segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A Biblioteca de Babel

Havia uma Biblioteca na cidade de Babel. Dentro deste belo muro do saber, por séculos guardaram-se livros e mais livros, de diversos autores, com diversos sobrenomes, diferentes títulos, mas de mesmo tema, mesma língua, mesma fala e mesmas repetições. Essa construção era a pedra fundamental para a próxima edificação sonhada pelos homens: a Torre de Babel.

No meio da Biblioteca, dos diversos livros de mesma língua e mesma repetição, havia um esquecido, escondido e guardado, de língua diferente. Na verdade, um livro de diversas línguas diferentes. Consistia de uma servida compilação de livros de muitos povos, múltiplos autores, complicados temas e complexas línguas; um livro contraditório, polêmico e vivo. Um péssimo tijolo para a grande edificação que começava a fundar-se no coração de Babel, a partir dos muros do saber.

Os homens liam os outros livros, faziam congressos, discutiam e escreviam nos vários periódicos monoglossáricos reforçando sua glória, sua força, sua inteligência e sua ruína. Com seus tijolos de livros batidos de assuntos queimados, emendados com pixe de arrogância, pensavam Deus e construíam Torre. Jamais seriam esquecidos, jamais seriam espalhados, jamais sumiriam no meio da vida. Eternamente suas repetições estariam gravadas em seus tijolos.

Enquanto a Torre era edificada sobre os livros iguais, Deus olhou para aquele livro esquecido, aquela compilação de livros confusos e diferentes capazes de trazer sentido ao chão e valor à vida. Ao mirar a pomposa Biblioteca e todas aquelas mesmas coisas de sempre que ocorriam em Babel, viu Deus que os homens morriam por dentro, que a vida não era mais vivida e que as leituras de mesma língua deixavam suas cabeças nas alturas e os pés fracos demais para acompanhar o girar do mundo sobre seu próprio chão.

Dos céus, Deus desejou: "Que todos os livros iguais tornem-se um, e que aquele todo diferente não lido e deixado de lado se espalhe ao ser dividido em vários!". Os homens passaram a ler os livros diferentes, de língua diferente, de novidades, de vida e que na verdade, eram todos braços de um. Cada homem tomou para si o livro que leu, dissolveu os congressos, acabou com os periódicos, arrancou seu tijolo da Torre e o levou consigo para outro canto da Terra, para construir para si sua própria cidade, sua própria Biblioteca.

Da Biblioteca de Babel é que os homens quiseram ser apenas um. Do livro que Deus escolheu é que os homens decidiram ser diferentes. Da Biblioteca de Babel é que os homens se deixaram morrer, mas é do livro que Deus escolheu que passaram a ter que viver a vida com os pés no chão e a Torre bem longe de suas cabeças...




Gratis i Kristus

2 comentários:

  1. Um belo texto.
    Saudade de vcs queridos amigos, e continue a nos acrescentar!
    Forte abraço,
    Jamim Moura - Boa Vista-RR

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