"Deus é justo, irmão! Aleluia!".
Destrinchemos e vasculhemos o que está implícito nessa frase. "Deus é justo", comecemos assim. Não, melhor, comecemos com "Aleluia", uma palavra comemorativa que traduzida para o português equivaleria a "mil glórias a Deus". Porquê quem profere esta frase glorifica a Deus? Algo bom deve ter acontecido ou há de acontecer. Bom para quem? Uma justiça que parte de um ser divino, eterno, imensurável, Todo-poderoso, que a tudo vê, preenche e coisa e tal, seria boa para alguém? Principalmente se este alguém for mera criatura imperfeita, pecadora, que o desobedece com frequência e não consegue nem compreendê-lo nem imaginá-lo?
Qual o motivo das graças? Simples, a Justiça de Deus. Porquê justiça aos nossos ouvidos nunca parece ser algo bom? Provavelmente porque o que chamamos de justiça seja uma reação apreciativa ou depreciativa dependendo da meritoriedade do indivíduo passível de acusação ou agradecimento. Traduzindo o que compreendemos por justica: "Você tem o que merece de acordo com nossas leis". Isso é assustador se imaginarmos que somos imperfeitos, incompletos, errôneos e errantes, pecadores e que nunca conseguiremos ser "semi-deuses", estar plenamente de acordo com Ele. A salvação que deveria ser o motivo da alegria do "Aleluia" proferido é a graça, o cerne da justiça divina. Vejamos:
O primeiro ato de Justiça divina foi a criação. Eu sei que não, mas suponhamos que o mundo tenha sido criado tal qual está descrito no mito ddo Gênesis judaico. Lembrando que mito não é uma história verídica e que se presta a ser fatídica ou científica, mas que pretende mostrar valores e conceitos de uma cultura, continuemos o raciocínio. Deus cria tudo, prepara um mundo, e a única regra estabelecida para o ser humano é não comer de um fruto específico (do "bem e do mal"), pois se comesse seria passível de, e punido com, morte. O ser humano come, mas não morre. Deus, em cumprimento de sua Justiça divina previamente mencionada no contexto ("se comer certamente morrerás"), não mata e nem deixa morrer este ser desobediente. Os tira do Paraíso e explica que a vida agora será mais complicada pois agora "conhecem o mal", mas continuam com vida.
Seguindo a história percebemos mais um grande relato da Justiça divina. A história de Caim, que tem um irmão chamado Abel. Caim é alertado por Deus que seu caminho mal trará morte. Caim não dá ouvidos, enraivesse, mata seu irmão e, quando questionado por Deus de onde seu irmão estaria, tenta mentir e "tirar o 'seu' da reta". Mais uma vez advertido por Deus, percebe que seu caminho o levará a morte. Teme, se assusta, "fica com o 'seu' na mão". Analisa a situação e se vê a ponto de morrer, será passível de morte, punido com morte pelos outros que o encontrarem no caminho! E Deus, justo, que já tivera avisado as consequencias, o marca para que não morra. Dá a Caim uma nova chance de vida. Agora marcado para que não morra, vai errante pela terra tentando se reestabelecer.
E dentro das narrativas bíblicas perceberemos homens e mulheres acusados, condenados, quebrados, desobedientes, doentes que ao invés de receberem seu "castigo", sua justa punição, obtém a Justiça divina, a graça. Noé, Abraão, Isaque, Jacó, Moisés, Davi... E por aí vai. Homens passíveis de punição, mas que pela Justiça divina conseguem a vida. Digno de morte que obtém a vida.
Um homem muito sábio disse: "Bem-aventurados os que tem fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos". Com certeza a justiça deste homem não era meritória, era divina. Satisfeito será aquele que por justiça desejar e buscar a graça, o perdão, a vida. Como sei disso? Este mesmo homem muito sábio foi sedento por Justiça divina, foi o próprio Deus na terra, foi a Justiça divina encarnada, e seu fim foi ser julgado pelos homens. Uma justiça meritória o condenou a morte. Aquele que não merecia morrer foi morto. Em contra-pertida, seu anseio é que os dignos de morte vivessem.
"Deus é justo, irmão! Aleluia!". Quero dizer: Ele salvará aqueles que não merecem salvação. Ele dará vida aqueles que são dignos de morte. Satisfará aqueles que buscaram a Justiça, entregando a todos a mesma recompensa: Ele. Glória a Deus! Como é bom saber que não é por mérito, não é por atos, não é por obras, mas é dom de Deus! Essa é a Justiça!
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