quinta-feira, 18 de junho de 2009

A (não) contribuicão da Universidade

A ciência, mitificada como o correto, pleno e verdadeiro tipo de raciocínio ou conhecimento, é produzida, protegida e ao mesmo tempo senhora toda-poderosa e absoluta nas universidades, os famosos e famigerados centros acadêmicos (o templo do saber). Onde há a sapiência, a evolução e o fortalecimento do pensamento humano que procuram o "bem" da humanidade. Que magnífica ciência! Representada de maneira brilhante nas personagens de filmes, quadrinhos e desenhos animados de super heróis, nos quais interpretam cientistas e gênios inteligentíssimos que desenvolvem tecnologias e fazem descobertas espetaculares para o já mencionado "bem" da humanidade, mas, em sua ingenuidade e pureza de coração, as passam para pessoas más, não "científicas", ou não cientistas, que com essa tecnologia e/ou descoberta, trazem ao mundo o caos. Talvez seja por isso então (e agora chego onde queria com essa introdução) que os acadêmicos enclausuram-se em Universidades, no universo do conhecimento. Cercam a ciência com quatro paredes e uma porta acessível apenas para vestibulandos bem sucedidos, põem-na dentro de uma roda feita por eles mesmos e protegida por palavras difíceis, contas e números "complexos", eludicões inacessíveis e a aversão ao "tinhoso", "nefasto", "demoníaco", Senso Comum (o deus adversário da deusa Ciência).
Mas todos sabemos que essa ingenuidade dos cientistas e sua preocupação em entregar suas descobertas apenas para as pessoas "certas", abençoadas com o objetivo do "bem" da humanidade, é falso. Mais falso ainda a existência desse objetivo, já que o conhecimento produzido permanece dentro do centro acadêmico e não avança para a humanidade como um todo que ao que parece depende e espera que alguém traga a salvação para ela. Os acadêmicos criticam e satirizam quem está fora desse meio como pertencente ao senso comum, mas não tem preocupação alguma de tirar. ou melhor, colocar os excluídos por dentro do mundo do conhecimento científico. Porque será que tratam o senso comum como "burrice" que precisa ser erradicada mas ao mesmo tempo não há o movimento para que isso aconteça? Porque será que o debate fica apenas dentro desse meio? Porque será que não é disseminado e de maneira compreensível transmitido o pensamento e o conhecimento obtido pela ciência?
Bom, para responder essas questões, poderia me valer da idéia de que o Estado ou o sistema capitalista necessita não de pensadores que reflitam sobre suas condições e tenham conhecimento de direitos, tecnologias, meios de defesa do indivíduo e boa argumentação. Mas isso seria muito simplista, paranóico e me levaria a cometer um grave erro; dentro das Universidades há o ódio profundo revolucionário e libertário contra o capitalismo, o Estado, a sociedade repressora e coisas do tipo. Portanto, o problema não está nesta questão apenas, ela também faz parte dessa discussão, mas não explica o porque o conhecimento produzido nesses meios revoltosos e científicos não extravasam suas fronteiras. É nítido que o problema está não na produção do conhecimento, mas em seus desdobramentos.
Para avançar no debate e na discussão da transmissão do conhecimento produzido nos meios acadêmicos é preciso entender primeiro qual a função da Universidade, do ensino chamado superior. Claro, se retiramos dos acadêmicos o conhecimento produzido por estes e repassamos para os "de fora", estes terão (na atual concepção de ensino superior) perdido o controle sobre o debate não serão mais os únicos capazes de discuti-los, e assim, consequentemente, seus diplomas perderiam o valor "especial" já que outros também tem conhecimento do assunto (pois este fora transmitido) e poderão superá-los quem sabe ou até mesmo dar pontos no debate. Esse "toque especial" do diploma, que credencia uma pessoa a ser produtora de conhecimento, responde as questões antes colocadas como o porque será que tratam o censo comum como "burrice" que precisa ser erradicada mas ao mesmo tempo não há o movimento para que isso aconteça? Pois é necessário que haja um desconhecimento da ciência para que os detentores do acesso a deusa sejam sacerdotes especiais e poderosos. Porque será que não é disseminado e de maneira compreensível transmitido o pensamento e o conhecimento obtido pela ciência? Porque essa perderia então seu status mitificado de detentora da verdade. Aliás, fazendo um breve comentário, os excluídos pertencentes ao senso comum estão tão distantes da ciência que estes, quando a descobrem, descobrem infelizmente um vestígio desta que já foi ultrapassado e tido como errado e mentiroso.
Me prolongo nesse devaneio e insisto nesta reflexão pois durante o meu semestre de Ciências Sociais na UFPR fui assolado por uma pergunta a qual não pude responder feita por meu professor de sociologia: "Porque você tem que fazer uma faculdade? Pra que serve a Universidade?". Pensei que fosse para a produção de conhecimento, mas este não sai das quatro paredes como repeti varias vezes durante o texto. Reli meus dois textos sobre educação ("'Ensino Básico' e 'Livre pensamento'"), e vi que nas minhas conclusões, as especialidades e o desenvolvimento de uma habilidade para o exercício de uma profissão viria no ensino superior, e essa idéia continua comigo, essa é uma das funções do ingresso na universidade, aprender a se virar, pensar, viver e ter uma habilidade que permita a funcionalidade e um papel do indivíduo dentro do meio em que vive, buscando sempre a melhoria não apenas de si, mas de sua relação com o meio e este propriamente dito. Mas, a grande missão e instrumentalização de uma Universidade não é a produção do conhecimento, mas a transmissão do adiquirido. O temido senso comum é uma forma de pensamento e todos os dias produzido e utilizado, mas não porque os excluídos do meio acadêmico sejam "burros" ou desinteressados em aprender e conhecer a ciência, mas porque este é transmitido de uma maneira prática e pragmática, não simples no sentido de simplória, mas no sentido de ser completa, poucas palavras ou ilustrações que exemplificam e trazem a tona uma lógica que passa a ser de fácil percepção. A ciência, por ser tão poderosa e verdadeira, deveria ser transmitida dessa maneira também, e não enclausurada por blindagens intransponíveis. Até dentro da própria ciência as vezes há falta de transmissão de conhecimento. Um médico se especializa e estuda tanto uma área, faz descobertas e tem toda a bagagem científica consigo, mas não consegue dividir esse conhecimento com outros e assim compreende e sabe tudo de sua especialização, mas está distante do outro que se especializou em outra área e sem comunicação entre os dois, cada um cuida de uma parte do problema de saúde de alguém e nenhum chega a uma solução. Nesse percurso poderia ser um problema piscicológico, e o piscicólogo nem chamado para ter conhecimento do problema é. Como pode ser reflexo do meio onde o paciente vive, e um assistente social ou um sociólogo não é chamado para contribuir na descoberta para o "bem" do paciente que faz parte da humanidade.
A Universidade e o ensino superior não são para adiquirir conhecimento, mas para transmitir o adiquirido. De que adianta ter ouvido uma piada engracadíssima e guardá-la para si? Ou não conseguir contá-la a ninguém? A piada cumpriu sua funcao? Além de você que tomou conhecimento da piada, quantos mais riram e se divertiram com ela? Qual o valor de um conhecimento produzido se este será usado por poucos ou por ninguém para a integração de pessoas a sociedade e a formação destas como cidadãos e melhores seres humanos? De que adianta ter uma casa de praia com piscina se você mora sozinho e nunca chama ninguém para passar um fim de semana e nadar um pouco? O diploma não deveria nos dar o direito de participar do debate e da produção do conhecimento, mas o de transmiti-lo e de fato torná-lo um bem para a humanidade. O que torna um acadêmico especial não é seu conhecimento adiquirido, mas o transmitido.

Um comentário:

  1. é isso ae, continue nos transmitindo esse seu conhecimento adiquirido!
    se precisar de qualquer coisa relacionada a psique...
    é Bruno, "as coisa são assim..." mas dizer isso é ser muito simplista! não deixe a ciência tirar esse seu Senso comum.. ou, Senso PELO BEM comum.

    abraços!

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