sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Teologia do Pé

Debaixo de um sol ardendo, acima de um chão rachado, na falta de tênis e na sobra de chinela de couro, vai o roceiro e seus pés à caminho da falta de plantação que ele chama de "campo". Num clima desses, numa casa de barro daquelas e com duas cabritas magras no cercado, Deus só pode ser o Santo Espírito que sopra a chance de chuva. Bom mandamento é o de colher aquilo que plantar e não derramar sangue inocente, porque aquele chão já é rude demais com a vida para que ela sofra também nas mãos dos donos dos pés. Igreja boa é aquela que se ajunta para distribuir alimento e que benze no velório das gentes velhas e nos casórios da gente nova. Deus é bom, mas vez por outra castiga com um mormaço, que também pode ser que não seja tão ruim assim porque alembra do valor das Graças. Depois de muito que se viver, descobre que a vida dada pelo Divino é boa e ruim, e que por assim estarmos aqui, façamos de tudo para que a vida viva e, mesmo com a desgraça e o sofrimento, vamos em tudo dar graças.

Já debaixo da chuva, dentro de um apartamento no centro de uma cidade, uma criança olha pela janela as gotas escorrendo o vidro. Umas tem forma de cavalo, outras de casa, umas de monstros e outras com cara de gota, mesmo. Provavelmente foi assim que Deus criou o mundo; foi espirrando água para tudo quanto é lado e as gotas se acomodando onde dava dando formas às coisas. Mas foi em sete dias não foi? Hmmm... Pois bem, devia ter muita água... Talvez isso tenha a ver com o dilúvio! Apoiada com os pés em cima do sofá a criança vibrava com suas descobertas; deve ser por isso que por aqui vez por outra chove, porque Deus ainda cria as coisas. Ele ainda faz a planta crescer, mata minha sede e limpa um pouco essas nuvens de fumaça que os fumantes soltam junto com os caminhões e ônibus. O que é um problema, porque por causa dos caminhões e dos ônibus, eu não posso brincar de bicicleta hoje! Está chovendo... droga. Nossa! E é por causa dessa mesma poluição dos fumantes, dos caminhões e dos ônibus que as pessoas perdem casas nas enchentes! Deus vem criar as plantinhas e me dar água e por causa da sujeira acaba que a água se exagera e gente sofre. Por isso meu pai deve reclamar tanto dos caminhões na estrada... Deus, perdoe os fumantes, os ônibus e os caminhoneiros!


Pena que os pés não falam! Pena que os pés não expressem suas experiências! Pensamentos nós tentamos exprimir e compartilhar, mas a caminhada é impossível! Mesmo que indiquemos o caminho e passemos pelos mesmos percursos, a caminhada é diferente, os pés são outros e eles não falam. Os pés experimentam o chão, não voam e nem podem fugir da vida. Mesmo para aqueles que não os tem como parte constituinte de sua biologia, alguma parte de si faz-se de pé, põe-se como guia da vida, o leva para as experiências. Os pés são indiscutíveis e indiscutidores. Os pés andam, não param e tem que ser pacientes. Se correm perdem o caminho, e logo todo o corpo pede seu regresso, exige seu descanso. Pés nos mantém em Deus, não em um lugar, mas não nos roubam da vida. Talvez as razões nos enganem, talvez o coração nos passe a perna (que ironia), talvez Descartes nos faça divagar e talvez Pascal desconheça as razões. Os pés é que percorrem o Caminho...

Seja no sol e com a realidade que o pé sente, não a que ele conhece, mas a que ele vive, ou na chuva dentro de um apartamento em cima do sofá, o pé dá seus "saltos de Fé". São os pés saltam no solo e sentem o impacto da vida que se impõe e produz nossos sentimentos de Deus. São os pés que reagem ao Caminho. São os pés que vacilam também. São os pés sustentam os joelhos que se dobram. São os pés que levam os corpos às romarias. Quem é a estúpida língua que falará mal do pé? Quem é a maldita serpente que tentará e será pelo pé pisada em castigo? Quem será o rude insensível que recriminará a vida dos indivíduos e seus pés em nome da boca? Não! A boca fala do que o coração está cheio porque ele é insuficiente para suportar tudo o que suporta o pé, o coração é apenas um tradutor do verdadeiro órgão que nos põem em contato com a vida. Sejamos parceiros de caminhada. Vamos dar valor ao pé. Sejamos pacientes e esperemos nossos irmãos. Nos preocupemos mais com o Caminho, com a Caminhada, do que com as palavras... O Deus é o mesmo, mas os pés são diferentes...


Gênesis 33: 13 "Jacó, porém, lhe disse: "Meu senhor sabe que as crianças são frágeis e que estão sob os meus cuidados ovelhas e vacas que amamentam suas crias. Se forçá-las demais na caminhada, um só dia que seja, todo o rebanho morrerá."


Gratis i Kristus

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