quinta-feira, 25 de julho de 2013

Ecoteologia

Tenho ministrado aulas de Ecoteologia num Seminário. Confesso: nunca fui muito interessado pelos discursos ecológicos, sustentáveis, ecochatos, verdes ou sei lá mais o que. Entretanto, tive que me interessar e, consequentemente, me apaixonei. Do mesmo modo que aquele clichê de filmes teen em que as personagens principais, um menino antipático e uma adolescente toda "certinha", brigam o filme todo e, no fim, revelam aquilo que todos sabíamos desde o começo - que eles se amavam e eram perfeitos um para o outro - eu e a Ecoteologia nos relacionamos.

O que me incomodava nas propostas Ecológicas era, além de sua falta de consistência prática (cotidiana), a insistência em "materiais reciclados" e consumo "sustentável". Traduzindo: recicle aquilo que você produz e compre produtos determinados "x" que ajudam a Natureza. Ah é! Tem esse outro detalhe que me incomoda: a Natureza - uma entidade sem rosto, sem forma e vazia, mas que engloba tudo, inclusive nós, apesar de nos tratarmos como separados dela. Uma querida amiga me mostrou uma propaganda que explica o que estou querendo dizer: "Respeite a Natureza, mas não há garantias de que ela respeitará de volta". Os problemas:

- existem dois sujeitos se relacionando: você (que precisa respeitar a Natureza) e a outra entidade separada de você (a própria Natureza).
- Respeite-a porque você, humano, tosco, pequeno, inútil, parte ínfima de um planeta que já existiu milhões de anos sem você, é "maior" do que ela - tem o poder de "respeitá-la".
- Você é de antemão culpado pela falta de respeito com a Natureza. Ou seja: ela estava bem, até você aparecer...

Por essas e outras, Ecoteologia não me agradava. Entretanto, no meio do caminho havia uma pedra, e foi exatamente nesse clichê que tropecei: encontrei a pedra que ficava no meu sapato quando se falava em ecologia! "Consuma produtos sustentáveis [...] Recicle!". Qual o problema de reciclar? Nenhum. O problema é o porque você necessita reciclar: porque você consome. O que deveríamos fazer? Reciclar? Sim, mas depois de pararmos de consumir! E o que fazemos para solucionar o problema? Não! Não pare de consumir; apenas consuma direito...

E aqui entrava a questão: a destruição do que apelidamos de Natureza não é catastrófica por causa do homem (ou de você), mas pelo consumo. Biologicamente, todos consumimos todos. Se é vivo, consome. A diferença é que desenvolvemos a habilidade de consumir "ilimitadamente", ou melhor, crer que podemos consumir ilimitadamente e, pior, que é possível haver alguma cosia ilimitada. Quando uma praga de gafanhotos "consome ilimitadamente" uma plantação, ou a praga consegue mudar de lugar, ou morre. Nós fazemos o mesmo, com a diferença de que desenvolvemos maiores habilidades de sorte de adaptações (ou seja, conseguimos aumentar a sobrevida da espécie, mesmo consumindo todos os recursos de uma região). Se acaba alguma coisa aqui, em algumas horas estamos num local absurdamente diferente. Se acabam os recursos de um jacará no Pantanal, levariam anos e anos para sua espécie encontrar outro local (se tivesse muita sorte).

Além disso, consumimos porque desenvolvemos uma lógica sensacional de dívida e pagamento: você só consegue as coisas que precisa para viver mediante pagamento e só paga se estiver consumindo seu trabalho ou o trabalho de outro. Na prática, nascemos devendo, pois os recursos estão "dados", você só precisa pagar por eles... Por isso você trabalha!

Nessas horas eu me lembro de um texto sensacional de Paulo em Romanos 13:

"Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns pelos outros, pois aquele que ama seu próximo tem cumprido a Lei. Pois estes mandamentos: "Não adulterarás", "Não matarás", "Não furtarás", "Não cobiçarás", e qualquer outro mandamento, todos se resumem neste preceito: "Ame o seu próximo como a si mesmo". O amor não pratica o mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento da Lei. Façam isso, compreendendo o tempo em que vivemos. Chegou a hora de vocês despertarem do sono, porque agora a nossa salvação está mais próxima do que quando cremos."

A possibilidade de rompermos com a lógica capitalista, ou de consumo, é o exemplo cristão: nos anularmos para apagar uma dívida. Cristo não veio pagar a conta do pecado. O preço pago é aquele que é "impagável": o de graça, Graça! Cristo se sacrifica por nada, para ele excede antes mesmo de haver dívidas, pagamento. Nós não consumimos Cristo, nós aceitamos o próprio Cristo, seu sacrifício, sua anulação. Nesse caso, não há processo a ser consumido, e a única dívida que temos é de "amor uns pelos outros". Não há nada a dever, a não ser agir sem cobrar (amar). Nós não praticamos o mal contra o próximo, apenas amamos e, assim, cumprimos qualquer Lei.

O interessante é que além de Paulo atentar para essa dívida que não existe (a não ser o amor - que não é dívida, mas vida a ser vivida, não consumida), nos convida a amarmos compreendendo o tempo em que vivemos. O tempo que vivemos é de catástrofe (como todos os tempos). E, no nosso caso, é uma catástrofe global, generalizada e provavelmente falta. Não vivermos talvez sequelas, mas, literalmente, o fim. Paulo também prevê fim e, por isso, pede para que compreendamos o tempo em que vivemos. O tempo que vivemos é tempo insustentável. Compreendê-lo é romper com o consumo, descumprir com as dívidas a serem pagas.

Já é hora de despertarmos! Não é a proposta de consumo sustentável ou reciclagem o problema. O problema é a produção e o porque consumimos! Consumimos porque produzimos e precisamos vender a produção para pagar as nossas dívidas e poder continuar a ser um consumidor... Estamos viciados! Precisamos aprender a amar, a nos anular, a não exigirmos as dívidas e impedirmos a continuação da produção. Não precisamos mais produzir, atingimos um ponto em que TODOS podemos parar. A saída não é reciclagem sozinha, mas reciclar aquilo que já produzimos. A continuidade de produção e consumo não darão conta de se manter, de nos manter. O único consumo sustentável é a não-produção, o não-consumo. Não precisamos mais gerar riqueza, precisamos distribuí-la. Aliás, riqueza não são bens-de-consumo, mas Vida...




Gratis i Kristus




Um comentário:

  1. Estou alegre por encontrar blogs como o seu, ao ler algumas coisas,
    reparei que tem aqui um bom blog, feito com carinho,
    Posso dizer que gostei do que li e desde já quero dar-lhe os parabéns,
    decerto que virei aqui mais vezes.
    Sou António Batalha.
    Que lhe deseja muitas felicidade e saúde em toda a sua casa.
    PS.Se desejar visite O Peregrino E Servo, e se o desejar
    siga, mas só se gostar, eu vou retribuir seguindo também o seu.

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