terça-feira, 24 de julho de 2012

Escolha

Faço parte da liderança de um grupo de adolescentes de uma igreja e muitas vezes conversamos, discutimos ou nos aconselhamos sobre as dúvidas, crises e dificuldades que se apresentam em nossa religiosidade. Me parece que em nossa caminhada de Ministério, o grande problema é "como comprovar minha religião". Porque defender ou praticar ou se submeter a determinada Fé. Claro, se é para nos entregarmos às palavras de um grupo, que seja um grupo de confiança, que inspire certezas. O problema é encontrar um porto seguro, uma fundação sólida.

Seria justo depositar toda minha confiança num grupo que armou suas palavras de modo que um sistema de vocabulário e lógica respondem a todos os questionamentos levantados. Seria justo me agrupar com outros que, como eu, se fidelizem a conversas que soem como verdades. Seria muito justo me sentir à vontade de me unir a uma comunidade que se constrói solidamente em uma rede de textos, doutrinas e argumentação que responda aos meus desejos e afinidades. Seria justo, claro, se tal segurança fosse possível. Se o primeiro passo é me confidenciar à uma palavra ou um sistema de conversas, o dia que o significado de uma delas mudar, todo o castelo corre risco de ruir e a crise religiosa se instaura.

Na procura pela certeza e por provas, nos matamos na caça por argumentos, estruturas lógicas, discursos, esforços léxicos e um exercício constante de ignorância. Remoldamos as frases prontas e as falas para que ainda nos sintamos seguros, apesar de experimentarmos todos os dias aquele frio na barriga insistente que cresce ao depararmo-nos com qualquer vocabulário diferente. A crise está fundada na pergunta: "como é possível que eu tenha confiado nessa mentira?" - e as respostas ou são "só pode ser, então, verdade", ou, "se é mentira, porque ainda crer nisso?". Desse modo, retornamos ao primeiro problema de "como comprovar minha religião".

A questão não é respondermos como comprovar a religião ou nos desesperarmos por termos confiado numa verdade ou numa mentira. O ponto importante é pensarmos: em quem tenho confiado. O problema não é por as palavras à prova e retirar delas as verdades e destruir as mentiras, ou encontrar o lugar onde todos falam a verdade, mas, pensar se faz sentido depositarmos nossa Fé, nossa confiança, nas palavras por elas mesmas. Não percebemos que se a verdade está num som articulado que forma palavras, aquele que soar melhor, é de confiança. Todos soam e podem comprovar suas palavras com seus próprios sons. E qual o verdadeiro? Aquele que escolhermos como um bom som.

O passo de entrega e submissão à uma religião não é fundado em suas palavras ou em sua comprovação, mas, na escolha do fiel de acordo com suas experiências de Fé. Não é por uma comprovação que nos tornamos fiéis, mas, por querermos ser fiéis, que exigimos e procuramos uma comprovação. Porém, não percebemos nisso que a fidelidade partiu de uma escolha, de um depositar da confiança, de uma experiência de Fé. A caminhada religiosa não é a procura pela verdade dita, mas pela experiência de Fé vivida. Descobrimos que o porto seguro parte de uma escolha. A fundação sólida não está no discurso dito, mas no desejo fiel de pertencer à uma comunidade e partilhar de experiências religiosas.

Não, a Fé não procura explicações para o mundo. Não, não estamos esperando por uma certeza. Não, nossas crises não podem ser por causa dos vocabulários. Se tivermos dúvidas, não é porque as frases não respondem aos problemas do mundo, mas porque minha Fé não age para saná-los. O problema é em quem depositar minha confiança. Se nos sons, me desligarei do mundo para ouvir aquilo que me agrada. Se em Deus, darei todos os passos para que seu Reino se faça presente. Não confiemos nas palavras, mas em Cristo. Não confiemos em nossos discursos, mas em pessoas.




Gratis i Kristus

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