quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Um salto atrás

"Dar um passo atrás para poder dar dois a frente", foi a frase do camarada Lênin quando implantou o programa das NEP's na antiga e já finda União Soviética. No campo religioso, a área que me interessa, essa frase é seguida a risca. Na verdade, refletindo um pouco, é uma variação dessa frase que se segue, e não ela em si: "Dar dois passos para trás para poder dar um a frente". (imagine uma musiquinha simples ao fundo e uma voz grave e pausada lendo-a).

Seguindo essa filosofia "lusitana" (brincadeirinha queridos amigos portugueses, é só uma questão humorística ok?!) é inevitável o atraso da religião e de seus dogmas. O que era pecado séculos depois deixa de o ser, o errado torna-se certo, o que nos "bons tempos" a religião proibia, posteriormente pratica, e estas teimosias e preconceitos pegam tanto o chamado senso comum (as crendices populares) quanto a ciência, política, filosofia e etc. Desde do pecado da "Terra ser redonda" esse tipo de atitude é perceptível.

Acho que as situações mais cômicas são nos momentos de transição, em que a religião olha para o mundo e diz: - Tomaremos agora uma atitude revolucionária, seremos mais "pra frentex". Ou então: - Deu na telha uma idéia batuta e vamos pô-la em prática, broto.

Hoje, crendo ser revolucionária e inovadora, a Teologia apresenta soluções para o mundo e para a religião, como por exemplo dois segmentos divergentes e distintos: a Teologia da Libertação e a Teologia da Prosperidade. Gedeon Freire faz a seguinte caricatura destes dois tipos de pensamento:
"Se um fiel entrasse numa estrebaria e nela estivessem José, Maria e o menino Jesus, o fiel choraria, se emocionaria e daria todo valor ao momento. Enquanto que, se um teólogo da Teologia da Libertação chegasse à estrebaria onde estavam José e Maria com o menino Jesus, não veria José, Maria nem o menino Jesus, mas pobres que precisam de um novo Estado e prática econômica. Faria uma revolução, redividiria a estrebaria e criaria uma corporação comunitária. Já se um teólogo da Teologia da Prosperidade chegasse nesta estrebaria, não veria nada além do incenso, ouro e mirra."

Nós, cristãos críticos e estudiosos da religião cristã, olhamos para a Teologia da Prosperidade e a relacionamos como um movimento atual capitalista, que segue os moldes dessa nossa sociedade capitalista. Mas não é bem assim, os padrões e regras seguidas por essa teologia são padrões Mercantilistas do século XV, quando a usura, base do capitalismo, era ainda um embrião e PROIBIDA pela igreja. A teologia da prosperidade também é atrasada e desatualizada (uns 500 anos). As bases do Mercantilismo, também chamado de pré-capitalismo, são o intervencionismo do Estado na economia (que no caso da religião é a intervenção divina na vida), o metalismo, que dizia que a quantidade de metais preciosos é que demonstravam a riqueza do Estado ou do burguês (como Deus é o Estado dono do ouro e da prata, a quantidade de bens acumulados pelo fiel demonstra sua riqueza de fé e proximidade com o divino) e a balança comercial favorável (o crente tem que ganhar mais do que dá, logo todo sacrifício ou oferta feita na igreja é visando receber o dobro ou 100 vezes mais). Bom, teria também a prática alfandegária, taxas sobre o produto importado, mas eu diria que esta seria ou o preço pago por pecar e/ou "comprar produtos do capeta", ou então a igreja em si já é uma alfândega entre Deus e os homens.

Quer dizer, esse modo de agir e viver hoje adotado pela religião é mais do que atrasado, é antiquado e medieval. Mas não pensemos que a solução seria então o outro lado, a Teologia da Libertação. Revolucionária e inovadora ela com certeza não é. A Teologia da Libertação em si é a versão religiosa do socialismo ou comunismo, por anos perseguido e rejeitado pela igreja. Propôr mudanças em teorias econômicas, crer na igualdade de meios de produção, a não existência do capitalismo, o repúdio ao "Burguês", são idéias e visões do comunismo já falido. Décadas depois da ruína da experiência socialista, da queda do muro de Berlim, fim da União Soviética (do camarada Lênin que fora meu mencionado na introdução) a religião enfim adere a este propósito. "Dar dois passos para trás para poder dar um a frente".

A função deste texto não é resolver os problemas por ele apresentados (aliás, teriam muitos outros exemplos, mas a minha paciência de escrever e a tua de ler já se esgotaram) mas sim o problema a que ele se propõe, ao atraso da religião. Como cristãos, nossa fé tem que ser eterna (pois cremos e pregamos isso) e recorrente. Nossa fé tem que dar esperança e fazer sentido para a nossa geração. Nossa pregação tem que atingir os anseios do nosso tempo. Viver séculos atrasado não melhora o mundo, mas prova a nossa incapacidade de vencer Nietszche e sua afirmação "Deus está morto". Viver em atraso apenas cria uma barreira entre o diálogo da contemporaneidade com o trascendental. Viver com um passo sempre atrás não só não cumpre com o discurso e pregações revolucionários de Cristo para seu tempo, assim como estes para a eternidade. Ao invés de voarmos e subirmos aos céus do conhecimento e da consciência humana, sem nem necessitar dar passos, mas sempre acompanhar o tempo.

Hoje estamos um salto atrás. Devemos é nos ocupar e preocupar com a realidade de hoje. Os temas e a maneira de abordá-los tem que ser de acordo com a consciência de humanidade que vivemos, e não baseado em preceitos da Antiguidade ou conceitos da Modernidade, pois até esta ja é utlrapassada. Temos que reconstruir nossa cosmovisão. O caminho para isso? Nos libertar das antiguidades, não do passado, não jogar a história fora, mas analisá-la e aprender com o conjunto dos fatos e o conjunto humano a não parar e sempre avançar em direção a eternidade.

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