quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Mito dos homens e das estrelas

"As estrelas são lindas, mas não podem participar ativamente de nada, só observar. Isso se deve a um castigo que receberam por alguma coisa que fizeram há tanto tempo que nenhuma delas sabe do que se trata."
(James Mathew Barrie, Peter Pan e Wendy)

Houve um tempo em que os homens não eram livres, viviam sob tutela e custódia do firmamento de cima, do amor das estrelas. Não havia nem dia nem noite, era tudo um tempo só. Por não serem livres os homens não tinham atos. Não dormiam nem acordavam, não comiam nem esfomeavam, não geravam vida nem matavam e não sumiam nem ficavam. As estrelas sim, estas eram ativas e sempre estavam lá olhando e velando os homens. Trabalhavam para manter a vida e se alimentavam de sua beleza. Quando descansavam brilhavam mais, quando trabalhavam brilhavam menos e sentiam fome.

Um dia uma estrela maior, querendo crescer ainda mais, decidiu parar de trabalhar para se alimentar. Com isso as outras estrelas tiveram que aumentar seu fardo de trabalho. Consequentemente cansaram-se mais também. O amor das estrelas pelos homens se esvaia. Logo uma a uma iam parando e fugindo para descansar e se alimentar de seu brilho. As maiores a princípio empurravam as menores de volta ao trabalho, mas logo estavam tão grandes e brilhantes que nada mais além de si viam. Enquanto fugiam, o firmamento de baixo escurecia...

Todas as estrelas fugiram para alimentar-se de si, cegaram-se por causa de seu brilho, e agora o firmamento de cima estava sem luz, e o debaixo em plena escuridão. Um buraco se abriu entre os homens. Estes não eram livres, não tinham atos e por isso não conseguiam se proteger. Estavam acorrentados pela escuridão. Surgiu o medo. As estrelas que eram ativas e responsáveis pelos homens não mantinham mais a vida. Os homens agora estavam encurralados pelo medo; presos à morte, mas não podiam morrer.

Ao ver o que acontecia, o Mentor se entristeceu. Não havia criado estrelas para viver para si, e nem homens para morrer sem perder a vida. Decidiu rever sua Peça. Em busca de salvar a vida, castigou os astros. Prendeu as estrelas no firmamento de cima, fixou-as distantes umas das outras e as obrigou a olhar, piscar mas nunca agir. Seriam tão belas quanto nunca, lindas! Mas presas a sua beleza, ao que fizeram com sua liberdade. Já para que os homens se libertassem do medo, foi-lhes dado o amor das estrelas. Com ele, vieram a responsabilidade, o trabalho, o brilho e o tempo. Dia e noite foram feitos. Dois lados de uma vida apresentados: o amor e o medo, o medo e o amor. Os homens agora conheciam a escuridão e conheciam o brilho. Eram livres e limitados por sua liberdade. Agora dormiam, acordavam, comiam, esfomeavam, geravam vida, matavam, sumiam e ficavam. As estrelas não. Não trabalhavam, não mantinham a vida e nem se alimentavam. Os homens tinham o medo e aquilo que afastava o medo. Poderiam viver e morrer. Eram livres... Devem manter a vida até que seu brilho os pare.

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