunto. O medo de fechar os olhos pela última vez.
Mas será que o grande problema da vida é a morte? Será que a grande preocupação, o medo que nos assola, é a morte? Eu acho tão mais complicado viver a vida! Passar por dificuldades, sentir fome, perder emprego, ser excluído, brigar consigo, brigar com outros, deixar de amar, deixar de ser amado. Isso é que deveria ser o nosso medo, viver.
Para completar minha idéia de que a morte não deve ser o centro de nossas preocupações, acabo lembrando de um detalhe: Cristo para dar fim a morte morreu. A solução para a viver a vida é conviver com a morte. Em momento algum Cristo esita ou se preocupa com o dia de sua morte, mas sim alerta e preocupado com a caminhada que teria em sua vida até seu último dia. Além de que, para que vivamos e sejamos salvos, devemos morrer para o velho homem, quer dizer, mais uma vez a morte foi solução e não preocupação ou objeto amedrontador.
A única certeza que temos é que vamos morrer, e a morte em si não é o fim da vida, e sim o recomeço dela. A partir da morte retorna-se ao início do ciclo da vida, que aos poucos se recicla e mantém-se viva (a vida mantém-se viva graças a morte). Aliás, só há o conceito de vida, porque há o de morte.
Lao-Tsé disse que só alcançaríamos a vida eterna quando aprendessemos a viver com a morte. O que faz muito sentido, já que a morte é certa, e se deixa de ser um medo, passa a ser uma preocupação a menos trazendo todos seus esforços e energias não para tratar da morte, mas sim para cuidar da vida. Só existe uma vida para cada um. E se todos não viverem por medo de morrer, a vida passa desapercebida, com cada um cuidando de si e buscando o seu, enquanto todos se degeneram, a vida passa, tudo se esvai e acaba com um tudo sendo nada e não fazendo sentido. O sentido da vida é a morte, e o sentido da morte é gerar mais vida. Mas a morte só é morte após haver vida. E a vida só é vida se for vivida, do contrário não existe vida, e sim tempo indiferente que passa do nada para lugar nenhum e pára no espaço/tempo. Se há vida vivida, há morte que gera vida. Se surge a morte gerando vida, completa-se o ciclo da vida, e assim caminha a humanidade, o ser, o existir e tudo o que completar e formar o cosmos. Cada qual cumprindo seu papel como ser vivente e vivendo sua vida até que a morte gere deste mais e mais vida.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

É você, linda morena

Que contrasta com branco
Se destaca com o negro
Mistura que se completa
Nem clara, nem escura
Mas na medida certa
O auge, o cume, a perfeição
Com balanço manso no corpo
Que acelera o coração
Anda na praia deixando pra trás um rastro na areia
E também nos olhares dos homens impressionados com você
A perfeita imagem da beleza brasileira
Coisa mais linda mais cheia de graça
Menina que vem e que passa
Que vira meu pescoço
Arranca um sorriso do meu rosto
Estava certo o poeta de Ipanema
A mulher dos meus sonhos
É você, linda morena

terça-feira, 26 de maio de 2009

Aceita meu contrato?

Tive uma idéia fenomenal!! (não do tipo Ronaldo, fenômeno batido, rodado, redondo, gordo e velho, é algo assim, mais fenomenal mesmo)! Que tal se nós, eu e você, assinássemos um contrato? Ligássemos juntos alguns pontos (não do tipo daqueles livrinhos "ligue os pontos", mas num sentido mais sério assim, metaforizado mas real ... entende?!) para que fiquemos juntos. Claro que provavelmente você não queira pensar na possibilidade de ficarmos juntos, já que somos parecidos até demais; você inteligente, bonita, famosa e disputada, enquanto eu lerdo, feio, desconhecido e colocado em liquidação "for-free". Mas tudo bem, hoje vivemos em um mundo de lógica capitalista empresarial e caso eu tenha algo que você precise, agente pode fazer negócio.
Nosso contrato se constituiria da seguinte maneira: eu entro com a piada e você com o sorriso. Aprendi com o sábio e sério gênio da lâmpada do filme do Alladin, "a mulher gosta do homem que a faz sorrir". Eu garanto as piadas que te façam sorrir e rir e você entra com tua presença ao meu lado. Pode ser? Contrato fechado?
Por um lado nossas propostas se completam, uma piada só é piada se alguém rir, e você só pode soltar seu sorriso se houver quem te faca sorrir... logo o que você tem a perder???

A única clausula pré-contratual que eu exijo é que não possas criar um novo contrato. Aquele que cancela o meu contrato. O contra contrato. É terminantemente proibido o contrato no qual você entre com o pé e eu com a bunda ...

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Entre o tempo e o coracão

O coração é incompreensível; tem ritmo, mas sem dúvida nenhuma bate totalmente fora do tempo. Quando está tudo tranquilo e bem, ele bate bem devagar e ao olharmos no relógio vemos que o tempo passou tão depressa que não deu tempo para curtir o suficiente o momento. Já quando a situação está uma desgraça, ele teima em acelerar e bater muito rápido e nos fazer entrar em desespero. Mas, ao contrário de seu ritmo, o tempo passa lentamente e 10 segundos parecem uma eternidade. A noite nunca acaba.
Será que em algum dia ele funcionará de algum jeito normal? Que eu entenda, compreenda e acompanhe? Será que algum dia ele me fará aproveitar bem o tempo bom e ver o tempo ruim passar depressa? Espero que ao menos então algum dia ele encontre um outro coração para repousar. Um outro ritmo que batendo junto com ele o acompanhe e os dois passem de maneira igual pelo tempo, fazendo assim um suportar o dia bom e o mal de tal maneira que o que menos importe seja o tempo. Espero um dia encontrar um coração que ande com o meu. Ou alguém que não tenha relógio, e passe o tempo comigo seja este o tempo que for...

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Parceiros

"Diga-me com quem andas e direi quem tu és".

Só percebemos o quanto faz falta um amigo quando perdemos o nosso. Só vemos qual é a importancia das pessoas em nossa vida quando estas já não fazem mais parte dela. Só reconhecemos e percebemos o quão frágeis, pequenos e incompletos somos quando descobrimos que não está por perto quem compartilha da existência conosco.
Essa frase passa a fazer sentido ao passo que compreendo quem sou mas nunca percebi. Essa frase passa a fazer sentido quando lembro de quem sempre esteve ao meu lado, quem partilhou confissões, conselhos, musicas, conversas, choros, risos, piadas e, porque não, a própria vida comigo. Essa frase passou a fazer sentido para mim quando compreendi que quem sou é fruto de quem esteve ao meu lado, quem partilhou confissões, conselhos, musicas, conversas, choros, risos, piadas e, porque não, a própria vida comigo.
A todos os parceiros que andaram e andam comigo, muito obrigado por me formarem e me construirem como sou. Muito obrigado por me darem um pouco de vocês, um pouco de cada um que agora faz parte de mim, seja em gestos, jeitos, manias, risadas, piadas, tons, ironias, personalidades e atitudes. Sempre, para o resto de minha vida, ao olharem para mim verão uma faceta e uma parte de cada um de vocês. Vocês que me formaram e me dão forças para continuar minha caminhada durante a vida...
A vocês muito obrigado.
E a Deus muito obrigado pela vida de cada um de vocês que me ensinam mesmo que sem saber um pouco mais Dele.

Amo-os. E com orgulho, muito orgulho, posso dizer que sou o que sou e serei o que serei por causa dos parceiros com quem andei.

"Diga-me com quem andas e direi quem tu és".

terça-feira, 28 de abril de 2009

Orador/Ouvinte

A oração reside no coração, tanto do ouvinte quanto do orador. Compartilham-se e se complementam. O ouvinte de prontidão atentamente escuta a pureza da sinceridade do orador. Este por sua vez vê seu coração desabrigado e com frio, e aquele com seu calor oferece em seu coração abrigo. E o espaço vazio no coração do orador é preenchido pelo do ouvinte. Corações envolvidos e partilhados. A oração assim não se torna mais uma simples conversa entre ouvinte e orador, mas uma troca de corações entre o homem e seu Senhor.

Da maneira de definir as coisas

O homem é por natureza bom ou mal? A luz é onda ou partícula? O biscoito vende mais porque é gostoso ou é gostoso porque vende mais? (essa ultima pergunta não fará parte da discussão, mas é que não me vieram outras idéias de perguntas). Perguntas que não querem calar. Procuramos uma definição que se encaixe de maneira exata e incorruptível. Cada ponto de vista é defendido com unhas e dentes por seus "ideológicos". Buscamos argumentos para "acertar" a resposta, fortalecer nosso pensamento e/ou destruir o outro. Tudo por uma definição concreta e exata.
Mas quem disse que todo homem por si só é de natureza boa ou má? A física já me poupou o trabalho e descobriu a resposta da segunda pergunta do parágrafo anterior: a luz tanto pode ser partícula quanto onda dependendo da relação dessa com o meio. Pronto, temos a resposta, já tirei a conclusão. Agora, até o fim do texto apenas enrolarei e transcreverei pontuando melhor a conclusão. Mas, se quiseres, já podes parar de ler.
Nada se define por si só. Nada é isso ou aquilo por si só. Uma bola de basquete não é uma bola de basquete por ser alaranjada com gomos arredondados com o logo "Spalding", mas é uma bola de basquete por ser utilizada em um jogo chamado basquete. Porque se alguém utilizar uma bola de basquete para jogar futebol, essa já não mais será uma bola de basquete. Continuará alaranjada e com gomos arredondados com o logo "Spalding", mas sua função agora é para o futebol, portanto ela é nesse caso uma bola de futebol. O mesmo acontece com o homem, não se define por si só, mas em sua relação com o meio. Convivência, reações, cuidados, vida em sociedade, meio-ambiente... Cada passo dado dentro do meio que o compõe e onde está inserido o formam. Bom ou mal indifere se isolado e analizado só, mas acompanhado de sua complementação com sua volta, ai sim chegamos ao primeiro passo para a primeira analise de quem o homem (nós) é (somos).




nota: Em um texto anterior afirmei que as coisas se definem e são o que são por seus limites. Errei? Não. Só descobrimos nossos limites ao explorarmos nossa relação com o meio. O primeiro homem que descobriu que não podia voar só o descobriu após dar de cara no chão.