"Arrependei-vos pois o Reino dos Céus está próximo!", assim dizia João Batista, o chamado "último profeta", que na tradição preparava o caminho para a chegada daquele que seria o Messias. Conceito estranho este de "proximidade" de um "Reino". Próximo de que? Ou então de quando? Aonde? Como? Aliás, arrepender-nos de que? Para que? Que raio de profeta é este que fala como se todos compreendêssemos do que ele está falando? Fala de um Reino de um Messias sem este nem ter surgido ainda. Pior, quem escreveu este texto provavelmente já tinha em mente que seu público leitor soubesse de que se trata a proximidade, o arrependimento e o tal Reino.
Arrependimento: "Sentimento de mágoa ou pesar por falta ou erro cometido. Mudar de procedimento, parecer." (de acordo com o Dicionário Aurélio). A imagem de arrependimento que nos é comum baseia-se num desespero, choro ou dor nostálgica gerada por culpa. Kierkegaard trata muito desta culpa e do desespero gerado em seu livro "O desespero humano". Entretanto, o "arrependei-vos" neste texto não se trata das lágrimas que rolam após uma trágica confissão e reconhecimento de um erro, mas de uma nova maneira de se lidar com a vida. Provavelmente agora, neste texto que você está lendo, essas informações parecerão perdidas, desconexas e um pouco sem função, mas é na construção da frase e na junção dos conceitos que tudo se esclarecerá, continue firme que chegaremos juntos a algum lugar. O "tempo" é importantíssimo para a compreensão dos conceitos de João Batista. O arrependimento não se refere a uma nostalgia, lembrança do passado, e nem a um futuro ilusório ou esperançoso, mas sim a uma mudança drástica de atitude no "já", hoje, agora.
Metanoiete, ou, metanóia, é a palavra utilizada por Mateus para se referir ao arrependimento. Essa expressão grega compete a um conceito de "mudança ou transformação contínua de consciência", uma "metamorfose mental ou espiritual", como queira. Seria uma transformação presente de consciência, um voltar-se para Deus, rearranjo do ser, uma nova caminhada. Para onde? Para quem? E, porque agora? A resposta dada por João é "... pois o Reino dos Céus está próximo.".
"MalkhuthaShammayin", título deste texto neste blog, quer dizer "Reino dos Céus", em hebraico. O conceito de Reino dos Céus é imprescindível para a compreensão de uma mensagem linda de esperança e fé para a salvação dos homens. Pregado por muitos como um "há de vir", um Reino para o futuro, o Paraíso do pós-morte, o Reino dos Céus perde seu sentido, sua beleza e sua essência transformadora e libertadora. A mudança de consciência (metanoiete ou metanóia) é do "já", imediato, hoje e agora, não é porque o "fim está próximo", ou se quisermos utilizar o linguajar do texto com esse objetivo, "o Reino dos Céus está próximo", caminhando a largos passos do futuro para o presente, mas porque este já se faz presente. O "MalkhuthaShammayin" não é um lugar, um espaço nem uma época, é uma CONDIÇÃO.
Uma transformação, arrependimento, da consciência traz ao homem a possibilidade de viver com os conceitos libertadores do Reino dos Céus. Hoje se faz presente em mim o Reino pois me arrependi (metanóia). "Hoje entrou salvação nesta casa", diz Jesus a Zaqueu quando este se arrepende, ou, transforma sua maneira de compreender a vida. "Dê tudo aos pobres e siga-me", era o que faltava ao jovem rico. "O Reino de Deus não está lá ou aqui, mas está entre vós", afirma Jesus quando questionado quando chegaria o Reino de Deus. E, aliás, quando questionado sobre a vinda do Reino em outra ocasião, Jesus também critica a pergunta afirmando que doentes são curados e as Boas Novas contadas aos pobres, e estes são sinais da presença do Reino de Deus, ou Reino dos Céus. Um Reino que não se espera e nem se estabelece em algum lugar por algum tempo, mas que é presente e contínuo, eterno, por ser uma condição entre os homens. A salvação que ligamos a presença de Deus no coração do homem e ao transbordar do Espírito Santo de Deus não são apenas metáforas relacionadas a uma vida religiosa ou prática de glossolaria e "poderes mágicos", mas sim a "vivência", a encarnação de um Reino dos Céus, ser condicionado pelos valores deste Reino.
Em Mateus 24, quando Jesus descreve a vinda do Reino em tempos difíceis, são destacadas as características daqueles que participam deste Reino (MalkhuthaShammayin), "tive fome e me deram de comer, tive sede e me deram de beber, estive preso e vieram me visitar, tive frio e me deram de vestir, estive doente e cuidaram de mim, fui estrangeiro e me acolheram em suas casas.". Uma condição de vida, uma maneira de viver. O tempo presente percorre todo o conceito de Arrependimento e Reino dos Céus. Não é uma relação de causa e efeito, "hoje faço A para amanhã acontecer B", mas sim "hoje vivo A pois desde sempre existe B". O Reino eterno de Deus é eterno e compreende a todos, o grande diferencial é a tomada de consciência deste Reino (metanóia) que possibilita a compreensão e a condição de parte do Reino. Não é a esperança de um algo que vem mais de um algo que existe. Ele é próximo, quer dizer, ele está. "... o Reino dos Céus está próximo".
Logo, concluímos que se o arrependimento não é uma nostalgia dramática, somos livres de uma culpa, pois o que fora feito está feito. A Graça que nos liberta da culpa é a mesma que nos traz luz a uma nova consciência, a de pertencente de um Reino, e agora não mais escatológico e pós-morte, mas presente e redentor. Se não haverá choro é porque hoje já cuidamos para que não haja choro. Se não haverá dor é porque no hoje já não queremos trazer a dor. O Reino é. Condição. Está. A grande questão fica no Arrependimento, se nós nos condicionamos ou não a viver em favor e cientes da presença do Reino dos Céus e seus valores. Se disser que Cristo vive em mim, é porque vivo os valores deste Reino hoje, quer dizer, busco um mundo melhor hoje. Passei por uma Metanóia, compreendi uma nova consciência, e vivo o MalkhuthaShammayin, sou condicionado pelos valores do Reino.
Simplesmente fantástico!!!!!! o futuro da Betesda está bem encaminhado, ja diriam filho de peixe peixinho é, se vc já tem 21 anos com essa linha de raciocínio então terei conhecido um dos maiores teólogos do sec. XXI, parabéns, quando me perguntarem quem e esse Reikdal ai, bem eu estudei com ele, um gênio indomável srsrsrrs abraços keiker, se possível da uma passada meu blog la alias não chega aos pés do seu, mas tudo tem um começo.
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