segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Somos fiéis ao tempo

Faz tempo que não escrevo (ando ocupado construindo meu castelo). Tenho lido bastante e, aproveitando esse comentário, indico alguns autores que tem me chamado atenção tanto por me encantarem quanto por despertarem em mim a necessidade de criticá-los: Richard Rorty, José Comblin, Slavoj Zizek, Friedrich Hegel e, (se parecer ridículo acho que deveria rever alguns valores...) aquele que é meu livro de Fé e de cabeceira, a Bíblia. Enquanto leio, caminho, converso, tomo café, pego trem e construo meu castelo, vivo descobrindo que "o fim está próximo". Percebi que o tempo é sempre apocalíptico e que a finalidade que entregamos para ele sustenta nossas afirmações, nossas ideias, nossas relações... Enfim, nossas crenças.

Quem tem caminhado comigo e me emprestado alguns tijolos para a construção de meu castelo sabe que, para mim - de acordo com o que creio -, nossas relações e nossa maneira de interpretar o mundo sempre parte de uma experiência de Fé; de uma crença. Usarmos a linguagem, desenvolvermos estruturas que chamamos de "mentais", depende de nossa Fé, de nossas crenças; são apostas que fazemos para suportarmos a monstruosidade de relações em que estamos imersos, que experimentamos. Emprestamos ao tempo uma crença de que ele tem um fim - um sentido, um porquê, um movimento, uma dinâmica -, cremos nisso. Não sei dizer se é isso que sustenta nossas crenças ou nossas crenças que sustentam isso, mas, independentemente da ordem, é a minha crença e a palavra que se repete em qualquer uma das possibilidades é "crença".

Seja imaginar que o tempo é cíclico, linear, progressivo, catastrófico, revolucionário, a caminho do Reino dos Céus, do Retorno ao princípio, ao auge da civilização, à perfeição intelectual humana, rumo ao Estado Comunista ou à destruição completa do mundo e da raça humana, precisamos depositar nossa confiança nalguma finalidade para o tempo. Se vamos pensar "quem são os homens", o fazemos à partir do sentido que demos para o tempo. Se vamos pensar "o que é justo", o faremos tendo nossa crença no sentido como norte. Se vamos estabelecer nossas relações, estabelecemos de acordo com o sentido que entregamos ao tempo. Tenho pensado muito nesse sentido e as implicações que resultam em nossas relações por causa das opções feitas nas crenças neles. O ponto não é deixarmos de crer, porque, quanto ao tempo, ao fim, ao sentido, apenas podemos crer. A questão é, se somos crentes, porque não abrimos mão das discussões e da necessidade de provar o que são as coisas, os homens, o justo ou como são nossas relações e nos voltamos para "o que faremos com nossas crenças"?

O problema de determinar a verdade à partir de uma crença no tempo é ter que reconhecer que não lidamos com a procura da "realidade", mas com a tentativa de encontrar e/ou construir em nossas relações nossas crenças. Nisso teríamos que deixar de lado a ideia de que temos verdades absolutas e que o mundo está certo de acordo com o que cremos, e, num outro sentido, teríamos a necessidade de nos calarmos e estarmos dispostos a reconhecer que nossos sistemas, hipóteses e afirmações de Fé desistindo de lutar por causas, mas, procurar viver efeitos, amar efeitos. Se cremos num sentido do tempo, o fazemos porque desejamos chegar em algum lugar (obter um efeito) e não explicar ou desenvolver as causas perfeitas para chegar lá. Admitir que necessitamos de Fé é crer plenamente nas dúvidas, que nada há de certo além das experiências de nossas relações onde tentamos encontrar e/ou construir nossas crenças.

Se eu fosse propor uma finalidade do tempo, um sentido, crer em algum tempo, creria no tempo da eternidade. Não vou tentar explicá-lo através de metáforas por ora. Não me colocarei na empreitada de desenvolver um sistema de crenças que traga sentido para o sentido que tenho crido. Prefiro me calar, utilizar esse termo - eternidade - e possibilitar que ele se relacione com as tuas experiências e abra um outro caminho para outras crenças que atendam as necessidades das relações em que você estiver imerso...

Somos todos fiéis...

Gratis i Kristus

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