quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Toque, marche e tenha consigo a esperança

Após uma apresentação da orquestra, com o anfiteatro já vazio e silencioso, apenas com as luzes do palco acesas, o jovem trompetista sentava-se só e cabisbaixo segurando em sua mão a maleta preta de seu instrumento. À esquerda do palco, o maestro despedia-se dos últimos elogios caros adornados com vestidos e peles e smokings e bengalas. Enquanto virava-se resmungando das triviais e evasivas conversas que nos protegem de elogios caros, viu o pequeno jovem balançando suas pernas suspensas alguns palmos do chão à beira do palco. Aproximou-se:

- Depois de uma bela noite, o que há, filho?

- Depois de uma bela noite, não sou lembrado por ninguém. Sou apenas o trompetista. Esforço-me, tiro os melhores sons de meu instrumento, corro contra as forças do trabalho e do tempo para continuar soprando minhas notas e ainda assim, sou engolido pelos outros e nunca lembrado, sempre esquecido. Sou apenas o trompetista!

O maestro com seus longos cabelos grisalhos e postura imponente, deu alguns passos frouxos em círculos. Parou, levantou os olhos para as galerias do anfiteatro e soltou conversas não triviais e nem um pouco evasivas:

- Quando nascemos nos dão uma trombeta e sandálias nas mãos seguidas com uma ordem: "Toque e marche!". Uns apenas tocam, outros apenas marcham. Uma parte ainda nem toca e nem marcha. Mas feliz aquele que entra na Terra Prometida! Lembre-se, são apenas sete voltas. Tocar e marchar até que os muros caiam, até que a cidade se abra e aviste a bela terra! E lembre-se, são apenas sete voltas. O que seria de Josué sem seus trombeteiros? Alias, o que vale mais? Ser lembrado como Moisés? Ou esquecido como o trombeteiro? Feliz aquele que entra na Terra Prometida!
Entretanto, tristes os que se esquecem do flautista. Feliz o flautista que não esqueceu a sua música, o que ela faz e quem ele é! Enquanto sua música levava embora os ratos e limpava as casas e as ruas, a cidade não se lembrava dele, apenas queria esquecer dos ratos. Porém, o flautista não se esqueceu de que era flautista, do que sua música era capaz. Quando então sua flauta leva consigo as crianças, a cidade cala, envelhece, morre. O novo, a esperança, o futuro estão nas mãos do flautista.
A grande sacada não está em ser lembrado pelos outros, mas em não esquecer-se de si. Não se esqueça de sua missão: "Toque e marche!". E lembre-se, são apenas sete voltas. A grande sacada não está em fazer algo com perfeição para que os outros te aplaudam, para seres herói! Mas sim, em fazer algo com perfeição para que tua vida valha a pena. O segredo da vida é: toque, marche e leve consigo tudo o que há de novo, esperançoso e dê sentido para o futuro da vida! Toque, marche, veja os muros da cidade ruírem e entre na bela terra cheio de esperança. São só sete voltas. Feliz aquele que entra na terra prometida...

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