terça-feira, 1 de março de 2011

Fiéis fidedignos

Um amigo uma vez me disse que nunca sabia no que acreditar, pois com dois ou três bons argumentos uma ou outra teologia o conquistava. Isso se deu quando eu ainda discutia sobre "predestinação ou livre-arbítrio". Outro amigo me perguntou porque eu pegava no pé de posturas teológicas dentro da minha religião, e outro indagou-me o seguinte: "Se tudo é uma questão de fé, porque questionar, analisar ou criticar percepções religiosas?". Pois bem, dialogando com meu amigo "A", que é o primeiro mencionado neste texto, consegui responder aos outros dois. O problema da fé não está no que se diz crer, mas nas atitudes de confiança tomadas frente ao desconhecido.

Os fiéis, por assim dizer, tomam suas decisões na vida confiando em algo, e este mesmo algo foi-lhes revelado através da própria experiência de vida. Quer dizer, há uma relação dialética deste indivíduo na qual a fé expressa a vida e a vida expressa a fé. Frisando bem frisado: aquilo em que se diz ter fé deve ser o que nos dá confiança para agir frente ao desconhecido, as decisões da vida. Portanto, minhas atitudes tem que expressar o "aquilo" em que digo ter fé. Tem que condizer com minha vida.

O debate religioso e a crítica teológica que faço, então, não partem de argumentos doutrinários, do certo e errado, bom e mau, crente e descrente, demoníaco ou divino. Mas sim, partem de uma reflexão entre a profissão de fé e a prática na vida. O ponto não é a elaboração de dois ou três bons argumentos ou a caça 'as bruxas. É, na verdade, incentivar a fé a ser fé e não um sistema religioso ou teológico, ou frases de papagaios doutrinadores ou heréticos.

Para isso, o sistema teológico não pode sufocar a experiência de fé individual, e nem o indivíduo sistematizar sua experiência como se fosse universal (como nota pessoal diria que o melhor é abrir mão dos sistemas, Doutrinas e Teologias Sistemáticas). Se sua fé professa que tudo está determinado, seja íntegro e fiel ao expressar sua vida como um bom determinado: não tome decisões e nem peça algo ao Divino, pois não há o que o homem faça que possa mudar os planos já determinados por Deus. Já se sua fé declara que se declarares, jejuares, orares ou cantares o Senhor faz com que tudo na vida do crente vá bem, seja íntegro e um bom fiel: declare, jejue, ore ou cante para ser protegido de assaltos e balas-perdidas e deixe de lado seu carro blindado. Declare paz sobre sua vida! Ou melhor ainda! Declare a paz mundial! (estamos precisando) Larguemos nossos empregos também, tanto os predestinados quanto declaradores.

Fé que não expressa a vida, é da boca para fora (no máximo acompanhada de um friozinho na barriga e pensamento positivo), é vazia, nada vale. Não é fé. Pode ser moda, ditado, crendice, conversa de loucos, mas não é fé. Fé é viver de maneira íntegra, condizente com o que se professa, o que se crê. Que encaixe na vida e não seja como um sistema sufocante e "a-vivente" (sem vida). É necessário que seja avivada! Gere vida! Lembrando sempre que a experiência do dia-a-dia tem que ser respeitada! Não faz bem vivermos uma vida esquizofrênica. Esqueçamos dos dois ou três argumentos, entreguemos valor a nossa prática de vida e enobreçamos nossa fé. Se nosso discurso é refletido em tudo e em toda a nossa vida, então estamos começando a sermos fiéis, e fiéis dignos de confiança.

Que a vida expresse fé e a fé expresse vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário