segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Nada se cria, nada se perde... Que nada!

"Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma." - Lavoisier

Essa é a máxima da Lei de Conservação da Energia, que faz parte da coleção das poucas coisas que aprendemos no colégio. Muito provavelmente nossos professores de Física e de Química enchiam a boca para proferir o sagrado verso de Lavoisier. Muito provavelmente nós não abrimos nossos ouvidos, mas fomos muito influenciados por essas "sábias" palavras. Coloco sábias entre as irônicas e maliciosas aspas, porque essas palavras serão o ponto de partida de algumas de minhas muitas críticas àquilo que me ensinaram quando tentaram me formar (tanto na escola quanto na religião): a não pensar.

O primeiro problema é sacar da natureza o que querem dizer com "natureza": estou incluído nela? Se sim, somente meu corpo ou minha mente também? Se minha mente também, minhas idéias e tudo o que penso já existe, já está lá e mesmo que eu pense, há de se transformar e ficar diferente? Pois bem, para que pensar então? Nada se perde, nada se cria, mas apenas se reajeita numa outra disposição. Um mundo incrivelmente estagnado e sem novidades. Minhas idéias jamais serão importantes, serão apenas transformações e resultados de transformações. Aliás, as idéias de qualquer um são uma grande perda de tempo. Aprender algo novo? Criar? Jogar fora coisas que me atrapalham? Repensar minha fé? Redirecionar meu conhecimento? Jamais! Será apenas transformação de uma mesma coisa que existe desde que o mundo é mundo, desde antes da fundação dos tempos...

E disso podemos partir para o segundo problema: a dificuldade de admirar uma criação. Uma obra de arte é apenas um tanto de tinta velha reajeitada que às vezes jamais entenderei e nunca, nunca mesmo, serei capaz de criar algo novo que seja tão novo quanto essa obra (se é que ela é nova, já que apenas uma transformação de algo). Transformação parte do princípio de que todas as coisas são parte de um "mesmo", e que esse mesmo muda de cara, mas é sempre o mesmo. Interessante, pois participamos de uma "transitoriedade monótona". Tudo muda, mas nada é novo. Desse vazio as artes se perdem, a música é desvalorizada, o velho esquecido e o novo ridicularizado. Desse vazio surgem as mais imbecis discussões fundamentais, como por exemplo, o eterno debate Evolução x Criação. Os dois se degladiam porque não querem admitir a possibilidade de uma atividade criadora: os evolucionistas enxergam a vida como uma linha que apenas cumpre o necessário e nada inventa de novo, enquanto que os criacionistas enxergam um mundo pronto que não inventa nada, mas é mantido estaticamente por Deus. Os dois esqueceram-se de dar vida à vida e a possibilidade de uma criação.

Pode ser que essa transitoriedade monótona do mesmo seja assim por não querer perder seu posto nas escolas e nas igrejas. Quer dizer, isso se quisermos pensar que as coisas podem se perder. Claro, o mesmo nunca se perde, mas e o outro? Aquilo que é sempre o mesmo, mesmo que se transformando, não desaparece. Porém, aquilo que abre a possibilidade para um outro, corre o risco de se perder ou de perder o outro. Mas o que será que esquecemos de contar para que a vida não seja eternamente um mesmo que se transforma? O que esquecemos de lembrar? O que existe que é capaz de criar e de perder? O que faz com que de uma hora para outra suma algo e surja um novo? Talvez essa resposta exija tempo...

Exatamente! O tempo! É ele o responsável pela novidade! É ele quem cria, é ele quem perde e é ele que nessa habilidade, nunca se transforma. Tempo é sempre tempo, e, com o tempo, é tudo sempre novo. Se na natureza não houvesse tempo, nada seria uma criação e nada seria uma perda, mas apenas o mesmo se reajustando. Porém, se há o tempo, tudo é sempre novo, e o que se foi jamais retornará, jamais voltará a ser como era. Nisso, o tempo não se transforma, jamais pára, jamais retrocede e é sempre o outro. A vida com o tempo ganha valor, recupera sua capacidade de criação e se preocupa consigo, pois pode perder-se a qualquer momento. Tudo torna-se breve, instantâneo, importante, fantástico e digno de ser muito aproveitado e intensamente vivido. O que penso vale e vale muito! O que pensaram vale e vale muito! Geniais são as obras de arte e suas novidades de tempos em tempos, as músicas, os velhos que perdemos, os novos que surgem, a evolução que dinamicamente some com criações e reinventa novas criações completamente inesperadas... Não somos mais o mesmo, somos outros...

Em minha formação talvez não fizesse sentido sonhar, viver os instantes, as aulas chatas de química, as missas, as reuniões de oração, a educação física, as idas ao museu, o repensar minha fé e redirecionar meu conhecimento. Mas hoje sei que sou capaz de criar, de inventar um novo. Sou capaz de perder minhas oportunidades, minhas criações, meus velhos. A vida não é uma transitoriedade monótona, é, ao contrário, uma efemeridade dinâmica. Vale a pena pensar, vale a pena inventar e vale a pena viver, pois as coisas se perdem e somos capazes de criar, não apenas transformar. Somos velhos, somos novos. Para além de mesmos, somos outros. Uma Educação não pode se esquecer de lembrar da vida.

Gratis i Kristus

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