segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A Letra mata

Existem leis e mais leis. Umas são seguidas, algumas nem tanto, umas conhecidas e outras nem se sabe da existência (mas existem). No Brasil dizemos as vezes: "Esta lei não pegou", quando ela existe, todos tem ciência, mas ninguém a segue. Se há uma lei, uma regra, sujeita a punição, que exige uma organização, mas ninguém a cumpre, de que vale a lei? Simples pedaço de papel burocrático, lido, assinado, promulgado e vazio, sem qualquer valor. O que diferencia entre este e o papel higiênico é que o segundo ainda é utilizado para uma finalidade, enquanto o primeiro apenas ocupa espaço numa pasta.

Ouvi histórias de pessoas que tentaram cumprir a risca todas as leis da sagrada Bíblia, que são mais ou menos umas 700. Umas enlouqueceram, outras se enfureceram e algumas chegaram numa brilhante conclusão: é impossível cumprir literalmente todas estas leis. Sem fazer isso e sem necessitar de todo esse esforço também cheguei a essa brilhante conclusão, não contarei como nem quais foram os meus passos, mas argumentarei no intuito de tornar os pedaços de papel (ou de pedra) onde foram escritos os mandamentos e leis bíblicas, simplesmente pedaços de papel e de pedra, não necessários, não temíveis, não como leis e mandamentos que enlouquecem, enfurecem ou nos levam àquela tal brilhante conclusão.

Acho muito interessante percebermos as reações de Jesus às pressões da Lei. Em muitos textos Ele aparece dizendo "a Lei de Moisés diz... Porém eu vos digo...", logo, coloca-se acima de toda e qualquer Lei. Se Jesus, chamado o Cristo, é a plena Revelação de Deus, como prega o cristianismo, que diversas vezes parece ser mais ortodoxo do que um judaísmo ortodoxo, Ele deve ser a chave para toda e qualquer leitura Bíblica, já que esta também é considerada pelo próprio cristianismo como a Palavra de Deus. Se Deus não se contradiz, é o mesmo ontem, hoje e para todo o sempre (amém), e o próprio Deus é Cristo, a Palavra viva, pura e correta é a de Cristo. Nisto, o pedaço de papel (ou de pedra) é subjugado e cai para baixo de Jesus que é a Palavra encarnada ("o Logus se fez carne e habitou entre nós").

Continuando nesse pensamento, quando Jesus é questionado sobre qual o maior mandamento, sua resposta é "o amor". A base de todo mandamento é o amor, e ao dizermos a nossa melhor definição de Deus, "Deus é amor", toda a base da lei então é Deus. Se Deus é pleno em Jesus, ou Jesus é a plena Revelação de Deus, toda a lei está baseada em Jesus. Ele é a Lei. E isso retorna ao sentido de que ele deve ser a chave para toda e qualquer leitura bíblica, da Palavra de Deus.

Paulo, na segunda carta aos Coríntios, diz o seguinte : "Estamos novamente começando a nos recomendar a nós mesmos? Será que precisamos, como alguns, de cartas e de recomendações para vocês ou da parte de vocês? Vocês mesmos são nossa carta, escrita em nossos corações, conhecida e lida por todos. Vocês demonstram que são uma carta de Cristo, resultado do nosso ministério, escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de corações humanos. Temos tal confiança diante de Deus, por meio de Cristo. Não que possamos reivindicar qualquer coisa com base em nossos próprios méritos, mas a nossa capacidade vem de Deus. Ele nos capacitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivifica." (3: 1-6). Claramente, apóstolo de Cristo Jesus, Paulo, pela vontade de Deus, explica e repreende a letra, a necessidade de um código penal sagrado ou divino para a sequência da vida. A nova aliança, ou a carta que está escrita em nossos corações (não em tábuas de pedra,) é baseada no Espírito, Espírito de Cristo, o amor (Deus é amor).

Nessa nova aliança, da qual somos ministros e as leis (uma única, o amor) escritas em nossos corações, somos livres de pedras e letras ("Para liberdade Cristo nos libertou", Paulo na carta aos Gálatas), pregamos uma vida não dependente de punições, leis e regras, mas somos organizados pelo exercício do Espírito de Cristo ("exerçam sua cidadania de maneira digna do evangelho de Cristo para que assim... permaneçam num só espírito", Paulo na carta aos Filipenses) o exercício do amor. O que deve guiar a nossa vida não são regras ou mandamentos, mas Cristo. Que como Paulo, já que estou neste momento utilizando exemplos dele, sejamos imitadores de Cristo, e esta seja nossa lei, o amor. Através de nós não deve ser produzido morte, mas ressurreição, pois nossa pregação não é de um Cristo morto, mas ressurreto. Já que a letra mata, nossa pregação não está nela, mas no Espírito, que vivifica, ressuscita, traz vida. Nossa pregação DEVE gerar vida.

Em Josué 1;2, a Bíblia diz que Deus se dirige a Josué: "O meu servo Moisés está morto. Agora você e todo povo de Israel se preparem para atravessar o rio Jordão e entrar na terra que prometi a vocês.". Para mim, numa interpretação metafórica, "alusionada", Moisés morto, morre com ele a Lei. Meu passo agora é atravessar esse rio que divide a minha escravidão da minha liberdade e caminhar para aquilo que me fora prometido, "um Filho se nos deu", o Messias prometido, o Cordeiro que livraria o povo, Jesus Cristo o Senhor, a plena Revelação de Deus, a plena Revelação do amor. Atravesso esse rio, continuo minha trilha independente de uma letra que mata, mas livre e ressurreto em Jesus, o Pão da Vida. Essa é a mensagem, ao invés de uma série de regras e tradições, leis e costumes, uma vida de verdade, uma vida vivida e livre, dependente da liberdade, baseada em Cristo, guiada no amor.

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