quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Que é que tem a religião?

Tenho um amigo que diz que só existe mal no mundo porque existe gente. Não, ele não quer dizer que as pessoas são más e que o mundo sem elas seria bom, mas, que só existe a constatação do "mal" porque a "gente" é capaz de se relacionar com o mundo dizendo "isto é mal". Entende? Conosco ou "sem-nosco" (eu sei, trocadilho ruim) o mundo continuaria mundo - nem bom e nem mal, apenas mundo. A questão é que em nossas relações experimentamos o mundo e lhe damos nomes. Isso não me incomoda; o que me preocupa é quando esses nomes ganham mais vida do que as nossas relações com o mundo, quando damos mais valor para os nomes do que para a "gente".

Vejo muitas críticas e reclamações com o "mal do mundo" relacionando-o com a Religião - qualquer que seja. O problema não é criticar as relações justificadas pela religião, mas, lidar com a Religião como se fosse o "mal do mundo". Seria o mesmo que ler a frase que meu amigo diz e afirmar "o mundo seria muito melhor sem a gente" ou "sem humanos". É um problema sério quando nos apegamos aos crachás que as pessoas utilizam para se identificar ao invés de nos apegarmos ao próximo. Aqui caberia bem uma imagem religiosa: o samaritano ajudando um judeu na parábola cristã. Se ao invés de fazermos críticas às maneiras como nos relacionamos, nós nos preocupamos mais em levantar bandeiras contra crachás e guerrearmos em nome disso, paramos de nos responsabilizarmos pela maneira como "o mundo está" nos escondendo atrás de uma boa justificativa: a luta por uma bandeira, nossas ações chanceladas pelo Espírito, Bem-Comum, Felicidade, Deus, Razão, Absoluto ou qualquer outra palavra a qual nos apegaremos mais do que a pessoas.

Na verdade, se nos viciamos em nos apegarmos a uma palavra mais do que a uma pessoa uma vez, aprendemos a fazer sempre. Se digo que o "mal do mundo" é a Religião e sem ela o "mundo seria bem melhor", me apego à palavra Religião para lutar contra qualquer um que possuir este crachá e, ao mesmo tempo, escolho outra palavra (Liberdade, Paz, Felicidade. Deus ou sei lá o que mais) para a qual criarei uma bandeira e defenderei com unhas e dentes. O mesmo ocorre com Capitalismo, Comunismo, Burguês, Palestino, Israel e demais taxações contra as quais alguém se levanta. O problema não é a luta contra as relações que cremos fazerem mal, mas, escolhermos uma palavra "inimiga" de tal modo que aqueles que nela se encaixam são "o mal do mundo". Pode parecer bobo, mas, não existe "Religião", mas, pessoas que se relacionam e experimentam relações que categorizam como "Religião". Assim como "o mal do mundo".

Reclamar da Religião como o problema que torna o mundo ruim é muita mediocridade, medo de assumir responsabilidades e experiências próprias, frustrações, alegrias, desejos, sonhos e o que mais experienciamos. É muito pequeno agir como se o "sistema x" ou "y" sendo destruídos solucionassem-se todos os problemas, levaríamos-nos ao Paraíso. É o mesmo que afirmar que sem a humanidade o mundo estaria "bem melhor". Não estaria nem melhor e nem pior, estaria mundo e, aliás, nem teria quem dissesse "isto é mundo". É muita covardia levantar uma bandeira contra uma palavra, se apegar aos nomes e não às pessoas. É muita pequenez, farisaísmo às avessas. Podemos até afirmar não cremos nem em Deus e nem no Diabo, mas, nos relacionamos com outros termos como se fossem "deus" e o "diabo".

Criticar Religião ou outro termo carregado de identidade simplesmente pelo termo e guerrear contra ele em nome de outro é fraco, pequeno, (desculpem) imbecil. Achar que sem "Deus" o mundo é melhor ou sem Igreja o mundo é melhor é uma crença descontextualizada e tão sem sentido como crer que o mundo foi criado em 7 dias ou a partir de um encontro do Pai Céu com a Mãe Terra. O problema não é a Religião, a Economia, a Biotecnologia, a Indústria Farmacêutica, o Corinthians, Israel, a Palestina, o Homem, Deus, o Diabo ou sei la mais qual ideia podemos ter; o problema são nossas relações, a maneira como decidimos nos relacionar e experimentar o mundo. Qual o melhor jeito de se relacionar e experimentar? Isso já é um outro problema, mas, com certeza, não é fugindo de nossas relações com próximos para nos relacionarmos com nossas próprias bandeiras...


Gratis i Kristus

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