segunda-feira, 11 de julho de 2011

De minha leitura para a tua - Lendo Mateus 15: 3 - 11

Ao fazer esta segunda reflexão sobre um mesmo texto de Mateus 15, utilizei como base de minha interpretação o livro "As Obras do Amor", de Soren A. Kierkegaard, um filósofo fantástico que me auxilia nas horas vagas de minha completa vaga vida...

Para ser um jornalista no Brasil não é obrigatória a formação acadêmica em Jornalismo. Para quem discorda e se revolta com esta decisão, eu diria que para ser um bom administrador não é necessária a formação em Administração, vide Sílvio Santos. Muitos me chamam de professor, embora eu ainda nem tenha concluído a graduação e a licenciatura e muito menos exerça a função empregadiça de docente. Tenho amigos, familiares e até recém-conhecidos que me apresentam a outros como "professor". Imagino que professor não seja emprego e nem para tal função seja necessária uma formação, mas tudo começa com uma vocação e uma missiologia pedagógica que busca a salvação dos educandos. Falando em português: é um dom.

A formação de um indivíduo humano não está baseada na função que exerce, mas no dom que tem, adquire ou produz. Se somos vocacionados ou carregados de uma missão, nos constituímos como indivíduos quando unimos as pontas soltas da rede de contextos em que estamos envolvidos desde o nascimento com os sonhos de nossa missão, de nossa vocação. Se nos sentimos escolhidos como cristãos para a vocação mais sublime, para o chamado mais fantástico, o dom perfeito e a missão salvadora, costuramos os trapos de nosso contexto com o Cristianismo e suas exigências. Como professor, sinto-me vocacionado a mostrar portas e construir caminhos que levem às portas junto com os alunos. A Educação exige de mim métodos novos, reciclagem, respeito à diversidade, carinho e paciência constantes. Mas, e como cristão vocacionado, tenho a exigência de que? Pensando nisso, venho à segunda devocional sobre um texto de Mateus:

Mateus 15: 3 - 11

"Por que vocês transgridem o mandamento de Deus por causa da tradição de vocês? Pois Deus disse: 'Honra teu pai e tua mãe' e 'Quem amaldiçoar seu pai ou sua mãe terá que ser executado'. Mas vocês afirmam que se alguém disser a seu pai ou a sua mãe: 'Qualquer ajuda que vocês poderiam receber de mim é uma oferta dedicada a Deus', ele não está mais obrigado a 'honrar seu pai' dessa forma. Assim, por causa da sua tradição, vocês anulam a palavra de Deus. Hipócritas! Bem profetizou Isaías acerca de vocês, dizendo: "'Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão me adoram; seus ensinamentos não passam de regras ensinadas por homens'". Jesus chamou para junto de si a multidão e disse: "Ouçam e entendam: o que entra pela boca não torna o homem 'impuro'; mas o que sai de sua boca, isto o torna 'impuro'".

Se alguém afirma ser cristão, que exigências podemos imaginar que faríamos a essa pessoa? A primeira que vem a minha mente é que este indivíduo deveria amar ao próximo (sempre). Se uma pessoa diz que entregou sua vida a um deus qualquer, que exigências faríamos a esta pessoa? Provavelmente que essa pessoa cumpra os mandamentos dados pelo deus em questão. Agora, qual a exigência de um deus frente à promessa feita? Que a ele sejam feitas ofertas? Entregas? Benevolências? Pois bem, e um Deus detentor de tudo? Um Deus Todo-Poderoso dono do ouro e da prata? E um Deus que ama e não cobra dos homens aquilo que eles não tem (que em geral, é a perfeição)? Um Deus que ama e se dá? Quais as exigências?

Se não houver exigências, há então, por parte do fiel, gratidão. Tudo o que este fiel fizer, será graças a Deus! Os sacrifícios, honras e glórias serão ao Deus de Amor. Mas qual a exigência deste Deus para o fiel? A Ele nada é necessário! Pois bem, mesmo assim, o fiel quer demonstrar sua fidelidade fidelíssima e honrar os mandamentos. No trecho de Mateus 15, os fiéis religiosos cumpriam um mandamento de Deus: "honra teu pai e tua mãe...", mas eles eram mais excelentes, queriam agradar ao Deus de todo jeito! Honravam o pai e a mão dando ofertas à Deus. Não há honra maior do que poder ofertar ao Deus de Amor. Porém, o mandamento era de honrar o pai e a mãe diretamente...

As pessoas aderem a regras e regras que de preferência as beneficiem. Ofertar, seja ajudando os pais ou dizimando no templo, seria um dispêndio financeiro de qualquer jeito, mas, pelo menos, a segunda opção trazia consigo algo que não é de vocação, e sim de natureza: o status. Vocação é abrir mão de certas coisas e viver uma utopia, crer em esperanças e amar besteiras. Agradaria muito mais a um deus uma oferta direta, mas não é do feitio do Amor pedir para si um pedaço de terra que poderia ser distribuído para outro. Vocação é deixar a própria vida na mão de Deus e a oferta na mão de quem precisa. A hipocrisia de viver em função de um status é o louvor com os lábios de um distante coração. Ensinar a barganhar com o Deus que tudo tem é coisa de homens, tradições não vocacionadas. Talvez, aí, eu encontre a exigência de Deus: um Deus que nada quer para Si, mas tudo exige de mim...

Digo "tudo exige de mim" porque tenho de sacrificar essa natureza tosca de viver em uma aparência agradável e um status, coisa da carne má e das potestades mundanas que como leão me rodeiam na tentativa de tornar minha vocação em um negócio. Tenho de honrar meu pai e minha mãe, não por causa da regra e do mandamento, mas porque de mim é exigido que abra mão das impurezas de meu coração e saiba que ruim não é o que ponho para dentro, mas o que arremesso para fora. Conheço um Deus que exige que eu elimine aquilo que me mata, aquilo que mata os outros, aquilo que destrói o mundo. Não me obriga e muito menos arromba minha porta, mas com frequência bate pedindo para entrar e querendo arrumar a minha casa. Exige de mim uma oferta de vida, não para si, mas, como diria Kierkegaard, "Ele exige tudo, mas, quando tu o trazes, imediatamente recebes aonde deves entregar". E, no caso, devo entregar aos pais.

Se dedico-me a um Deus, dedico-me por inteiro. Tudo de mim é exigido, mas com o endereço de onde devo ser entregue. Se estou a serviço de Deus, o sou em serviço dos homens. Um Deus que se fez homem para a salvação do homem. Não para se mostrar como Deus, mas para ensinar como devem ser os homens: imitadores de Cristo, o Filho de Deus, o Verbo que se fez carne. Não preciso de um "Pr" antes do nome para ser um pastor, para cuidar de vidas. Não precisam me chamar de missionário para testemunhar do evangelho. Essa é a vocação cristã, a missão evangélica, o chamado apostólico, o dom da vida. Saber de um Deus que ama e que exige de nós a vida em abundância compartilhada por inteiro entre os próximos, entre os santos. A Ele toda honra, toda glória e todo louvor. Amém!


Gratis i Kristus

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