terça-feira, 18 de maio de 2010

Erro Pedagógico

"Errando que se aprende", se esta frase estiver errada, até que faz sentido. Erramos muito ao repeti-la, e hoje, acho que aprendemos que deve ser reconstruída. Não faz mais sentido, e nem cabe no cotidiano e na aprendizagem de um ser humano do "século XXI", depois de bilhões de anos de evolução, milhares de anos do homo sapiens, milhares de anos de filosofia, 2 mil anos da era cristã, expressar a idéia de que só depois de cometido um erro é que se aprende.

Repensei e "filosofei" sobre esta máxima depois de muito ouvir dentro das igrejas que "Deus permite o erro pois sabe que é pedagógico", que ele nos perdoa e nos permite "pecar" (cometer infrações ou erros) porque é "errando que se aprende". Dizer que o erro é pedagógico é contribuir para um "erro pedagógico", que faz parte da Didática do Erro. A base desta didática é o exemplo do bebê, que cai muitas vezes até aprender a permanecer de pé e andar. Então, é necessário cair para aprender a se levantar.

Um erro só se torna erro depois que é percebido como erro. Só se percebe a mentira frente a verdade. É assim que funciona: o erro só é percebido depois de constatado o "acerto". No caso religioso, só se tem a percepção de que um pecado é pecado, depois que este é revelado como tal. Um pecado só é cometido depois que se tem ciência de que é pecado. Um ato pelo ato não é pecado. Mas, se existe a consciência de que o ato é pecaminoso e mesmo assim é praticado, aí torna-se "pecado". Onde quero chegar com isso? No chão. Só se pode cair estando de pé. Não é caindo que se aprende a levantar, mas é estando de pé que se descobre o que é cair.

Para Sören Kierkegaard, ignorar aquilo que se sabe é que é pecado, errado. Depois de consciente de algo, ignorar este algo é o "verdadeiro erro". Por isso escreve sobre uma Teologia da Revelação, na qual a medida que Cristo é revelado para o homem, este se torna mais responsável por si e pelo que faz. Mas apenas a partir da Revelação é que se "cobra uma postura ereta", o ficar de pé. Precisamos trocar nossa Didática do Erro, este erro pedagógico, por um novo tipo de aprendizado, resgatar algo que se perdeu no tempo, a Didática da Confiança.

Porquê devemos ouvir nossos pais? Porquê é certo? Porquê é errado? Porque eles tentarão nos esclarecer de acordo com sua experiência aquilo que faz bem e aquilo que faz mal a vida. Devo ouvi-los por confiar neles. Porquê relação sexual sem "camisinha" é prejudicial? Porque você pode contrair uma doença sexualmente transmissível ou ainda engravidar sem um planejamento adequado. É preciso ter uma relação sexual sem "camisinha" para se descobrir isto? Não. Preciso confiar em informações que me são dadas, nas histórias de pessoas que no passado viveram este tipo de situação, na medicina e por ai vai. Assim como para qualquer assunto. A Didática da Confiança é baseada nesta idéia.

Devemos aprender ouvindo e depositando nossa confiança nos outros, nos conselhos, nas histórias vividas. Porquê hoje olhamos para a História humana e definimos "erros"? Porque enxergamos os desdobramentos e consequências do que aconteceu. Não é pedagógico errar de novo (lembrando que até o que hoje é erro antes não o era) para tentar me levantar. É pedagógico sim transformar o erro como um meio de aprendizagem. Mas muito mais pedagógico, é ensinar a olhar para cima, para aquilo que é mais velho, que já foi, e buscar ou uma mão que me ajude a me manter em pé, ou observar como "eles" se mantém ou mantiveram em pé.

A missão de uma Didática da Confiança é ensinar a ouvir e confiar. Antes do erro, que é inevitável, perceber a voz do passado que não é o nosso, analisar o que está a volta, aquilo que foi, que é, instrospectivamente, silenciar a ânsia e os desejos e deixar a consciência e os conselhos falarem mais alto. Condicionarmos aquele que aprende a não inventar respostas e tomar atitudes, mas descobrir as que já foram dadas e reinterpretá-las para um novo passo. O velho chavão de que "ninguém inventa a roda". É necessário confiar naquilo que foi dito, dar ouvidos aos conselhos e advertências. Ter fé. Didática da Confiança é retomar a fé que se deve ter na família, na comunidade, nas pessoas e combater a esquisofrenia do "deixar errar", "deixe-o errar que ele aprende". O medo, a indiferença, a desconfiança da Didática do Erro geram distâncias e frieza. Não ensinam independência, mas individualismo.

Não é errando que se aprende, mas ouvindo. Ouvindo para não errar. Analisando o que já foi vivido, sentido, consentido e praticado, confio e ouço, reinterpreto e aprendo a fazer meu caminho. Construo meus passos, mantenho-me de pé, ciente de que não pretendo cair. Tenho fé. Desenvolvo minha independência. Formo uma cabeça não apenas minha cheia do pouco que sou, mas complexa, ampla e preenchida por muitos antes de mim, por muitos que estão comigo. Consigo ter minhas idéias compartilhadas e dialogando com as antigas, novas, super novas e me ajudando a dar mais passos e cair menos. Confiar no que foi dito. Confiar nos conselhos que nos dão. Confiar na história e nos valores que geram vida. Que para muitos é simplesmente desenvolver uma expansão de consciência humana, e para mim, é desenvolver minha fé e conhecer mais a Deus.

Um comentário:

  1. Também concordo com você Bruno, visto que não há que se falar em aprendizagem somente através do erro.
    Acredito que existem inúmeras formas de se aprender nesta vida.
    Forte abraço.

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