sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O problema da Fé e da Razão

Exclamaram: "Fé!". Retrucaram: "Razão". Pensaram: "Deve ser a Ciência!". Repensaram: "Deve ser a Religião!". No fim a eterna discussão. O problema não é a Fé, o problema não é a Razão; o problema é o homem. Anterior à este debate chato, arrastado, pesado, truculento e desgastante, existe uma essência mutante, um problema no maquinário, uma peça defeituosa: o debatedor. O infeliz que se propõe a incentivar os socos ao ar. O debatedor. O cara que olha para fora de si e expõe o "bem e o mal", "Deus e o Diabo", "A Fé e a Razão ou Razão e Fé" (como preferir). A insistência em dicotomias externas e inalcançáveis é uma teimosia humana para fugir da realidade. É o mesmo que dizer que o problema é o "burguês", o "povo", o "sistema", o "diabo" ou o "destino", não tem fundamento, não tem consistência, não existe, não é real. Dê-me um punhado de Fé, ou um tanto de Razão. Não dá! Porque? Uma dicotomia inventada para nos dar segurança existencial e retirar de nós a culpa ou o problema da própria existência.

O que é pior (me perguntam), a Fé ou a Razão? Nem uma nem outra. O problema está na pergunta, ou melhor, naquele que pergunta, no perguntador! Entre a Fé e a Razão existe um mediador, ou inventor, sei lá, o homem, aquele que as denomina e as manipula. Adoro esta parte, denominar e manipular. Denominar é dar o nome à cria, à criação. Damos nomes a estas duas "forças", as separamos e ainda nomeamos também a disputa eterna entre estes dois deuses. Divinamente também tomamos estas divindades e as subjugamos, as obscurecemos, as tornamos "homo sapiensídicas". Municiamos ambas as partes e as controlamos de acordo com nossa vontade, nosso desejo, nosso percurso forçado à uma tomada de poder. Evocamos algo, o divinizamos, dividimos em dois e os deturpamos em monstros.

O ponto não é uma moralidade conveniente. A Fé é boa/má. A Razão é boa/má. O ponto é a virtude, a virtude humana. Não são boas ou más, são Fé e Razão. São "são". Agora, o humano é homem. Sendo homem, não aprendeu a não querer ser igual a Deus. Mas encheu-se de si e se fez aquilo que não é. Criou uma grandissíssima ilusão. Uma ilusão mãe, mãe solteira. Na trilha por nosso poder, nosso desejo de ter aquilo que não temos e/ou ser aquilo que não somos, utilizamos destas forças em nossa ilusão para dominar, denominar e manipular tudo. O ponto é o homem e o que ele faz com aquilo que chama de Fé e Razão. Então quando me perguntarem o que é pior, responderei da seguinte forma: "Nem uma nem a outra. O problema é crer que se é racional e/ou racionalizar aquilo que se crê". A Fé pode aprisionar e a Razão matar. Mas não elas por elas mesmas, mas como instrumento do debatedor, da peça defeituosa do maquinário, do homem. O problema é crer que somos racionais e racionalizarmos aquilo que cremos. O problema é criarmos nestas forças divinas ilusões para sermos deuses ou sermos iguais a Deus, ao invés de sermos humanos.

2 comentários:

  1. Concordo com vc Brunão.... o problema é o homem que precisa se fazer "deus" para acreditar que continuará existindo, e não assume sua condição de homem.. gostei do seu texto pois me vejo nele muitas ou todas as vezes, mas irei refletir com mais cautela... abraços amigo padrinho rsrsrs Rafael Diogo

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  2. Olá amigos, caso você ainda não tenha lido recomendo o livro O QUE É CIÊNCIA AFINAL? do A. F. Chalmers.

    Gilvan Albuquerque

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