sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Maturidade

Em tempos que me achei criança, chamaram-me de maduro. Muitos dias em que sonhei ter crescido, não passei de um recém-nascido. Idade é coisa complicada; os dígitos que representam o tempo de vida, nem sempre condizem com a vida que se vive. Tem vidas que aos 40 parecem ter vivido 15, e outras que aos 20, parecem ter vivido 22 ou 25. Chamamos essa variável variante indeterminada que ultrapassa os números de "maturidade".

Como pode um homem de 40 apenas ter vivido 15? É que de seus 40 anos vividos, carrega consigo apenas 15 deles. Pode ser que tenha escolhido ter consigo aos 40 apenas os anos que ficam entre o 10 e o 11, 16 e 18, 24 e 25, 30 e 40. Carrega consigo apenas parte da vida vivida, não decidiu levar toda a bagagem, preferiu viver menos, determinou para si um limite de experiências. Podemos ter 60 anos, mas apenas termos conosco 20 deles. Enquanto que um de 20, se carrega consigo todos os anos completos, parece ter vivido o mesmo que nós, aos 60. Homens maduros, idades diferentes. Talvez maturidades diferentes...

Pode ser que a maturidade esteja ligada com os anos que carregamos conosco. Mesmo aos 20, 15 ou 54, vivemos em nós o nosso 5° ano, o 10º, o 13º e até o ano 16 - talvez isso nos torne maduros. Quando dizemos que temos uma tal idade, de fato a temos. Englobamos em nós do 0 aos "x" anos. Me entristece saber que esquecemos disso. Não lembramos durante os dias que temos 5 anos, 10 e 13; apenas decoramos nosso dígito atual. Que adianta viver 100 anos se deles apenas trago comigo 30? Melhor viver os trinta...

Ao falarmos com as crianças, lembremos que nossa maturidade carrega ou deveria carregar também as idades delas. Quando estivermos com os adolescentes, lembremos que em nós experimentamos em nossa maturidade os 13 anos também. Na frente dos jovens, não se esqueça de que eles podem ter vivido mais do que você, assim como você mais do que eles. Frente aos mais velhos, esperem para ouvir se vivem hoje a mesma idade que tu tens. No dia de homenagear os mortos, lembremo-nos dos anos vividos e tragamos para todos os dias toda a nossa maturidade.

Vida que vive intensamente é vida que vive todos os dias todas as vidas que já se foram...



Gratis i Kristus

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A Causa

Por toda minha infância de 22 anos, ouvi minha mãe contar histórias de heróis que defenderam uma causa. Causos sobre amigos, personagens bíblicos, ícones históricos e a própria história de minha mãe me apresentavam causas pelas quais eu deveria lutar. Gandhi, Malcom X, Paulo Freire, Cida, Carlos Mesters, Padre Alfredinho, Dona Maura, Paulo, Madre Teresa, Espinosa, Moisés, Lutero, Gisleine, Eliel, Mandela, Sócrates, Jandira... E por aí vão os seres fantásticos que viajam pela minha imaginação infantil de estórias e aventuras sustentadas por causas. Ouvi contos de lutas, revolução no sangue, e descobri que não são as lutas que me encantam; é a paixão...

As lutas destroem, mas o amor edifica. Nada contra os conflitos, inclusive os defendo, já que sem eles não há novidade. O problema é que por parecer que as causas se demonstram nas lutas, instituímos que causa é aquilo pelo que lutamos. Minha infância é marcada pela frase "lutar por uma causa", mas sempre que vejo as lutas, as causas estão desaparecidas. A causa não vem depois que eu começo a lutar, vem antes. Por isso digo que lutamos pelos efeitos, e não pelas causas. Lutamos por melhores condições de vida, por sobrevivência, por direitos, por uma reforma nas paredes de uma faculdade, construção de uma escola ou hospital, mas esses são efeitos, são coisas que surgem depois da causa. O efeito é objeto da luta. Os efeitos são muitos, mas a causa é única. E a causa única seria objeto de quem? Daquilo que me encanta: a paixão!

Por uma causa eu não luto, eu me apaixono. Soa estranho falar de paixão; cai em nossos ouvidos como o completo abandono dos sentidos e a perda da razão. Claro, pois a paixão nos obriga a repensar nossa consciência. Apaixonar-se requer a transformação das estruturas racionais e cômodas vividas até então. A causa só é causa se for objeto da paixão. A paixão nos obriga a mudar, a refazer os pensamentos, a reorganizar o intelecto, a "metanoiar", transformar a nossa consciência. A paixão me obriga a ser um novo homem, a repensar a vida, a não saber viver sem seu objeto. Nasci de novo. A causa me obriga a viver de novo. Viver é entregar a vida. A causa me obriga a entregar a vida novamente de um jeito novo. A causa é a consciência...

Não, não nos faltam lutas; faltam paixões. Mundo apático não é um mundo sem lutas, é um mundo sem paixões. Vivemos em constantes guerras, e nenhuma delas traz consigo uma causa, todas procuram seus efeitos. Minha geração não é uma geração sem lutas, longe disso, somos os melhores soldados que já existiram. Minha geração é uma geração sem causas. Impedem que nos apaixonemos. Claro, vivemos num mundo "cheio de razão". Faltam corações que se apaixonem, faltam consciências. Ciências temos de sobra, causas estão em falta. Os exemplos que me encantam são os que entregam a vida por paixão. Os efeitos exigem que lutemos, mas as causas que nos doemos. Faltam apaixonados por causas! A causa é a consciência...

Faltam apaixonados pela consciência!


Gratis i Kristus

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Vida simples...

Convidei-me para uma festa quando li esse texto http://minorulandia.blogspot.com/2011/11/o-que-e-vida-simples_03.html?spref=tw , escrito por meu amigo Minoru Raphael, e, de intruso, resolvi escrever também...

Nome simples é o nome que designa uma única coisa. Já o nome composto designa duas coisas que estão juntas ou utiliza dois termos para designar uma única coisa. Resumindo, digamos que o simples seja "João" e o composto "João Pedro". Mas, João Pedro são duas pessoas? Não, é uma única pessoa que possui dois nomes. Dois é mais do que um, logo, deve ter algo a mais nessa pessoa. Que diremos então de Dom Pedro I, que tinha 18 nomes?! Deve ter algo muito a mais do que uma outra pessoa... Do que o João, por exemplo. Dom Pedro é um homem composto...

A começar pelo "Dom", um título de nobreza. Título é uma posse de Pedro. Posse... Pedro é possuidor de um título e de muitos nomes. Isso faz de Pedro uma pessoa simples? Não sei. Para responder, posso me perguntar: todas essas posses são de uma mesma vida? De um mesmo Pedro? Ou por vezes suas posses são de Dom, outras de Pedro e ainda outras de I? A vida simples de Pedro começa a ficar complexa...

"Bom é ter vida simples!" - diziam os românticos. O problema é que não se prestaram a explicar muito bem de que "simples" estavam falando. Os bucólicos, os doloridos de baço e os woodstocker's cantavam a simplicidade com o viver no mato, sofrer de amores e não ter nada que participasse do mundo capitalista. Vivemos no mato, sofremos de amor e muitos fogem das amarras capitalistas. Isso fez da vida uma vida simples? Não. Pode ter feito da vida uma vida rural, ou angustiante, ou pobre, ou alienada, ou... ou... Qualquer outra coisa. Se é bom ter vida simples, precisamos ver como ou quão simples a vida é, e, quando uma coisa é simples, só pode haver um meio, uma resposta, um jeito. Os simples são únicos...

De maneira extremamente arrogante e pretenciosa, venho falar da vida simples: a vida única. Vida simples é um símbolo, tem uma "única cabeça". Se enumerarmos posses, lugares, coisas, sentimentos ou qualquer tipo de ser enumerável e definível que resuma o que, onde ou com quem é uma vida simples, a vida já não é mais simples, ela é quantificável, e aquele que possuir a maior quantidade de ondes, com quem's e quandos da vida simples, tem uma vida mais simples. Como símbolo e como simples, a vida simples não pode ser quantificada ou espacializada, deve ser vivida. Eu sei, acabei de utilizar um chavão, mas hei de menospiorá-lo: a vida simples é aquela que é a mesma, que não se divide, não se separa, vive como uma única vida em qualquer tempo, com qualquer coisa e em qualquer lugar. É vida que não se mede...

A vida simples é sinbolica, tem uma única cabeça, e não diabolica, detentora de duas cabeças. A vida de Bruno que vive como Bruno e decide viver sendo Bruno independentemente das posses, dos nomes, das complexidades, dos lugares, das pessoas e dos tempos, é uma vida simples. Não, não é uma vida composta, é bem simples. O problema de viver uma vida simples não é a impossibilidade de sua existência, mas a dificuldade de vivê-la. É decidir ser quem se quer ser a cada instante, ser coerente, ter bom senso, não deixar se dividir, ter sempre a mesma cara, matar todos os dias a hipocrisia, se livrar da mentira e, definitivamente, saber que vida simples não é vida feliz, é vida simples, simplesmente.

Espero que a vida de Pedro não tenha se dividido em vida de Dom, vida de Pedro, vida de I, vida de Alcântara... e por aí vai!


Ao meu querido amigo Minoru



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