terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Esquecimento...

É muito comum falarmos sobre "natureza humana" ou "essência humana", "aquilo que nos faz seres humanos". Procuramos uma característica que seja extremamente específica de "humanidade" e, ao mesmo tempo, que faça parte de "todos os seres humanos". O problema de definir uma característica de "natureza" ou "essência" humana é que se escapar a alguém essa característica específica, esse alguém não será considerado humano. Assim acontece com a relação entre povos que se odeiam, etnias, racismo, machismo, disputas de gênero, sexualidade, escravidão e aí por diante. Se não há correspondência entre pessoa e característica da "essência humana", uma pessoa deixa de ser "humana".

Sem levar em consideração a própria tentativa de se definir "humano", pragmaticamente e com muito sentido, a possibilidade que minimizaria problemas de generalizações seria o abandono da tentativa de encontrar a "natureza humana". Apesar de abrir mão dessa busca, farei pretendo propor uma metáfora, quem sabe um mito, sobre a "essência humana". Nessa minha tentativa de criar uma metáfora ou mito de qual seria a natureza humana, eu afirmaria, ou melhor, afirmo: o que me fez humano é a capacidade de "esquecer"...

Diferente de máquinas, sou capaz de esquecer, perder a memória, alterar as recordações, misturar informações. Me esqueço. Não sofro de uma "perda de memória" recente ou coisa do tipo, realmente esqueço e sou capaz de esquecer. Esqueço que mulheres não tem caudas no lugar de pernas, esqueço que é absurdo um cavalo voar ou um peixe virar gente em noites de lua cheia. Esqueço até de minha habilidade de esquecer! Esqueço que não sou super-poderoso e esqueço que não sou fracote. Esqueço de quem é humano e quem não é. Esqueço do tempo e às vezes esqueço de esquecê-lo.

Esquecer; essa é nossa característica, aquilo que nos move. Saber que seremos esquecidos ou que somos esquecidos é angustiante, desesperador! E depois de minha morte? Esquecerei de minha vida? Esquecerão de minha vida? Não quero esquecer e nem que me esqueçam. Doenças que degeneram neurônios e perturbam o funcionamento da memória são o extremo dessa angústia - são a História humana encarnada: a vida construída por esquecidos.

A perfeição de nossos instrumentos, nossas máquinas, nossas crenças, religiões, filmes, trabalhos, exercícios científicos não podem esquecer, mas, nós, podemos. Aliás, o fazemos. Esquecemos. Exatamente por esse contato com o esquecimento que dependemos de experiências de Fé, de confiança em algo que não se esquecerá de nós. "Deus não se esqueceu de nós...", essa é uma mensagem de libertação, de salvação. Inclusive, como cristãos, nos relacionamos profundamente com o esquecimento. Jesus, o Filho de Deus, a experiência de que Ele não se esqueceu de sua Criação, que participa de sua História construída pelos esquecidos. "Fazei isso em memória de mim": não deixem a Mensagem de esperança na eterna lembrança de Deus morrer. Até podemos matar o Filho de Deus e nos esquecermos disso, mas, Ele, não se esquece de Suas promessas, é fiel. Então, somos convidados a sermos fiéis também: tentarmos romper com uma humanidade qualquer e experimentarmos algo divino, o não esquecimento...



Gratis i Kristus

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