segunda-feira, 18 de março de 2013

Fé que nos move

Tenho escrito pouco, trabalhado um tanto, lido muito. Minhas leituras recentes tem sido sobre a "conquista" da América Latina pelos portugueses e espanhóis. Não tenho me preocupado em entender a "história" da conquista ou "o que aconteceu nesse processo". Minha atenção está voltada par ao seguinte: as estruturas de Fé que sustentaram a vinda colonizadora dos cristãos europeus para cá. Uma série de discursos teológicos justificou a escravidão e, mais do que isso, a Fé que rondava o coração de uma série de pessoas efetivava a escravidão.

A confiança de que índios não eram humanos - chegando, inclusive, a se afirmar em tratados teológicos e em diretrizes do direito canônico que eles não passavam de "animais que falavam" - era enraizada, movia as ações cotidianas de encomendeiros, fazendeiros, bandeirantes, catequistas, padres e nobres. A Fé que Deus era o responsável por essa "animalidade indígena" não era mero discurso, era prática das crenças.  O que me intriga é exatamente isso: a Fé é o que move as pessoas. O ponto não é uma disputa entre o "Mercado" e a Fé, a Razão e a Fé, o dinheiro e a Fé, a religião e a Fé, o dogma e a Fé ou a Fé falsa e a Fé verdadeira. A questão é que a Fé que comanda os dias foi orientada para a destruição da vida de outros e, com isso, justificada por discursos e leis.

O que comandou a conquista e a tirania com os índios? A Fé. O que levou, em sentido oposto, uma série de padres e nobres a se levantarem contra essa tirania? A Fé. A Fé que cria que um pedaço de pedra dourada escondida debaixo de terra vale mais do que a vida de uma pessoa liderou a conquista. A Fé de que um índio é tão pessoa quanto um europeu, despertou movimentos de libertação. O que me intriga é que é a Fé que ordena o cotidiano.

É a crença que temos no que "é o ser humano", "o que é valoroso", "quem é o divino", "o que é mais importante na vida" e etc, que serve de apoio para nossas decisões. Se cremos em metais, serão eles nossos deuses. Se cremos em um povo, será ele nosso deus. Se cremos em Cristo, será Ele nosso Deus. Dizemos que no tempo das conquistas o Estado era Teocrático porque era comandado pela "Fé". Digo que nosso Estado é Teocrático porque também é comandado pela "Fé". Antes a Fé era numa Instituição religiosa, agora é a Fé num Sistema comandado por uma "mão invisível".

Nos tempos de Cristo existia um Império. Seu povo cria que surgiria um imperador mais poderoso do que César: o Messias - que viria para implantar o Reino dos Céus. Esperava-se que dos Céus viesse um poderoso exército para dominar aquilo que fora dominado pelo Império Romano. Cria-se na força, cria-se na Lei. A Fé se voltava para articulações políticas sustentadas por Deus fortes o suficiente para tirar inimigos do poder. A Lei e a Política eram mais importantes do que o resto. Ter um cargo era fundamental, ter o Messias que entregasse ao povo os cargos de poder, seria a salvação.

Jesus ao invés de nascer na Fé em reis, nasceu na Fé de pastores e magos. Ao invés de nascer na Fé de palácios, nasceu na Fé de pessoas - e pessoas excluídas, desacreditadas. Ao invés de nascer na Fé de conquista de reinos, nasceu na Fé de construção do Reino. Ao invés de nascer na Fé de tornar inimigos escravos, nasceu na Fé de amar inimigos a ponto de libertá-los. Ao invés de nascer na Fé de matar o outro, nasceu na Fé de morrer por alguém. Ao invés da Fé nas moedas, teve Fé em pessoas...

Fé temos, a questão é para onde a direcionamos, para onde a orientamos. A Fé não é justificativa para algo, é a motivação. Os discursos tentam justificar nossas ações, mas é a Fé que nos move. Por isso, o encanto da conversão não é aprender uma nova pregação, mas reorientar, redirecionar, converter nossa Fé para algo que seja Eterno...



Gratis i Kristus

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