quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Teologia

Depois de começar a fazer teologia, tenho algumas considerações a fazer.

A primeira pergunta que tenho que responder ao mencionar que estudo teologia, é o que de fato eu estudo. As pessoas perguntam: "Mas como se pode estudar Deus?" Afinal, teologia é o estudo de Deus. Esse questionamento não é frequente apenas em quem não cursa teologia, mas inclusive os cursandos muitas vezes indagam o como eles estão ou hão de estudar Deus? Antes de mais nada, teologia não é um estudo cristão. Essa afirmação é necessária pois nós, brasileiros, nascemos e crescemos numa cultura religiosa majoritariamente cristã, especificamente católica, e acostumamos a associar a palavra deus a Deus. Existe porém a Teologia Umbandista, Kardecista, Taoísta, Xintoísta, Budista, Hindu... E por aí vai. O que de fato seria teologia? O estudo de Deus? Não! É o estudo ou análise da interpretação de Deus. No poema 32 do Tao Te Ching, de Lao-Tsé, "O poder do invisível", no 11° verso, está escrito o seguinte:
"Quando Tao (Deus) assume forma,
Pode ser conhecido mentalmente,
Mas todos os conceitos
São apenas indícios
Que apontam para o Inconcebível."

Que sem dúvida nenhuma é a melhor explicação do porque estudamos teologia. Não por entender, analisar e explicar Deus, mas sim nossas compreensões sobre Ele e os indícios que nos apontam para o que não pode ser compreendido. Comentando a parte, ressalvo que como de acordo com Vattimo, "Quando é que um homem torna-se ateu? Quando lhe é apresentado um Deus menor do que ele.", estudamos o que existe, o que é concreto, e Deus não pertence ao campo do existir, mas do ser. Ele não Existe Deus, e sim, É Deus. Mas isso é um argumento e assunto para outro texto (só para aguçar a curiosidade e não perder leitores).

Um problema da Teologia Cristã é perceber, além do seu objeto de estudo, sua função. Para a maioria dos crentes em Jesus, estudar teologia está relacionado de maneira diretamente proporcional com o "ganhar almas para Jesus", o que, relevando o mérito que dou para essa não muito feliz frase, não compete a teólogos por serem teólogos. Teologia não é formação para pastor, obreiro, padre, diácono, bispo, apóstolo, presbítero, missionário ou sei lá, pois conhecendo a Cristo você já está habilitado, mesmo que sem diploma por incrível que pareça, a viver como cristão e mostrar o Deus a quem você segue a outros. Ou melhor, a sua interpretação de Deus para outros. Sem contar que não é um bonito papel timbrado com teu nome, assinatura de um diretor e o logo de uma instituição de ensino que comprova a sua vocação ou capacidade de revelar um indício de seu Deus.

A terceira coisa, é que me parece que teólogos e cursandos do curso de Teologia, vivem como se "manjassem" tudo sobre Deus. Não preciso aprender quase mais nada, já estou no caminho do "doutorado de divindade" (se é que isso existe mesmo). Já entendi e sei como Deus "funciona". O que é impossível. Jamais seremos capazes de encaixarmos Deus eu nossa cabeça, guardá-lo no cérebro. Se um Deus que é Deus é eterno, correr atrás do Infinito só dá mais canseira. Buscar entender Deus só tem um fim, descobrir que há muito mais, aliás, tanto mais que NUNCA acaba. O que nós conseguimos é aperfeiçoar, atualizar e contextualizar a nossa interpretação do Infinito. Mas mesmo assim, muito distante do que Deus é. Imagine que seu conhecimento de Deus é uma linha equiparada a linha do que Deus É. Iguais. Agora distancie e estique a linha de Deus para frente e para trás já que é eterna. Distancie mais. Mais. Mais. Mais... A tua linha desapareceu.

E isso, regressa à frase já mencionada de Vattimo. Se Deus cabe em mim, ou, em um livro (já comentado em outros textos do blog e será comentado em próximos), é menor do que eu. Logo, não é Deus, e se for, eu também o sou.

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