sexta-feira, 22 de junho de 2012

História e progresso.

E quantos acreditaram que a História era um progresso? Todos procuravam esperança, segurança, alguma coisa que lhes firmasse os pés. O que há de errado nisso? Nada. É mais uma crença que optamos por seguir, mais um chão que criamos para nós mesmos na tentativa de não pararmos no meio do caminho. É acho um tanto quanto arrogante crer que os mesmos pés que tentam se sustentar sejam do mesmo indivíduo que sustentará o caminho da História, que firmará o progresso. Parece que existe bastante prepotência nesse ar de auto-suficiência de um único homem. Um tanto quanto ofensivo aos demais crer que é à partir de suas mãos que a História será construída. Chego a enxergar certa idolatria narcisista: homens que adoram-se à si mesmos como deuses que impulsionam o caminho do "progresso", que depositam sua Fé em seus próprios bolsos ou em suas próprias mãos e, depois de muito vivido, se olham no Espelho já cansados de sua miséria.

História não é uma sequência de fatos. Não, não existem leis determinadas compreendidas por nós, seres superiores, e que, quando bem aplicadas, salvarão o mundo. Inclusive, chega a ser bobo uma espécie dentre bilhões de outras, frágil, sujeita à um mundo microscópio e ciente de um gigantesco universo no qual está imersa e pelo qual é engolida, sentir-se superior - mais uma crença, mais uma expressão de Fé. Qual o problema com isso? Nenhum. Exceto pelo fato de que essa Fé egoísta, egocêntrica e arrogante serve de justificativa para certos processos de destruição. Entretanto, ainda nos vemos como evoluídos, o cume do progresso e à caminho da perfeição no fim dos tempos. A História parece ser obra nossa e melhorada por nós se compararmos aos dias de nossos pais. O hoje parece muito melhor do que o ontem e, nessa lógica, provavelmente o amanhã será melhor (uma das leis determinadas que não existem).

Esquizofrenicamente, para justificarmos que o amanhã será melhor e que há uma lei de progresso, recorremos à História. Vamos até anteontem e resgatamos alguma  "história" que demonstre uma certa "evolução". Mas, se ontem foi ruim, anteontem deveria ser pior, certo? Esse ponto a Fé no progresso e na História, a Fé no próprio homem, se cala e desiste de explicar; apenas parte para a afirmação de Fé e convoca os ouvidos desatentos à sonhar com o amanhã. Pobres homens! Querem garantir que a gravidade que os põe no chão é obra de um progresso humano! Que voar também é. Mas, que loucura! Se é para crermos, porque cremos em nós mesmos? Insegurança por insegurança, prefiro maior ombridade de abrir mão das armas e das palavras para descansar no infinito e ouvir Deus falar no silêncio.

História não é progresso, nem regresso, nem linha, nem círculo, nem verdade, nem mentira, nem realidade, nem "Matrix". História é uma palavra. Palavras são sons que nos remetem à algum significado importante para nossa memória, nossa individualidade, nossas experiências de vida, nossas experiências de Fé. História é um som bem cantado, um conto bem contado, um mito que, por nós, pode ser encarnado. Não imito os anteriores tal qual eram, assim como meus sucessores não serão réplicas minhas. Se o forem, acabam de se tornar arrogantes o suficiente para idolatrar um homem, crer que a salvação vem de suas obras, e não do dom de Deus. Gerações respondem à suas necessidades, cantam suas músicas de acordo com as possibilidades que tem, cria indivíduos diferentes, absurdamente diferentes, que, mesmo sendo de mesma língua, falam diferente. Dividir essa História é matar as individualidades. Confundir esse conto histórico com realidade é matar a única coisa de genuína esperança: a experiência individual de Fé dos miseráveis.

Sustentar-se na afirmação de Fé da História, na própria História, colocando-a como a "verdade", é ingrato demais, malicioso demais, venenoso demais. Somos palha, somos pó. Enfiar-nos em nós mesmos é de uma covardia tremenda, destruidora, idólatra e infiel. É ter Fé sem crer. É ser louco crendo que é são. O bom ato de Fé é o silêncio - não crer nas verdades certas, mas nos contos bem contados, nas experiências individuais que transcendem a necessidade de explicações. É preciso ser iludido pela realidade, e não deturpá-la tornando o ilusório a realidade. Converter-se não é assumir um discurso, mas calar-se. Não procure na História a salvação, não creia no progresso: liberte-se dessas correntes, abandone a real ilusão de maldições hereditárias. O Reino dos Céus se faz no mundo; não por causa dos homens, mas pelas mãos de Deus, pela morte e ressurreição de Cristo. Permita-se tocar a ilusão real e fugir da real ilusão. Se, enfim, longe de todo progresso e de uma História de salvação, queremos caminhar, que seja com o Caminho, com a Verdade e com a Vida: experiência de Fé expressa em sua própria Encarnação. Cristo não é uma História contada, mas um conto vivido. Se dependemos de Fé, nos conheçamos e reconheçamos: crer não em nós, mas em Deus.

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