quinta-feira, 28 de maio de 2009

O sentido da morte

A morte nos é apresentada como feia, má, oriunda das trevas e na imagem de um esqueleto tenebroso com uma foice na mão e raios e relâmpagos estourando a cena ao fundo. A morte nos é mostrada como o fim dos fins. Então o primeiro medo que sentimos, talvez o maior dos medos, é o de morrer. Bater as botas, marcar o ponto final, partir para o andar de cima, apagar, ir pro beleléu, esticar a canela, descansar em paz, empacotar, capotar, vestir pijama de madeira, dar o último suspiro, ir desta para uma melhor, estar mais pra lá do que pra cá, e o que eu nunca entendi mas todos compreendemos, virar presunto. O medo de fechar os olhos pela última vez.
Mas será que o grande problema da vida é a morte? Será que a grande preocupação, o medo que nos assola, é a morte? Eu acho tão mais complicado viver a vida! Passar por dificuldades, sentir fome, perder emprego, ser excluído, brigar consigo, brigar com outros, deixar de amar, deixar de ser amado. Isso é que deveria ser o nosso medo, viver.
Para completar minha idéia de que a morte não deve ser o centro de nossas preocupações, acabo lembrando de um detalhe: Cristo para dar fim a morte morreu. A solução para a viver a vida é conviver com a morte. Em momento algum Cristo esita ou se preocupa com o dia de sua morte, mas sim alerta e preocupado com a caminhada que teria em sua vida até seu último dia. Além de que, para que vivamos e sejamos salvos, devemos morrer para o velho homem, quer dizer, mais uma vez a morte foi solução e não preocupação ou objeto amedrontador.
A única certeza que temos é que vamos morrer, e a morte em si não é o fim da vida, e sim o recomeço dela. A partir da morte retorna-se ao início do ciclo da vida, que aos poucos se recicla e mantém-se viva (a vida mantém-se viva graças a morte). Aliás, só há o conceito de vida, porque há o de morte.
Lao-Tsé disse que só alcançaríamos a vida eterna quando aprendessemos a viver com a morte. O que faz muito sentido, já que a morte é certa, e se deixa de ser um medo, passa a ser uma preocupação a menos trazendo todos seus esforços e energias não para tratar da morte, mas sim para cuidar da vida. Só existe uma vida para cada um. E se todos não viverem por medo de morrer, a vida passa desapercebida, com cada um cuidando de si e buscando o seu, enquanto todos se degeneram, a vida passa, tudo se esvai e acaba com um tudo sendo nada e não fazendo sentido. O sentido da vida é a morte, e o sentido da morte é gerar mais vida. Mas a morte só é morte após haver vida. E a vida só é vida se for vivida, do contrário não existe vida, e sim tempo indiferente que passa do nada para lugar nenhum e pára no espaço/tempo. Se há vida vivida, há morte que gera vida. Se surge a morte gerando vida, completa-se o ciclo da vida, e assim caminha a humanidade, o ser, o existir e tudo o que completar e formar o cosmos. Cada qual cumprindo seu papel como ser vivente e vivendo sua vida até que a morte gere deste mais e mais vida.

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