quinta-feira, 14 de julho de 2011

Conte os teus dias...

Tive um professor bem velhinho que gostava muito de mim. Eu o chamava carinhosamente de "mestre", me lembrando sempre daqueles velhos sábios chineses e do senhor Miyagi. Ele não era oriental, tinha mais cara de alemão, apesar de falar russo. Isso deve ter sido um problema na Segunda Guerra Mundial, mas ainda bem que ele era brasileiro e sempre morou no Brasil. Inclusive, acho que ele era de uma família de italianos.

Uma vez, meu bom e velho (bem velho) mestre, me convidou para tomar café em sua casa. Como era fim de tarde e o clima daquela noite de verão estava bem agradável, emendamos até uma xícara de chá gelado de limão bem tarde da noite. Não era tão tarde assim, mas para os senhores que "dormem com as galinhas" (metaforicamente falando, claro, meu mestre era um homem digno, respeitado e muito respeitoso), as nove da noite já é quase madrugada. Talvez por isso eles digam "Deus ajuda quem cedo madruga"... Mas isso é um outro problema.

O relógio-cuco velho soou. Era o sinal de ir para casa. Mas antes, aquele simpático e sábio velho me contou uma estória. Disse-me, naquela ocasião, que aprendera com um professor, homem cristão de "seita" diferente, não era católico e nem protestante, que deveria contar seus dias, aprender a contar seus dias. Disso eu já sabia, pois sou cristão, mas me impressionei por ouvir de um homem que imaginava ser ateu ou, no máximo, adepto à alguma sociedade secreta de intelectuais da qual provavelmente restara apenas dois ou três participantes e dos quais meu querido mestre era um. Disse-me que por anos contara seus dias, que por muito tempo guardava os dias.

Os minutos passavam e o rosto daquele idoso empalidecia. Parecia cansado e seus olhos com sono. Com os braços trêmulos levantou-se, esticou-se para alcançar uma caixa branca em cima do armário e entregou-a a mim com ar de carinho. Era um contador. Tinha um botãozinho vermelho na parte de cima e vários quadrados com dígitos que rodariam a cada apertada no botão... E... Ai meu Deus! Se aquilo ele usava para contar os dias, ele devia ter uns 500 anos! A caixinha branca despretenciosa marcava 186.880! Senhor!

Espantado, arregalei os olhos para aquele homem de cabelos brancos como quem pedisse uma explicação. O bom senhor sentou-se novamente, reconheceu minha estranheza e respirando bem devagar começou a falar. Com toda calma do mundo, contou que a muitos anos, um padre da Armênia começou a contar seus dias, e quando encontrou um aluno/discípulo que parecia demasiadamente com ele e o superou, passou sua contagem para o aluno com a recomendação de que fizesse o mesmo. O velhinho então baixou a cabeça, respirou fundo, ergueu-a novamente e expirou: "Você me lembra quando tinha tua idade e me superou. Continue a contar meus dias...", pendeu a cabeça e faleceu. Um instante, um segundo, uma vida a ser continuada.

Hoje, passo meu contador a você: conte teus dias, viva a vida que vivo...


Gratis i Kristus

Nenhum comentário:

Postar um comentário