terça-feira, 2 de agosto de 2011

De minha leitura para a tua - Lendo João 21: 15 - 20

Percebi que debaixo do Sol muitos homens não se contentam com o dia que a eles foi dado, pretendem viver o dia de amanhã antes mesmo que ele chegue. A estes homens, o inesperado não faz parte de uma boa vida. São homens de pequena fé. Na falta de boa vidência e péssimas previsões do futuro, decidiram acelerar a vida para ver se seus carros ou computadores chegarão no amanhã antes que o hoje termine. Doces ilusões...

É triste sofrer por antecipação, o que para Santo Agostinho é uma tolice. Mas, mais triste ainda é tentar por antecipação não sofrer, pois disso surge o sofrimento por talvez não conseguir evitar a dor que ainda não sofremos e não queremos sofrer. Ah! Muita complicação, muito sofrimento, muita perda de vida! Estes homens que querem chegar no amanhã sem o inesperado perdem tempo na busca por ganhá-lo...

Talvez assim eu entenda que "quem quiser ganhar a vida, perde-la-á". Talvez assim eu entenda que ser livre implica em permitir que a liberdade exista para além de mim. Talvez assim eu entenda que profecia não é prever o amanhã, mas indignar-se com o hoje. Talvez assim eu entenda que Cristo não é mestre de uma vida, mas de toda uma eternidade. Talvez assim eu entenda que viver a vida de Cristo não garante o dia de amanhã, mas me leva a abrir mão do meu amanhã em nome do nosso hoje. Talvez assim eu leia João 21: 15 - 20:

"Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro:
- Simão, filho de João, você me ama mais do que estes? - disse ele:
- Sim, Senhor, tu sabes que te amo - disse Jesus:
- Cuide dos meus cordeiros.
Novamente Jesus disse:
- Simão, filho de João, você me ama? - ele respondeu:
- Sim, Senhor, tu sabes que te amo - disse Jesus:
- Pastoreie as minhas ovelhas.
Pela terceira vez, ele lhe disse:
- Simão, filho de João, você me ama? - Pedro ficou magoado por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez 'Você me ama?' e lhe disse:
- Senhor, tu sabes todas as coisas e sabes que te amo. Disse-lhe Jesus:
- Cuide das minhas ovelhas. Digo-lhe a verdade: Quando você era mais jovem, vestia-se e ia para onde queria; mas quando for velho, estenderá as mãos e outra pessoa o vestirá e o levará para onde você não deseja ir.
Jesus disse isso para indicar o tipo de morte com a qual Pedro iria glorificar a Deus.
E então lhe disse:
- Siga-me, Pedro!"
 
Pedro, homem imperfeito que não conhece o dia de amanhã, prometera a Cristo que jamais permitiria que ele morresse ou sofresse nas mãos dos homens. Pobre Pedro, homem imperfeito que queria ser livre, mas não queria permitir que a liberdade estivesse além de seus domínios. Sentia-se livre para sacar a espada e cortar orelhas, mas não aceitaria que a liberdade arrancasse a vida de seu mestre ou o impelisse a negá-lo três vezes. Pedro, homem livre que queria decidir sobre o amanhã.

Não, Pedro não conseguiu. Imperfeito humano limitado, sofreu com a liberdade e com as contingências. Por três vezes tentou prever o dia de amanhã e prendeu-se ao tempo, esqueceu as palavras eternas daquele mestre ao qual jurara amor e fidelidade. Pedro é o imperfeito como eu, indivíduo como eu e livre como eu. Graças a Deus, tanto Pedro quanto eu somos convidados à Liberdade pela Verdade que restaura e salva com Amor. Por tantas vezes que prender-me ao mundo, tantas vezes serei liberto pelo Amor de Cristo.

Amar a Cristo é libertar-se, é viver a vida do liberto ressurreto. Mesmo imperfeitos que esquecem de viver o hoje, somos convidados pelo próprio Cristo a pastorear suas ovelhas, a alimentar os outros homens, a voltar a viver o hoje, a tomar nas mãos o trabalho de Jesus. Aprendemos com Cristo a sermos livres que permitem que a liberdade atravesse sua lança próximo ao nosso peito para garantir a nossa morte. Vivemos com Cristo a possibilidade de morrer nas mãos dos escravos. Sem saber o dia de amanhã, experimentamos o hoje carregados de fé e amor. Somos livres das amarras do tempo...

Quando éramos jovens, não de idade ou tempo de vida, iríamos para onde queríamos e pisávamos na liberdade, antecipávamos o amanhã querendo prever o que aconteceria. Mas, quando formos velhos, seremos levados para onde não queremos, vestidos com roupas que não desejamos e manteremos as mãos estendidas para que os outros sirvam-se de nossas vestes e de nossas vidas. Não esperamos uma vida controlada para amanhã, mas uma morte que glorifica a Deus hoje! Somos livres do tempo e não nos prendemos mais ao mundo, mas morremos para ele ressuscitando para uma eternidade em Cristo. Dias de morte e ressurreição...

Como, quando ou onde Pedro morreria não era o importante. A indicação de Cristo era para que aquele que viver a Sua vida, morrerá a Sua morte. O amor a Cristo não é a garantia de um amanhã, mas a ressurreição na morte de hoje. A glória de Deus se fez presente na liberdade de Pedro em entregar sua vida como o seu mestre fizera, em permitir que a liberdade fosse além de seu controle e a salvação vinda do inesperado. A deixa de convite para a Vida é feita por Cristo: "Siga-me", a verdadeira restauração de Pedro.


Dedicado à Gabriel "Cotonete"

Gratis i Kristus

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