domingo, 1 de maio de 2011

Preguiçosos e Excessivos

Em um mundo de dois continentes e um só mar, existiam dois povos de uma população só. No Continente-Oeste estavam os Preguiçosos e no Continente-Leste os Excessivos. O problema de chamar um lado de Leste e outro de Oeste é que no espaço não existem pontos cardeais... Mas este é um outro problema, que ficará à cargo de algum outro texto em que eu me preste a tratar de geografia-astronômicológica. O que importa é que o povo do lado Oeste nunca ia para a outra terra porque era demasiadamente trabalhoso, assim como, por outro lado (literalmente), o povo do Leste nunca parava no Oeste, pois quando se prestava a atravessar de um lado para outro não se contentava com paradas e, excessivamente andando, voltava ao ponto de partida. Um lado sempre parado e outro andando demais.

O povo do Oeste era muito lento, não via o mundo girar. Cresceram todos juntos e amontuados; explorar terras exige que o espírito sopre todo-santo-dia, e soprar sempre requer o fôlego que a preguiça não tem: o fôlego de vida. Neste Continente ninguém morria, pois a vida não é digna de descanso, apenas os preguiçosos podem parar. A falta da vida trabalhando e pedindo descanso impedia que os seres crescessem. Quem é preguiçoso não cresce. Os preguiçosos eram pequenos e com grandiosa nobreza; não no sentido de virtude, mas de cargos e títulos mesmo. Todos eram nobres, nenhum era vivo. A preguiça não é digna de morte, pois em momento algum deixou que crescesse a vida.

Por outro lado (mais uma vez literalmente), o povo do Leste era muito rápido! Por esta razão também não via o mundo girar! Os excessivos corriam, corriam, corriam... Corriam tanto, que todo movimento parecia inércia. Explosões para lá, transformações para cá, notícias ao norte, negócios ao sul... Excessivamente exagerados! Excessivos são o oposto dos preguiçosos: espalham-se pela terra com tamanha velocidade, que acham que descobriram tudo, creem que não existem mais mistérios e que o fim do mundo encontra-se no furo de seus abdômens. Ninguém se vê deste lado do mundo. Também ninguém morre, pois quando não se percebe a vida passar, também não se vê a morte chegar. Os excessivos roubam de si mesmos as Sensações. Não perceber a vida impede que os excessivos amadureçam. Imaturos e grandiosamente informados. Todos sabiam o que se passava, mas nenhum experimentava as experiências... A excessividade não reconhece a vida, pois em momento algum permite que ela se apresente de verdade.

Excessivos e preguiçosos, dois povos de um mesmo mundo. Dois imortais, dois não-eternos. Os preguiçosos não crescem, os excessivos não amadurecem. O mundo de nenhum deles gira, a vida não vive e os opostos, mesmo sem se encontrarem, rumam para a mesma verdade: para que a vida valha a pena, não moremos em continentes, lancemo-nos ao mar...


Dedicado à Luciana Hitomi, que com poucas palavras me ensinou que "os preguiçosos nunca crescem".
Obrigado.


Gratis i Kristus

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