quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Nasci e vivo em um lar cristão. Fui criado dentro de uma igreja e suas ideologias. Convivi, aprendi e segui uma religião com seus ensinamentos e dogmas. Ao ser confrontado na escola por professores e colegas de sala com uma educação tida como laica e divergente do ensino "perfeito e correto" do pequeno globo de vidro religioso que vivia, ficava revoltado, intrigado e as vezes até ofendido (sabe-se lá por qual razão).
O assunto que mais cutucava e sempre gerou discussão dentro de minhas salas de aula foi sem dúvida nenhuma a grande questão do surgimento das coisas.
Em busca de respostas que batessem e condizessem com as coisas que estavam escritas dentro de um livro preto e ilustradas nas figuras da "tia", que ficava numa salinha aos domingos contando uma histórinha com um flanelógrafo verde, as quais eram 7 círculos diferentes contendo imagens de pássaros, céu e água, terra e grama, animais, escuridão e luz, peixes e também as imagens de um homem e uma mulher, estudava e lia cosias sobre uma teoria chamada Criacionismo. Eu era o único da sala que levantava a mão enquanto os outros olhavam com estranheza e as vezes desgosto para o braço estendido quando o professor fazia a célebre pergunta: "quem acredita que Deus criou o Universo e não na Evolução?". Tinha como verdade absoluta e imutável, e me orgulhava disso pois perpetuava e debatia com lógica e excelentes argumentos o que comprovava a fé cristã. Pura imaturidade.
Cresci, estudei, abri meus horizontes, terminei o colégio, ingressei em uma faculdade.
Em Janeiro, num acampamento cristão, que amo e sempre vou, me senti em minha sala de aula só que ao contrário. Um preletor enquanto falava fez a célebre pergunta, só que ao contrário: "Quem aqui acredita na Evolução?". Dessa vez o intuito não era provar nada a ninguém nem muito menos perpetuar a comprovação de alguma coisa, foi uma reação automática e espontânea; eu levantei minha mão. O único de um salão que inteiro que levantou a mão. Uma pessoa mais velha rapidamente olhou assustada e horrorizada para mim como se não acreditasse no que via e ao mesmo tempo pedisse para que abaixasse imediatamente aquele braço, o fiz no mesmo instante.
Ao pensar e refletir sobre essa cena e situação percebi que vivi toda a minha vida numa religião fechada com uma cabeça dura e pequena. Quando mais novo e imaturo, defendia uma teoria não por ser mais inteligente, lógica e sensata, mas simplesmente para comprovar e me sentir seguro na fé que defendia. Não tinha percebido ainda que não era o explicar como as coisas surgiram a partir da lógica de um livro antigo que provaria que o Deus que eu prego e creio existe.
Não vou entrar no mérito dessa discussão, pelo menos agora não, mas no que tange à fragilidade religiosa em depender de comprovar que um texto figurado de milhares de anos, isso sim é de meu interesse.
Mudar minha teoria de como surgiram as coisas e como o mundo foi formado não interfere em nada a minha fé e nem define se sou mais ou menos cristão que outro. O cristianismo não está baseado no criacionismo e muito menos é alicerçado em um tratado científico, que chamamos de Bíblia, e que tem como intuito explicar todas as coisas e campos da vida na terra. O cristianismo é estruturado em cima da vida de um homem que viveu e morreu por amor a outros e apoiado em um livro que conta histórias de amor mostra fecetas de um Pai amoroso que ama seus filhos.
Deus é grande demais para estar contido em metáforas mitológicas da Antiguidade e poderoso o suficiente para criar um mundo baseado numa lógica sensata e construtiva. Ou você não crê nisso?

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