segunda-feira, 6 de junho de 2011

Devaneio sobre o tempo (Sempre não é todo-dia)

Sempre preferi o "era uma vez", muito mais do que o "e viveram felizes para sempre". O sempre do "felizes para sempre" é uma ilusão, ele só dura até o próximo "era uma vez". Por isso gosto muito mais do "era uma vez", ele é mais real, mais regular, mais constante e menos mentiroso. Bem, sempre acontece o "era uma vez", mas o "felizes para sempre" não dura sempre, termina no próximo "era uma vez". Uma vez é sempre uma vez...

Toda essa confusão de começo e fim de contos de fada é para lembrar de um detalhe importante: sempre não é todo-dia. Quem me disse essa frase foi um amigo de faculdade, Pedro Conceição, e guardei-a comigo até este presente momento em que escrevo e espero lembrá-la daqui para frente em todo-dia. Me interessei muito por essa idéia porque ela me fez pensar que o sempre é ilusório, não convida à reflexão e engana a vida. O sempre é tradicional, não respeita realidades e nem suas mudanças. Por exemplo, a frase "sempre foi assim" só é dita quando algo sai do tradicional, do comum, quando algo muda. Sempre foi assim, mas hoje...

Hoje é um dia. Um dia não é sempre, mas só um dia. Sempre se repete um dia após o outro, até o dia que essa sucessão parar, e então o sempre morre também. Todo-dia é mais que um dia e implica em pensarmos em todas as unidades que completam um todo, finito, reflexível e não ilusório. Todo-dia não nos apresenta, como o sempre faz, um ilimitado tradicional, mas um delimitado construído. Sempre não está em nossas mãos e não é de nossa responsabilidade, mas todo-dia exige uma reflexão e o trabalho com as mudanças na realidade. A realidade não é composta de sempres, mas de dias. Marcamos nosso tempo não de sempres em sempres, mas de todo-dia esperando ou pensando, quem sabe, num sempre, que prefiro chamar de Eterno...

Chamo de "Eterno" porque Eterno é maior que sempre e que todo dia, engole e engloba os dois. Eterno não está em nosso controle, não depende de nós, mas se impõe e nos convida a admirá-lo e constranger-nos. Eterno atravessa o tempo, tanto o sempre que sempre foi assim até a mudança de hoje, quanto o todo-dia que se constrói e olha para o chão e para frente. O sempre nos lembra de algo que existiu até que uma vez mudou, e o todo-dia de que algo há de existir e continuar para além de nós. Todo-dia precisamos pensar de como sempre foi e tentar imaginar do como será. Todo-dia precisamos nos conscientizar do incontrolável, do Eterno. O que foi, o que é e o que será são ínfimas partes que destacamos desse Eterno...

Sempre preferi o "Era uma vez" porque ele indica a possibilidade de mudança. Sempre preferi o "Era uma vez" porque introduz o caminho de uma nova estória. Sempre preferi o "Era uma vez" porque um dia quero saber que "Era uma vez um tempo em que pensávamos sempre ser assim, mas vivemos todo-dia, mudamos e conhecemos uma realidade que é e sempre será". Sempre não é todo-dia, mas só às vezes. Agora, todo-dia caminhamos dentro de uma Eternidade, e todo-dia será assim até o fim de todo-dia em que buscamos o Eterno.

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