segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Preparado para o futuro

Numa revisão rápida de vida, já que não vivi muito até hoje, percebi que fui preparado de uma maneira estranha para meu futuro. Frases do tipo "A vinda de Jesus está próxima", "O mundo está acabando", "Caminhamos para o caos", "As desgraças só aumentam e isso prova que é chegada a hora", mostram que estou sendo preparado para encarar o fim do mundo. "Deixados para trás", "O Apocalipse" e coisas do tipo, rondaram o meio religioso, que teoricamente deveria gerar em mim esperança, na tentativa de me tornar apto a enxergar tudo de maneira passageira e as contingências da vida como normais independentes de minhas ações, porque eu "não sou um cidadão desse mundo".

Dentro da Igreja, eu, assim como minha geração cristã, fui programado para não esperar qualquer coisa do futuro. As desigualdades são assim porque esse mundo não tem jeito, pessoas morrem e não temos o que fazer, bom mesmo só será no "Céu", não são necessários movimentos porque Cristo está voltando, daqui pra frente só piora e o resultado de tudo isso sou eu feliz alegre e contente, esperando o fim de tudo para alcançar, enfim (que ironia), a paz. Fui treinado para ser pessimista. Fui treinado para não agir. Fui treinado para torcer que tudo morra logo.

Com a ineficiência da mudança, uma utopia para não para um futuro, mas para uma eternidade, e um futuro já fadado a desgraça, tudo torna-se apático e sem sentido. A solução então é buscar um resquício de esperança em algum outro lugar. Fui para a escola. Na quarta série comecei a estudar os indígenas em "Estudos Sociais", e descobri que os índios perderam as casas, a terra, foram roubados de suas tradições e vidas e dali pra frente tudo ficaria mais difícil para eles. A vida foi andando, fui passando de séries e conheci o estudo do meio-ambiente. Fiquei sabendo que nós produzimos muito mais lixo do que podemos estocar. A Mata Atlântica foi dizimada. A camada de Ozônio tem um buraco. Produzimos muita poluição. A Amazônia corre risco. A água está acabando e num futuro próximo passaremos sede. Já era. Tudo se esvairá.

Quando entrei no colegial e comecei a estudar economia, tive contato com as disparidades do mundo financeiro. Meu professor me mostrou como analisar uma pirâmide etária e descobri que quando me aposentasse, não teriam jovens o suficiente para pagar minha aposentadoria. Seria uma geração grande de velhos e pequena de jovens. Procurei soluções e apenas encontrei utopias distantes e hipócritas que da mesma maneira enxergavam um futuro sem soluções.

Tudo indica para um futuro ingrato, desgraçado e sem saída. Vivo na geração do pessimismo. Seja na Igreja, seja na escola, no colégio, na faculdade, em qualquer lugar, ninguém espera algo de bom para o futuro. O destino já está traçado. O fim está próximo. Talvez seja por isso que temos uma vida apática. Sem ideiais, projetos e reações para arrumar as coisas, temos apenas caminhos para aproveitar ao máximo o que resta ou tentar prolongar um pouco a durabilidade da Terra. Fui e sou criticado pelas gerações anteriores por participar de uma geração sem causa. Mas como ter causa com um quadro deste? Preparado para o fim, não se sonha com um novo começo. Nada nunca estará bom, nada nunca será eficaz ou suficiente.

O pessimismo generalizado simplesmente pára o mundo. Num tempo em que há menos guerras, novas tecnologias, poucas batalhas ideológicas, uma consciência de humanidade e de meio-ambiente, não há acordos e ações para resgatar o tempo e o espaço que perdemos até hoje. Porque isso? Porque já vivemos o fim que não chegou e sonhamos com o tempo que já é agora, que está passando desapercebido por causa de nossa cegueira de pessimismo.

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