quarta-feira, 27 de abril de 2011

Jonas na barriga da Agonia

Quando eu era menino pensava como menino: achava que a estória de Jonas estava no Gênesis, muito provavelmente próximo ao dilúvio, talvez entre Noé e Moisés (que também se figurava no primeiro livro dos cinco primeiros). Sei lá se é porque nas três aventuras rola um mar, água, maldade e uma certa destruição, mas para mim eram todas próximas umas das outras. Aliás, eu nem imaginava a possibilidade de Jonas ter um livro só pra ele, e muito menos que um homem tão medroso e egoísta fosse chamado de profeta (mais tarde, para contentar meu péssimo senso de justiça, descobri que pelo menos era um profeta considerado "menor").

Em uma noite escura, daquelas que se segue depois de uma tempestade, apesar da "medrosidade" e egoísmo, o profeta fujão cala sua voz de denúncia e abre a porta de seu coração com uma chave das mais lindas já declamadas: "Em meu desespero clamei ao SENHOR". Este angustiado profeta, cegado pelo mar e à deriva da escuridão, descobre o medo que apavorava à pouco os marinheiros que com ele viajavam. Os homens lembram de Deus quando suas esperanças se esvaem.

No estômago da Agonia, uma espécie de peixe gigante que avança nos homens conhecedores de uma verdade que não vivem, o missionário, filho de Amitai, lembra do Deus que crê, da Voz que lhe chamou à sua missão, à vida, e sai da sepultura para a praia: "Aqueles que acreditam em ídolos inúteis desprezam a misericórdia. Mas eu, com um cântico de gratidão, oferecerei sacrifício a ti. O que eu prometi cumprirei totalmente. A salvação vem do SENHOR". Os homens lembram da misericórdia quando mortos, não por quererem viver, mas porque não querem morrer sem que sejam dignos da morte. Como diria Chaplin: "Há outra coisa mais inevitável que a morte; a vida".

Já na praia, confiante, tranquilo, talvez tendo alcançado o porto seguro que Agostinho procurara em sua "Vida Feliz", nosso Jonas esquece de seus passos, da Agonia, abandona a angústia e, obstinado, parte para cumprir uma missão. Não a missão da Voz que lhe chamara, a sua vida, mas para cumprir seu vazio desejo (ou desejo vazio). E a misericórdia? Para que se está vivo e longe de morrer? E Deus? Por que se não precisa de esperanças mais? Elas estão no celeiro e não se esvaem, mas seu dono não se alimenta delas. Toda dor e angústia não movem mais o homem, são esquecidas por ele. Ele não ama mais. Mas continuam no coração de Deus, o eterno amor que sempre lembra de seus filhos: "Não deveria eu ter pena dessa grande cidade?".

Nas noites frias e chuvosas, em meio a tempestades, quando esfomeado e em mendigância o medo bate à porta, vem o amor para abrigá-lo, alimentá-lo, esquentá-lo, dar um quarto, afofar o travesseiro e torná-lo um hospede tão grato, mais tão grato, que pedirá para sair de casa em busca de trabalho e de recompensar o bom amo(r) Samaritano que o amara. A angústia move a vida, a não conformidade move o homem. Sabendo disso, para que esperar que o mundo se acabe para salvá-lo? Para que esperar que um homem morra para chegar ao fim de uma guerra? Porque não sofrer desde já a dor comum à todos e dela gerar a vida? Deus tanto chorou e sofreu que sobre si carregou todas as nossas dores, que angustiado venceu o Getsêmani. A angústia não é ruim se lembrarmos dela enquanto ainda é dia, se lembrarmos de que Deus sempre é misericordioso. Não esperemos pela tempestade, pela desesperança, pela Agonia ou pela morte, em sentido contrário, vivamos desde já com amor e misericórdia, desde já lembrando de Deus, desde já abrigando os arrependidos e angustiados pelos que sofrem...

Para bom entendedor o contexto basta!


Gratis i Kristus

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