"E quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de ficar orando em pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos outros. Eu lhes asseguro que eles já receberam sua plena recompensa. Mas quando você orar, vá para seu quarto, feche a porta e ore a seu Pai, que está em secreto. Então seu Pai, que vê em secreto, o recompensará. E quando orarem, não fiquem sempre repetindo a mesma coisa, como fazem os pagãos. Eles pensam que por muito falarem serão ouvidos. Não sejam iguais a eles, porque o seu Pai sabe do que vocês precisam, antes mesmo de o pedirem."
Quando converso com meu pai eu utilizo certas expressões, palavras, tons de voz e contruções do diálogo. Sou mais objetivo, prático, acadêmico e mais preocupado com a réplica que terei frente minhas argumentações. Já quando converso com minha mãe, utilizo outras certas expressões, outras palavras, outros tons de voz e outras construções de diálogo. Sou mais irreverente, simples, passional e me preocupo menos com a réploca que terei frente minhas argumentações. Quando converso com diferentes amigos de diferentes grupos então... Mudo completamente minhas palavras e maneiras de dialogar.
Isso acontece porque para cada pessoa que conheço tenho uma imagem e tento me precaver das reações que estas pessoas terão. Então, conhecendo um pouco de cada uma, sei como posso e devo conversar. Não imagino que seja muito diferente na relação com Deus. Como me relaciono com Ele dependerá de como o "vejo".
Quando tratamos do assunto "relação com Deus" (ou com o divino, transcendental, sei lá), projetamos esta relação em presses, orações, petições e promessas. Um "diálogo" entre o "terreno e o celeste", o "visível e o invisível", o "humano e o divino". Apesar de em minha filosofia (ou teologia, ou ainda fé) a relação com o divino não se prende a "falar" com o que não vemos, é necessário que se compreenda o como tentar conversar com Deus.
Se para mim Deus é um tirano, minhas orações sempre serão implorando perdão e eu me vejo sempre como o pior dos seres, devedor e passível de sofrimento e castigo. Se para mim Deus é um general em guerra, eu orarei sempre como uma declaração "patriótica" de fidelidade e me portarei como um soldado em combate ao lado de um general que precisa aumentar o exército, precisa de ajuda. E ainda, se Deus para mim é quem me prometeu algo e não cumpriu, logo um devedor, minhas orações serão de exigência e combrança para com o divino, eu serei o "recebedor" de uma bênção que Deus me "deve". Para fechar, se pretender um pouco mais longe, se Deus para mim é uma caixinha de surpresas, uma caixinha das promessas, um "realejo", minhas orações sempre serão na esperança, ou melhor, na ilusão de que tudo vai dar certo e eu serei o jogador da loteria que espera ter o número sorteado.
Entretanto, o grande problema de todas estas maneiras de imaginar Deus (os nossos ídolos divinos) não tem nada, nenhuma relação, com a descrição que Jesus (Filho) faz de Deus (Pai) no trecho que introduz este texto, Mateus 6: 5 - 8. Quando orarmos não devemos ficar repetindo as mesmas coisas; sofrendo, implorando, iludindo, torcendo e/ou exigindo. Não precisamos muito falar, nem muito pedir, nem devemos, aliás, pedir. Pois o Pai que está nos Céus sabe o que pedimos antes mesmo de pedirmos. Agora, se oração então não é exigir, torcer, pedir, sofrer, implorar, para que serve?
A imagem de Deus expressa por Jesus é de um Deus bom. Se Deus não é tirano, nem general, nem devedor, nem realejo, como me relacionar com um Deus que ama? É complicado compreender que nos relacionamos com Deus simplesmente por causa de Deus. Sem querer encaixar e cumprir uma função para Deus: "responder petições". Nós olhamos para nossa vida e encaixamos Deus de alguma forma nela (como uma das opções citadas acima), ao invés do caminho que faz mais sentido, nós como criaturas termos uma "função", sermos encaixados em Deus. Não somos nós que o incumbimos de tarefas, mas Ele que nos chama. Agora a oração toma um tom mais sublime, de uma criatura que se relaciona não pelo que Deus faz, mas pelo que Deus é.
Oração agora é em secreto. Uma relação de intimidade, de abertura de corações ( http://brunoreikdal.blogspot.com/2009/04/oradorouvinte.html ). Não faço como os pagãos que repetem, pedem e imploram. Nem como os hipócritas que oram alto, em pé, aparecendo e tentando provar uma relação melhor com o divino. Mas em silêncio, converso com o Pai, abro meu peito, rasgo minha alma e sou recompensado por sua presença. O Pai pelo Pai. Deus por Deus. Minha recompensa é compreender e simplismente ser o amor que divinamente foi me dado por graça. Oro de graça e pela graça. Sou agraciado pela presença divina, sofro uma kenosis humana, e cheio do Espírito sei que posso ser a "resposta" de Deus para orações de outros. A recompensa é o Reino, o Deus, o condicionamento da minha vida pela graça...
Um Deus muito maior do que minhas pequenas petições.
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