Eram duas vezes...
Dois seres que viviam em apenas um. Eu e mim dividiam e repartiam o mesmo corpo. O eu era mais imperativo e ativo. Mim já era mais largado e sobrava sempre. Eu agindo e "verberizando", enquanto que mim esperando e complementando os fins das histórias. Eu nunca deixava nada para o mim, e o mim sempre preguiçoso nunca substituia o eu.
Desses atos e contos surgem os mitos que se conta a crianças para ensiná-las comunicação. "Mim não faz nada!", ou então, "Sempre eu! Sempre eu! Pense mais no outro menino!". O mim não faz, o eu sempre faz e a confusão está gerada. Um nunca quer o outro quer tudo para sí!
Um dia eu e mim nada podiam fazer. Ninguém falava, ninguém conjugava, ninguém sondava a possibilidade de conversar. Cada um em seu canto. Cada um com seu cada qual. Nada de "eu's" ou "mim's". Tanto mito e aprendizado separou todos de todos e os eu's dos mim's. Todos então perceberam que todos estavam na mesma situação. Todos saíram de seus cantos e de seus cada quais e caminharam para o centro. Os eu's e os mim's entreolharam-se. No silêncio a falta pareceu maior. Um dependia do outro. Eu e mim. Eu e mim. Agora não mais eu e mim, mas nós. Nem o eu nem o mim imperavam ou esperavam. Eu e mim agora eram um. Um ser completo. Uno. Nós. Nisso não se faz diferença, não há mais "Sempre nós! Sempre nós! Pense mais no outro menino!" nem "Nós nunca faz nada!". Porque o nós agora compreendia e compartilhava o outro. E o "nós nunca faz nada" não cabe, porque nós nunca faz, mas sempre fazemos...
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