sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Porque escolhi?

Ultimamente tenho pensado bastante sobre o porque escolhi o que escolhi, ou melhor, sobre o que tenho feito à partir das minhas escolhas. Especificamente, tenho pensado nas escolhas que pude fazer na tentativa de criar uma estória interessante que contarei aos meus netos sobre minha "carreira profissional". Tenho pensado muito nas funções que certas profissões exercem ou deveriam exercer, os propósitos de determinadas faculdades e disciplinas, a exploração de certos trabalhos, a apropriação de outros, a malandragem de todos, etc. Na minha caminhada, escolhi como faculdade (até agora) Ciências Sociais, Teologia e Filosofia, sendo que apenas conclui (ou estou prestes a concluir) as últimas duas. Pretendo fazer mestrado, doutorado e qualquer outro "rado" que surgir como oportunidade. Entretanto, o que tenho pensado é: "para que servem esses estudos?", "quais suas funções em minha relação com eles?"

Depois de um tempo experimentando desses estudos, exercitando meus desejos, experienciando minha caminhada com eles e suas relações com os outros, percebi algumas coisas e decidi torná-las públicas. Pois bem, quanto à Filosofia, gostei de poder compartilhar das posturas de dois caras completamente diferentes: Zizek e Rorty. Zizek disse que como filósofo, ele não poderia dar respostas, mas, corrigir as próprias perguntas que fazemos. Já Rorty colocou a filosofia de um jeito bem diferente e, recortando muito suas propostas, diria que ele coloca a razão - talvez o instrumento filosófico - como organizadora de nossas crenças para que elas tenham coerência. É, escolhi Filosofia porque quero produzir perguntas que sirvam de instrumentos úteis para nossas adaptações e para a maneira como lidaremos com nossos problemas, com nossas relações e nossa maneira de nos adaptarmos e nos relacionarmos com nossas experiências. Corrigir perguntas significa assumir a impossibilidade de encontrarmos a verdade, a resposta para nossos problemas. Significa ter que nos adaptarmos aos problemas, dissolvê-los com novas possibilidades de problemas. Significa, por fim, que precisamos reorganizar nossas crenças, corrigir a maneira como as estruturamos. Isso caminha junto com Rorty, isso me leva a outra escolha: Teologia.

Creio ter escolhido e me apaixonado por Teologia por sua função muito peculiar: partir de um pressuposto de Fé - que, no caso, seria Deus. Quando falo sobre Filosofia, reorganizo as perguntas, proponho problemas, balanço as crenças com uma coerência insuficiente - desorganizadas -, ouço a seguinte questão: "mas, e você? O que pensa a respeito?". Bem, quando alguém me pergunta o que penso a respeito de algo, eu ouço: "em que você acredita? Pois preciso acreditar em algo também...". Nem que seja crer que a crenças não fazem sentido algum nunca, parece que todos estamos sedentos por crer em algo, em alguém. Seja no Corinthians, na Igreja, no Pastor, Rolling Stones, Obama, Gandhi, Hitler, Filosofia, Razão, Buda, Absoluto, Deus, Jesus ou que é certeza que a água ferve a 100 graus Célsius ao nível do mar dentro de condições ideais de pressão e etc, buscamos alguma coisa para acreditar. Teologia parte desse ponto, aceita como máxima essa relação estranha que temos conosco ou com alguma outra coisa que dizemos não ser nós. Perceber que em diferentes circunstâncias e relações optamos por diferentes crenças e diferentes perguntas, me fascina, me enche o peito de medo, ânimo, esperança e inquietação.

Por um lado faço perguntas, por outro apelo para uma falta de "embasada" (correta) resposta. Por um lado sou movido por problemas, por outro por crença de que alguma solução é possível. Organizo, abro mão da organização. Corrijo, abro mão da correção. Acho que escolhi porque creio em mudanças. Não em solução de problemas indefinidamente, mas, em mudanças. Os problemas mudam, as soluções mudam, as relações mudam, as possibilidades mudam, minhas crenças mudam e parece que nunca será satisfatório. O importante é que será necessária uma crença, uma aposta. Escolhi porque creio, escolhi porque apostei. A pergunta que seria "qual o propósito da vida?", eu substituiria: "em que tens crido? Qual a tua aposta?"


Gratis i Kristus

Um comentário:

  1. Sou um fã dos seus devaneios, Bruno! Apesar de caminhos um tanto diferentes e até discordantes em termos de práxis, gosto da maneira como você expõe as idéias.

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