quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A Causa

Por toda minha infância de 22 anos, ouvi minha mãe contar histórias de heróis que defenderam uma causa. Causos sobre amigos, personagens bíblicos, ícones históricos e a própria história de minha mãe me apresentavam causas pelas quais eu deveria lutar. Gandhi, Malcom X, Paulo Freire, Cida, Carlos Mesters, Padre Alfredinho, Dona Maura, Paulo, Madre Teresa, Espinosa, Moisés, Lutero, Gisleine, Eliel, Mandela, Sócrates, Jandira... E por aí vão os seres fantásticos que viajam pela minha imaginação infantil de estórias e aventuras sustentadas por causas. Ouvi contos de lutas, revolução no sangue, e descobri que não são as lutas que me encantam; é a paixão...

As lutas destroem, mas o amor edifica. Nada contra os conflitos, inclusive os defendo, já que sem eles não há novidade. O problema é que por parecer que as causas se demonstram nas lutas, instituímos que causa é aquilo pelo que lutamos. Minha infância é marcada pela frase "lutar por uma causa", mas sempre que vejo as lutas, as causas estão desaparecidas. A causa não vem depois que eu começo a lutar, vem antes. Por isso digo que lutamos pelos efeitos, e não pelas causas. Lutamos por melhores condições de vida, por sobrevivência, por direitos, por uma reforma nas paredes de uma faculdade, construção de uma escola ou hospital, mas esses são efeitos, são coisas que surgem depois da causa. O efeito é objeto da luta. Os efeitos são muitos, mas a causa é única. E a causa única seria objeto de quem? Daquilo que me encanta: a paixão!

Por uma causa eu não luto, eu me apaixono. Soa estranho falar de paixão; cai em nossos ouvidos como o completo abandono dos sentidos e a perda da razão. Claro, pois a paixão nos obriga a repensar nossa consciência. Apaixonar-se requer a transformação das estruturas racionais e cômodas vividas até então. A causa só é causa se for objeto da paixão. A paixão nos obriga a mudar, a refazer os pensamentos, a reorganizar o intelecto, a "metanoiar", transformar a nossa consciência. A paixão me obriga a ser um novo homem, a repensar a vida, a não saber viver sem seu objeto. Nasci de novo. A causa me obriga a viver de novo. Viver é entregar a vida. A causa me obriga a entregar a vida novamente de um jeito novo. A causa é a consciência...

Não, não nos faltam lutas; faltam paixões. Mundo apático não é um mundo sem lutas, é um mundo sem paixões. Vivemos em constantes guerras, e nenhuma delas traz consigo uma causa, todas procuram seus efeitos. Minha geração não é uma geração sem lutas, longe disso, somos os melhores soldados que já existiram. Minha geração é uma geração sem causas. Impedem que nos apaixonemos. Claro, vivemos num mundo "cheio de razão". Faltam corações que se apaixonem, faltam consciências. Ciências temos de sobra, causas estão em falta. Os exemplos que me encantam são os que entregam a vida por paixão. Os efeitos exigem que lutemos, mas as causas que nos doemos. Faltam apaixonados por causas! A causa é a consciência...

Faltam apaixonados pela consciência!


Gratis i Kristus

Nenhum comentário:

Postar um comentário