quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A Verdade Dói

Um casal começa a brigar; marido e mulher degladiam-se num espetáculo ilógico no meio da arena do Coliseu contemporâneo: a cozinha de casa. Imperadores chamariam de "Pão e Circo", mas nós chamamos de "DR" (Discutir a Relação). Pão e Circo era uma política implantada no Império Romano para acalmar as revoltas populares e intestinais dos cidadãos. Hoje, Discutir Relação é oportunidade para um programa de televisão de qualquer canal durante as tardes da semana. Na completa despreocupação com o diálogo, marido e mulher procuram trazer à tona o passado não muito sacro-santo de seus cônjuges adversários e, quando acabam os argumentos, as ofensas e surgem as acusações, sofrem de punhados de instantes de silêncio seguidos de uma bela conclusão: "é, a verdade dói!".

A mesma cena poderia ser protagonizada por colegas de trabalho, por pais e filhos, pelas melhores amigas traidoras, por professores e alunos e qualquer outra relação humana que também se disponha a discordar. Nestes embates sem qualquer preocupação com o encadeamento de argumentos, o objetivo final é descobrir quem está com a "razão", quem está com a vedade! Verdade essa, bem distante daquela que nos acostumamos a acostumar. Tratamos por verdade toda a proposição que obedecer a regras, for pensada e encaixotada dentro de determinado tempo e determinado espaço, comprovada por alguma Ciência ou então por qualquer sinapse cerebral que sendo repetida chega ao mesmo resultado. Porém, a verdade última procurada pelos embates humanos cheios de hormônios, vida, amor, ódio e relação afetiva, não é essa que defendemos com as nossas unhas e dentes da perfeição racional. Inclusive, pouco importa como construiu seu castelo de palavras, o que importa é a vida que sei que vives e o coração que sei que tenho...

Como sei de tua vida se não a vivo? Como sei de meu coração se ele é apenas um pedaço de carne que bombeia sangue e o qual nunca vi? Aliás, como sou capaz de utilizar a palavra coração expressando qualquer outra coisa que não seja ele em si mesmo e, ao mesmo tempo, todo aquele que me ouvir entenderá o que estou dizendo? A verdade de que estamos falando não é mais a verdade indiferente, distante de mim e longe de todos. A verdade de que falamos é a verdade que vivemos. Experimento-a todos os dias, por vezes não sei expressá-la, mas a vivo com certeza! Pode ser que os mais habituados a repetir os rígidos e legalistas castelos do Todo-Poderoso pensamento limitado por palavras, se indignem com a possibilidade de sabermos de coisas que não passam pelo filtro da nossa construção racional, mas nós vivemos, apenas sentimos, experimentamos. É, amigos, a verdade dói!

A verdade dói não porque derruba minha vida, mas porque dela faz parte. Verdadeiro não é única e exclusivamente aquilo que posso dominar e apreender com minhas elaborações racionais, mas também é aquilo que vivencio, experimento e sinto no que chamo "dentro de mim". Inclusive, te(i)mo ao dizer que é mais genuíno e verdadeiro o saber que tenho e construo através das experiências vivas de que padeço, do que com as indiferenças estagnadas daquilo que convencionamos como raciocínio. A verdade dói porque o verdadeiro é doído por mim, padecido em mim. Mas, talvez, na nossa ânsia de sermos bons gladiadores ou centuriões, criamos arsenais de palavras, edifícios conceituais e estabilizamos o vivente, congelamos o tempo, nos distanciamos de nós e dos outros, para que assim possamos controlar e dominar o imediato, o iminente, o incontrolável. Por medo de viver sem segurança, inventamos terras firmes, rochas fortes e angulares, tentado sustentar nossa pose e torcendo para que os Imperadores nunca baixem o dedo nos condenando a morte...

É, amigos, a verdade dói!




Gratis i Kristus

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