sexta-feira, 29 de abril de 2011

Entre mensageiros e iguais

Depois de um dia em silêncio, numa cidade aparentemente pacata, dois mensageiros entraram na casa de um Anfitrião. O dono da casa não era bem "flor que se cheire", homem dos bons, mas sabido das artes da malandragem. Recepcionou os dois portadores de uma mensagem, preparou uma comida e enquanto ajeitava os aposentos de seus filhos para que aqueles dois desconhecidos pernoitassem, ouviu alguém bater à porta.

"Quem será?" - perguntou-se o Anfitrião. Era noite quente. Os humanos daquela cidade, do lado de fora da casa, reclamavam direitos sobre a vida daqueles dois mensageiros. Onde já se viu homens desconhecidos entrarem em uma cidade desconhecida e simplesmente encaminharem-se para a casa de um morador? Onde já se viu em uma cidade má alguém trazer uma mensagem sem nem ser aprovado pelos ouvintes?

Tenho dó daqueles dois mensageiros. Não, tenho mais dó ainda daqueles cidadãos. Em si carregavam maldade. Não carregavam atos ruins, mas maldade mesmo. Sua cidade era injusta e nenhum deles discordava da injustiça civil. Eram todos iguais. Todos iguais! Todos andavam juntos, batiam na porta juntos, gritavam juntos e ficavam cegos juntos. Aquele que com eles não andar merece sofrer em suas mãos! Onde já se viu dois mensageiros não passarem pela justiça da cidade?

Os dois mensageiros que na casa do Anfitrião se resguardavam foram ameaçados. Com o que? Com abuso! Seriam abusados por aqueles homens! O problema está no ato? Não, está na maldade dos cidadãos em abusarem do diferente, dos diferentes, dos dois visitantes e do Anfitrião (que lembrando: não era bem flor que se cheire). Onde já se viu alguém trazer uma língua diferente da nossa e não sofrer em nossas mãos?

Onde já se viu alguém trazer uma mensagem que ninguém está aconstumado a ouvir? Onde já se viu estrangeiros virem para nossa cidade e não se adequarem à nossa injustiça? Onde já se viu um Cristo descer dos céus e apresentar uma mensagem que todos não querem ouvir? Onde já se viu alguém trazer uma mensagem para ninguém, ou melhor, para os ninguéns? Estamos falando de todos... Onde já se viu dois mensageiros entrarem em nossa cidade sem serem convidados e testados? Onde já se viu um Cristo destruir tudo e reconstruir em três dias?

O Cristianismo não prega a morte, mas a ressurreição. O Cristianismo não se preocupa com o pecado, mas com o cuidado com o pecador. O Cristianismo não se preocupa com atos, mas com os tesouros dos corações. Em Cristo não pode haver morte, destruição e condenação para quem erra, mas sempre a Graça da Salvação! O que me dói nesta estória não é a atitude de uns, mas a postura de todos os iguais. O que me incomoda não é o "pecado" que se expressa, é a conformidade que se esconde. O que mais assusta é o abuso de todos os homens de uma mesma cidade sobre os diferentes. Os fundamentalistas que me perdoem, mas sodomia é a maldade de abusar da minoria.

Em Cristo a prostituta entra no Reino dos Céus antes dos religiosos. Em Cristo o menor é sempre o maior. Em Cristo um Deus poderoso morre. Em Cristo uma mulher digna de ser exaltada é a senhora que oferta uma única moeda. Em Cristo o publicano ora com mais fé do que o fariseu. Em Cristo a maior Lei é amar ao próximo (independentemente de quem seja ou o que faça). Em Cristo a vida vale mais do que os livros. Em Cristo Moisés diz algo, mas Cristo diz outro. Em Cristo o pescador é discípulo e o sacerdote inimigo. Em Cristo quem precisa de saúde são os doentes. Em Cristo as mulheres tem mesmo espaço que os homens. Em Cristo o Templo não vale nada perto de um coração. Em Cristo o Samaritano odiado é quem ama de verdade. Em Cristo cumprir a Lei não é suficiente, precisa vender seus tesouros e dividi-los com os pobres.
Em Cristo o próprio Deus lava os pés de seus seguidores. Em Cristo... Em Cristo... Em Cristo...

Em Cristo não há um só que não seja pecador. Mas também não há um só pecador que não seja salvo. Em nome de Cristo "Amai-vos uns aos outros".


Texto agraciado por Ana Beatriz Paulichenco:
Obrigado por me ensinar a ler esta estória Bíblica com outros olhos. Tua inspiração foi além do romance e transcendeu o "de-sempre". Que o coração continue aberto para os sentidos e os olhos atentos para as letras...

Gratis i Kristus

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