sábado, 30 de outubro de 2010

Devaneio... gigante devaneio...

Nas expressões do tipo "o cérebro humano tem a capacidade de armazenamento de 'x' computadores", ou "o corpo humano é como uma bateria de 'y' volts", tem como pressuposto a necessidade de comparação com uma máquina. Aliás, coloca o ser humano em uma leve "competição" com a máquina, como se esta (criação do homem, lembrando) fosse melhor ou mais perfeita ou a medida das coisas. Um lance meio "Matrix", mas bem-vindos à insani... Modernidade. Na verdade, esta introdução foi só um pequeno devaneio para anunciar o gigante que virá agora. O texto não tratar-se-á desta disputinha entre homem/máquina, mas sim de um certo padrão homem/máquina, ou alguma coisa que nos diferencia do homem ou da máquina, já não sei bem nossa natureza (piadinha sem graça...).

Os computadores tem uma capacidade absurda de armazenamento de dados. Sim, superam o cérebro. E além desta capacidade de guardar informações, tem consigo uma programação fantástica de organização destes dados. A virtude humana explorada em nossa Modernidade até então fora essa capacidade de guardar informações. A Educação construída sob o alicerce do "decorar" (nosso decoreba) que vigora ainda hoje em nossas instituições de ensino, é a expressão deste desejo Moderno de acumular o máximo de "conhecimento" (na verdade, informação) na memória. Tabuada, datas, nomes, guerras, órgãos, ossos, fórmulas e por aí vai. Nosso método de avaliação de um aluno bom, um aluno que aprendeu, está firmado também neste quesito. O ser capaz de guardar estas coisas está capacitado a frequentar uma universidade, passa no vestibular, vai bem nas provinhas do colégio e se assemelha muito a um computador. Agora, o que este devaneio propõe-se a devanear, é se esta potência de decorar, guardar, salvar na memória estes dados são a nossa virtude, o algo que constrói o humano, o que caracteriza sua humanidade, o que pode medir quem ele é. Será que o decorar é nosso mediador?

Tem uma coisa que a máquina por si só não é capaz: esquecer. Nesta afirmação continuo preso àquela comparação entre homem/máquina em uma disputa, e porque? Porque enquanto você lê este texto, em sua concepção construída de acordo com o espírito de nosso tempo, o esquecer é ruim, e esta diferença homem/máquina te dá a impressão de que estamos "perdendo", porque modernamente, o que é bom (como discutimos no parágrafo anterior) é a capacidade de armazenar dados, e não a possibilidade de esquecê-los. Entretanto, perceber que somos capazes de esquecer não é um demérito, a idéia é refletirmos e repensarmos nossos valores do que é "bom ou ruim". Um computador armazena todos os dados que lhe forem apresentados (esta palavra é importante, dê atenção a ela, "apresentados": trazidos à presença), os organiza e por si só não esquecerá. Ele não é capaz de "deletar" de sua memória sozinho, numa relação dinâmica e reflexiva consigo e com o outro. Isso é fantástico! Nós temos um dom brilhante de esquecer, de não percebermos mais as coisas, de termos dados conosco e não acessá-los, não encontrarmos o caminho até eles. Os humanos são complexos demais e vivos demais para existirem em inércia. Sua reflexão consigo e com o outro o faz esquecer. Ou, não sei, seu esquecer o torna reflexivo consigo e com o outro.

As coisas se revelam para nós. Um fenômeno surge e nós corremos atrás dele para descobrirmos o que o fez surgir. Não encontramos as coisas por nossos méritos, mas porque "elas resolvem se mostrar a nós". Elas se fazem presentes, a nós são apresentadas. Em nossa memória também se fazem presentes. As coisas ausentes não existem, a ausência não existe. Então porque consigo imaginar coisas ausentes? Ou ausentar coisas presentes? Porque concebo a possibilidade do meu esquecimento. Eu esqueço! Eu esqueço, logo imagino. Em Parmênides, o ser e não ser, o caminho do presente e do ausente, estas segundas possibilidades são excluídas por não serem, logo, não existirem e não nos levarem a lugar nenhum, um caminho inexequível. O nada não existe. Então como o concebo? Como o imagino? Sabendo de sua capacidade de esquecimento. Como seriam as coisas se me esquecesse disso? Se deixasse de lembrar da existência daquilo? E se me esquecesse de tudo, chegaria ao nada? Sim. O nada não existe, mas nosso esquecimento sim. Somos capazes de desprezar os dados que armazenamos. Nessa luta por lembrar e desprezar as informações, refletimos, criamos e imaginamos.

E esta reflexão me levou a pensar da primeira reflexão de que me lembro de ter ouvido falar: "PARA ONDE VOU?". O "de onde vim" e o "quem sou" em ordem cronológica viriam antes desta, mas, em ordem humana, vem depois. Pensar no amanhã, no que teremos para comer, se teremos algo para comer, veio antes do "o que sou" e do "de onde vim". O que sou é num meio de iguais não exige tanta reflexão (por isso a demora do pensamento de individualidade), e o de onde vim sempre foi simples ao olhar sua progenitora. O pensar "para onde vou" criou o imaginário religioso, os sonhos pós-morte e estas coisas. E porque pensamos esta coisa estranha? Porque nos esquecemos, e ainda pensamos se nos esqueceremos. Lembrarei do que vivi? Lembrarão do que vivi? Haverá lembrança? A partir disso, qual o sentido de eu estar aqui? Se esquecerão de mim, porque estou aqui? Aliás, quem sou? Então: de onde vim? Quem sou? Para onde vou? Se tudo isso será esquecido! Se me esqueço de mim! Se esquecem-se de mim! Ai de mim! Ai de nós! Precisamos guardar as coisas, fazer com que se lembrem, que não esqueçam, imaginemos o "como": pinturas na parede, poemas, histórias dos antepassados, tradição, culto aos mortos. Tudo porque esquecemos. Esquecemos, logo refletimos. Diferente daquele bando de armazenamento de dados. Armazenamos sim, mas a possibilidade de esquecê-los nos faz humanos.

Criamos um medo pelo esquecimento e este nos trouxe o "sentido da vida". Esquecermos nos dá sentido. A maneira como lidamos com o esquecimento guiará o modo de viver e o imaginário do pós-morte. A nossa História humana foi construída na base deste esquecimento. A nova historiografia percebeu isso, logo, começou a dar ênfase àquilo que ficou debaixo dos panos, abaixo dos fenômenos históricos, daquilo que guardamos em nossos dados e livros de História. Para o surgimento de um Gandhi, existiu um numero gigantesco de desconhecidos e fatos escondidos não lembrados que o construíram, o tornaram um fenômeno histórico. Para o estourar de uma guerra, muitos termos, pessoas, acontecimentos esquecidos se passaram. Para um vencedor, existiram e foram esquecidos milhares de vencidos. Nossa história está baseada e chegou onde chegou por causa dos esquecidos, do nosso esquecimento. O valorizar apenas o lembrado, a lembrança, nos fez destruir o mundo. Se tudo será esquecido, porque guardá-lo? Protegê-lo? Antes as explicações místicas, divinas e tradicionais ainda resguardavam um pouco o todo, mas, depois de nosso marco Moderno, o único deus vivo a se manter foi a lembrança, a capacidade de guardar informações, e todo o resto nem como demônio fora tido, tudo tornou-se indiferente, pois tudo será esquecido. Esquecemos o esquecimento, aquilo que trouxe a reflexão humana, valorizamos apenas os dados (que por alguma razão chamamos de conhecimento) e agora destruímos tudo. Temos uma sociedade cheia de dados e zerada de reflexão. Uma sociedade de massas cheias de decoreba que em seu interior clamam por reflexões sufocadas por informações.

Pra que banirmos o esquecer se ele nos torna humanos que refletem? Se ele nos freia, desacelera o trem que ruma para o fim? Esqueçamos nossas desavenças com o esquecimento. Sou cristão, e conversando essas idéias estranhas com outros cristãos (entre eles minha mãe, cristã), todos disseram que nossa vida não pode ser voltada para si, aqueles que vivem em função de outros não temem a morte. Bem cético, concordei e somei: não temem a morte pois sabem que não serão esquecidos. Viver em prol do outro, como disse em parágrafos anteriores, refletindo consigo e com o outro, não tememos o esquecimento ou o esquecer, seremos lembrados. Mesmo que por pouco tempo, não para todo o sempre, seremos lembrados por quem amamos até que estes deixem de ser lembrados por nós, sejam lembrados por outros que também amam e estes por outros, e por outros, e por outros... Algo simplório e ingênuo, belo demais para a voracidade da lembrança Moderna. Puro demais para a intoxicada e drogada necessidade de eternidade Moderna. Abriu mão do Reino dos Céus cristão, muito fantasioso para uma mente que não gosta de esquecer, para ficar com um Reino de Informação, indiferente, preocupado apenas em não ser esquecido na eternidade! Nas máquinas! E azar do resto que será esquecido e lembrado por ninguém! Ninguém, que é um nome lembrado por todos, e que se refere a alguém esquecido por nossa possibilidade de esquecer,que não existe, mas o concebemos porque esquecemos.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O problema da Fé e da Razão

Exclamaram: "Fé!". Retrucaram: "Razão". Pensaram: "Deve ser a Ciência!". Repensaram: "Deve ser a Religião!". No fim a eterna discussão. O problema não é a Fé, o problema não é a Razão; o problema é o homem. Anterior à este debate chato, arrastado, pesado, truculento e desgastante, existe uma essência mutante, um problema no maquinário, uma peça defeituosa: o debatedor. O infeliz que se propõe a incentivar os socos ao ar. O debatedor. O cara que olha para fora de si e expõe o "bem e o mal", "Deus e o Diabo", "A Fé e a Razão ou Razão e Fé" (como preferir). A insistência em dicotomias externas e inalcançáveis é uma teimosia humana para fugir da realidade. É o mesmo que dizer que o problema é o "burguês", o "povo", o "sistema", o "diabo" ou o "destino", não tem fundamento, não tem consistência, não existe, não é real. Dê-me um punhado de Fé, ou um tanto de Razão. Não dá! Porque? Uma dicotomia inventada para nos dar segurança existencial e retirar de nós a culpa ou o problema da própria existência.

O que é pior (me perguntam), a Fé ou a Razão? Nem uma nem outra. O problema está na pergunta, ou melhor, naquele que pergunta, no perguntador! Entre a Fé e a Razão existe um mediador, ou inventor, sei lá, o homem, aquele que as denomina e as manipula. Adoro esta parte, denominar e manipular. Denominar é dar o nome à cria, à criação. Damos nomes a estas duas "forças", as separamos e ainda nomeamos também a disputa eterna entre estes dois deuses. Divinamente também tomamos estas divindades e as subjugamos, as obscurecemos, as tornamos "homo sapiensídicas". Municiamos ambas as partes e as controlamos de acordo com nossa vontade, nosso desejo, nosso percurso forçado à uma tomada de poder. Evocamos algo, o divinizamos, dividimos em dois e os deturpamos em monstros.

O ponto não é uma moralidade conveniente. A Fé é boa/má. A Razão é boa/má. O ponto é a virtude, a virtude humana. Não são boas ou más, são Fé e Razão. São "são". Agora, o humano é homem. Sendo homem, não aprendeu a não querer ser igual a Deus. Mas encheu-se de si e se fez aquilo que não é. Criou uma grandissíssima ilusão. Uma ilusão mãe, mãe solteira. Na trilha por nosso poder, nosso desejo de ter aquilo que não temos e/ou ser aquilo que não somos, utilizamos destas forças em nossa ilusão para dominar, denominar e manipular tudo. O ponto é o homem e o que ele faz com aquilo que chama de Fé e Razão. Então quando me perguntarem o que é pior, responderei da seguinte forma: "Nem uma nem a outra. O problema é crer que se é racional e/ou racionalizar aquilo que se crê". A Fé pode aprisionar e a Razão matar. Mas não elas por elas mesmas, mas como instrumento do debatedor, da peça defeituosa do maquinário, do homem. O problema é crer que somos racionais e racionalizarmos aquilo que cremos. O problema é criarmos nestas forças divinas ilusões para sermos deuses ou sermos iguais a Deus, ao invés de sermos humanos.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Um mínimo de respeito

Perdoem-me mas não posso ser desrespeitoso e leviano. Os textos devem ser tratados com o devido respeito! É de péssimo coro, deprimente imagem e completa demonstração de desinteresse, falar de um texto sem conhecê-lo, sem pensar sobre ele, sem descobrir em qual contexto ele se encaixa. Isso vale para qualquer texto. Não podemos falar frases soltas sem saber de onde elas vem...

Em especial, é de tremenda falta de tremor e temor pela Palavra de Deus, que os crentes tanto evocam, jogar versículos ao ar sem conhecer em que livro, capítulo e perícope ele se encaixa! E neste cenário, de qual tempo histórico ele pertence! Por favor, em respeito e amor à Palavra, à Bíblia, ao que chamamos de texto sagrado, não sejam levianos, não decorem versículos sem saber do que eles tratam, não leiam a Bíblia achando que já sabem o que ela diz! Você pode se surpreender, Deus pode falar com você.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Desabafo

Ontem estava no seminário e em uma das aulas entramos em um assunto tenebroso (que comentando aqui à parte, não tinha nenhuma relação nem com a disciplina e nem com o assunto em pauta), um assunto que sempre que faz parte da conversa tudo vai por água abaixo. Como diz meu pai, que também é professor, "sempre que o 'diabo' entra na aula', ele estraga tudo". Esse nome quando é dito por alguém em uma igreja, ou entre crentes, parece que gera um mal estar tão grande, uma euforia momentânea espetacular, algo complicadíssimo de se compreender. Chega até a parecer que cristão mais crê no diabo do que em Cristo (vai entender?!). Já escrevi outros textos sobre o Diabo, chifrudo, pé-preto, belzebu, corinthiano (eu sou corinthiano ok?! Isso é apenas uma piada) e seja lá como queres chamar, mas este é mais um desabafo do que propriamente uma reflexão ou um pensamento "bem pensado".

Dentro da minha casa, na minha família mesmo, na igreja ou no seminário, todas as pessoas tem suas experiências com coisas "assustadoras" e inexplicáveis (as quais eu também tenho!) e sempre atribuem-nas ao diabo. Eu nunca consigo atribuí-las ao diabo como todos entendem; uma possessão, um ser que paira por aí e entra no homem, não dá! Então surge a célebre pergunta: "Então como você explica?". Por que eu tenho que explicar???! Porque eu tenho que ter uma explicação?! Aliás, porque você quer explicar? Como que um homem ou uma mulher fica numa posição absurdamente estranha? Como muda de voz? Como sai colando nas paredes? Eu sei lá! E direi outra coisa: você também não sabe! O que sei é que como ser humano tenho um potencial tremendo, como homem sou capaz de coisas inimagináveis, como homo sapiens, animalesco, tenho muito mais!O distanciar-se do ser ser humano, animalizar-se, deixar de ser humano, nos torna tão atribulados, fortes, loucos, instintivos, quanto os animais. Não sei explicar, ninguém sabe! Mas porque é necessária uma explicação? Não é mais fácil eu conseguir uma solução? Que aliás, deveríamos ter em mente, conhecer essa solução: Jesus.

Porque me atenho em inventar um ser ou me ater a um ser que é pó, verme, lixo, nada, quando tenho comigo Cristo? Que sentido faz? Os crentes tem uma mania de "libertar a opressão do inimigo" com palavrinhas mágicas! Cinco palavras que em ordem certa e intensidade correta na voz resolvem o problema do demônio. Que simples! Quem dera esse fosse o maior dos problemas, o maior dos males! "Fui até aquele casebre e expulsei o demônio. Era um casebre isolado, perto de um esgoto, caindo, faltava comida, bem obra do inimigo! Aí expulsei o demônio, orientei a família e acho que até hoje devem ter tomado o caminho"... Como assim?! O problema não era o demônio! O problema era a casa! Era o casebre! Sujo, pobre, sofrido. Faltava pão, faltava água! Faltava vida! Faltava humanidade! Quem dera os problemas fossem resolvidos com aquelas cinco palavrinhas! O problema é mais fundo, é mais embaixo, esse comportamento animalesco que chamamos de demônio é só o fenômeno, a ponta do iceberg. E a vida? Comida? Dignidade? Humanidade? Pra que né?! O demônio já foi expulso, ganhamos a batalha espiritual.

Me dá vontade de dizer muitos e muitos palavrões. Mas não posso, provavelmente pareceria que estou possesso. Estou é indignado! Como podemos viver olhando para nosso umbigo? Para um mundinho pequeno? Procurando explicações transcendentais que são resolvidos com cinco palavras ao invés de olhar para a dor? Não pode! Não cabe! Não dá! Pessoas morrem todos os dias por causa não do diabo, mas por causa do homem! Homo Sapiens! Milhares de pessoas na Faixa de Gaza morrem inclusive em nome de Deus! Países invadem outros e matam milhares em nome de Deus! Isso é homem! Homem! Não é Diabo! Pessoas morrem de fome por causa da sede, da fome, da péssima distribuição de terras, e nós preocupados com um ser que nem vemos! Como? Como é possível?! Vemos todos os dias miseráveis nas ruas, mendigantes, discriminados e não nos preocupamos. Mas o diabo que não vemos, ah, esse sim é perigoso! Não! Isso é Homem! Isso é Homo Sapiens! Isso sou eu! Eu! Eu! Penso todos os dias em meios de matar melhor uma pessoa, produzo armas cada vez mais precisas, penso em como me apropriar do outro, escravizo mão de obra, me educo e furto a educação dos outros, sou ambicioso, ganancioso, cobiço, sou mundano! Fui capaz de subjugar nações, capaz de destruir famílias, homens, mulheres, crianças! Fui capaz de matar seis milhões de judeus com uma precisão incrível, racionalmente, calculando, consciente! Sou Homem! Sou eu! Não Diabo!

E dizem que eu sou "racionalista" por tentar explicar estes fenômenos estranhos. Jamais, longe de mim! Pelo contrário, chamo-os de inexplicáveis. Não quero explicá-los, quero saná-los! Não em meu nome, pois sou eu o causador disso, mas no nome daquele que me salvou, Jesus Cristo! Racionalistas são vocês que querem explicar o como e o porque acontecem estas coisas, com quais palavras mágicas podemos resolver estes problemas. Racionalistas são vocês que não conseguem conviver com o desconhecido e precisam nomeá-lo! Precisam controlá-lo! Precisam estar em conflito com ele! Prestem atenção! Olhem para o que vemos, para a vida, e vejam que este é o menor dos males, o mais simplório. Percebam que a dor do mundo é causada por nossa racionalidade, por nossas mãos, por esta racionalidade que vocês utilizam para "combater o desconhecido". O mundo precisa de pão! Do Pão! De água, da Água! Precisa da Carne e do Vinho. Nós precisamos disto, não de demônios. Nós vemos, agora deixamos de ser cegos, somos então culpados! Nossa culpa, máxima culpa! Não nos prendamos a picuinhas religiosas, a manipulações da dor, a manipulações do "transcendente", e vivamos a vida, cuidemos da vida, sejamos a vida! Por favor! Deixem que do Diabo, o Diabo que o carregue!


Diabolos - aquele dividido em dois. Anda em dois caminhos. Duas caras.

Para "vencermos o Diabo", basta sermos íntegros e cuidarmos do ser humano como um ser, integral. Só que este "basta" é pesado demais né? Real demais para aceitarmos... Mais fácil derrotar o desconhecido, o inexistente...

Credo

Creio em Deus Pai Todo Poderoso; amoroso, misericordioso, gracioso, eterno e bom.

Criador dos céus e da terra; e de tudo o que há! Todas as coisas! Inclusive Criador de mim. Destas coisas que como diabo (do grego diabolos, que significa dividido em dois, dois caminhos, "duas caras") tenho matado, roubado, destruído, poluído, desgastado... Tudo por minha miserável ambição, miserável dualidade.

Creio em Jesus Cristo; a encarnação de Deus, o esvaziamento do divino em humano, o demasiadamente humano que tornou-se divino.

Seu Único Filho; o unigênito de Deus Pai. A revelação Daquele que é!

Nosso Senhor; meu Senhor, de quem me fiz escravo por ser livre! A quem entreguei minha vida depois de tê-la recebido Dele!

O qual foi concebido por obra do Espírito Santo; que refez o humano, transformou o coração, trouxe conforto, graça, paz e consolo.

E nasceu da Virgem Maria; mulher graciosa, revestida pela graça, mãe do Filho do Homem, mãe de Deus. Provavelmente estuprada por um romano, mas que por Aquele Espírito, teve sua dor transformada em Cura, na Cura. Sua desgraça em Graça, seu choro em Alegria, sua vontade de morrer na Vida Eterna. De seu ventre veio o Redentor.

Padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos; e sob o meu. Sob o dos homens. Sofreu nas mãos do poder humano, do grande causador das dores, do responsável pelo pecado. Sofreu sob nossas mãos.

Foi crucificado; com meus martelos e meus pregos, segurados por mim.

Morto e sepultado; descobriu as desgraças que somos capazes de fazer. Conheceu o preço da liberdade, a irresponsabilidade. Esvaziou-se de si, entregou-se a morte, deu sua vida.

Desceu em Hades; conheceu a profundeza do inferno, da ausência de Deus, da barreira que criamos entre nós e o Amor. Esvaziou-se de si, e foi preenchido com chicotadas, ofensas, escárnio, violência, solidão, completa solidão, e o pior de todos os males, a indiferença. Descobriu o inferno que seres divididos em dois caminhos são capazes de fazer.

Ressurgiu dos mortos ao terceiro dia; ressuscitou! Recebeu as chaves da vida! Triunfou sobre a morte! Mostrou o que é viver, como viver e o que vale a pena na vida! Apresentou uma Vida Eterna! Encarnou um Reino.

Subiu aos céus; voltou para o Pai. Ao Reino que tentou viver.

E está sentado a destra de Deus Pai; ao lado Daquele que é Criador, Daquele que se esvaziou, Daquele que primeiro amou, Daquele que mesmo conhecendo o inferno que sua Criação é capaz de gerar, ama.

Todo Poderoso; amoroso, misericordioso, gracioso e bom.

E que há de vir a julgar os vivos e os mortos; com sua Justiça de Vida, Vida Eterna, seu Amor, Graça, Paz, Divindade... Além da compreensão humana, do julgamento humano. O Deus que em seu julgamento traz Vida!

Creio no Espírito Santo; aquele que refaz o humano, que consola, transforma corações e une a humanidade.

Na Santa igreja católica; não uma instituição, não paredes, mas uma universal e una família carregada de vida e de valores que transmitem a mensagem Daquele que deu a vida por nós. Unida por Aquele mesmo Espírito.

Na comunhão dos santos; não por serem perfeitos, doutrinados, regrados, rebanhos, mas sim por serem revestidos do Espírito, santos por serem demasiadamente humanos como Aquele Filho do Homem foi.

Na remissão dos pecados; mediante a graça, ao único sacrifício necessário, ao amor, o Verdadeiro Amor, que julga os vivos e os mortos e a eles derrama de sua Justiça, Paz e Graça.

Na ressurreição do corpo; de todo o ser. De tudo aquilo que o humano é. Do humano refeito, transformado. Do corpo dos santos.

Na Vida Eterna; que sempre foi, é hoje e sempre será! A Vida em abundância! A Vida do Filho! O Reino do Pai! O Reino dos Céus! Minha Esperança! Nossa Esperança...

AMÉM

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Depois de sabido, é impossível "dessabê-lo"

"Disse Jesus: 'Se vocês fossem cegos, não seriam culpados de pecado; mas agora que dizem que podem ver, a culpa de vocês permanece'."

Tenho um tio que diz o seguinte: "A ignorância é uma bênção". Claro, faz todo o sentido. Depois de sabido algo, é impossível "dessabê-lo". O problema do saber é que este consigo traz um fardo, um fardo árduo e pesado de se carregar; a culpa. Enquanto ignorantes bebemos leite. Enquanto esvaziamo-nos de nossa ignorância, ou nos enchemos de "sabedoria" (no sentido de saber algo), começamos a comer comida sólida. Depois de alimentado com algo além do leite, o leite é insuficiente. Parece que cada vez que conhecemos alguma coisa, esta coisa nos rouba uma parte de nós, e por medo de nos perdermos de tudo o que somos, corremos atrás dessa coisa que conhecemos para recuperar o que nos foi roubado. O problema é que neste percurso conhecemos outras coisas, e estas outras coisas nos roubam outras partes, e passamos a correr atrás das várias coisas que nos roubaram várias partes. Isso não pára nunca! A menos que desistamos da corrida ou morramos no caminho. Mas não conseguimos desistir, e se chegarmos a este ponto, lutamos contra nossas próprias pernas, entramos em crise com nós mesmos, a famosa "crise existencial". Depois de sabido algo, é impossível "dessabê-lo".

Se somos como cegos, ou estamos nas trevas, um homem cospe no chão, faz um barro, pede para que lavemos nossos rostos e passamos a ver, um homem é a luz que veio ao mundo para espantar as trevas. Entretanto, como é bom viver a escuridão, como é bom manter-me cego! Quão difícil é seguir o Filho do Homem! Mal tenho onde reclinar a cabeça! Depois de sabido algo, é impossível "dessabê-lo"! Mas esta é a condição da liberdade... Sentir o gosto de ser livre traz rejeição pela escravidão. Como é bom ser livre! "Foi para a liberdade que Cristo nos libertou!"; como é bom ter esta paz! "A minha paz vos dou"... Entretanto, quão difícil é assumir o controle da vida, como é difícil saber que decidir quem sou está em minhas mãos, como é viver sem Cristo depois de conhecê-lo! Como é difícil! Mas como é bonito! Depois de conhecida a vida, é impossível viver uma morte. Depois de sabida a vida, a Vida, a Vida Verdadeira, a Liberdade, é impossível "dessabê-la". Se agora enxergamos, carregamos conosco uma culpa, a parceira da nossa sabedoria... Depois de sabido, é impossível "dessabê-lo".